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terça-feira, 15 de abril de 2014

Tradição de parteiras está no centro de incentivo ao parto normal na Grã-Bretanha


Até 2011,o índice de cesarianas realizadas no Reino Unido era de 25% do total de partos. Era possível argumentar que isso ocorria não por uma preferência das mulheres britânicas por partos normais, mas porque não era dada a elas o direito de fazer uma cesariana planejada e por opção própria. Elas só podiam passar pelo procedimento se houvesse razões médicas.

Gestantes passaram a ter direito de escolher a cesárea, segundo novas diretrizes do Instituto Nacional de Saúde e Excelência Clínica (NICE, na sigla em inglês).

O que não mudou deste então foi a taxa de cesáreas, que permaneceu no mesmo patamar.

Segundo os dados mais recentes do Health and Social Care Information Centre, órgão do governo britânico que compila informações de saúde pública, 25,5% dos partos registrados entre 2012 e 2013 foram cesáreas.

Hoje, as mulheres são informadas dos riscos da cirurgia por um médico, mas, se ela optar pela cesárea, isso não pode ser negado. Ainda assim, houve um aumento de só 0,5 ponto percentual no índice.

Essas estatísticas refletem a política de saúde pública do país, que prioriza o parto normal. Para o NHS, o Serviço Nacional de Saúde britânico, o parto planejado por cesariana é um recurso que só deve ser utilizado em condições excepcionais.

 

A longa tradição das parteiras


Parte deste esforço de dar prioridade ao parto normal se deve ao forte histórico da profissão de parteira no país, estabelecida em lei pelo Ato Midwifery, em 1902.

A primeira e única vez que uma gestante britânica é avaliada por um médico é ao descobrir que está grávida, quando normalmente procura um clínico geral, conhecido como general practitioner no país.

Mas a parteira é o principal profissional responsável pela saúde, segurança e bem estar da mulher durante a gestação e cuida do atendimento pré e pós natal.

Qualquer pessoa pode ingressar na profissão após um curso profissionalizante em tempo integral de no mínimo 156 semanas, segundo critérios estabelecidos pela União Européia.

Outra maneira é através de um curso mais curto, de 78 semanas, voltado para enfermeiras e enfermeiros que queiram seguir uma nova profissão.

 

Em casa ou no hospital?


Quando não há riscos para a mãe ou para o bebê, o NHS indica o parto normal e oferece algumas opções para a hora de dar à luz.

Além do hospital, é possível parir em casa com a ajuda das parteiras ou em clínicas conhecidas como centros de nascimento, que têm um ambiente mais caseiro que o dos hospitais.

A cesariana planejada ou a de emergência são admitidas em poucas circunstâncias: quando o parto anterior foi uma cesárea; se o bebê está sentado; se a gestante tem placenta prévia (quando ela está fixada à parede do útero, cobrindo parcial ou totalmente o cérvice uterino); ou quando há um deslocamento prematuro da placenta.

De acordo com o Royal College of Obstetricians and Gynaecologists (RCOG), a associação de obstetrícia e ginecologia da Grã-Bretanha, a probabilidade de uma cesariana está fortemente associada às características maternas e fatores clínicos de risco.

 

Cesariana planejada


Segundo o Royal College of Midwives, que representa as parteiras britânicas, mesmo depois da mudança das regras, as mulheres não são encorajadas a optar pela cirurgia, mesmo nas situações mais complexas.

No caso do bebê sentado, a mãe pode optar por tentar reposicioná-lo através de pressão externa, em vez de recorrer imediatamente à cesárea.

De acordo com o NHS, cerca de 50% dos bebês que não estão com a cabeça para baixo conseguem ser virados usando uma manobra conhecida como versão cefálica externa.

Em outro caso comumente associado às cesarianas – quando o bebê tem o cordão umbilical enrolado em torno do pescoço – a cirurgia sequer é cogitada. A parteira se encarrega de desenrolá-lo durante o parto.

Para Cathy Warwick, chefe executiva do Royal College of Midwives, é tudo uma questão de confiança.

"Se as parteiras conseguirem fazer com que as mulheres entendam o que suas escolhas significam para elas e para seus bebês, elas se sentirão apoiadas na hora do parto”, afirma Warwick. “Então, poucas mulheres farão a escolha por uma cesariana."


Fonte: BBC Brasil

quinta-feira, 13 de março de 2014

Mulheres denunciam violência obstétrica; saiba se você foi vítima


Giovanna Balogh
Blog Maternar, 12/03/2014

Mulheres são diariamente vítimas da chamada violência obstétrica em consultórios e hospitais das redes pública e privada de saúde. Muitas parturientes não sabem dos seus direitos no pré-natal, na hora do parto e no pós-parto e constantemente sofrem com agressões físicas ou emocionais por parte dos profissionais de saúde.

É considerada violência obstétrica desde a enfermeira que pede para a mulher não gritar na hora do parto normal até o médico que faz uma episiotomia indiscriminada – o corte entre o ânus e a vagina para facilitar a saída do bebê . Apesar de a OMS (Organização Mundial da Saúde) determinar critérios e cautela para a adoção do procedimento, médicos fazem a prática de maneira rotineira. A obstetriz Ana Cristina Duarte, do Gama (Grupo de Maternidade Ativa), estima que entre 80% a 90% das brasileiras são cortadas durante o parto normal. “Sabemos que há evidências de que não é necessário mais cortar as mulheres. As mulheres são cortadas sem o consentimento delas e isso é uma violência obstétrica”, comenta.

De acordo com a pesquisa “Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado”, divulgada em 2010 pela Fundação Perseu Abramo, uma em cada quatro mulheres sofre algum tipo de violência durante o parto. Por conta do grande número de denúncias que tem recebido, o Ministério Público Federal decidiu instaurar nesta semana um inquérito civil público para apurar esses casos.

Segundo o MPF, algumas denúncias “demonstram o desrespeito” a essas mulheres. Para Ana Cristina, o número da pesquisa está subestimado pois muitas mulheres ainda não entendem que foram vítimas desse tipo de violência. Ela diz que os efeitos da violência obstétrica são sérios e podem causar depressão, dificuldade para cuidar do recém-nascido e também problemas na sexualidade desta mulher. Os tipos mais comuns de violência, segundo o estudo, são gritos, procedimentos dolorosos sem consentimento ou informação, falta de analgesia e até negligência.

A Defensoria Pública de São Paulo também tem intensificado as ações para orientar as mulheres e sobre a importância de denunciar os casos para a Justiça, a ouvidoria dos hospitais e os conselhos de classe, como o CRM (Conselho Regional de Medicina).

A free-lancer Marina de Oliveira Kater Calabró, 36,  conta que sofreu episiotomia no parto dos três filhos e que teve dificuldades na recuperação dos pontos, principalmente, no parto do caçula, ocorrido no ano passado em um hospital particular de São Paulo. “Na primeira gravidez eu realmente não sabia que não era necessário. No terceiro parto,  minha recuperação da episiotomia foi horrível, sofri pacas, demorou muito até eu conseguir andar direito”, lamenta Marina, que fez todos os partos com a mesma médica.

Outros exemplos de violência obstétrica são a infusão intravenosa para acelerar o trabalho de parto (ocitocina sintética), a pressão sobre a barriga da parturiente para empurrar o bebê (manobra de Kristeller), o uso rotineiro de lavagem intestinal, retirada dos pelos pubianos (tricotomia) e exame de toque frequente para verificar a dilatação. São comuns também os relatos de  humilhações praticados por parte dos profissionais de saúde que dizem frases como “se você não parar de gritar, eu não vou mais te atender”, “na hora de fazer não gritou” e outras do gênero.

Também é considerada violência obstétrica agendar uma cesárea sem a real necessidade, recusar dar bebida ou comida para uma mulher durante o trabalho de parto ou impedir procedimentos simples, como massagens para aliviar a dor e a presença de um acompanhante na hora do parto, que pode ser o marido ou qualquer pessoa da escolha da parturiente.

Segundo os relatos do MPF, muitas mães são amarradas e obrigadas a ficar deitadas durante o trabalho de parto quando é comprovado cientificamente que, para minimizar os incômodos das contrações, a mulher deve se movimentar e ficar na posição que se sente mais confortável para parir. Mães que são impedidas de ter contato com o bebê e amamentá-lo logo após o parto também podem denunciar os profissionais de saúde.

Além de fiscalizar as entidades de saúde que estão desrespeitando os direitos reprodutivos e sexuais das mulheres, o MPF pretende divulgar a ocorrência das práticas indevidas durante o trabalho de parto, bem como os direitos das parturientes. As procuradoras da República Luciana da Costa Pinto e Ana Previtalli, responsáveis pela instauração do inquérito civil público, defendem que as mulheres precisam ser informadas para que possam cobrar dos profissionais que as atendem a assistência digna e baseada em evidências científicas já estabelecida pela OMS. Os casos podem ser denunciados no site do Ministério Público Federal.

AÇÕES NA JUSTIÇA

A advogada Priscila Cavalcanti conta que entrou com várias ações na justiça por conta dos maus-tratos sofridos por suas clientes. Além de processar o hospital e o profissional de saúde envolvido, em alguns casos o plano de saúde também é incluído na ação. “Usamos o respaldo de que o médico consta da rede credenciada e deveria ser melhor qualificado ou estar mais a par das evidências”, comenta. A advogada, que se especializou nesse tipo de ações, aconselha as mulheres a tentar reverter o quadro no momento, quando isso é possível.

“Toda mulher tem direito a um acompanhante da sua escolha na hora do parto, então, ela deve se informar de seus direitos para exigir na hora do parto”, comenta. Ela ainda aconselha as pacientes a prestar atenção nos nomes de quem está praticando a violência obstétrica e, após a alta, pedir o prontuário da mulher e do bebê. “Depois, o ideal é escrever o relato do que aconteceu, com riqueza de detalhes, e procurar um advogado de confiança, para que possam ser tomadas as medidas legais cabíveis”, orienta.

A cidade de Diadema, na Grande SP, foi pioneira ao criar, no ano passado, uma lei contra a violência obstétrica na rede municipal de saúde.

RELATOS

Apesar do termo violência obstétrica ser relativamente novo, além de denunciar, muitas mães têm trocado experiências e divulgado os casos nas redes sociais para que outras mulheres não passem pelo mesmo sofrimento. Desde março do ano passado, a fotógrafa Carla Raiter, 31, coleta histórias e registra imagens de mulheres que foram vítimas na hora do parto. Com o projeto “1:4 Retratos da Violência Obstétrica”, ela mostra de forma anônima o sofrimento dessas mulheres.

Ao receber o relato, ela faz uma tatuagem temporária que é aplicada na pele da mulher que será fotografada. Confira nas imagens a seguir (AQUI) o que passaram algumas mulheres no momento que deveria ser o mais feliz de suas vidas. E você, já foi vítima de violência obstétrica?

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Manual do Parto Humanizado

O blog Amigas do Parto disponibiliza um Manual do Parto Humanizado, com indicações, dicas e comentários sobre a preparação do parto e a prática em si. Confira mais, veja o Manual completo no endereço:

http://www.amigasdoparto.com.br/jica.html

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Humanização é realidade no Hospital Sofia Feldman, em Belo Horizonte


Um detalhe chama a atenção de quem circula por qualquer um dos dois Centros de Parto Normal do Hospital Sofia Feldman, em Belo Horizonte: os quartos foram batizados com nomes de personalidades femininas importantes da história mineira e nacional, como Dona Beija, Chica da Silva e Adélia Prado. A homenagem é coerente com a filosofia de atendimento humanizado dessa maternidade de grande porte, em que se incentiva o protagonismo da mulher no parto.

Por várias razões, a experiência desse hospital na atenção ao parto e nascimento é referência nacional em atenção humanizada e boas práticas. Muitas das características da ambiência hospitalar e da dinâmica de trabalho aparecem como recomendações do programa Rede Cegonha do Ministério da Saúde. O recém-inaugurado Centro de Parto Normal Helena Greco (nas dependências do prédio principal) conta com cinco quartos espaçosos e iluminados e três com banheiras para parto na água. E o Centro de Parto Normal David Capistrano da Costa Filho (com entrada independente), criado em 2001 e conhecido como Casa de 

Parto, conta também com cinco quartos, um com banheira.
Mesmo sendo referência para alta complexidade em todo o estado de Minas Gerais, a taxa de cesariana no Sofia Feldman é de cerca de 25%, menor do que a da rede pública como um todo. O hospital apresenta também as menores taxas de mortalidade materna e neonatal de Belo Horizonte, segundo informações da Comissão Perinatal da Secretaria Municipal de Saúde. Dos mais de 7 mil bebês que nascem ali, cerca de 10% nascem na Casa de Parto.

Os partos feitos ali são assistidos por enfermeiras obstétricas, como Nágela Cristine Pinheiro Santos, que está há 16 anos no Sofia Feldman e ajudou a elaborar o projeto do espaço e a desenvolver dispositivos para dar mais conforto à mulher, como um arco de metal adaptado à cama, que facilita a posição de cócoras. “A Casa de Parto Normal dá à mulher poder de decidir o que quer na hora do parto, como em que posição ficar”, diz Nágela, que esteve em maternidades da região Nordeste e da Amazônia Legal para difundir suas experiências por meio do Programa de Qualificação das Maternidades (PQM) e, em fevereiro, participou de um seminário de humanização no Camboja. “Medidas simples como um chuveiro quente ou uma cortina separando leitos em uma enfermaria conjunta dão resultado imediato de mais conforto e privacidade”, conta. Ela lembra, porém, que a humanização é mais do que o ambiente confortável. “A instituição como um todo precisa entender e incorporar a humanização”.

O diretor administrativo do hospital, Ivo Oliveira Lopes, concorda. “Alguns direitos, para serem garantidos, não demandam recursos. Nós, gestores, temos o dever de preservá-los. O parto é da mulher, não um ato médico. Assistir o parto não é tomar o lugar da mulher, e o enfermeiro obstétrico, ao lado de todos os outros profissionais, é fundamental”, considera. “A tecnologia que chega é muito bem-vinda, mas para quem tem necessidade real, não por uma necessidade mercantilista”, reforça o médico, que destaca o reconhecimento obtido pelo Sofia como Hospital Amigo da Criança, conferido pelo Unicef, e o Prêmio Maternidade Segura, recebido da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).

Segundo ele, os bons resultados são devidos principalmente à participação da comunidade. “A gestão participativa determina os rumos da humanização”, explica ele, acrescentando que esse aspecto esteve presente no hospital desde o início de sua história. Construído em sistema de mutirão por voluntários da comunidade a partir da doação de um lote para uma sociedade beneficente, o Sofia Feldman foi inaugurado, ainda como ambulatório, em 1977, passando a atender como hospital em 1982.

Em 1988, a entidade mantenedora passou a ser a Fundação de Assistência Integral à Saúde (Fais). Hoje, é uma instituição pública, não governamental, que atende exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). As questões administrativas do hospital são definidas e decididas pelo colegiado diretor, composto por 16 pessoas de diferentes perfis profissionais. 

Todos os dias, são promovidas reuniões com parturientes e acompanhantes para avaliar o atendimento. “Queremos entender a singularidade de cada ser humano e da sua rede social. Oferecer atendimento baseado em evidências científicas é o mínimo”, explica Ivo, para quem a humanização passa também pelas relações entre trabalhadores e gestores. “Mulheres são 80% das nossas trabalhadoras, por isso as questões de gênero estão ainda mais presentes”, diz. O Sofia dispõe de academia e creche para as funcionárias, e promove ações de comunicação e eventos de integração entre a família do trabalhador e o hospital.
Há ainda o Núcleo de Terapias Integrativas e Complementares, que atende tanto funcionários quanto gestantes e mães com bebês internados, com práticas da medicina tradicional, como escalda-pés e auriculoterapia. A enfermeira Lília Coelho Lopes está à frente do núcleo e trabalha com uma equipe de voluntárias. “O objetivo é estimular os processos de cura internos. É um trabalho coadjuvante ao da alopatia, que representa o acolhimento e diminui a ansiedade das gestantes”, diz Lília.

Manejo conservador
Com 40% da mulheres provenientes do interior do estado, o Sofia precisou desenvolver iniciativas criativas para atendê-las, que foram incorporadas ao modelo de gestão do hospital. A Casa da Gestante Zilda Arns recebe gestantes com agravos em um espaço próximo ao hospital, evitando viagens desgastantes de ida e volta para casa para aqueles que moram distante do hospital, e até partos antecipados. Já a Casa de Sofias acolhe mães que vêm de longe e têm filhos internados na UTI neonatal. Criadas por iniciativa dos gestores, passaram a ser financiadas pelo Ministério da Saúde através da adesão ao programa Rede Cegonha.

“Para um prematuro, ficar quatro semanas a mais dentro do útero significa viver ou morrer”, explica a pediatra Raquel Aparecida Lima de Paula, responsável pela área de neonatologia do hospital, que reforça a importância do manejo conservador das gestações de risco. “A política pública mais eficaz consegue reduzir os gastos com atenção terciária. De modo geral, a família tem excesso de confiança na tecnologia, mas a melhor incubadora é o útero da mãe. Historicamente há uma inversão, com muitos recursos para a atenção terciária, como construção de UTIs neonatais. Os equipamentos são caros e não resolvem a questão principal”, comenta a médica.

Raquel aponta como um dos pontos positivos do Rede Cegonha a correção das distorções da tabela de procedimentos obstétricos e neonatais. Ela acredita que o programa pode representar uma inflexão no modelo de assistência e “começa a inverter essa lógica de assistência da obstetrícia e da neonatologia. É como se o que nós idealizamos aqui pudéssemos ver no Brasil inteiro”.    



quinta-feira, 28 de junho de 2012

Nascer no Brasil: poder, hegemonia e luta por direitos


Segundo o Ministério da Saúde, entre 1994 e 2007 a taxa de cesarianas aumentou em 44%. Um dos motivos que justificariam essa elevação seria uma maior proporção de partos de alto risco. O que mudou? São as mulheres brasileiras que têm gestações mais débeis ou a lógica do sistema de saúde, leia-se remuneração de médicos e hospitais, reorganiza o comportamento de obstetras e gestantes no Brasil? O artigo é de Glauber Piva.

Glauber Piva (*)

Nas últimas semanas o Fantástico apresentou o debate sobre parto domiciliar. Médicos, parteiras, pais e mães opinaram e a violência dos poderes constituídos veio à tona: o CREMERJ – Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro – decidiu denunciar Jorge Kuhn, que se define como “médico parteiro e também ginecologista”, por ter se manifestado em favor do parto humanizado domiciliar. A resposta veio por meio de mulheres e homens de todo o país que defendem o direito das gestantes de decidir sobre onde querem ter seus filhos, desde que com pleno acesso ao atendimento e à informação. Abre-se, então, uma boa oportunidade para discutir o nascimento no Brasil, onde nascem 3 milhões de crianças por ano, sendo 2,2 milhões em hospitais públicos.

Há pelo menos 50 anos as taxas de cesariana vêm aumentando de maneira constante, tanto nos países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento. Segundo dados da pesquisa Nascer no Brasil, liderada pelo Instituto Osvaldo Cruz e que contou com pesquisadores de diversas áreas da saúde, 46,6% dos nascimentos ocorrem via cesárea. Em 2007, no Sistema Público a taxa de cesárea foi de 35%, enquanto na Saúde Suplementar foi de 80%. Quanto maior a população inserida no sistema de saúde suplementar, maior é a taxa de cesariana. Ou seja, quanto maior a renda e maior o investimento em convênios médicos, mais cesáreas são feitas.

Segundo dados do Sinasc do Ministério da Saúde, entre 1994 e 2007 a taxa de cesarianas aumentou em 44%. Um dos motivos apresentados para justificar a elevação das taxas de cesariana tem sido uma maior proporção de partos de alto risco. O que mudou? São as mulheres brasileiras que têm gestações mais débeis ou a lógica do sistema de saúde, leia-se remuneração de médicos e hospitais e aumento do contingente sob atendimento privado, reorganiza o comportamento e a visão de mundo de obstetras e gestantes no Brasil?

É provável que o aumento de mulheres que tem optado pelo parto cirúrgico contribua significativamente para o aumento dessas taxas. mas não se pode ignorar que esse tipo de decisão, tem impacto na vida futura das crianças.

Há estudos, por exemplo, que indicam desvantagens nos padrões de saúde das crianças nascidas de cesárea prematura em relação aos nascidos de parto vaginal. Outros, apontam uma influência do tipo de parto no aleitamento materno na primeira hora de vida do recém-nascido. 22,4% das mães com parto normal iniciaram o aleitamento materno nesse período, enquanto apenas 5,8% das mães com parto cesariano. Certamente estes índices são derivados diretamente do tipo de procedimento adotado nos hospitais que, em nome de determinada assepsia, sacrificam o momento mais nobre do nascimento, que é o contato do bebê com a mãe logo ao nascer.

Quantas são as mulheres que, ao ultrapassarem as 12 semanas de gestação, já agendam suas cirurgias cesarianas? Será que elas imaginam que a humanidade chegou até aqui sempre a bordo de um Centro Cirúrgico? Qual é a relação que as cesáreas eletivas têm com a intensa campanha, velada e explícita, de marginalização do parto vaginal? Quantas foram as novelas e filmes, por exemplo, que retrataram a mãe de cesárea como aquela saída de um salão de beleza enquanto a mãe de parto normal parecia saída de um campo de concentração? E o pai? Qual o papel que o pai cumpre nisso tudo?

O caso do CREMERJ com o Dr. Jorge Kuhn é apenas parte desse grande debate. As mulheres e homens que se fortalecem em grupos pedindo respeito ao seu direito de escolha do local do parto e, portanto, de parir em casa se quiserem, estão promovendo uma luta contra-hegemônica, contra um sistema que não reconhece as gestantes como portadoras de direitos, mas como consumidoras de um serviço. As entidades de médicos, quando ameaçam punir os obstetras por delito de opinião, o fazem em nome de seus poderes constituídos e em nome de interesses corporativos, já que evitam um debate cientificamente fundamentado. A que parece, não querem perder o privilégio de arbitrarem sobre a vida e a morte.

Essa luta não é marginal ou irresponsável. Meu filho nasceu em casa após uma decisão consciente, suportada em muita informação, com acompanhamento de bons profissionais e a certeza de que não estávamos ofendendo a medicina, mas acreditando que seria o melhor para o bebê e para a mãe. Na verdade, essa batalha é mais uma forma de confirmar Paulo Leminski: "en la lucha de clases, todas las armas son buenas: piedras, noches, poemas”.

(*) Glauber Piva é sociólogo e pai do Théo, que nasceu em casa após 41,5 semanas de gestação.

Fonte: Carta Maior

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Mulheres cobram condições humanizadas na hora de dar a luz

Na tarde desta quarta-feira (30/5), o Seminário Redução da Mortalidade Materna debateu a assistência humanizada como estratégia na prevenção da mortalidade, bem como avanços e desafios. Ao final do encontro, foram elaboradas, pela vereadora Neusinha Santos (PT) e representantes de entidades na área médica, de enfermagem, PBH, membros de ONGs e de Grupos de Apoio, propostas como a realização de audiência pública com maternidades privadas e públicas e encaminhamento de uma Carta de Intenções ao Conselho Nacional dos Direitos Humanos.

“As mulheres optam por cesárias, pois têm pavor do parto normal. Muitas sofrem violência e não têm ao seu lado um acompanhante. Os hospitais também poderiam ter banheiras para aliviar sua dor, como no Sofia Feldman, que possui cinco”, relatou a coordenadora do Ishtar Grupo de Apoio ao Parto do Princípio Ativo, Carolina Giovannini.

Segundo o presidente do Sindicato dos Médicos, Cristiano da Mata Machado, a sociedade tem uma visão errada sobre a forma de tratar o parto e falta comunicação. “Precisa haver uma comunicação em rede, entre a comissão perinatal, a Secretaria Municipal e Câmara Municipal de Belo Horizonte, para discutir as evidências com a participação da família”, avaliou.

“Duas mil mulheres morreram no ano passado por parto ou puerpério e, até agora, este ano, já morreram mil. Aplicação de fórceps, excesso de toque e cesária sem indicação precisa são alguns dos problemas enfrentados na hora do parto”, declarou Cleise Soares, da ONG Bem Nascer e jornalista do Hospital Sofia Feldman. Ela ressaltou que o risco de mortalidade aumenta em cesárias. Uma das ações da ONG é apresentar a estudantes da área de Saúde, enfermeiros da UFMG e da PUC-Minas, e da área de Jornalismo, a experiência vivida por essas mulheres, antes que eles cheguem ao mercado de trabalho.

De acordo com o coordenador da Atenção à Saúde da Mulher da Secretaria Municipal de Saúde, Virgílio Queiroz, o Hospital Sofia Feldman é o que realiza menos cesárias em Belo Horizonte, disponibilizando de 90 a 95% de leitos de obstetrícia. “Além disso, 80% dos partos são conduzidos por enfermeiras obstetrizes”, disse. Virgílio informou, ainda, que as principais causas de mortalidade são a má qualidade da assistência pré-natal e da assistência ao parto e puerpério.

Rede Cegonha

Segundo Rosa Maria Câmara, da Rede Cegonha, a rede é um programa do Ministério da Saúde, lançado em 2011, com o objetivo de garantir os direitos de atenção humanizados durante o pré-natal, parto, nascimento, puerpério e atenção infantil, de 0 a 24 meses, em todos os serviços do SUS.

“O ministério tem recursos direcionados aos serviços que assumirem esse compromisso, os quais terão que cumprir 32 indicadores, 12 deles inegociáveis, como o direito a acompanhante”, explicou.

Avanços e desafios

Para a vice-presidente da Associação de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras de Minas Gerais, Torcata Amorim, é preciso investir na residência em Enfermagem Obstétrica em todo o país, pois o número de profissinais é insuficiente.

Já segundo Cláudia Navarro, do Conselho Regional de Medicina do Estado de Minas Gerais, as causas de morte são, basicamente, hemorragia e hipertensão e falta conhecimento técnico em cidades do interior, onde precisam ser ofertados cursos. “A função do CRM é fiscalizar a prática da Medicina pelos médicos e as condições em que a Medicina é exercida, junto à Secretaria Municipal de Saúde, principalmente no que se refere ao óbito materno e perinatal”, completou.

Encaminhamentos

Ao final do encontro, ficou acertada a realização de audiência pública com a participação de maternidades privadas e públicas e de assistência à saúde; a realização de seminários regionais de assistência reprodutiva da mulher, com foco na mortalidade materna; o encaminhamento de Carta de Intenções ao Conselho Nacional dos Direitos Humanos, com o objetivo de reduzir a mortalidade materna em BH. O resultado do seminário também será encaminhado ao Ministério da Saúde e Secretarias Municipais e aos Conselhos de Secretarias Municipais de Saúde (COSEMS). Os participantes sugeriram também a elaboração de leis para melhoria da condição da assistência à mulher e à criança.

Fonte: CMBH

terça-feira, 29 de maio de 2012

Seminário Redução da Mortalidade Materna nesta quarta, 30/05, em BH

Em 28 de maio é comemorado o Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna. Para marcar a data, a Câmara Municipal de Belo Horizonte realiza o seminário Redução da Morte Materna com o objetivo de discutir os avanços e desafios da mortalidade materna, promover a integração e a troca de experiências, além de disseminar informações da área junto aos profissionais que atuam na cidade.

O evento acontece dia 30 de maio, quarta-feira, das 8h às 18h, no Plenário Amynthas de Barros da Câmara Municipal de Belo Horizonte.


PROGRAMAÇÃO

30/05 – MANHÃ

8h Credenciamento

8h30 Mesa de Abertura

9h Mesa Redonda: SITUAÇÃO ATUAL DA MORTE MATERNA

Âmbito nacional: Representante do Ministério da Saúde.
Dr. Juan José Contez Escalante - Coordenação Geral de Informações e Análise Epidemiológica - Departamento de Análise de Situação de Saúde - Secretaria de Vigilância em Saúde - Ministério da Saúde.

Âmbito estadual: Representante da Secretaria Estadual de Saúde.
Dra. Márcia Rovena de Oliveira - Referência técnica em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente da Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais, é médica obstetra -Programa de Redução da Mortalidade Infantil e Materna em Minas Gerais (Viva Vida).

Âmbito municipal: Representante da Secretaria Municipal de Saúde.
Dra. Sônia Lansky - Pediatra doutora em Saúde Pública/Epidemiologia (UFMG), pós-doutora pela ENSP-Fiocruz, Coordenadora da Comissão Perinatal e do Comitê de Prevenção de Óbitos Materno, Fetal e Infantil da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte/MG.

Organização Mundial da Saúde: Representante da Organização Pan-Americana de Saúde.
Dra. Maria Helena Bastos - Consultora Nacional em Saúde da Mulher desde fevereiro de 2012 na Organização Pan-Americana da Saúde - OPAS-OMS. Formada em medicina pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) em 1986. Obstetra e ginecologista, com mestrado e doutorado no Reino Unido. Autora de livros e artigos sobre saúde da mulher, com publicações no Brasil, em Portugal, na Suécia e no Reino Unido. Experiência como palestrante nacional e internacional, atuando como colaboradora da Biblioteca Cochrane desde 2004.

11h Perguntas (por escrito).

12h Encerramento.

30/05 – TARDE

14h Mesa redonda

ASSISTÊNCIA HUMANIZADA COMO ESTRATÉGIA NA PREVENÇÃO DA MORTALIDADE

Dr. Virgílio Queiroz - Coordenador da Atenção à Saúde da Mulher da Secretaria Municipal de Saúde.

Dra. Rosa Maria Câmara - Representando aRede Cegonha, uma estratégia do Ministério da Saúde, operacionalizada pelo SUS, fundamentada nos princípios da humanização e assistência.

15h Perguntas (por escrito).

16h Debate

AVANÇOS E DESAFIOS: ATUAÇÃO E PROPOSTAS DAS ENTIDADES PROFISSIONAIS, EDUCACIONAIS E SOCIEDADE CIVIL ORGANIZADA

        Ministério Público.
        Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM).
        Conselho Regional de Enfermagem de Minas Gerais (COREN).
        Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras (ABENFO).
        Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (SOGIMIG).
        Parto Ativo / Ishtar.
        ONG Bem Nascer.
        Conselho Municipal de Saúde.
        Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
        Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (FCMMG).

17h Perguntas (por escrito).

18h Encerramento.



Fonte: CMBH


domingo, 27 de maio de 2012

Arquivo de notícias: Estudo analisa demanda por parto cesáreo no Brasil


Estudo analisa demanda por parto cesáreo no Brasil

Para a Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), reverter o cenário brasileiro será difícil. Segundo dados recentes divulgados pelo Ministério da Saúde, 52% dos 3 milhões de partos realizados no País em 2010 foram cirúrgicos. A recomendação da Organização Mundial de Saúde é que esse número não supere os 15%. Há dez anos, em 2000, elas representavam 38% dos partos realizados no País.

Tornou-se cultural a opção pela cesariana, por causa de múltiplas variáveis, mas as mais relevantes são a remuneração médica e a cultura da mulher, que não quer sentir dores. Isso só vai mudar com uma educação em saúde pública maciça para todos os brasileiros, de todas as classes sociais, ressalta o presidente da Comissão de Gestação de Alto Risco da Fegrasgo, Denis José Nascimento.

Nascimento, que coordena o Departamento de Tocoginecologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), lembra que os planos de saúde pagam muito pouco aos profissionais. A dedicação que exige um parto normal então, segundo ele, não é valorizada.

Não tem estrutura que pague um profissional que se dedique a ficar horas e horas a fio ao lado da paciente, diz. E as mulheres, de acordo com ele, passaram a participar mais da decisão e também querer a comodidade da cesárea.

Apenas 4% escolheram cesárea por medo da dor, aponta pesquisa

A justificativa do medo da dor, no entanto, não apareceu como principal para as mulheres entrevistadas em outro estudo, ainda em elaboração pela Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz. As conclusões iniciais mostram que pouquíssimas mulheres escolheram a cesariana por medo da dor do parto normal: apenas 4% das 23.580 entrevistadas. A maioria (25%) diz que a cesárea foi escolhida por falta de dilatação.

Fabiana Ramos Cabral Lambert, 28 anos, acredita que muitos médicos induzem as pacientes a acreditar que necessitam realizar uma cirurgia por causa da condição de saúde do bebê. Terminando a residência em obstetrícia, a enfermeira conta que se motivou a procurar especialização no acompanhamento de partos por causa da irmã mais velha. Fabiana diz que ela fez duas cesarianas sem indicação.

Ela sonhava em ter um parto normal. Nas duas vezes, o médico a induziu a acreditar que não teria condições de fazer um parto normal. Um deles nasceu com prematuridade pulmonar. Achei absurdo, afirma. Fabiana, que tem um filho de um ano e sete meses, também passou por uma cesariana. Até a 30ª semana de gestação peregrinou por clínicas de Brasília em busca de um médico que fizesse parto normal pelo plano de saúde. Não conseguiu.

Todos os profissionais cobravam à parte pelo parto. Ela compreende que os honorários médicos são ruins, mas critica a falta de opções para quem não pode arcar com esses custos.

A mãe fica à mercê da situação. Ou vai para o hospital público ou paga por fora. Não dá para julgar os médicos, porque um parto natural pode demorar 24 horas e ele precisa ser remunerado. Mas acho que a existência de equipes multidisciplinares, com enfermeiras obstetras, deveria ser estimulada.

Por fim, uma complicação fez com que ela tivesse o filho mais cedo. Fiquei superfrustrada e me senti impotente. O que me acalmou foi que tive uma indicação considerável de cirurgia, conta.

sábado, 26 de maio de 2012

Arquivo de Notícias: Parto e Economia


SMRN 2012: Parto e Economia



Tecnologia baixo custo e altíssima efetividade!
Por um parto amoroso, livre, consciente e seguro!



Quem quer parir naquela banqueta ali? 
(Foto de Panza Natural)  

Em 2012, a Semana Mundial pelo Respeito ao Nascimento, fala sobre Parto e Economia. 

O movimento internacional questiona: 
"Quanto custa um parto normal para o sistema de saúde?
E uma cesárea sem complicações? E com complicações para mães e/ou bebês?
Quanto você pagou pelo seu parto?
Quanto custa um parto natural nas capitais?"


Isso é melhor para quem?

O Blog Parto no Brasil defende, apoia e valoriza as experiências dos Centros de Parto Normal, uma estratégia eficiente para a promoção das boas práticas na atenção ao parto normal no SUS e no sistema privado. 


Confira mais informações:

Sobre a pesquisa da UFMG, de 2011, que concluiu que a via do parto é escolhida, sobretudo, pela remuneração médica e renda da paciente:

Dissertação de mestrado de Tabi Thuler Santos, na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais



“Remuneração médica e renda da paciente ditam regras do parto” conclui estudo de economista (Blog What Mommy Needs)

Eles Venceram!!! (Blog do Desabafo de Mãe)




E como foi o seu parto?

Não deixe de conferir a linda participação da European Network of Childbirth Associations/Holanda










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