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quarta-feira, 23 de julho de 2014

Conheça o ‘Senhor Gentileza’ que mudou a rotina de uma favela


Blog BRASIL/ Folha de S. pAULO

Patrícia Britto, em Vitória

Quem sobe o Morro dos Alagoanos, em Vitória, não demora para ouvir falar de um homem que fez os capixabas lembrarem da favela por outro motivo, que não seja o tráfico de drogas.

Lá no alto da comunidade, em uma casa amarela com duas janelas e três vasos na calçada, mora o Raimundo de Oliveira, de 67 anos, autodenominado “agitador cultural”.

Nascido em uma família simples do morro, Raimundo se dedica desde jovem à missão de divulgar a arte e a cultura na favela.

É ele quem produz uma das tradicionais festas da cidade, o Femusquim (Festival de Música de Botequim), que todos os anos leva para o morro shows de samba, bossa-nova e MPB, de artistas locais e nacionais.

Quando foi criado, em 1997, o Femusquim tinha apenas uma caixa de som no meio da rua. O festival cresceu e hoje em dia leva para o morro, nos dois dias de festa, um público de cerca de 3.000 pessoas.

Entusiasta do morro, Raimundo conta que criou o festival para levar uma atração cultural para a comunidade e reduzir o preconceito contra os moradores da favela.

“Antes as pessoas não vinham para cá porque havia, e ainda há, um preconceito. Acham que o morro é violento. Mas com essas ações, como o Femusquim, nós estamos quebrando essa barreira. As pessoas estão vindo e vendo que o morro não é como se vende”, disse Raimundo durante a visita.

Ocupado por imigrantes nordestinos na década de 1920, o morro na região oeste de Vitória se tornou um dos pontos de tráfico de drogas na capital espírito-santense e é pouco frequentado por moradores de outras regiões. Mas, desde que o festival entrou para o calendário cultural da cidade, as ruas do morro ficam cheias de visita nos dias de festa.

Neste ano, em sua 18ª edição, o Femusquim fará uma homenagem ao cantor e compositor baiano Dorival Caymmi (1914-2008), nos dias 6 e 7 de novembro. A festa é gratuita, e os artistas são remunerados por meio de lei de incentivo à cultura.

GENTILEZA

Na vizinhança do Morro dos Alagoanos, Raimundo também é conhecido como Senhor Gentileza e lembrado pelas ações que cria para tornar a comunidade um lugar acolhedor.

Uma dessas criações é a chamada “escadaria da gentileza”: “Um dia eu estava nessa escadaria e percebi que ninguém me cumprimentava. Aí me deu um estalo. Limpei, pintei e escrevi: sorria, dê bom dia, dê boa tarde, dê boa noite. Gentileza gera gentileza. E o pessoal gostou”, contou ao blog.

Ao que parece, a estratégica funcionou.

Nas quase duas horas de visita do blog, em uma noite de quarta-feira, mais de 20 pessoas cumprimentaram Raimundo nas ruas do morro –entre elas, três motoristas de ônibus, a moça que vende cachorro quente na calçada, o barbeiro, e uma dona de casa sorridente na janela.

“A gentileza causa tanto bem, que muitos males ela evita, como o estresse, o infarto e o cansaço mental”, defendeu Raimundo, em tom professoral, enquanto apresentava o morro ao blog.

Outras de suas criações para alegrar a comunidade foram a “escadaria da fama”, pintada com nomes de artistas espírito-santenses, e o pequeno “jardim as rosas não falam”, de dois metros quadrados, transformado a partir de um antigo depósito de lixo.

Ele também já plantou árvores nas ladeiras do morro, montou um coral infantil, pintou muros e abriu uma biblioteca. Na maioria dos casos, as criações são custeadas com dinheiro do próprio bolso, por desesperança em esperar iniciativa do poder público.

“A cultura é vista como sobremesa: é a última coisa. Você vê a verba da segurança, da saúde, da educação… Cultura é o que sobra”, lamentou.

quarta-feira, 5 de março de 2014

A gestação do povo brasileiro, a universidade e o saber popular

 Leonardo Boff*

O povo brasileiro ainda não acabou de nascer. Vindos de 60 países diferentes, aqui estão se mesclando representantes destes povos num processo aberto, todos contribuindo na gestação de um povo novo que um dia acabará de nascer.

O que herdamos da Colônia foi um estado altamente seletivo, uma elite excludente e uma imensa massa de destituídos e descendentes de escravos. O cientista político Luiz Gonzaga de Souza Lima na sua original interpretação do Brasil nos diz que nascemos como Empresa Transnacionalizada, condenada a ser até hoje fornecedora de produtos in natura para o mercado mundial (cf. A refundação do Brasil, 2011).

Mas apesar deste constrangimento histórico-social, no meio desta massa enorme maduraram lentamente lideranças e movimentos que propiciaram o surgimento de todo tipo de comunidades, associações, grupos de ação e de reflexão que vão das quebradeiras de côco do Maranhão, aos povos da floresta do Acre, dos  sem-terra do sul e do nordeste, das comunidades de base, aos sindicatos do ABC paulista.

Do exercício democrático no interior destes movimentos nasceram cidadãos ativos; da articulação entre eles, cada um mantendo sua autonomia, está nascendo uma energia geradora do povo brasileiro que lentamente chega à consciência de sua história e projeta um futuro diferente e melhor para todos.

Nenhum processo desta magnitude se faz sem aliados, sem a ligação orgânica daqueles que manejam um saber especializado com os movimentos sociais comprometidos. É aqui que a universidade é desafiada a alargar o seu horizonte. Importa que os mestres e alunos  frequentem a escola viva do povo, como praticava Paulo Freire, e permitir que gente do povo possa entrar nas salas de aula e escutar os professores nas matérias relevantes para eles como eu mesmo fazia nos meus cursos na UERJ do Rio de Janeiro.

Essa visão supõe a criação de uma aliança entre a inteligência acadêmica com a miséria popular. Todas as universidades, especialmente após a reforma de seu estatuto por Humboldt em 1809 em Berlim que permitiu as ciências modernas ganharem sua cidadania acadêmica ao lado da reflexão humanística que criou outrora a universidade, se tornaram o lugar clássico da problematização da cultura, da vida, do homem, de seu destino e de Deus. As duas culturas – a humanística e a  científica - mais e mais se intercomunicam no sentido de pensar o todo, o destino do próprio projeto científico-técnico face às intervenções que faz na natureza e sua responsabilidade pelo futuro comum da nação e da Terra. Tal desafio exige um novo modo de pensar que não segue uma lógica do simples e linear mas do complexo e do dialógico.

As universidades são urgidas a buscar um enraizamento orgânico nas periferias, nas bases populares e nos setores ligados diretamente  à produção. Aqui pode se estabelecer uma fecunda troca de saberes, entre  o saber popular, de experiências feito, e o saber acadêmico, constituído pelo espírito crítico; dessa aliança surgirão seguramente novas temáticas teóricas nascidas do confronto com a anti-realidade popular e da valorização da riqueza incomensurável do povo na sua capacidade de encontrar, sozinho, saídas para os seus problemas. Aqui se dá a troca de saberes, uns completando os outros, no estilo proposto pelo prêmio Nobel de Química (1977) Ilya Prigorine (cf.A nova aliança, UNB 1984).

Deste casamento, se acelera a gênese de um povo; permite um novo tipo de cidadania, baseada na co-cidadania dos representantes da sociedade civil e acadêmica e das bases populares que tomam iniciativas por si mesmos e submetem o Estado a um controle democrático, cobrando-lhe os serviços básicos especialmente para as grande populações periféricas.

Nestas iniciativas populares, com suas várias frentes (casa, saúde, educação, direitos humanos, transporte coletivo, etc), os movimentos sociais sentem necessidade de um saber profissional. É onde a universidade pode e deve entrar, socializando o saber, oferecendo encaminhamentos para soluções originais e abrindo perspectivas às vezes insuspeitadas por quem é condenado a lutar só para sobreviver.      

Deste ir-e-vir fecundo entre pensamento universitário e saber popular  pode surgir o bio regionalismo com um desenvolvimento adequado àquele ecossistema e à cultura local. A partir desta prática, a universidade pública resgatará seu caráter público, será realmente a servidora da sociedade. E a universidade privada realizará sua função social, já que em grande parte é refém dos interesses privados das classes proprietárias e feita  chocadeira de sua reprodução social.

Esse processo dinâmico e contraditório só prosperará se estiver imbuído de um grande sonho: de ser um povo novo, autônomo livre e orgulhoso de sua terra. O antropólogo Roberto da Matta bem enfatizou que o povo brasileiro criou um patrimônio realmente invejável: “toda essa nossa capacidade de sintetizar, relacionar, reconciliar, criando com isso zonas e valores ligados à  alegria, ao futuro e à esperança” (Porque o brasil é Brasil, 1986,121).

Apesar de todas tribulações históricas, apesar de ter sido considerado, tantas vezes, jeca-tatu e joão-ninguém, o povo brasileiro nunca perdeu sua auto- estima e o encantamento do mundo. É um povo de grandes sonhos, de esperanças inarredáveis e utopias generosas, um povo que se sente tão imbuído pelas energias divinas que estima ser Deus brasileiro.

Talvez seja esta visão encantada do mundo, uma das maiores contribuições que nós brasileiro podemos dar à cultura mundial emergente, tão pouco mágica  e tão pouco sensível ao jogo, ao humor e à convivência dos contrários.

*Leonardo Boff é teólogo, escritor e autor de "A força da ternura", Mar de Idéias, Rio 2012.

Fonte: Jornal do Brasil, 03/03/2014

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Direitos autorais: UE quer fortalecer a diversidade cultural


João Gilberto, Baden Powell e o símbolo da Comissão Europeia














As regras de direitos autorais da União Europeia (UE) devem passar por algumas transformações este ano. Uma consulta pública foi aberta pela Comissão Europeia no final 2013 com o objetivo de coletar informações de consumidores, distribuidores, autores, gravadoras e etc, sobre como legislar levando em consideração a territorialidade do mercado único europeu.

Como cada país tem suas Leis, dentro da própria UE é polêmica a questão dos direitos do autor e a revisão da Lei tem como objetivo uniformizar a maneira como os direitos do autor são considerados em todos os países que integram a UE, a fim de fortalecer o mercado comum. Michel Barnier, comissário do mercado interno de serviços da UE, deixa clara a intenção da proposta revisora: "Minha visão sobre os direitos autorais é de que sejam uma ferramenta moderna e eficiente que apoie a ciração e a inovação, permita acesso a conteúdo de qualidade, desconsiderando fronteiras, encoraje investimento e fortaleça a diversidade cultural. Nossa lei de direitos autorais precisa se manter atualizada".

Mas o que Michel Barnier chama de diversidade cultural tem causado alguns problemas por aqui. De acordo com a Lei de direitos autorais brasileira, um fonograma se torna de domínio público após 70 anos desde a data de sua gravação, ou seja, fica livre de pagamento de direitos ao autor ou a seus detentores legais. Na Europa, esse prazo é 20 anos menor: em 50 anos as músicas são liberadas dos direitos. O prazo não é algo que a revisão pretende mudar.

Com base nessa diferença de validade de direitos, o selo Él Records, pertencente à gravadora inglesa Cherry Red, lançou no ano passado algumas gravações clássicas, raras ou fora de catálogo, da MPB: álbuns de Baden Powell, Tom Jobim e Vinicius, entre outros estão entre os lançamentos. O responsável pelo selo, Mike Alway, em entrevista ao jornal O Globo, se disse dentro da Lei: "Tudo o que lançamos de João, por exemplo, já está em domínio público".

De fato, ele está: dentro da Lei da União Europeia. Mas se as músicas são de artistas brasileiros, não é a Lei brasileira que deve ser seguida? Segundo as leis da União Europeia, é o país quem decide quando uma obra se torna de domínio público, independente do lugar em que esta obra foi gravada e lançada originalmente.

Para piorar a história - ou melhorar, para os fãs que buscam esses títulos e não os encontram por aqui -, alguns dos álbuns lançados como "Chega de saudade" (1958), "O amor o sorriso e a flor" (1960) e "João Gilberto" (1961), os três de João Gilberto, estão em meio a uma disputa judicial aqui no Brasil para ganhar relançamento - os originais dos discos estão aqui no Brasil. O artista proibiu a gravadora EMI de relançá-los.

A consulta sobre a revisão da Lei de direitos autorais na UE fica aberta até o próximo dia 05 de fevereiro neste endereço e, obviamente, somente residentes dos países que fazem parte da UE podem participar.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Meio ambiente e saúde dominarão Fórum Econômico Mundial este ano

Meio ambiente e saúde estarão entre os temas dominantes deste ano no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, que será realizado entre 22 e 25 de janeiro, anunciaram seus organizadores esta quarta-feira.

A 44ª edição deste encontro internacional, que reúne a cada ano os grandes tomadores de decisões políticas e econômicas do mundo, terá como tema a "reforma do mundo" e suas consequências para sociedade, políticos e negócios, indicaram em um comunicado.

Os 2.500 participantes, vindos de cerca de cem países, serão convidados a se debruçar sobre os grandes desafios relativos à saúde e ao ambiente neste início de século XXI.
Para os organizadores de Davos, as mudanças climáticas e seus impactos relacionados, como eventos climáticos extremos e as crises alimentar e hídrica estão entre os maiores riscos para a economia global.

Portanto, não agir no tempo e na escala necessários poderá dificultar significativamente as previsões de crescimento mundial e colocará em risco muitos avanços conquistados ao longo do século XX, como segurança alimentar, redução da pobreza e saúde global.

Desta forma, a edição de 2014 do Fórum de Davos terá um número recorde de 23 sessões dedicadas às mudanças climáticas, à segurança dos recursos naturais e à sustentabilidade.

Para os organizadores de Davos, embora as mudanças ambientais criem novos desafios, elas também trazem grandes oportunidades para os negócios e a inovação.

Segundo o comunicado do Fórum, o modelo econômico atual causa um desperdício maciço. Adaptar-nos a uma economia circular teria o potencial de agregar valor a 100 milhões de toneladas de material descartado no prazo de cinco anos, o que renderia benefícios econômicos de pelo menos US$ 500 milhões com a economia de material e criaria 100 mil novos empregos em vários setores chave.

Uma economia saudável
No campo da saúde, os participantes do Fórum de Davos discutirão os grandes desafios do setor, especialmente a necessidade de se redesenhar os sistemas de saúde, bem como os avanços da medicina e os impactos mais amplos da saúde na economia e na sociedade.

Assim, eles debaterão questões como saúde mental e o potencial do setor sanitário como motor do crescimento econômico e da prosperidade como também a forma como os sistemas de saúde deverão ser abordados para ser duráveis financeiramente.

"No curso dos últimos anos, o estado crítico do sistema financeiro ocupou grande parte da atenção dos participantes de Davos", declarou Robert Greenhill, diretor-geral do Fórum Econômico Mundial, citado em um comunicado.

"Este ano, a economia parece ter saído dos cuidados intensivos para entrar no caminho da recuperação", acrescentou.

"Enquanto nós nos questionamos, metaforicamente, como melhorar a saúde da economia, melhorar literalmente a saúde das pessoas é um bom começo", ressaltou.

Parte dos debates será dedicada às questões da saúde mental, uma das principais causas de faltas ao trabalho e que tem custos estimados em 16 trilhões de dólares (11,75 trilhões de euros) para os próximos vinte anos.

Chefes de governo, diretores de empresas, além de ganhadores do prêmio Nobel, entre outros, participarão da abertura dos debates sobre a saúde.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Recomendado pela OMS há décadas, plano de parto ainda é desconhecido no Brasil

Não é apenas a gestante que desconhece esse direito; médicos e hospitais no país não adotam a conduta. Mas o plano de parto é tão importante que pertence à categoria prioritária de recomendações da Organização Mundial de Saúde para melhorar o nível do atendimento a mães e recém-nascidos em todo o mundo.

Autora do blog 'Dadadá' e grávida de 6 meses de Francisco, Gabriella Sallit já é mãe de João e é advogada com atuação na área de direitos reprodutivos. Foi através de um post em sua página que as atuais onze mulheres  se reuniram para divulgar o plano de parto nos hospitais de BH (Arquivo Pessoal)

Autora do blog 'Dadadá' e grávida de 6 meses de Francisco, Gabriella Sallit já é mãe de João e é advogada com atuação na área de direitos reprodutivos. Foi através de um post em sua página que as atuais onze mulheres se reuniram para divulgar o plano de parto nos hospitais de BH

Onze mulheres grávidas. Elas querem ser protagonistas do nascimento de seus filhos. Elas lutam para garantir que seus direitos sejam respeitados na hora parto. Elas não aceitam ser submetidas a práticas adotadas indiscriminadamente Brasil afora e sem nenhum respaldo científico. Elas se assustam com o índice de cesarianas praticadas por aqui: 82% na rede privada e 37% na pública - a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o índice de 15%. Elas sonham alto: querem ajudar a colocar o país no mapa daqueles que são referência em parto humanizado.

Na semana passada se reuniram e decidiram “começar do começo”. Cada uma delas formalizou o seu plano de parto e os onze documentos serão entregues nas 15 maternidades de Belo Horizonte. O objetivo é impactar essas instituições para uma conduta preconizada pela OMS desde 1986 e que está completamente esquecida por aqui. A administradora Juliana de Souza Matos, 34 anos, grávida de João Vítor, é uma delas. Como já tinha uma visita agendada na maternidade Santa Fé para conhecer a estrutura do lugar, aproveitou a oportunidade para iniciar o mutirão de entrega. “Quero protocolar o meu plano de parto, falei com a moça que me recebeu. ‘Plano de quê?’, ela me respondeu e ficou folheando as páginas sem entender do que se tratava. Ela não sabia. Então eu disse que gostaria que fossem entregues ao diretor clínico e que ele repassasse aos profissionais que fazem o atendimento às gestantes. Não senti segurança de que ela irá entregar. Só vou ter confiança se alguém do hospital fizer um contato comigo”, narra.

'Queremos mostrar que as mulheres têm desejos que têm que ser respeitados. Esse mutirão é uma tentativa de conscientizar as maternidades de que é preciso mudar não apenas as suas estruturas, mas a cabeça de médicos, enfermeiros, neonatologistas e anestesistas', deseja a mãe de João Vítor. (Arquivo Pessoal )

"Queremos mostrar que as mulheres têm desejos que têm que ser respeitados. Esse mutirão é uma tentativa de conscientizar as maternidades de que é preciso mudar não apenas as suas estruturas, mas a cabeça de médicos, enfermeiros, neonatologistas e anestesistas", deseja a mãe de João Vítor.

O desconhecimento não é exclusividade do Santa Fé ou das maternidades da capital mineira. Simplesmente não faz parte da história do pré-natal das mulheres brasileiras. “Eu acho até engraçado porque tem hospital que pensa que é alguma coisa financeira. As pessoas conhecem muito pouco. O plano de parto serve para conscientizar a mulher de que ela pode se orientar a respeito das opções existentes e definir o que ela deseja. No fundo, é um incentivo para o aumento do número de partos normais”, afirma a presidente da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (SOGIMIG-MG), Maria Inês de Miranda Lima.

Mas o que é, afinal? 
O documento da OMS ‘Care in Normal Birth: a practical guide’ (Atenção no parto normal: um guia prático, em tradução livre), (clique aqui e veja a versão em inglês e em espanhol) preconiza as boas práticas para o parto normal. Para se ter uma ideia da importância do plano de parto, ele é o primeiro item dos processos que a instituição considera como “claramente úteis e que devem ser encorajados”. No guia, as rotinas são hierarquizadas pela relevância em A, B, C ou D. Resumindo: o plano de parto é o item 1 da categoria A (veja).

Elaborar esse documento - que é uma lista que inclui, por exemplo, o lugar onde a mulher quer ter o bebê, quem estará presente na hora do parto, quais os procedimentos médicos que a mulher aceita e quais ela quer evitar para ela e para o bebê, a posição em que deseja parir, se ela quer se alimentar durante o trabalho de parto e até que música gostaria de ouvir – significa pensar e refletir sobre o assunto. Quando a mulher se dispõe a isso automaticamente começa a buscar informações sobre os tipos de parto e consegue optar conscientemente por aquele que considera melhor. “A paciente vai intervir até quando isso não oferecer risco para ela ou para o bebê. A função do obstetra é classificar esse risco”, lembra a presidente da SOGIMIG.

Um dado importante nesse contexto é que, ao contrário do que se pensa, a mulher brasileira, no início da gravidez, prefere o parto normal, mais de 70% delas. Ao longo do pré-natal essa vontade é minada pelos mitos fortemente consolidados para se justificar a cesariana no Brasil. O mais assustador, entre eles, é o tal do cordão enrolado no pescoço. “A insegurança e o medo são tão desproporcionais que as pessoas param de pensar: o bebê respira pelo umbigo”, fala a autora do blog Dadadá e advogada que atua na área de direitos reprodutivos, Gabriella Sallit. Foi através de um post em sua página (clique e veja) que as atuais onze mulheres – quem se interessar pode participar – se reuniram para divulgar o plano de parto nos hospitais de BH. “Queremos causar um rebuliço, fazer as pessoas pensarem sobre isso, provocar desconforto nas instituições e iniciar um diálogo”, afirma.



Violência obstétrica: plano de parto pode ser usado como prova 
Há quem desconheça – incluindo profissionais de saúde – ou mesmo quem duvide de sua existência, mas pesquisa de 2010 da Fundação Perseu Abramo mostra que uma em cada quatro mulheres sofre algum tipo de violência durante o parto (clique a acesse a íntegra do documento).

Violência obstétrica é qualquer ato ou intervenção praticado sem o consentimento explícito e informado da mulher grávida, parturiente ou que deu a luz recentemente que desrespeita sua integridade física, mental, seus sentimentos, opções e preferências. O conceito internacional abrange também os direitos do bebê e, no Brasil, nem a lei do acompanhante é respeitada.

Pediatra, epidemiologista e coordenadora da Comissão Perinatal da secretaria municipal de saúde de Belo Horizonte, Sônia Lansky afirma que a lei brasileira, de 2005, contempla também o setor privado. “O acompanhante traz conforto, segurança, tranquilidade, tudo que ajuda a mulher a se sentir bem para liberar a ocitocina, hormônio que é responsável pela evolução natural do parto. Garante que a mulher vai ter acesso a tudo o que ela precisa, que ninguém vai fazer com ela o que não dever ser feito”, diz. Para ela, é uma questão de direitos humanos. “O acompanhante é quem advoga e defende mulher, é quem vai negociar as práticas e intervenções que poderão ser feitas com ela. Quando a mulher está acompanhada, ela sofre menos maus tratos. Não se pode abrir mão desse direito e ninguém pode refutá-lo sob nenhum aspecto: legal, humano e científico”, completa.


A advogada que atua na área de direitos reprodutivos, Gabriella Sallit, diz que o número de processos de violência obstétrica tem crescido no país. Isso significa que as mulheres estão tomando consciência de seus direitos e lutando contra as irregularidades. No entanto, um dos principais desafios é provar que a violência obstétrica foi praticada. Por isso, Sallit aponta o plano de parto protocolizado no hospital como uma importante ferramenta não só para garantir que os desejos da mulher serão respeitados, mas também para servir como prova em caso de processo. “O plano de parto é a chance de a mulher ter prova construída”, afirma. Mas se o hospital se negar a receber? “Notifica via cartório que a maternidade será obrigada a receber. Marque uma reunião com o diretor clínico. Não desista na primeira tentativa”, responde a especialista.

Assista ao documentário ‘Violência Obstétrica: a voz das brasileiras’:





PPP: do que se trata 
O Sistema Único de Saúde autorizou recentemente as salas de PPP (pré-parto, parto e pós-parto) para o sistema público. Esse tipo de quarto é um ambiente único onde a gestante vai ficar durante as três fases do parto, mas a ausência dessa estrutura física ainda dificulta o parto humanizado no país. Os hospitais privados também estão se organizando para oferecer essa opção às mulheres.

Em Belo Horizonte, os hospitais Sofia Feldman e o Risoleta Tolentino Neves já têm as práticas humanizadas. Uma maternidade que está sendo construída em Venda Nova terá, segundo Sônia Lansky, seis quartos individuais cada um com uma banheira. A Maternidade Odete Valadares também oferece um quarto individual para as gestantes. Outros cinco hospitais do SUS estão se adaptando à normativa de parto e nascimento. Sônia diz ainda que todos vão fazer reforma com recurso do projeto Rede Cegonha (clique e conheça). “Isso é lei, a mulher tem direito a um quarto privativo para o parto”, fala. Na rede privada, Mater Dei, Santa Fé e Unimed oferecem o PPP.



Para a coordenadora da Comissão Perinatal da secretaria municipal de saúde, do ponto de vista de um gestor de serviço, qualquer quarto de maternidade poderia se tornar um PPP para que não houvesse a necessidade de a mulher ir para um bloco cirúrgico.

Para pensar antes de se decidir
Excesso de exame de toque – no pré-natal e no trabalho de parto -, episiotomia, ocitocina artificial, ficar de jejum durante o parto, lavagem intestinal. Esses são alguns exemplos das práticas que são adotados como rotina no Brasil, mas que não existe nenhuma evidência científica que justifica a adoção desses protocolos de atendimento.

Sônia Lansky diz que o país vive um distanciamento muito grande do que é preconizado pela OMS como boas práticas da obstetrícia e da neonatologia, com evidências científicas consolidadas. “Vemos a banalização da cesariana no Brasil, 56% dos bebês nascem por uma cirurgia de extração fetal e a recomendação é muito precisa, a cesariana deveria ser exceção e o índice brasileiro estar em torno de 15%”, diz. As razões para esse número assustador são multicêntricas e vai desde à comodidade, passando pela conveniência profissional até chegar ao interesse financeiro. Segundo Sônia, a cesárea eletiva é boa para o hospital porque é uma forma de deixar tudo organizado, de manter a ocupação alta. “Ninguém questiona os indicadores do serviço, não há sequer regulação suficiente do setor público e muitas vezes a mulher atua passivamente ou é manipulada a fazer uma cesariana desnecessária, mas toda mulher e todo bebê têm direito ao acesso ao melhor do conhecimento científico atual”, afirma.

Para ela, a cultura da cesariana desconsidera os riscos de uma grande cirurgia que interfere, por exemplo, no aleitamento materno. “Bebê que nasce de cesariana tem mais chance de ter asma porque não teve contato com as bactérias do corpo da mãe, especificamente da vagina, que desencadeia um melhor sistema imunológico. Esses bebês também têm mais chance de ter doenças alérgicas, maior risco de obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares”, cita. No caso da mulher, a depressão pós-parto está associada à cesariana.

Mãe e bebê sempre juntos 
Outra prática muito comum nos hospitais brasileiros é separar mãe e bebê após o nascimento. “Há que ter uma razão muito séria para isso. Não precisa pressa para cortar o cordão umbilical. A norma é apenas secar o bebê por cima da pele. É um momento muito precioso da vida do bebê, ele está alerta, ativo, é o procedimento médico interferindo na capacidade de o bebê ver a própria mãe. A primeira hora após o nascimento é um período sensível de reconhecimento da mãe. Deixar mãe e bebê juntos é promoção de saúde, é redução de violência. Laços profundos se fazem nesse momento. O pai também se envolve e é afetado por tudo isso”, alerta Sônia Lansky.

O caminho da mudança 
Para Sônia, essa sucessão de equívocos precisa ser corrigida nas universidades e nos hospitais universitários para que o Brasil reveja seus protocolos, cada vez mais difíceis de serem justificadas diante do conhecimento científico consolidado na literatura médica. “A OMS recomenda que o parto normal transcorra em sua plena fisiologia. Qualquer intervenção precisa de justificativa. A episiotomia só é fundamentada em 12% dos casos. Ruptura de bolsa no início do trabalho de parto também é procedimento errado. O uso de métodos não farmacológicos de alívio de dor – como a bola usada no pilates, a escada de ling, banho, massagem – melhora o processo de dilatação do colo do útero sem interferência artificial. A analgesia é um procedimento que tem repercussões sobre o trabalho de parto e sobre o bebê. Antes dela, é preciso lançar mão de todas as opções naturais”, pontua. Mas por que os hospitais não providenciam esses recursos? Sônia é taxativa: “quem não oferta essas opções ocorre na violência institucional”.

Para ela, a tecnologia promove a falsa sensação de controle da situação para os médicos. “Deixar a natureza agir é contar com o inesperado, mas cabe aos profissionais de saúde perceber se a evolução do parto está adequada ou não. Em 90% dos casos, a evolução é fisiológica e o médico precisa estar lá para atuar no caso de problema. Somos treinados para intervir, para pensar que parto é morte, não temos paciência para esperar, mas se a fisiologia está prevalecendo, não há necessidade de se fazer nada”. Por isso, a figura do enfermeiro obstétrico, treinado para ser cuidador, é fundamental no modelo do parto humanizado. “Além de paciência, esse profissional tem tempo. O mundo inteiro faz isso: o parto é conduzido pelo enfermeiro obstétrico. A proposta não é substituir. O médico tem que estar para atuar quando necessário”, observa.

Para a presidente da SOGIMIG, Maria Inês de Miranda Lima, o caminho é longo, mas não impossível: “quanto mais informação, mais respeito e mais compartilhamento de decisões”.

Saúde Plena Recomenda:
No dia 11 de novembro, o documentário 'O Renascimento do Parto' será exibido em 500 salas de cinema da rede Cinemark por todo o Brasil. Em Belo Horizonte, as sessões serão no BH Shopping, às 12h e 16h20 (veja a programação). 




sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Anvisa lança consulta pública sobre normas de atendimento de saúde em grandes eventos

Brasília - A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou hoje (26), no Diário Oficial da União, regulamentação para a consulta pública que vai ouvir sugestões da sociedade para criação de uma norma de atendimento de saúde ao público em eventos de massa de interesse nacional. O processo será aberto em sete dias e os comentários e sugestões serão recebidos durante 30 dias.

Baseada em experiências de trabalhos no carnaval do Recife, na Copa das Confederações, na Jornada Mundial da Juventude e no Rock in Rio a agência reguladora elaborou uma proposta de requisitos mínimos que servirá de base para a Consulta Pública 58.

De acordo com a proposta, os organizadores deverão providenciar, com 120 dias de antecedência do evento, todas as informações referentes ao atendimento de emergência. Isso inclui a indicação do perfil e estimativa do público, mapa do local do evento e das áreas de atendimento médico, descrição dos procedimentos de atendimento e encaminhamento aos hospitais, entre outras exigências.

A proposta permite que o serviço de saúde seja terceirizado, mas exige um contrato formal entre o organizador do evento e o prestador do serviço. Todas essas informações serão usadas para que a Anvisa e as autoridades locais avaliem se a estrutura de urgência e emergência está compatível com o tipo do evento e o público esperado.

O prazo para participação da Consulta Pública 58/13 começa na próxima quinta-feira (2) e qualquer cidadão ou instituição pode mandar sugestões por formulário eletrônico disponível no site da Anvisa ou por carta.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Uso inadequado de escova de dentes pode causar doenças como cardiopatias

Brasília – Ter uma correta higienização oral é fundamental para a saúde. Escovar os dentes após as refeições – pelo menos três vezes ao dia -, antes de dormir e utilizar o fio dental ajudam a prevenir doenças nos dentes, língua e gengivas. Porém, muitas pessoas esquecem ou não sabem como cuidar corretamente do principal objeto desse processo: a escova.

O cuidado com a escova de dentes é imprescindível. É comum deixá-la exposta na pia do banheiro ou em ambientes úmidos, sem qualquer proteção das cerdas. O problema é que, com esse costume, a pessoa pode levar à boca uma quantidade considerável de bactérias. Quando não está protegida adequadamente, as cerdas expostas acumulam microorganismos lançados no ar, sendo alguns provenientes do vaso sanitário.

A lista de doenças causadas por bactérias acumuladas na escova é grande. Periondotite, candidíase, gengivites, cáries e até diarreia. O problema, aparentemente simples, pode agravar e causar doenças graves cardiopatias e pneumonias.

Para tentar amenizar esse acúmulo, é aconselhável o uso de protetores ou até mesmo guardá-las fora do banheiro. O cirurgião-dentista, Marcelo Pimenta, orienta como se deve guardar a escova. “Ela deve ser colocada em um recipiente fechado e a uma distância de pelo menos dois metros do vaso sanitário. É importante, também, deixar a tampa do vazo sanitário sempre abaixada na hora da descarga e quando não estiver em uso”.

Mas tampar o recipiente ou mantê-la em armários fechados resolve o problema apenas em parte. Isso porque ambientes abafados e úmidos podem contribuir para a proliferação de bactérias ou até mesmo aquelas vindas da própria boca.

“Muitas bactérias permanecem vivas nas cerdas da escova por até 24 horas. Por isso, é importante eliminar o excesso de água após o uso, mas nunca utilizando toalhas para secá-la. Borrifar um antisséptico nas cerdas ajuda também. O mais indicado é a clorexidina 0,12%, encontrada em farmácias”, explica o dentista.

A vida útil da escova também é algo a ser levado em conta. Ainda de acordo com o Marcelo Pimenta, a troca deve ser feita a cada quatro meses e o tipo de escova varia do gosto pessoal do usuário.

Fonte: BrasilSUS

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Para a manutenção do legado

Evento Vozes de Mestres – Encontro Internacional de Culturas Populares intensifica programação a partir de hoje
















Com o objetivo de manter a cultura popular viva, o evento Vozes de Mestre – Encontro Internacional de Culturas Populares acontece desde 2008. Na edição deste ano, que teve início anteontem e segue com programação intensificada de hoje até domingo, a curadoria reuniu atividades que giram em torno das religiões afro-indígenas brasileiras.

“Sempre tivemos como intenção primeira dar voz aos mestres como forma de manter e preservar a cultural popular”, conta a idealizadora do projeto Geovana Dias Jardim.

O cônsul honorário do Senegal em Belo Horizonte, Ibrahima Gaye, parceiro do evento, esclarece a importância de ouvir aos mais experientes: “Quando falamos em mestre, falamos em alguém que tem um sabedoria diferenciada, um saber genuíno, geralmente é transmitido pela oralidade, que deve ser ouvido”, diz.

Para concretizar a ideia do projeto, o evento deste ano reúne em seu escopo oficinas, apresentações musicais, espetáculos de circo e teatro, seminários, além de exibições de filmes e feiras de artesanato e alimentação. Tudo isso com entrada gratuita, na Furnate.

Entre o grande número de atividades, as apresentações musicais ganham destaque pela versatilidade de artistas nacionais e internacionais. Na lista estão nomes como o compositor e multi-instrumentista Egberto Gismonti, que falará ao público sobre seu trabalho com música instrumental e a cantora colombiana Inês Granja que, junto com o percussionista Juan Castaño, apresentará uma “marimba da selva”, originada da região do Pacífico.

Para Geovana, porém, o destaque vem das terras indígenas brasileiras. “Teremos a participação dos índios do Alto do Xingu, que ainda vivem sem energia. A presença deles é uma oportunidade para mostrar a riqueza de suas tradições e também uma maneira permitir que etnias tão esquecidas se expressem, em meio ao intenso processo de transformação da cultura em produto”, reflete.

DIVERSIDADE. Além da música, outras atividades estão presentes na programação do Vozes de Mestre. Os seminários, por exemplo, vão contar com pesquisadores e representantes do poder público para trocar ideias sobre vários aspectos da cultura afro-indígena. “Pela primeira vez, abordaremos um tema delicado: a intolerância religiosa. É importante discutirmos esse assunto que muitas vezes não tem o reconhecimento que merece”, adianta Geovana.

A culinária também faz parte da cultura popular e tem presença garantida no evento. Entre os quitutes, Ibrahima indica o Mafe. “É uma comida típica da África ocidental que tem a base de creme de amendoim acompanhada de carne e arroz branco cozido”.

No artesanato, os visitantes poderão apreciar e comprar as os quadros do pintor angolano Kuta Ndumbu. “As telas dele medem 2 x 2 e representam várias tradições africanas. Além disso, haverá roupas e tecidos típicos na barraca de artesanato”, diz Ibrahima.

A programação musical do evento começa hoje com a apresentação do grupo mineiro Trovão das Minas, às 21h30, e segue com shows diários até no domingo. Para conferir a lista de todas as atividades acesse o site www.vozesdemestres.com


Agenda
O quê. Vozes de Mestres – Encontro Internacional das Culturas Populares
Quando. 2 a 8 de dezembro
Onde. Funarte (rua Januária, 68 - Floresta, Belo Horizonte/MG)
Quanto. Entrada franca

Fonte: O Tempo

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

III Conferência Nacional de Cultura acabou ontem e teve recorde de participação

Nesta terceira edição, 953 delegados representaram as mais de 3,5 mil cidades de todo o país em que foram realizadas as etapas municipais e estaduais, mais as Conferências Livres organizadas por diversos setores da sociedade civil.

O resultado final registra um crescimento progressivo, uma vez que, na primeira edição, em 2005, 1.192 municípios estiveram envolvidos e representados na etapa nacional, e, na segunda edição, em 2010, 3.071 municípios de todas as regiões do país participaram.

No gráfico, números gerais sobre a III CNC.


Desse total de participantes, há  predominância feminina, com 57%, e 43% de público masculino.

A participação regional na terceira edição marcou a conquista de maior equilíbrio. A região Nordeste foi a que teve maior número de representantes, seguida pelas regiões Sudeste, Centro-Oeste, Sul e Norte.
A ‘ascensão’ nordestina

Para Mãe Beth de Oxum, coordenadora do Ponto de Cultura Coco de Umbigada, em Olinda (PE), integrante do colegiado de Culturas Afro-brasileiras, e que participou das três edições da CNC, o crescimento da participação nordestina no maior evento político da cultura nacional se deve a uma soma de fatores: organização e articulação entre  artistas e produtores culturais da região (principalmente, os que representam a cultura das matrizes populares); acesso às mais variadas tecnologias, que propiciou uma melhor comunicação e, por consequência , mais chances de mobilização.

A partir disso, diz Mãe Beth, também a unidade de articulação resultou na conquista de mais assentos nos conselhos de cultura em todas as instâncias governamentais, ampliando o diálogo, a representatividade e, assim, as conquistas.

Ela também cita a importância do programa Cultura Viva, a partir do qual o governo federal empoderou representantes populares da cultura, o que representou uma conquista mais do que especial para a região Nordeste.



Arte: Ascom/MinC
Foto: Marcelo Carota

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

8ª edição da Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul - 26/11 a 22/12

De 26 de novembro a 22 de dezembro de 2013, será realizada a 8ª edição da Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul, com exibição de 38 filmes nas 27 capitais brasileiras e interior do País.
 


 A Mostra – realizada pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, em parceria com o Ministério da Cultura – exibirá 38 filmes nas categorias: mostra competitiva de longas, médias e curtas, em que as plateias elegem os melhores filmes através de uma votação; mostra homenagem – Vladimir Carvalho; e mostra cinema indígena.

A produção é da Universidade Federal Fluminense, por meio do Departamento de Cinema e Vídeo, e tem o apoio do Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio), da Organização dos Estados Iberoamericanos, do Centro Técnico Audiovisual, da Empresa Brasileira de Comunicação e conta com o patrocínio da Petrobras e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.

Mostra Competitiva de longas, médias e curtas

Com mais de 150 inscrições, a curadoria da Mostra Competitiva, formada pelo cineasta Francisco Cesar Filho e estudantes da UFF, escolheu 24 filmes de diferentes países da América do Sul, sendo 13 longas, 07 médias e 04 curtas. Os filmes selecionados abordam livre e criativamente diversos temas relacionados aos Direitos Humanos, como inclusão das pessoas com deficiência, diversidade sexual, direito à memória e à verdade, população de rua, preconceito racial, direito ao trabalho digno, entre outros, sempre primando pela qualidade cinematográfica. Com um foco em comum: o fortalecimento da educação e a da cultura em Direitos Humanos, o respeito às diversidades, o exercício da cidadania, o compartilhamento da responsabilidade social e o agenciamento coletivo de forças afirmativas da dignidade humana. Unindo originalidade estética e apuro técnico, a Mostra conduz assim o debate crítico, político e transversal que o tema enseja.

Mostra Homenagem – Vladimir Carvalho

Nascido em Itabaiana, na Paraíba, e radicado em Brasília, Vladimir Carvalho fez do cinema uma forma de pensar e intervir no mundo. Nos últimos 50 anos, dirigiu filmes sempre implicados com os destinos do país e de seu povo. Como poucos, Vladimir fez do documentário um ato político e frequentemente poético. Nesta homenagem, cinco de seus mais de 20 filmes serão apresentados: Conterrâneos Velhos de Guerra (1991); Brasília Segundo Feldman (1979); O País de São Saruê (1971); Barra 68 - Sem Perder a Ternura (2001); O Evangelho Segundo Teotônio (1984).

Mostra Cinema Indígena

Nos últimos anos, a produção imagética realizada por cineastas indígenas cresceu no país, marcada por abordagens estéticas e políticas. O cinema desses realizadores contribui para o fortalecimento das lutas pelos Direitos Humanos dos indígenas. Os quatro filmes escolhidos pela curadoria para a 8ª MCDH na América do Sul são exemplares contundentes da renovação de sua luta política a partir da apropriação da tecnologia por diversas etnias que constituem os povos indígenas no Brasil.

Além dos filmes constituintes de cada categoria, serão exibidos títulos convidados, compondo o Programa Especial, como é o caso do documentário produzido pela SDH - Paredes invisíveis: Hanseníase Região Norte - e dos filmes produzidos pela ONU: Os Descendentes do Jaguar, Transformer: AK, Colombia: Wayuu "Gold" e Argentina: Dreaming of a Clean River.

Com patrocínio da OEI, a Mostra também deixa como legado processual o projeto Inventar com a Diferença, que tem como proposta a capacitação e acompanhamento de educadores de escolas públicas em todas as capitais do país para desenvolvimento de trabalhos audiovisuais em torno da temática dos direitos humanos. A ação paralela, que continua a se desenrolar mesmo após à Mostra, traz em si uma pergunta norteadora: como é possível produzir uma imagem que está à altura estética da experiência de vida das pessoas? Assim, a partir da potência do cinema, propõe exercícios que deslocam o olhar das crianças em direção ao outro, no esforço de inscrever sons e imagens que exprimam formas singulares de estar no mundo. O trabalho realizado nas escolas culminará com a apresentação dos vídeos na 9ª edição da Mostra, revelando um ciclo de continuidade entre as salas de cinema e de aula, a experiência pedagógica, a fruição da arte e a construção identitária.

Mais informações e programação, clique aqui

(Fonte: ASCOM / SDH)
(Publicação: ASCOM / MINC)

Jardineiro clandestino muda a lei da cidade para plantar comida

Ron Finley, o estilista que planta hortas em Los Angeles
Estilista quer hortas em todos os terrenos baldios de Los Angeles

Entre o meio-fio e a calçada, num bairro de classe média baixa repleto de lojas de bebida, fast food e terrenos baldios, o estilista americano Ron Finley plantou uma horta. Cansado de dirigir 45 minutos para encontrar alimentos saudáveis e convicto de que hortas urbanas são um antídoto para problemas de saúde, pobreza e violência da cidade, resolveu dar um destino melhor à faixa de grama seca na frente de sua casa.

Em Los Angeles, a responsabilidade pela manutenção da calçada e de sua vegetação é de cada morador, mas a lei antiga não permitia o plantio de alimentos no local. Alguém então denunciou a horta clandestina de Finley, que acabou recebendo a seguinte notificação da prefeitura: se não limpar o terreno, o próximo passo será um mandado de prisão. O estilista, determinado, fincou o pé e desafiou a burocracia. Não só não derrubou a horta, como conseguiu o apoio de outros jardineiros e simpatizantes da ideia e conseguiu uma alteração na lei: agora é permitido plantar alimentos pelas ruas da cidade.

Por acreditar que plantar comida é uma ferramenta de educação e transformação do bairro, Finley fundou uma rede de jardineiros voluntários, a LA Green Grounds. Ele tem planos de ocupar todos os terrenos baldios de Los Angeles com jardins comestíveis, formando uma “floresta de comida”. Neste vídeo (com legendas em português), ele conta um pouco mais:




As nossas hortas urbanas

O Hortelões Urbanos é talvez o maior e mais conhecido grupo dedicado ao cultivo de alimentos na cidade. Conta com mais de 5 mil participantes e se encontra no Facebook para trocar experiências sobre o cultivo doméstico e organizar mutirões nas hortas comunitárias da cidade. Para plantar alimentos em áreas públicas de São Paulo, como praças, canteiros e terrenos abandonados, é simples: basta solicitar autorização da subprefeitura. No jardim de casa ou no vaso do apartamento, não custa nada.

Andrea e Ariel, participantes ativos do grupo Hortelões Urbanos, contam como vêem o processo de sensibilização para a criação de hortas urbanas em São Paulo e por que isso é importante para eles e para a cidade:

"As hortas urbanas, a meu ver, têm um incrível poder transformador. Na horta das Corujas, pequenos milagres acontecem todos os dias. Às vezes estamos cavando um canteiro novo e aparece uma nascente borbulhando. Às vezes vemos pica-paus, insetos coloridíssimos que ninguém nunca conhecia, borboletas e maritacas em bandos. De repente uma muda que parecia morta começa a verdejar, vinga, e cresce diante de nossos olhos.


Quando você se dá conta, está com um monte de estranhos carregando esterco, instalando uma cacimba, cavando a terra, e mais gente se junta pra ajudar, e no fim do dia você ganhou um monte de amigos. Sentimos juntos as agruras da seca, o calor do sol, o vento gelado do inverno e vivenciamos cada estação com suas cores, cheiros, sabores. Comemoramos juntos a primavera, a água pura que brota farta, a abundância das colheitas, aprendemos e ensinamos tudo o que sabemos e sempre há algo novo a ser aprendido e ensinado. Doamos nosso tempo e ganhamos vida, amigos, alimento fresco, esperança.

A porteira da Horta das Corujas está sempre aberta para quem quiser plantar ou colher."
     
Andrea Valencio Pesek, designer

"Tem muitos objetivos e inclusive mudam para cada pessoa. Os que eu enxergo são:
Sensibilizar a população sobre temas como a crise alimentar e a importância de promover modelos de produção de alimentos justos e sustentáveis.

- Promover e buscar maior contato com a terra e a reconexão com os ciclos da natureza.
- Empoderar cada vez mais cidadãos para cultivar seu próprio alimento de forma orgânica e agroecológica e sensibilizar sobre a importância de fortalecer cadeias e empreendimentos de pequenos produtores agroecológicos e de comércio justo.
- Criar comunidades solidárias e com maior coesão social.

O processo de encher as cidades de concreto tem uma inércia grande, são muitas cadeias produtivas envolvidas e um paradigma de desenvolvimento instaurado, mas as cidades, sobre tudo as grandes, perceberam que precisam mudar, e cada vez com mais urgência. O desafio está nas pequenas e médias, elas precisam entender que podem fazer as coisas de uma forma diferente."

Ariel Kogan, engenheiro

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Fiocruz Brasília sedia 1º Encontro Distrital da Rede Saúde e Cultura

A Rede Saúde e Cultura, por meio do Programa de Educação, Cultura e Saúde da Fiocruz Brasília (Pecs) e da Secretaria da Cidadania e da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura promove, no dia 2 de dezembro, o 1º Encontro Distrital da Rede Saúde e Cultura, que será realizado na Fiocruz Brasília. As inscrições estão abertas, são gratuitas, e podem ser feitas no hotsite do evento.

Voltado para grupos e pessoas que trabalham com saúde e cultura, além de estudantes, gestores públicos e pesquisadores, a primeira edição do encontro tem como objetivo consolidar a Rede Saúde e Cultura no Distrito Federal, favorecendo a visibilidade das ações na interface Saúde e Cultura e a colaboração de parceiros que atuam nos setores governamentais, na universidade e na sociedade civil, a fim de fortalecer a diversidade cultural no DF para a qualidade de vida.

Durante o evento, serão realizados mapeamentos e registros de práticas e atores que atuam na área da Saúde e da Cultura. O encontro busca ainda fortalecer os espaços de diálogos entre a sociedade civil e as políticas públicas, além de promover o intercâmbio entre práticas e experiências entre os participantes.

A programação inclui a realização de atividades culturais, oficinas, mesa redonda, espaços de diálogo e a aplicação da metodologia World Café, que estimula a interação e o diálogo entre os participantes. O evento conta com o apoio das Secretarias de Cultura, de Saúde e da Casa Civil do Distrito Federal, da Universidade de Brasília (UnB) e da Secretaria de Gestão Participativa do Ministério da Saúde (MS).
Serviço

1º Encontro Distrital da Rede Saúde e Cultura

Data: 2/12
Programação
Local: Fiocruz Brasília
Avenida L3 Norte, Campus UniversitárioDarcy Ribeiro, Gleba A - Brasília , DF
Saiba mais.

Fonte: Fiocruz
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