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quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Governo oferece mil vagas em curso de gênero e sustentabilidade

Estão abertas as inscrições para o curso on-line 'Igualdade de Gênero e Desenvolvimento Sustentável' promovido pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA). Os interessados podem se inscrever diretamente na plataforma Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). 


O curso terá a carga horária de 20h e será realizado nos meses de setembro e outubro. Estão disponíveis mil vagas e as inscrições acabam no dia 29 de agosto.
O MMA tem realizado uma série de cursos a distância com a meta de ampliar o acesso de diversos públicos interessados nos processos de formação e capacitação desenvolvidos pelo órgão. 


O curso pretende sensibilizar e capacitar gestores, de todas as áreas, sobre a questão da desigualdade de gênero e a importância da inserção da perspectiva de gênero nas políticas públicas. Por isso, é destinado, principalmente, a gestores públicos das esferas federal, estadual e municipal, servidores públicos responsáveis pela elaboração de políticas públicas e lideranças da sociedade civil.
A ação está interligada ao Comitê Interno de Gênero do MMA, que tem como proposta incluir questões de gênero e políticas públicas para as mulheres, orientar a execução de ações, projetos e programas das ações afirmativas de gênero e articular com as organizações públicas e da sociedade civil que tenham como objetivo convergir esforços para a eficácia e efetividade de ações.
Capacitação de gestores
No contexto, também está com inscrições abertas, o curso on-line voltado para gestores de órgãos públicos interessados em instituir ações socioambientais. A capacitação será realizado em setembro, com duração de 12 horas. Nesta primeira turma, serão ofertadas mil vagas.
O programa A3P visa estimular a adoção de ações na área de responsabilidade socioambiental nas atividades internas e externas. Para facilitar a sua implantação, o MMA  disponibiliza em seu site uma série de cartilhas com informações sobre a adesão, os eixos temáticos e as metas.
Fonte: Portal Brasil 

sexta-feira, 25 de julho de 2014

25 de Julho: toda mulher negra é um quilombo



Por Jarid Arraes

Tereza de Benguela foi uma mulher negra guerreira, líder do quilombo de Quariterê, em Cuiabá. Nessa sexta-feira, ela é símbolo do 25 de Julho, Dia da Mulher Negra no Brasil; no entanto, é necessário muito ímpeto de pesquisa para conhecer mais a seu respeito, já que sua história foi completamente ignorada e apagada. Embora neste ano o reconhecimento oficial finalmente tenha chegado, no final das contas, Tereza ainda é mais uma mulher negra negligenciada pela história brasileira.
A história das mulheres negras no Brasil nunca foi dignamente contada: para a maioria das crianças e jovens negras, há pouca esperança de que aprendam sobre figuras femininas negras em quem possam se espelhar. Mas não por falta de referências reais – pois, à exemplo de Tereza de Benguela, existiram e ainda existem muitas -, e sim porque o racismo brasileiro encontra na misoginia um mecanismo eficiente de silenciamento, tentando varrer para debaixo do tapete as vivências inspiradoras de tantas corajosas guerreiras negras.
Apesar de tudo, a história da vida de Tereza de Benguela resiste ao tempo, mesmo com o racismo e o machismo, sobrevivendo devido ao esforço incansável de centenas de jovens negras, que buscam por ícones feministas além das intelectuais da Europa e outras mulheres com as quais nem sempre conseguem se identificar. A persistência de Tereza não se deixa ser sufocada nem mesmo por toda a força colonizadora escravocrata que perdura até hoje: as mulheres negras do passado e do presente existem e permanecem lutando para transformar a realidade.
Nesse sentido, o dia 25 de Julho não é somente uma data oficial para que uma líder quilombola seja lembrada; é também um dia para que as próprias batalhas travadas pelas mulheres negras de hoje sejam expostas. Cada mulher negra que se mantém caminhando e enfrenta o racismo e o machismo em sua rotina diária é também um ícone de força e celebração da negritude.
Independente dos meios pelos quais atuem, toda mulher negra brasileira é uma fortaleza. Seja na preservação de seus ritos religiosos, no trabalho árduo que provê o sustento da família, na coragem de não se calar ou no esforço para transpor as barreiras na direção de uma vida melhor, todas essas mulheres são Tereza de Benguela – bravas líderes da revolução cotidiana.
O dia 25 de Julho é, afinal, um dia de luta. Toda mulher negra é um quilombo.
Fonte: Geledés

quinta-feira, 26 de junho de 2014

UFU recebe etapa da Mostra de Cinema e Direitos Humanos na América Latina

 Repórter/ Correio de Uberlândia 


Os documentários “As hiper mulheres” (foto), “Kátia” e “Domésticas” também têm sido exibidos em mais de 500 pontos espalhados pelo Brasil. (Foto: Divulgação)

Para celebrar os 65 anos recém-completados da Declaração Universal dos Direitos Humanos, Uberlândia recebe, pela primeira vez, uma etapa da Mostra de Cinema e Direitos Humanos na América Latina. O projeto, que é uma realização da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, em parceria com o Ministério da Cultura, acontece no campus Santa Mônica da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com exibições de três filmes, nesta quinta-feira (26), sexta (27) e sábado (28).

Os documentários “As hiper mulheres”, “Kátia” e “Domésticas” também têm sido exibidos em mais de 500 pontos espalhados pelo Brasil, dentro do cronograma da 8ª Mostra de Cinema e Direitos Humanos na América Latina.


A realização da Mostra, em Uberlândia, é fruto da parceria entre a Faculdade de Direito Jacy de Assis, o Grupo Pétala do Instituto de Arte e a Diretoria de Cultura, todos órgãos vinculados à UFU.
Depois das exibições dos documentários, o público poderá participar de uma mesa de debates sobre cada um dos temas exibidos nos filmes.

Importância
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU) no dia 10 de dezembro de 1948. Embora não seja um documento que representa obrigatoriedade legal, a Declaração serviu como base para que a ONU elaborasse dois tratados sobre direitos humanos, que têm força legal: o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, e o Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.

Segundo a ONU, a Declaração, com pouco mais de 65 anos, é o documento traduzido no maior número de idiomas. São mais de 400 traduções feitas a partir do texto original, escrito após o fim da 2ª Grande Guerra.

Preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos Humanos
“Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta da ONU, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor do ser humano e na igualdade de direitos entre homens e mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla, (…) a Assembleia Geral proclama a presente Declaração Universal dos Diretos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações…”

Programação
Quinta-feira (26), às 19h
Anfiteatros C e D do bloco 5R do campus Santa Mônica da UFU
“As hiper mulheres”, de Takumã Kuikuro
Sinopse: Com receio que sua esposa já idosa venha a falecer, um velho pede que o sobrinho realize o Jamurikumalu, o maior ritual feminino do Alto Xingu (MT), para que ela possa cantar mais uma última vez. As mulheres do grupo começam os ensaios quando a única cantora que de fato sabe todas as músicas se encontra gravemente doente.


Sexta-feira (27), às 19h
Anfiteatros C e D do bloco 5R do campus Santa Mônica da UFU
“Kátia”, de Karla Holanda
Sinopse: Kátia Tapety tornou-se a primeira travesti eleita a um cargo político no Brasil – foi vereadora três vezes e vice-prefeita. O filme é resultado de 20 dias de convívio com ela no sertão onde mora – Colônia do Piauí e Oeiras.


Sábado (28), às 19h
Anfiteatros C e D do bloco 5R do campus Santa Mônica da UFU
“Domésticas”, de Gabriel Mascaro
Sinopse: Sete adolescentes assumem a missão de registrar, por uma semana, a sua empregada doméstica e entregar o material bruto para o diretor realizar um filme com essas imagens.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Senado Federal - Debate sobre parto humanizado é marcado por críticas ao alto número de cesarianas


A humanização do parto foi tema de audiência pública conjunta realizada nesta terça-feira (27) pelas Comissões de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) e de Assuntos Sociais (CAS). Desatenção, agressões físicas e emocionais na hora do parto e a preferência dos obstetras por cesarianas são citados como exemplos da chamada violência obstétrica em hospitais públicos e privados.

A ministra Ideli Salvatti, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, lamentou o alto índice de cesarianas, que chega a 40% no Sistema Único de Saúde (SUS) e a 84% nos hospitais privados, contra um índice de 15% referido como aceitável pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Segundo ela, o número mais elevado na rede privada revela um “viés econômico”, devido ao custo mais alto do parto cirúrgico.

Para Ideli, o problema decorre ainda de comodismo, pois marcar cesárea dispensa o profissional de ficar de plantão à espera da hora certa: a cirurgia pode ser feita fora dos finais de semana, feriados ou qualquer data inconveniente para a equipe clínica. No entanto, observou que  a mulher termina induzida a fazer um procedimento mais arriscado, que só indicado para situações específicas.

- É algo invasivo, agressivo e que traz consequências para a mãe e criança – afirmou.

Ideli falou ainda sobre a lei que garante às mulheres o direito de contar com acompanhante na hora do parto, um projeto que ela apresentou quando senadora. A ministra reconheceu que a lei sancionada em 2005 ainda não vem sendo rigorosamente cumprida. Observou que muitos hospitais alegam falta de condições para assegurar a privacidade das demais parturientes. Para ela, no entanto, falta ainda sensibilizar os profissionais para a importância do acompanhamento.
- Muitas vezes a solução é fácil e barata, bastando um simples cortinado para garantir a privacidade - disse.

Saúde da Mulher

O debate foi sugerido pelas senadoras Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) e Ana Rita (PT-RS), que preside a CDH e dirigiu a audiência. A iniciativa foi motivada pela proximidade do Dia Internacional de Ação pela Saúde das Mulheres e do Dia Nacional pela Redução da Mortalidade Materna e Infantil, em 28 de maio. Vanessa destacou ainda denúncias de violência obstétrica recebidas durante o funcionamento da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Violência Contra as Mulheres, em 2012 e 2013.

A senadora destacou medidas que o Ministério da Saúde vem promovendo em favor do parto humanizado. Uma portaria recente agora determina que a equipe médica assegure contato imediato do recém-nascido com a mãe, sem que o bebê seja levado imediatamente para exames complementares, a menos que haja necessidade efetiva.

- As medidas visam beneficiar a saúde materna e infantil, com diretrizes que agradaram aos setores que defendem o parto humanizado e a amamentação – comentou.

Rede Cegonha

Dário Frederico Pasche, que representou o Ministério da Saúde, destacou que as medidas se enquadram dentro de programa mais amplo de atenção à saúde da mulher, o Rede Cegonha. Disse que as medidas são pactuadas com estados e municípios, para que as mulheres possam contar com orientação sobre direitos reprodutivos e o acompanhamento pré-natal, além do parto seguro.

A humanização do parto, ainda conforme Pasche, hoje é uma questão central para o Rede Cegonha e também um desafio, pois envolve mudar a organização e a cultura vigentes nas estruturas de saúde. Segundo ele, historicamente a cultura produzida pelo campo médico avançou para a “medicalização da vida”. Assim, a gestação, o parto e nascimento acabaram se transformando antes de tudo num “ato médico”.

- A humanidade criou o hospital para lidar com situações muito graves e severas, onde o cuidado intensivo e com a intervenção tecnológica se fazem absolutamente necessário. Mas fomentar que os hospitais façam cada vez mais atos que são da fisiologia é um contrasenso – afirmou.

Para que o sistema público possa avançar mais rapidamente, Pesche assinalou que uma das estratégias é favorecer o parto natural, em centros de natureza não-hospitalar, com acompanhamento de profissionais de enfermagem qualificados em obstetrícia. Segundo ele, o modelo é o sistema inglês, em que 85% dos partos são “absolutamente fisiológicos”.
Ainda de acordo com Pesche, em 30% dos partos feitos na Inglaterra não há mesmo qualquer tipo de intervenção da equipe que acompanha. As mulheres não recebem soro, não são submetidas a lavagem intestinal prévia nem ao procedimento chamado de episiotomia, o corte entre o ânus e a vagina para facilitar a saída do bebê, uma pratica que vem sendo feita de forma indiscriminada no país, segundo as denúncias.

Formação médica

Vera Soares, da Secretaria de Políticas para Mulheres, também apontou a necessidade de debater a formação dos médicos. Ela disse que esses profissionais saem das faculdades aptos a lidar com “tecnologias sofisticadas”, mas incapazes de entender e acompanhar uma mulher que faz a opção por ter um parto natural.

Vera Soares concordou que outro desafio é fazer valer a lei que garante o direito a um acompanhante na hora do parto. Em seguida, anunciou que a secretaria, junto ao Ministério da Saúde, prepara uma cartilha para as mulheres grávidas. A intenção é que elas cheguem na hora do parto sabendo todos os seus direitos, para ter condições de exigir.

Disque 180

A senadora Ana Rita sugeriu que a linha telefônica 180, criada para acolher denúncias de violência contra as mulheres, possa ainda ser utilizada para informações de casos de violência obstétrica. Segundo ela, seria uma providência útil enquanto a política de parto humanizado ainda não for uma realidade em toda a rede pública.

- Assim o Ministério da Saúde poderá contar com informações para monitorar e corrigir eventuais falhas que persistam – argumentou.

Ana Rita abriu espaço para que uma jovem mãe, Elisa Lorena de Barros Santos, contasse sua experiência de parto natural, realizado em sua casa. Acompanhada da filha, Iara, de apenas cinco meses, ela contou que preferiu fazer o acompanhamento pré-natal com enfermeiros obstetras, a seu ver pessoas com maior disponibilidade para ouvir e orientar as pacientes. Explicou que Iara nasceu de forma rápida e tranquila.

- Não estou dizendo que todas mulheres precisam ter o parto em casa, mas que o parto ocorra com todo o respeito, de forma humanizada – defendeu.

Mandado judicial

Um caso mencionado quando a CAS aprovou o requerimento para a realização da audiência voltou a ser citado durante a audiência: o de uma mulher no Rio Grande do Sul obrigada, por mandado judicial, a fazer cesariana, mesmo com a diretriz do Ministério da Saúde para a realização de partos humanizados.


O Senado já aprovou, em 2013, o PLS 8/2013, que obriga o SUS a oferecer condições para a realização de partos humanizados em seus estabelecimentos. O texto busca converter em lei as diretrizes da portaria com orientações técnicas para o parto humanizado no SUS, inclusive para regulamentar a presença do acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato. A matéria aguarda análise da Câmara dos Deputados.

Fonte: Agência Senado

terça-feira, 1 de abril de 2014

Mãe é chamada de vagabunda por amamentar o filho em público. E você, se sente incomodado(a) com esse direito básico?





Emily Slough, de 27 anos, estava fazendo compras e parou por alguns instantes para amamentar Matilda. Uma foto dela circulou pelas redes sociais com a legenda de 'vagabunda'. 


Saúde Plena, Jornal Estado de Minas, 31/03/2014

Você está no shopping e sente fome. Precisa comer alguma coisa. O que acha de ser conduzido ao banheiro para fazer seu lanche? Estranho, né? E será que o banheiro é o local ideal para que um bebê seja alimentado? Pois saiba que este é o constrangimento que algumas mães e bebês têm que passar no momento da amamentação. O motivo seria o incômodo causado a outros frequentadores de locais públicos.



Priscila Bueno, de 23 anos, repreendida por amamentar Julieta no espaço expositivo do MIS: constrangimento gerou protestos na internet e um 'mamaço' no museu paulista

O caso de repercussão nacional mais recente aconteceu no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo. A modelo Priscila Navarro Bueno, 23 anos, visitava uma exposição com a filha de sete meses e foi convidada por um monitor a se retirar para amamentar em um local 'mais reservado'. Ela recusou o convite e continuou a visita.

Mas, antes que ela terminasse, um segurança e outro monitor da exposição a abordaram novamente. Os argumentos eram que “ela não estava amamentando mais, a criança estava só dormindo no peito” e “não era permitido amamentar no Museu”. Priscila acabou decidindo se retirar, mesmo sem terminar de ver a exposição, mas fez um desabafo nas redes sociais.

A sequência de acontecimentos após o desabafo: -um pedido de desculpas do MIS, informando que os funcionários seriam mais bem orientados e que as mães que visitam o local têm total liberdade de amamentar seus filhos no espaço expositivo; -a organização, pelas redes sociais, de um 'mamaço', ou seja, uma grande reunião de mães no espaço do museu, dispostas a amamentar seus filhos sem serem importunadas. O Museu reiterou o pedido de desculpas e chegou a incluir o evento, de iniciativa do grupo Matrice, em sua programação, no último dia 16 de fevereiro.

A polêmica não está restrita ao MIS, é claro. Na capital paulista, um caso anterior já havia motivado um projeto de lei, ainda em tramitação na Câmara Municipal, que prevê multa aos estabelecimentos que proibirem ou provocarem constrangimento às mães durante a amamentação.

Não está restrita a São Paulo, também. Em Belo Horizonte, a retirada de uma foto do Facebook sob a justificativa de “conteúdo impróprio” motivou a doula (de forma simplificada, acompanhante de parto) e fotógrafa Kalu Brum a organizar um mamaço no Parque Municipal. 


Heather Vaughan, de 29 anos, estava visitando o Museu Nacional da Marinha na cidade de Portsmouth e se dirigiu a uma área reservada a crianças para amamentar a filha Lydia. Ainda assim, foi importunada pelo segurança

Mas, ao contrário do que possa parecer, também não está restrita ao Brasil. No último dia 13 de março, Heather Vaughan, de 29 anos, estava visitando o Museu Nacional da Marinha na cidade de Portsmouth, no Reino Unido, e se dirigiu a uma área reservada a crianças para amamentar a filha de nove semanas, Lydia. Ainda assim, foi importunada pelo segurança, em tom semelhante ao caso do MIS: “Nós não permitimos isso aqui”, disse o funcionário. O desfecho também foi semelhante – a mãe acabou se retirando com o marido e seu outro filho; a instituição pediu desculpas e vários protestos se seguiram nas redes sociais. 

O caso mais emblemático, no entanto, acabou sendo o de outra mãe inglesa. Ela teve uma foto (tirada sem seu consentimento) postada em redes sociais com a legenda: “tudo bem que está um dia de sol, mas não há necessidade de você deixar seu bebê se alimentar no seu mamilo em plena cidade. Vagabunda”. Emily Slough, de 27 anos, estava fazendo compras naquele dia e parou para descansar um pouco nos degraus de uma loja, enquanto fazia um lanche. Matilda, de oito meses, também pode matar a fome.

A foto foi postada em uma página do Facebook que reúne imagens variadas do cotidiano urbano, sem identificação dos autores, algumas com conteúdo ofensivo. A jovem disse que, após o choque inicial, pensou em simplesmente ignorar o fato e seguir sua vida, mas depois enxergou naquilo uma possibilidade de conscientização. 

Resultado? Uma amamentação em massa, ou seja, o que no Brasil chamamos de mamaço, na cidade de Staffordshire. “As mães que estão fazendo o melhor pelos seus filhos devem ser confinadas a um banheiro? Você gostaria de comer em um banheiro, com uma colcha tampando seu rosto? Gostaria de agradecer a quem tirou essa foto, porque se tornou um símbolo contra essa disciminação”, disse Emily aos jornais birtânicos. E ela não está desamparada. O ‘Ato da Igualdade’ de 2010, estabelece que é ilegal discriminar, assediar ou tratar de modo desfavorável as mães que estejam amamentando na Inglaterra, no País de Gales e na Escócia.

“O problema é a hipocrisia da sociedade brasileira. Amamentação não pode, mas exposição do corpo feminino na televisão, por exemplo, pode”, diz, sem hesitar, o advogado Faiçal Assrauy. “Ainda que alguém possa alegar um conflito de direitos, sob a alegação de um suposto atentado ao pudor ou algo que o valha, o direito que a criança tem de ser alimentada se sobrepõe. É um direito da criança e uma obrigação da mãe. E ainda tem gente querendo restringir?”, pergunta o jurista. 

Assrauy pondera que, em alguns casos, a ideia de aplicar uma punição, pode ser útil e necessário. “Se um direito tão básico não é respeitado - e isso vale para o mundo todo, não adianta pensar que é só no Brasil - há que se pensar em uma punição. Ela torna-se uma garantia e uma tranquilidade pra as mães”, define.

O advogado conta que acompanhou o caso de uma mãe constrangida em um shopping da capital mineira. Ofendida, ela buscou a justiça. A empresa optou por pedir desculpas e fazer um acordo amigável. “Em casos assim, não recomendo que a mãe fique calada. Ela deve procurar o juizado de menores e a delegacia mais próxima. Se possível, além de registrar a ocorrência, deve procurar um advogado e acionar o estabelecimento por danos morais. Embora a jurisprudência quanto a essa questão não seja unânime, a maioria dos juízes respeita e incentiva o direito à amamentação”, esclarece.


'Participei do mamaço porque a criança tem o direito de ser alimentada em qualquer lugar e fiquei chocada com a postura do museu', diz Marina, mãe de Cecília, de 5 meses. Veja mais depoimentos na galeria de fotos

Para ele, o Brasil ainda está muito atrasado em várias questões referentes à naturalidade das opções humanas. “Aqui, a amamentação em público é alvo de críticas e as mães se sentem desamparadas. A união de pessoas do mesmo sexo ainda permanece em discussão. No Canadá, por exemplo, a briga já é pelo direito de as mulheres andarem sem camisa na rua. E isso é uma opção de cada um, deve ser respeitada. Mas a sociedade, e por consequência a legislação, ainda estão bem longe desse respeito no Brasil”, aponta Assrauy.

"Este é um dos primeiro direitos que a criança tem", reforça Ludmila Lima, nutricionista da associação de combate à desnutrição infantil Dona de Leite. “Do ponto de vista nutricional, não há necessidade de um lugar específico para a amamentação. Mas há, sim, a necessidade de oferecê-lo quando a criança sentir fome, seja lá em qual local a mãe estiver. Não há como prever a necessidade de um recém-nascido. O choro não aceita um ‘não’”, defende. “O leite materno é um alimento completo do ponto de vista de todos os nutrientes e anticorpos que a criança precisa nos primeiros meses de vida. A amamentação exclusiva no peito é recomendada internacionalmente até os seis meses. Quem se incomoda com isso deve estar mal informado”, afirma a nutricionista.

Ludmila explica que a complementação é dispensada até os 6 meses de idade, e que a partir daí a criança pode receber outros alimentos. Mas, se possível, o ideal é amamentar até os dois anos. “A amamentação é cercada de mitos em relação ao local em que ela ‘pode’ ou ‘não pode’ ser feita, à ingestão de alimentos e medicamentos, mas é importante salientar que a avaliação deve ser individual. Cada organismo reage de uma maneira. O que vale para todas as mães é: não existe leite fraco e é importante tomar muita água. De resto, há muitas dicas erradas por aí, de pessoas que não têm o conhecimento necessário. Em caso de dúvidam, a mãe deve procurar orientação especializada”, pondera a nutricionista.


'Do ponto de vista nutricional, não há necessidade de um lugar específico para a amamentação. Mas há, sim, a necessidade de oferecê-lo quando a criança sentir fome, seja lá em qual local a mãe estiver', diz a nutricionista Ludmila Lima

Para ela, há um longo caminho a ser percorrido para vencer o preconceito. “Nossa sociedade é machista e ainda acha que pode determinar os momentos em que a mulher deve se expor ou não. A criança não tem senso de horário ou local, ela tem fome. A amamentação é um ato natural do ser humano, e a comunidade deve se acostumar com a presença feminina em todos os lugares, inclusive quando ela está amamentando. Foi-se o tempo em que a mãe deveria ficar confinada. Hoje ela leva os filhos para onde vai, inclusive suas atividades de lazer”, defende Ludmila.

Se você está grávida, com dificuldades na amamentação ou ainda deseja doar leite, procure a Maternidade Odete Valadares. O Banco de Leite funciona, diariamente, das 7h às 19h e o atendimento externo é feito de segunda a sexta-feira, das 8h à 17h. A equipe oferece atendimento das intercorrências do aleitamento materno (ingurgitamento, traumas mamilares, treinamento mãe/filho, relactação, lactação adotiva, mastite puerperal), atendimento psicológico, curso mensal gratuito para o casal grávido e visita domiciliar para coleta de leite materno, entre outros serviços.

Av. do Contorno, 9494, Prado, Belo Horizonte
Telefone: (31) 3337-5678 e 3298-6008
Linhas de ônibus: SC01 A, SC01 B, SC03 A, SC03 B, 9210
Se você quiser saber mais sobre o trabalho da organização não governamental Associação Dona de Leite, visite o site www.donadeleite.org.br e a página no Facebook: www.facebook.com/projetodonadeleite

Se você quiser saber mais sobre o trabalho da organização não governamental Associação Dona de Leite, visite o site www.donadeleite.org.br e a página no Facebook: www.facebook.com/projetodonadeleite


quinta-feira, 13 de março de 2014

Mulheres denunciam violência obstétrica; saiba se você foi vítima


Giovanna Balogh
Blog Maternar, 12/03/2014

Mulheres são diariamente vítimas da chamada violência obstétrica em consultórios e hospitais das redes pública e privada de saúde. Muitas parturientes não sabem dos seus direitos no pré-natal, na hora do parto e no pós-parto e constantemente sofrem com agressões físicas ou emocionais por parte dos profissionais de saúde.

É considerada violência obstétrica desde a enfermeira que pede para a mulher não gritar na hora do parto normal até o médico que faz uma episiotomia indiscriminada – o corte entre o ânus e a vagina para facilitar a saída do bebê . Apesar de a OMS (Organização Mundial da Saúde) determinar critérios e cautela para a adoção do procedimento, médicos fazem a prática de maneira rotineira. A obstetriz Ana Cristina Duarte, do Gama (Grupo de Maternidade Ativa), estima que entre 80% a 90% das brasileiras são cortadas durante o parto normal. “Sabemos que há evidências de que não é necessário mais cortar as mulheres. As mulheres são cortadas sem o consentimento delas e isso é uma violência obstétrica”, comenta.

De acordo com a pesquisa “Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado”, divulgada em 2010 pela Fundação Perseu Abramo, uma em cada quatro mulheres sofre algum tipo de violência durante o parto. Por conta do grande número de denúncias que tem recebido, o Ministério Público Federal decidiu instaurar nesta semana um inquérito civil público para apurar esses casos.

Segundo o MPF, algumas denúncias “demonstram o desrespeito” a essas mulheres. Para Ana Cristina, o número da pesquisa está subestimado pois muitas mulheres ainda não entendem que foram vítimas desse tipo de violência. Ela diz que os efeitos da violência obstétrica são sérios e podem causar depressão, dificuldade para cuidar do recém-nascido e também problemas na sexualidade desta mulher. Os tipos mais comuns de violência, segundo o estudo, são gritos, procedimentos dolorosos sem consentimento ou informação, falta de analgesia e até negligência.

A Defensoria Pública de São Paulo também tem intensificado as ações para orientar as mulheres e sobre a importância de denunciar os casos para a Justiça, a ouvidoria dos hospitais e os conselhos de classe, como o CRM (Conselho Regional de Medicina).

A free-lancer Marina de Oliveira Kater Calabró, 36,  conta que sofreu episiotomia no parto dos três filhos e que teve dificuldades na recuperação dos pontos, principalmente, no parto do caçula, ocorrido no ano passado em um hospital particular de São Paulo. “Na primeira gravidez eu realmente não sabia que não era necessário. No terceiro parto,  minha recuperação da episiotomia foi horrível, sofri pacas, demorou muito até eu conseguir andar direito”, lamenta Marina, que fez todos os partos com a mesma médica.

Outros exemplos de violência obstétrica são a infusão intravenosa para acelerar o trabalho de parto (ocitocina sintética), a pressão sobre a barriga da parturiente para empurrar o bebê (manobra de Kristeller), o uso rotineiro de lavagem intestinal, retirada dos pelos pubianos (tricotomia) e exame de toque frequente para verificar a dilatação. São comuns também os relatos de  humilhações praticados por parte dos profissionais de saúde que dizem frases como “se você não parar de gritar, eu não vou mais te atender”, “na hora de fazer não gritou” e outras do gênero.

Também é considerada violência obstétrica agendar uma cesárea sem a real necessidade, recusar dar bebida ou comida para uma mulher durante o trabalho de parto ou impedir procedimentos simples, como massagens para aliviar a dor e a presença de um acompanhante na hora do parto, que pode ser o marido ou qualquer pessoa da escolha da parturiente.

Segundo os relatos do MPF, muitas mães são amarradas e obrigadas a ficar deitadas durante o trabalho de parto quando é comprovado cientificamente que, para minimizar os incômodos das contrações, a mulher deve se movimentar e ficar na posição que se sente mais confortável para parir. Mães que são impedidas de ter contato com o bebê e amamentá-lo logo após o parto também podem denunciar os profissionais de saúde.

Além de fiscalizar as entidades de saúde que estão desrespeitando os direitos reprodutivos e sexuais das mulheres, o MPF pretende divulgar a ocorrência das práticas indevidas durante o trabalho de parto, bem como os direitos das parturientes. As procuradoras da República Luciana da Costa Pinto e Ana Previtalli, responsáveis pela instauração do inquérito civil público, defendem que as mulheres precisam ser informadas para que possam cobrar dos profissionais que as atendem a assistência digna e baseada em evidências científicas já estabelecida pela OMS. Os casos podem ser denunciados no site do Ministério Público Federal.

AÇÕES NA JUSTIÇA

A advogada Priscila Cavalcanti conta que entrou com várias ações na justiça por conta dos maus-tratos sofridos por suas clientes. Além de processar o hospital e o profissional de saúde envolvido, em alguns casos o plano de saúde também é incluído na ação. “Usamos o respaldo de que o médico consta da rede credenciada e deveria ser melhor qualificado ou estar mais a par das evidências”, comenta. A advogada, que se especializou nesse tipo de ações, aconselha as mulheres a tentar reverter o quadro no momento, quando isso é possível.

“Toda mulher tem direito a um acompanhante da sua escolha na hora do parto, então, ela deve se informar de seus direitos para exigir na hora do parto”, comenta. Ela ainda aconselha as pacientes a prestar atenção nos nomes de quem está praticando a violência obstétrica e, após a alta, pedir o prontuário da mulher e do bebê. “Depois, o ideal é escrever o relato do que aconteceu, com riqueza de detalhes, e procurar um advogado de confiança, para que possam ser tomadas as medidas legais cabíveis”, orienta.

A cidade de Diadema, na Grande SP, foi pioneira ao criar, no ano passado, uma lei contra a violência obstétrica na rede municipal de saúde.

RELATOS

Apesar do termo violência obstétrica ser relativamente novo, além de denunciar, muitas mães têm trocado experiências e divulgado os casos nas redes sociais para que outras mulheres não passem pelo mesmo sofrimento. Desde março do ano passado, a fotógrafa Carla Raiter, 31, coleta histórias e registra imagens de mulheres que foram vítimas na hora do parto. Com o projeto “1:4 Retratos da Violência Obstétrica”, ela mostra de forma anônima o sofrimento dessas mulheres.

Ao receber o relato, ela faz uma tatuagem temporária que é aplicada na pele da mulher que será fotografada. Confira nas imagens a seguir (AQUI) o que passaram algumas mulheres no momento que deveria ser o mais feliz de suas vidas. E você, já foi vítima de violência obstétrica?

segunda-feira, 10 de março de 2014

Curso de Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça da UFMG recebe inscrições para 250 vagas

Discutir e abordar as temáticas relacionadas a gênero e a igualdade étnico-racial são algumas das propostas do curso de extensão da UFMG Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça, que oferece 250 novas vagas nos polos de Belo Horizonte, Confins, Formiga, Governador Valadares e Uberaba. As atividades são na modalidade semipresencial e serão realizados seis encontros presenciais nos polos. As inscrições podem ser efetuadas até o dia 14 de março, por meio do preenchimento de formulário eletrônico disponibilizado no site www.ufmg.br/ead/site/index.php/caed. 


Para participar do processo seletivo, o candidato deve obedecer a um dos seguintes critérios: ser servidor federal, estadual ou municipal da administração pública; ser integrante dos conselhos de direitos, dos fóruns intergovernamentais de promoção da igualdade racial, dos conselhos de educação; ser dirigente de organismos não governamentais ligados à temática de gênero e da igualdade étnico-racial. Também é necessário residir na cidade em que as atividades presenciais vão acontecer ou próximo a elas. 

A documentação exigida no ato da inscrição está listada no edital, também disponível no site www.ufmg.br/ead/site/index.php/caed. Em relação à carta de intenções, que também é requerida, o candidato deve abordar seu interesse pelos conteúdos do curso, experiências anteriores sobre o assunto, conhecimento sobre internet e educação a distância e, por fim, expectativas em relação às atividades. 


O resultado será divulgado a partir do dia 28 de março. 


Políticas Públicas 

Coordenado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher da UFMG, em parceria com o centro de apoio à educação a distância da universidade, o curso objetiva instrumentalizar os participantes para a intervenção no processo de implementação, monitoramento e avaliação de programas e ações de gênero e raça nas políticas públicas. 

É importante que os alunos dediquem, no mínimo, quatro horas semanais para participar das discussões on-line sobre os temas levantados nas disciplinas. 

Outras informações sobre a seleção podem ser obtidas pelo e-mail gppger@fafich.ufmg.br ou pelo telefone (31) 3409-3821. 

Fonte: Combate Racismo Ambiental

sábado, 8 de março de 2014

Um balanço da ONU sobre a igualdade de gênero

Transformado em motivo de celebração pela sociedade de consumo, o Dia Internacional das Mulheres muitas vezes acaba por reforçar estereótipos de gênero. Entretanto, muito além de servir como justificativa para aquecer as vendas de flores, maquiagem, bombons ou até utensílios domésticos, a data representa um convite à reflexão e ao balanço sobre as conquistas e obstáculos em relação aos direitos das mulheres.
Nos últimos anos, testemunhamos grandes avanços no Brasil em relação à igualdade de gênero. A Secretaria de Políticas para as Mulheres celebrou em 2013 uma década de funcionamento. A Lei Maria da Penha, de 2006, alterou o Código Penal e possibilitou que agressores de mulheres sejam presos em flagrante ou tenham sua prisão preventiva decretada, além de impor penas mais rigorosas e de estabelecer medidas protetivas às vítimas. De acordo com Censo 2010, do IBGE, a presença nas faculdades brasileiras já é majoritariamente feminina, e a escolarização delas também é maior na faixa etária entre 18 a 24 anos. Já segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, a participação das mulheres no mercado de trabalho brasileiro cresceu mais do que a dos homens em 2012. O crescimento foi de 3,89% ante ao aumento de 1,46%. Com isso, as mulheres passaram a representar 42,47% da força de trabalho.
No entanto, ainda nos encontramos distantes de nossos objetivos de que milhões de mulheres e meninas vivam livres de discriminação e violência no Brasil. Mulheres e homens continuam escolhendo campos de estudo muito diferentes na educação técnica e superior, e as mulheres têm mais probabilidade que os homens de participar de atividades de baixa produtividade e rentabilidade. Em 2012, o Mapa da Violência, em um estudo feito em 84 países, colocou o Brasil na sétima posição em assassinatos de mulheres, com uma média de 4.365 vítimas fatais ao ano entre 2000 e 2010. As mulheres ainda estão fortemente sub-representadas na política. A divisão equilibrada das tarefas domésticas e do cuidado com os filhos ainda é algo distante da realidade da maioria dos lares brasileiros, o que dificulta consideravelmente a vida profissional das mulheres.
Assim, apesar dos avanços, muitos obstáculos devem ser levantados ao mesmo tempo – no mercado, nas instituições, no âmbito doméstico e na sociedade em geral – para transformar esta realidade desigual.
Para ter um panorama concreto, a ONU Mulheres, no Brasil e no mundo, está dedicada a um processo de avaliação dos progressos e desafios em matéria de igualdade de gênero, que vai culminar em 2015. A origem deste processo é a Quarta Conferência Mundial sobre a Mulher, que aconteceu em Pequim, em 1995. O resultado do encontro foi um acordo para trabalhar pelos direitos humanos das mulheres e meninas em todo o mundo. O documento, chamado “Plataforma de Ação de Pequim”, lista 12 pontos prioritários de trabalho, além de ações detalhadas para alcançar seus objetivos estratégicos. Em suma, trata-se de um roteiro para o avanço da igualdade de gênero e do empoderamento das mulheres nos países, reforçando e dando maior concretude aos princípios elencados na Convenção sobre os Direitos das Mulheres, a CEDAW.
Este Dia internacional das Mulheres marcará o início de um ciclo de um ano, em que a ONU Mulheres estará voltada para a análise dos resultados alcançados nas 12 áreas temáticas nas últimas duas décadas. E este processo está sendo chamado de Pequim+20.
As 12 áreas temáticas são: Mulheres e Pobreza; Educação e Capacitação de Mulheres; Mulheres e Saúde; Violência contra a Mulher; Mulheres e Conflitos Armados; Mulheres e Economia; Mulheres no Poder e na Liderança; Mecanismos Institucionais para o Avanço das Mulheres; Direitos Humanos das Mulheres; Mulheres e a Mídia; Mulheres e Meio Ambiente e Direitos das Meninas.
O processo de revisão e avaliação de Pequim ocorre em um momento único: a comunidade internacional está focada em alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs), além de concentrar esforços em formular uma agenda de desenvolvimento pós-2015, tendo em conta as diretrizes dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Interligados, estes processos proporcionam uma oportunidade singular para posicionar a igualdade de gênero, os direitos e o empoderamento das mulheres no centro da agenda global.
Neste Dia Internacional das Mulheres, sabemos que ainda temos que enfrentar alguns desafios rumo a uma sociedade mais justa e igualitária. Acreditamos que as avaliações de Pequim+20 podem nos apontar um caminho definido a seguir.
A ONU Mulheres acredita em um futuro de igualdade, caminhando junto à sociedade civil e aos governos para construir sociedades que visem à equidade de gênero e ao empoderamento das mulheres em todas as suas esferas.
 Fonte: Brasil Post

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Acre institui o Bolsa Parteira


A parteira tradicional, Zenaíde Carvalho, comemora o benefício. 

A partir de maio deste ano, as parteiras tradicionais de Porto Walter, Marechal Thaumaturgo, Jordão e Santa Rosa do Purus serão contempladas com uma bolsa no valor de R$ 250. Foi aprovada, por unanimidade, pela Assembleia Legislativa do Acre, a Lei de n°2.834, de 30 de dezembro de 2013, que pretende beneficiar, inicialmente, cerca de 150 mulheres.

O anteprojeto de Lei que originou o Bolsa Parteira foi desenvolvido pela Secretaria de Estado de Políticas para as Mulheres (SEPMulheres) e poderá ser ampliado às parteiras dos demais municípios de acordo com as necessidades de saúde, disponibilidade orçamentária e financeira e com critérios estabelecidos por decreto.

O Acre é o segundo estado da federação a instituir o benefício, ficando atrás apenas do Amapá. Para ter direito, as beneficiárias devem ser reconhecidas por sua comunidade como parteiras, possuir certificado de cursos ou oficinas para parteiras tradicionais e estarem devidamente cadastradas na Secretaria de Saúde (Sesacre).

Maria Zenaide Carvalho exerce o ofício há 46 anos e considera a bolsa um reconhecimento merecido à classe. “Eu tinha 10 anos quando fiz meu primeiro parto, de lá para cá não parei mais. Aprendi a pegar menino com a minha mãe e já ajudei 246 crianças virem ao mundo. Assim como eu existem muitas outras mulheres no Acre que, agora com o Bolsa Parteira, passam a ser fortalecidas pelo Estado e reconhecidas na sociedade”, ressaltou.

Para a titular da SEPMulheres, Concita Maia, a bolsa reflete o compromisso do governo: “Estamos avançando nas políticas para as mulheres do Acre graças ao compromisso político e sensibilidade do nosso governador Tião Viana”.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Disque 180 recebeu 47,5 mil denúncias de violência contra mulher no primeiro semestre


Brasília – O casamento de mais de 20 anos não resistiu às constantes agressões verbais e físicas. Geralmente motivados por ciúme de “amantes imaginários”, os ataque intensificaram-se ao longo dos últimos sete anos até que, há cerca de um mês, a auxiliar de serviços gerais Marcela*, 39 anos, decidiu “dar um basta à violência”.

Depois de ser ameaçada pelo marido com um facão, ela foi até uma delegacia especializada de atendimento à mulher no Distrito Federal e denunciou o pai de seus três filhos.

“Era uma humilhação muito grande, principalmente quando as agressões ocorriam na frente dos meus filhos. Ele me xingava de tudo, de baleia, égua, capeta. Mas foi quando ele me ameaçou com um facão que eu vi que poderia virar uma tragédia maior. Decidi pedir ajuda”, disse ela, que foi encaminhada a uma casa-abrigo da região. O endereço do local, que faz parte da rede de atendimento do governo do DF é mantido em sigilo.

Casos como o de Marcela são frequentes no Brasil. Segundo dados da Secretaria de Políticas para Mulheres, o Disque 180, que recebe denúncias e oferece orientações às vítimas, registrou no primeiro semestre deste ano, 47,5 mil atendimentos com relatos de violência, sendo a maior parte (26,9 mil) de violência física.

Para vencer o medo, apontado por especialistas como principal razão para que muitas mulheres deixem de denunciar agressores, Marcela disse que pensou nos filhos.

“Por muito tempo, eu aguentei aquela humilhação por causa deles. Tinha medo de que sem o pai por perto, eles se metessem com a criminalidade da área onde morávamos. Mas depois vi que, se eu morresse, seria muito pior”, disse.

“Hoje, apesar de estar presa em um lugar sigiloso, me refazendo, sinto que estou livre. Não vou me esconder por muito tempo. Estou recebendo muito apoio lá dentro e em breve vou retomar minha vida”, acrescentou.

O medo de morrer também foi o que impulsionou a universitária Ana Barbosa*, 25 anos, a procurar uma delegacia para denunciar o homem com quem vivia há dois anos e meio. Cansada dos xingamentos e dos “ataques de ciúmes”, ela fugiu de casa ferida e “quase sem força física” após sofrer tentativa de sufocamento.

“Ele tentou me matar, apertando meu pescoço com muita força. Eu mal conseguia andar, mas fugi praticamente sem roupa e fui até a delegacia. Não aguentava mais aquela situação, mas eu era apaixonada por ele e não queria ficar longe”, disse ela, que também foi encaminhada a uma casa-abrigo no Distrito Federal.

As mãos trêmulas, a voz embargada e as lágrimas nos olhos ao falar do assunto são apenas algumas das consequências que o trauma deixou. Mesmo sem saber como será a vida após deixar o local, ela garante que não se arrepende.

“Não me arrependo porque eu não tinha saída. Ele ia me matar, estava transtornado. Ele costumava inventar histórias de traição e me batia e xingava. Seu eu não confirmasse as fantasias da cabeça dele e criasse outros detalhes, ele me batia mais”, disse.

* Os nomes utilizados na matéria são fictícios para preservar a identidade das vítimas.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Humanização é realidade no Hospital Sofia Feldman, em Belo Horizonte


Um detalhe chama a atenção de quem circula por qualquer um dos dois Centros de Parto Normal do Hospital Sofia Feldman, em Belo Horizonte: os quartos foram batizados com nomes de personalidades femininas importantes da história mineira e nacional, como Dona Beija, Chica da Silva e Adélia Prado. A homenagem é coerente com a filosofia de atendimento humanizado dessa maternidade de grande porte, em que se incentiva o protagonismo da mulher no parto.

Por várias razões, a experiência desse hospital na atenção ao parto e nascimento é referência nacional em atenção humanizada e boas práticas. Muitas das características da ambiência hospitalar e da dinâmica de trabalho aparecem como recomendações do programa Rede Cegonha do Ministério da Saúde. O recém-inaugurado Centro de Parto Normal Helena Greco (nas dependências do prédio principal) conta com cinco quartos espaçosos e iluminados e três com banheiras para parto na água. E o Centro de Parto Normal David Capistrano da Costa Filho (com entrada independente), criado em 2001 e conhecido como Casa de 

Parto, conta também com cinco quartos, um com banheira.
Mesmo sendo referência para alta complexidade em todo o estado de Minas Gerais, a taxa de cesariana no Sofia Feldman é de cerca de 25%, menor do que a da rede pública como um todo. O hospital apresenta também as menores taxas de mortalidade materna e neonatal de Belo Horizonte, segundo informações da Comissão Perinatal da Secretaria Municipal de Saúde. Dos mais de 7 mil bebês que nascem ali, cerca de 10% nascem na Casa de Parto.

Os partos feitos ali são assistidos por enfermeiras obstétricas, como Nágela Cristine Pinheiro Santos, que está há 16 anos no Sofia Feldman e ajudou a elaborar o projeto do espaço e a desenvolver dispositivos para dar mais conforto à mulher, como um arco de metal adaptado à cama, que facilita a posição de cócoras. “A Casa de Parto Normal dá à mulher poder de decidir o que quer na hora do parto, como em que posição ficar”, diz Nágela, que esteve em maternidades da região Nordeste e da Amazônia Legal para difundir suas experiências por meio do Programa de Qualificação das Maternidades (PQM) e, em fevereiro, participou de um seminário de humanização no Camboja. “Medidas simples como um chuveiro quente ou uma cortina separando leitos em uma enfermaria conjunta dão resultado imediato de mais conforto e privacidade”, conta. Ela lembra, porém, que a humanização é mais do que o ambiente confortável. “A instituição como um todo precisa entender e incorporar a humanização”.

O diretor administrativo do hospital, Ivo Oliveira Lopes, concorda. “Alguns direitos, para serem garantidos, não demandam recursos. Nós, gestores, temos o dever de preservá-los. O parto é da mulher, não um ato médico. Assistir o parto não é tomar o lugar da mulher, e o enfermeiro obstétrico, ao lado de todos os outros profissionais, é fundamental”, considera. “A tecnologia que chega é muito bem-vinda, mas para quem tem necessidade real, não por uma necessidade mercantilista”, reforça o médico, que destaca o reconhecimento obtido pelo Sofia como Hospital Amigo da Criança, conferido pelo Unicef, e o Prêmio Maternidade Segura, recebido da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).

Segundo ele, os bons resultados são devidos principalmente à participação da comunidade. “A gestão participativa determina os rumos da humanização”, explica ele, acrescentando que esse aspecto esteve presente no hospital desde o início de sua história. Construído em sistema de mutirão por voluntários da comunidade a partir da doação de um lote para uma sociedade beneficente, o Sofia Feldman foi inaugurado, ainda como ambulatório, em 1977, passando a atender como hospital em 1982.

Em 1988, a entidade mantenedora passou a ser a Fundação de Assistência Integral à Saúde (Fais). Hoje, é uma instituição pública, não governamental, que atende exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). As questões administrativas do hospital são definidas e decididas pelo colegiado diretor, composto por 16 pessoas de diferentes perfis profissionais. 

Todos os dias, são promovidas reuniões com parturientes e acompanhantes para avaliar o atendimento. “Queremos entender a singularidade de cada ser humano e da sua rede social. Oferecer atendimento baseado em evidências científicas é o mínimo”, explica Ivo, para quem a humanização passa também pelas relações entre trabalhadores e gestores. “Mulheres são 80% das nossas trabalhadoras, por isso as questões de gênero estão ainda mais presentes”, diz. O Sofia dispõe de academia e creche para as funcionárias, e promove ações de comunicação e eventos de integração entre a família do trabalhador e o hospital.
Há ainda o Núcleo de Terapias Integrativas e Complementares, que atende tanto funcionários quanto gestantes e mães com bebês internados, com práticas da medicina tradicional, como escalda-pés e auriculoterapia. A enfermeira Lília Coelho Lopes está à frente do núcleo e trabalha com uma equipe de voluntárias. “O objetivo é estimular os processos de cura internos. É um trabalho coadjuvante ao da alopatia, que representa o acolhimento e diminui a ansiedade das gestantes”, diz Lília.

Manejo conservador
Com 40% da mulheres provenientes do interior do estado, o Sofia precisou desenvolver iniciativas criativas para atendê-las, que foram incorporadas ao modelo de gestão do hospital. A Casa da Gestante Zilda Arns recebe gestantes com agravos em um espaço próximo ao hospital, evitando viagens desgastantes de ida e volta para casa para aqueles que moram distante do hospital, e até partos antecipados. Já a Casa de Sofias acolhe mães que vêm de longe e têm filhos internados na UTI neonatal. Criadas por iniciativa dos gestores, passaram a ser financiadas pelo Ministério da Saúde através da adesão ao programa Rede Cegonha.

“Para um prematuro, ficar quatro semanas a mais dentro do útero significa viver ou morrer”, explica a pediatra Raquel Aparecida Lima de Paula, responsável pela área de neonatologia do hospital, que reforça a importância do manejo conservador das gestações de risco. “A política pública mais eficaz consegue reduzir os gastos com atenção terciária. De modo geral, a família tem excesso de confiança na tecnologia, mas a melhor incubadora é o útero da mãe. Historicamente há uma inversão, com muitos recursos para a atenção terciária, como construção de UTIs neonatais. Os equipamentos são caros e não resolvem a questão principal”, comenta a médica.

Raquel aponta como um dos pontos positivos do Rede Cegonha a correção das distorções da tabela de procedimentos obstétricos e neonatais. Ela acredita que o programa pode representar uma inflexão no modelo de assistência e “começa a inverter essa lógica de assistência da obstetrícia e da neonatologia. É como se o que nós idealizamos aqui pudéssemos ver no Brasil inteiro”.    



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