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segunda-feira, 28 de julho de 2014

Guardiãs da cura: a sabedoria popular das benzedeiras em Alagoas

Por Renata Arruda

Principalmente no interior das cidades nordestinas, a figura folclórica das benzedeiras ou rezadeiras curam, de acordo com a tradição popular, algumas enfermidades da alma e do corpo com rezas mágicas e especiais. Geralmente, essas mulheres utilizam plantas como os ramos de arruda, mastruz, crista de galo, entre outras, dependendo da moléstia sofrida.

Quebranto, ventre caído, fogo selvagem e mau olhado são algumas das “doenças” lendárias mais comuns no universo da cura popular dessas misteriosas senhoras. Quem não se lembra de ter sido levado, quando criança, para se tratar com uma dessas curandeiras? Não importava o motivo, fosse dor de cabeça ou cansaço, muitas crianças eram levadas pelas anciãs da família aos tais rituais milagrosos.

A Agência Alagoas conversou com três mulheres de fé e encantos que, por meio da antiga tradição quilombola, levam cura e paz para milhares de alagoanos. Na série de reportagens Guardiãs da Cura, contaremos a história dessas mulheres que curam pela fé e pelo amor.

A pioneira e mais ilustre herdeira da cultura quilombola

Anézia Maria da Conceição, 112 anos, é a mais antiga benzedeira de Alagoas, considerada patrimônio vivo e uma verdadeira fonte inesgotável de sabedoria primitiva da arte popular. Moradora célebre da cidade de Santa Luzia do Norte, área metropolitana de Maceió, é bastante querida pela população.

Dizer que já rezou por quase todos os moradores não é exagero, pois até hoje, mesmo com a fragilidade decorrente da idade avançada e a voz arrastada, ainda realiza proezas com quem a procura. Além de ser rezadeira, desde os 12 anos de idade costumava realizar partos na região.

“Praticamente todas as mulheres das cidades vizinhas vinham aqui para casa para minha mãe [Anézia] fazer os partos. Naquela época, não tinha médico por aqui, e era ela quem trazia as crianças para o mundo”, diz Nêga, a primogênita entre as cinco filhas da benzedeira.


Tantas décadas fazendo orações e partos lhe renderam o carinho da população e uma bela homenagem. Em breve, Anézia ganhará uma estátua de destaque na Praça da Liberdade, a principal da cidade.

Católica fervorosa, aprendeu a rezar ainda criança e o dom da cura não tardou em chegar. Ela afirma que aos 10 anos já ouvia uma voz divina que a orientava a ajudar as pessoas: “Conseguia ver o que estava de errado no corpo e na alma das pessoas e Deus me usava como instrumento para socorrê-las. A cura dependia da fé de cada um, esse era o segredo”.

Devota de padre Cícero, Anézia conta que em uma de suas romarias à Juazeiro do Norte presenciou o religioso profetizar sobre a futura perda da visão da rezadeira. O prenúncio se cumpriu quando, aos 80 anos, ela realizou o último parto. Mesmo com a cegueira, continuou usando os outros talentos para trazer bem-estar às pessoas até hoje.

Dona Anézia teve cinco filhos, 40 netos, 20 bisnetos e dez tataranetos. Dos descendentes, nenhum herdou o seu dom.

Fonte: Agência Alagoas

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Mensagem para o Dia Internacional das Parteiras e Parteiros Profissionais 2014

Dr. Babatunde Osotimehin, Diretor Executivo do UNFPA, o Fundo de População das Nações Unidas e Frances Day-Stirk, Presidente da Confederação Internacional de Parteiras

5 de maio de 2014

Em nível global, as mortes maternas diminuiram quase à metade nas últimas duas décadas. No mesmo período, o atendimento especializado ao parto aumentou cerca de 15%, com 2 de 3 partos ao redor do mundo sendo agora atendidos por um(a) profissional especializado(a) de saúde. Com pouco mais de 600 dias restantes para o prazo final dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs), novos esforços são necessários para intensificar as ações de educação de parteiras e parteiros profissionais e outros profissionais com habilidades obstétricas, que têm custo-benefício positivo. Tais investimentos são críticos para acelerar os esforços na melhoria da saúde materna e para o alcance do ODM 5, um dos objetivos mais distantes de ser atingido.

O acesso aos cuidados de saúde de qualidade é um direito humano básico. Cerca de 40 milhões de mulheres ainda dão a luz sem cuidados especializados, aumentando o risco de morte e invalidez tanto para a mãe quanto para o bebê. Mais do que nunca, o mundo precisa agora de parteiras e parteiros. Investimentos nesses profissionais podem ajudar a evitar o significativo número de aproximadamente 290 mil mortes maternas e 3 milhões de mortes de recém-nascidos que ocorrem todos os anos devido à falta de profissionais de saúde bem formados e regulamentados, além de instalações adequadas. E parteiras ou parteiros ajudam mais do que o nascimento dos bebês: elas e eles também fornecem informações e serviços em saúde reprodutiva, incluindo cuidados no pré-natal e pós-natal e planejamento familiar.

Novas evidências sobre o retorno do investimento em parteiras e parteiros serão apresentados em junho de 2014, quando será lançado o segundo relatório sobre o Estado da Obstetrícia no Mundo, durante o Congresso Trienal da Confederação Internacional de Parteiras que ocorrerá em Praga, na República Tcheca. O relatório – um esforço conjunto entre UNFPA, o Fundo de População das Nações Unidas; a Confederação Internacional de Parteiras (ICM); a Organização Mundial da Saúde (OMS) e diversos parceiros globais – divulgará os últimos dados de 73 países que contabilizam mais de 95% das mortes maternas, de recém-nascidos e infantis. Os novos dados deverão melhorar a base de evidências nesta área, ajudar a mobilizar líderes e ações em países com piores resultados de modo a fortalecer os serviços de saúde materna e obstétrica, facilitando a prestação de serviços de qualidade para mulheres grávidas e seus bebês.

Neste Dia Internacional das Parteiras, o UNFPA e a Confederação Internacional de Parteiras aplaudem todas as parteiras e parteiros compromissados em trabalhar além de suas obrigações, na maioria dos casos em circunstâncias difíceis e com recursos limitados, para oferecer cuidados maternos e neonatais para mulheres e garotas ao redor do mundo.

Reafirmamos nosso compromisso conjunto no apoio às parteiras e parteiros de todo o mundo enquanto trabalhamos com o objetivo de garantir que toda gravidez seja segura e que o acesso universal aos serviços de saúde sexual e reprodutiva seja uma realidade para todas as pessoas.

Fonte: Fundo de População das Nações Unidas

terça-feira, 15 de abril de 2014

Tradição de parteiras está no centro de incentivo ao parto normal na Grã-Bretanha


Até 2011,o índice de cesarianas realizadas no Reino Unido era de 25% do total de partos. Era possível argumentar que isso ocorria não por uma preferência das mulheres britânicas por partos normais, mas porque não era dada a elas o direito de fazer uma cesariana planejada e por opção própria. Elas só podiam passar pelo procedimento se houvesse razões médicas.

Gestantes passaram a ter direito de escolher a cesárea, segundo novas diretrizes do Instituto Nacional de Saúde e Excelência Clínica (NICE, na sigla em inglês).

O que não mudou deste então foi a taxa de cesáreas, que permaneceu no mesmo patamar.

Segundo os dados mais recentes do Health and Social Care Information Centre, órgão do governo britânico que compila informações de saúde pública, 25,5% dos partos registrados entre 2012 e 2013 foram cesáreas.

Hoje, as mulheres são informadas dos riscos da cirurgia por um médico, mas, se ela optar pela cesárea, isso não pode ser negado. Ainda assim, houve um aumento de só 0,5 ponto percentual no índice.

Essas estatísticas refletem a política de saúde pública do país, que prioriza o parto normal. Para o NHS, o Serviço Nacional de Saúde britânico, o parto planejado por cesariana é um recurso que só deve ser utilizado em condições excepcionais.

 

A longa tradição das parteiras


Parte deste esforço de dar prioridade ao parto normal se deve ao forte histórico da profissão de parteira no país, estabelecida em lei pelo Ato Midwifery, em 1902.

A primeira e única vez que uma gestante britânica é avaliada por um médico é ao descobrir que está grávida, quando normalmente procura um clínico geral, conhecido como general practitioner no país.

Mas a parteira é o principal profissional responsável pela saúde, segurança e bem estar da mulher durante a gestação e cuida do atendimento pré e pós natal.

Qualquer pessoa pode ingressar na profissão após um curso profissionalizante em tempo integral de no mínimo 156 semanas, segundo critérios estabelecidos pela União Européia.

Outra maneira é através de um curso mais curto, de 78 semanas, voltado para enfermeiras e enfermeiros que queiram seguir uma nova profissão.

 

Em casa ou no hospital?


Quando não há riscos para a mãe ou para o bebê, o NHS indica o parto normal e oferece algumas opções para a hora de dar à luz.

Além do hospital, é possível parir em casa com a ajuda das parteiras ou em clínicas conhecidas como centros de nascimento, que têm um ambiente mais caseiro que o dos hospitais.

A cesariana planejada ou a de emergência são admitidas em poucas circunstâncias: quando o parto anterior foi uma cesárea; se o bebê está sentado; se a gestante tem placenta prévia (quando ela está fixada à parede do útero, cobrindo parcial ou totalmente o cérvice uterino); ou quando há um deslocamento prematuro da placenta.

De acordo com o Royal College of Obstetricians and Gynaecologists (RCOG), a associação de obstetrícia e ginecologia da Grã-Bretanha, a probabilidade de uma cesariana está fortemente associada às características maternas e fatores clínicos de risco.

 

Cesariana planejada


Segundo o Royal College of Midwives, que representa as parteiras britânicas, mesmo depois da mudança das regras, as mulheres não são encorajadas a optar pela cirurgia, mesmo nas situações mais complexas.

No caso do bebê sentado, a mãe pode optar por tentar reposicioná-lo através de pressão externa, em vez de recorrer imediatamente à cesárea.

De acordo com o NHS, cerca de 50% dos bebês que não estão com a cabeça para baixo conseguem ser virados usando uma manobra conhecida como versão cefálica externa.

Em outro caso comumente associado às cesarianas – quando o bebê tem o cordão umbilical enrolado em torno do pescoço – a cirurgia sequer é cogitada. A parteira se encarrega de desenrolá-lo durante o parto.

Para Cathy Warwick, chefe executiva do Royal College of Midwives, é tudo uma questão de confiança.

"Se as parteiras conseguirem fazer com que as mulheres entendam o que suas escolhas significam para elas e para seus bebês, elas se sentirão apoiadas na hora do parto”, afirma Warwick. “Então, poucas mulheres farão a escolha por uma cesariana."


Fonte: BBC Brasil

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Acre institui o Bolsa Parteira


A parteira tradicional, Zenaíde Carvalho, comemora o benefício. 

A partir de maio deste ano, as parteiras tradicionais de Porto Walter, Marechal Thaumaturgo, Jordão e Santa Rosa do Purus serão contempladas com uma bolsa no valor de R$ 250. Foi aprovada, por unanimidade, pela Assembleia Legislativa do Acre, a Lei de n°2.834, de 30 de dezembro de 2013, que pretende beneficiar, inicialmente, cerca de 150 mulheres.

O anteprojeto de Lei que originou o Bolsa Parteira foi desenvolvido pela Secretaria de Estado de Políticas para as Mulheres (SEPMulheres) e poderá ser ampliado às parteiras dos demais municípios de acordo com as necessidades de saúde, disponibilidade orçamentária e financeira e com critérios estabelecidos por decreto.

O Acre é o segundo estado da federação a instituir o benefício, ficando atrás apenas do Amapá. Para ter direito, as beneficiárias devem ser reconhecidas por sua comunidade como parteiras, possuir certificado de cursos ou oficinas para parteiras tradicionais e estarem devidamente cadastradas na Secretaria de Saúde (Sesacre).

Maria Zenaide Carvalho exerce o ofício há 46 anos e considera a bolsa um reconhecimento merecido à classe. “Eu tinha 10 anos quando fiz meu primeiro parto, de lá para cá não parei mais. Aprendi a pegar menino com a minha mãe e já ajudei 246 crianças virem ao mundo. Assim como eu existem muitas outras mulheres no Acre que, agora com o Bolsa Parteira, passam a ser fortalecidas pelo Estado e reconhecidas na sociedade”, ressaltou.

Para a titular da SEPMulheres, Concita Maia, a bolsa reflete o compromisso do governo: “Estamos avançando nas políticas para as mulheres do Acre graças ao compromisso político e sensibilidade do nosso governador Tião Viana”.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Sanitarista David Capistrano foi pioneiro na defesa das casas de parto


Rio de Janeiro - O nome que batiza ao menos duas casas de parto no país – no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte – é uma homenagem ao médico sanitarista e ativista em saúde pública David Capistrano Filho, que morreu em 2000, aos 52 anos, vítima de câncer. Nascido no Recife, ele teve participação ativa no processo de criação do Sistema Único de Saúde (SUS) e defendeu práticas inovadoras para a época, como os médicos da família e as casas de parto.

Filho do ativista político e deputado David Capistrano, que desapareceu durante o regime militar, ele se formou em medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Fugindo da perseguição da ditadura no Nordeste, também passou por São Paulo, onde, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), reuniu estudantes para atuar como agentes de saúde na periferia.

Na década de 1970, participou da criação do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes). Na época, colaborou para a elaboração do texto que deu origem ao capítulo sobre o SUS na Constituição de 1988. Também atuou na revitalização da entidade representativa dos médicos, hoje principal nome contrário às casas de parto.

Propostas de Capistrano Filho foram colocadas em prática pela Secretaria de Saúde de Santos e pelo governo de São Paulo, na década de 1990. Na área de saúde mental, por exemplo, ele defendeu a criação de núcleos de atendimento psicossocial em substituição à internação em hospitais. Esses núcleos se tornaram referência para a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Com suas ações, David Capistrano Filho despertou atenção do governo federal que o convidou para gerenciar o Programa Nacional de Incentivo à Criação de Casas de Parto e Maternidades-Modelos do Ministério da Saúde. Para reduzir cesáreas e intervenções no parto, em 1998, foi aberta a primeira casa de parto do país, em Sapopemba, na capital paulista.

Hoje, o nome David Capistrano Filho batiza as unidades do Rio (de base comunitária) e de Belo Horizonte (dentro do Hospital Sofia Feldman). Até 2010, dava nome ao Centro Parto Normal de São Vicente, no litoral paulista, fundado pela religiosa Maria Dolores Muñiz Junquera, conhecida por irmã Dolores. Para fechar a casa, o município alegou a distância até um hospital e a baixa procura.

 Edição: Juliana Andrade e Lílian Beraldo



quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Parteira ajudou dar à luz mais de três mil bebês no Ceará


Nos seus 40 anos de profissão, ela nunca perdeu uma criança.

Quem a incentivou para o trabalho foi sua tia, uma freira nos anos 40.

Maria Freitas Lima, de 74 anos, conhecida como Mãe Cira,  é parteira e ajudou dar à luz mais de três mil bebês no município de Guaramiranga, a 120 km de Fortaleza. Ela é parteira desde a década de 40 e é respeitada por todos os moradores. "Fico muito orgulhosa. Quando as pessoas me chamam de Mãe Cira eu ainda fico emocionada", diz.

O que chama atenção é que nos seus 40 anos de profissão, Mãe Cira nunca perdeu ninguém durante esse tempo. "Tenho certeza que não trabalhava sozinho. Deus estava comigo naquela hora. Eu vi também muitas mãe sem forças e ele com certeza foi fundamental para que tudo acontecesse naturalmente".

O comerciante Clodoaldo Rodrigues é um que passou pelas mãos da Mãe Cira. Segundo ele, Mãe Cira foi muito importante para sua família. "Na época não existia aquele negócio de hospital. Havia as parteiras. E nasci graças a Mãe Cira. Outros irmãos meus passaram por ela", conta o comerciante.

Sua história contagia os profissionais da saúde da cidade.  "Ela foi uma parteira de mão cheia. E além disso tinha Deus e Nossa Senhora ajudando ela para trazer ao mundo tantas crianças", diz a enfermeira Melina Frota. A principal pessoa que incentivou Mãe Cira para os trabalhos de parteira foi sua tia que era freira. "Minha tia me ensinou todos os conceitos básicos de enfermagem e com o passar do tempo aprendi tudo", conta.

A dona de casa, Maria Iraci, foi beneficiada com os trabalhos de Mãe Cira. Ela quase perdeu o filho há 20 anos atrás. "Ela salvou eu e meu filho. Eu agradeço todos os dias por ela ter me ajudado tanto naquela época", fala emocionada.

Exemplo para os filhos
Mãe Cira teve três filhos e mesmo com a perda de um recentemente não fez com que ela não desaminase. Um deles, o líder comunitário, Sérgio Freitas, conta que tem orgulho da mãe e diz que ela serve como exemplo. "Ela é um espelho, fonte de inspiração. E eu como líder comunitário procuro sempre ter ela como exemplo. Para mim ele é uma guerreira", afirma o filho mas velho.

Fonte: G1 Ceará

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Arquivo de notícias: A história da parteira que ajudou a colocar mais de cem crianças no mundo


Rossilda Joaquina da Silva, 76 anos, simboliza bem a data de hoje, 20, de novembro, Dia da Consciência Negra. Além de parteira tradicional, benzedeira e costureira, ela gosta de arrastar a bainha de sua saia dançando batuque, e ainda, é uma das moradoras mais antigas do quilombo do Curiaú, em Macapá.

Segundo Rossilda, suas mãos foram responsáveis por mais de cem partos, a maioria realizada no quilombo. “Isso foi um dom que Deus me deu. No meu primeiro parto, eu fiquei emocionada, fiquei nervosa, mas ocorreu tudo bem comigo e com a mulher, tanto que já fiz parto até dos filhos dela”, contou.

“As pessoas me chamam para fazer o parto. Ao longo desse tempo, mais de cem crianças nasceram pelas minhas mãos. É curioso, mas muitos partos foram de mulheres que vinham do interior. Antes de chegar ao hospital a bolsa rompia, ou coisa parecida. Como não dava tempo de chegar ao hospital elas paravam aqui na comunidade. Foram muitos nascimentos assim. Eu já fiz parto até dentro de um caminhão. Metade da criança já estava para fora”, rememora.

A quilombola representa a nação negra do Curiaú. Ela é mãe de 13 filhos, avó de 53 netos, e possui 10 bisnetos.

O dom de benzer também foi adquirido de forma empírica. Quando uma criança nascia com algum problema, se via obrigada a lembrar-se das tradições ensinadas por sua mãe, Venina da Silva (in memorian), conhecida por lutar em defesa dos negros. Ela foi retratada em um livro escrito por seus próprios netos que contaram as bandeiras de luta por ela empunhadas.

Além de Rossilda, o Curiaú possui outros personagens. Maria das Chagas dos Santos, 60 anos, é matriarca da família, e durante a reportagem comandava o trabalho de preparação da mandioca a fim de produzir farinha para consumo próprio.

“Aprendi tudo com os meus pais. Eu comecei a ir para a roça com oito anos e até hoje eu preservo as tradições”, afirmou.

Ao seu lado, também estavam os seus filhos e netos. As crianças aprendiam o manejo da mandioca, como se já soubessem daquilo há muito tempo, mostrando que a tradição de produzir farinha de mandioca perpetuará por longos anos naquela comunidade.

Fonte: Café&Cia

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Arquivo de notícias: Parteiras de Angola aprimoram conhecimento


Parteiras tradicionais aprimoram conhecimento sobre técnicas de assistir parto 

Caála  - Duzentas e 24 parteiras tradicionais dos municípios da Caála, Ekunha, Ukuma e do Chipindo (província da Huíla), participam, desde hoje, na cidade da Caála, num seminário de capacitação onde vão aprimorar conhecimentos sobre o valor de integração na busca da qualidade de vida e preparação de técnicas para assistir o parto.

O evento, uma iniciativa da Repartição Municipal da Saúde da Caála, vai decorrer de 22 a 23 do corrente mês. Visa contribuir a redução de taxas de mortalidade e proporcionar uma assistência de qualidade de partos nas comunidades.

Durante o seminário de refrescamento, as participantes vão igualmente aprimorar conhecimentos sobre o papel da parteira na comunidade, cuidados imediatos pós-parto, acções que garantem a vida da mãe e do filho.

A cerimónia de abertura foi orientada pelo chefe de Repartição Municipal da Saúde da Caála, Albino Dumbi Ernesto, que na ocasião apelou as participantes no sentido de acatarem bem os conhecimentos a serem transmitidos pelos especialistas, por formas a contribuir na acção do governo que visa diminuir as taxas de mortalidade nas comunidades.

domingo, 30 de setembro de 2012

Arquivo de Notícias: Após gravidez de esposa, cientista cria 'ultrassom popular'

Após gravidez de esposa, cientista cria 'ultrassom popular'
 
 Um engenheiro da Universidade de Newcastle, na Grã-Bretanha, desenvolveu uma máquina de ultrassom de baixo custo inspirado pela gravidez de sua esposa.

O pequeno aparelho - que tem o tamanho de um mouse - pode ser conectado via USB a qualquer computador ou laptop para mostrar imagens do feto na barriga da mãe.
 
Com um custo de fabricação de 30 a 40 libras (entre R$ 98 e R$ 130), o ultrassom portátil é muito mais barato do que as máquinas tradicionais, que chegam a custar entre 20 mil e 100 mil libras.

Mas para o engenheiro eletrônico Jeff Neasham, tudo começou com a primeira gravidez de sua esposa.

"Eu estava sentando com minha mulher vendo nosso bebê na tela e percebemos o quão privilegiados éramos, por ter acesso a esse tipo de cuidado", diz ele.

"Foi minha mulher que sugeriu que eu podia aplicar meu conhecimento de pesquisas com sonar para fazer com que isso fosse mais acessível."

Neasham e seu parceiro na pesquisa, Dave Graham, "trataram o assunto como um desafio de engenharia interessante" e usaram as tecnologias mais baratas possíveis para produzir uma "imagem útil".
 

"Custo baixo foi a chave. O objetivo era criar um aparelho que pudesse ser produzido a um custo semelhante ao dos aparelhos Doppler manuais (que monitoram os batimentos cardíacos do feto), usados pela maioria das parteiras", afirmou o engenheiro.

"Não é fácil se você considerar que um ultrassom de 20 mil libras é geralmente considerado de baixo custo."

Ele disse que sua máquina pode mostrar se o bebê está mal posicionado no útero, mas que as imagens ainda não são claras o suficiente para mostrar o sexo.

"Ainda não estamos no estágio de poder chegar à qualidade de imagem de um scanner de ponta, mas estamos chegando cada vez mais perto."

A Universidade de Newcastle anunciou que está procurando colaborações com empresas e indústrias para começar a comercializar o aparelho.

Fonte: BBC News

sábado, 30 de junho de 2012

Arquivo de notícias - Parteiras querem ser reconhecidas como patrimônio imaterial do país


Depois da roda de capoeira, do acarajé baiano e do toque dos sinos de Minas Gerais, chegou a vez de os chás, as rezas e as massagens que servem de pano de fundo para muita gente chegar ao mundo se tornarem patrimônio nacional.

É que a ONG Instituto Nômades encaminhou ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) um inventário e uma solicitação do registro do ofício da parteira tradicional como bem cultural de natureza imaterial.

“A maioria das parteiras é idosa e o saber acumulado por elas encontra-se sob ameaça de desaparecimento diante de um contexto que inclui a oralidade desse saber, o desinteresse das novas gerações pelo ofício e a pouca valorização da profissão em nossa sociedade”, afirma Júlia Morim, antropóloga do Instituto Nômades. “Partejar não é só retirar o bebê. Precisamos preservar esse saber coletivo que reforça a identidade de um povo.”

Apesar de não haver uma estatística oficial, estima-se que sejam realizados 40 mil partos domiciliares no País ao ano, a maioria deles assistida por parteiras tradicionais das Regiões Norte e Nordeste. Para fazer o inventário, a ONG localizou e entrevistou 165 parteiras das 871 residentes no Estado de Pernambuco.

Maria Fernanda da Silva, de 39 anos, é uma delas. Vive em Caruaru (PE) e herdou o ofício da mãe. Como a maioria das parteiras, fez o primeiro parto na adolescência e no susto.

Ela tinha 16 anos, quando uma “paciente” de sua mãe chegou prestes a dar à luz. Na ausência da mãe, assumiu a tarefa. “Eu já era ajudante, virei a parteira. Com direito a acompanhar a dilatação, pegar o menino e cortar o cordão umbilical.”

De lá para cá, foram mais 200 partos e, nos últimos anos, Fernanda assistiu a uma mudança radical na clientela. “Antes, ou a gente fazia o parto ou a mulher ia parir sozinha. Agora, não. Com a chegada dos hospitais, essas mulheres mais simples preferem o atendimento médico. Muitas até escolhem a cesárea.”

Por outro lado, as parteiras conquistaram um outro público. “Atualmente, quem nos procura são mulheres mais esclarecidas. Meu trabalho virou diferencial.”

Opção. Esse novo nicho de clientes extrapolou as fronteiras do Norte e Nordeste. Em qualquer grande centro urbano tem crescido o número de gestantes que trocam o hospital pela própria casa.

Desde 2009, a parteira Ana Cristina Duarte já fez 120 partos domiciliares na cidade de São Paulo. Formada em obstetrícia, Ana conta que seu público é formado por mulheres com curso superior pertencentes às classes média e alta. Um dos partos que ela fará neste mês é o de Kelly, de 30 anos, médica que decidiu abrir mão do hospital para parir em casa.

“Assistimos a uma mudança de paradigma. Atendo a mulheres intelectualizadas, que chegaram a mim depois de pesquisarem o assunto e de terem certeza de sua escolha”, afirma. Ana cobra entre R$ 2 mil e R$ 4 mil por cada um dos seis partos que realiza ao mês. Se a gestante também optar pelo pré-natal, paga R$ 100 pela consulta.

Essa “profissionalização financeira”, no entanto, não chegou ao Nordeste. Por lá, Fernanda, como a maioria das parteiras tradicionais, nunca recebeu remuneração alguma. “Aqui, criou-se essa imagem de caridade. Então, mesmo quando faço o parto de alguém com mais dinheiro, não sei cobrar. Mas a gente tem de mudar isso, porque eu preciso comer”, brinca.

Vida dupla. Para pagar as contas, muitas parteiras enveredaram para o trabalho em hospitais, seja na função de auxiliar de enfermagem ou como parteiras hospitalares. Sem abandonar, é claro, a clientela que acredita no parto domiciliar.

Foi o que Fernanda fez. Formou-se enfermeira e comemora os avanços observados desde sua chegada ao hospital. “Antes, os médicos eram muito conservadores; hoje, até o parto de cócoras eles já começaram a aceitar. Mas, para poder cantar e orar, só em casa mesmo.”

O Instituto Nômade acredita que o registro como patrimônio imaterial pode suscitar avanços na discussão sobre a valorização do ofício e ajudar na conquista de direitos trabalhistas e sociais. O inventário enviado pela ONG está na etapa de avaliação técnica do Iphan e deve ser discutido no próximo mês na Câmara do Patrimônio Imaterial do órgão.

“Está em análise, mas já se pode dizer que o saber, a forma de fazer e os conhecimentos das parteiras são bens passíveis de reconhecimento”, diz Claudia Vasques, coordenadora de registro do Departamento do Patrimônio Imaterial do Iphan.



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