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sexta-feira, 30 de maio de 2014

Excesso de cesariana está entre os motivos que impedem Brasil de atingir meta de redução da mortalidade materna

País ainda registra 64 mortes de mulheres a cada 100 mil nascimentos, segundo dados de 2011. Meta é reduzir para 35 óbitos a cada 100 mil partos até 2015. Estudo da Fundação Oswaldo Cruz divulgado ontem mostra que 70% das mulheres queriam parto normal logo que engravidaram, mas 52% passou por uma cesariana.

Valéria Mendes - Saúde Plena


Pesquisa 'Nascer no Brasil' mostra também que, apesar da cobertura universal no país, a atenção pré-natal foi baixa, com 60% das gestantes iniciando o pré-natal tardiamente, após a 12ª semana gestacional, e cerca de um quarto delas sem receber o número mínimo de seis consultas recomendado pelo Ministério da Saúde.

Já se sabe que o Brasil não vai conseguir atingir a meta número cinco dos Oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). O quinto alvo, melhorar a saúde da gestante, se divide em reduzir a mortalidade materna (meta A) e universalizar o acesso à saúde sexual e reprodutiva (meta B). “No Brasil, um fator que dificulta a redução dessas mortes é o elevado número de partos cesáreos. A percentagem de cesarianas tem se mantido em patamares muito altos e com tendência de crescimento em todas as regiões. O índice nacional de 41% em 1996 subiu para quase 54% em 2011”, afirma o 5º Relatório Nacional de Acompanhamento das Metas, divulgado pelo governo federal neste mês. A recomendação da Organização Mundial de Saúde é um índice entre 5% e 15%.

Dados divulgados ontem na pesquisa ‘Nascer no Brasil: Inquérito Nacional sobre Parto e Nascimento’, da Fundação Oswaldo Cruz, mostram que o índice brasileiro de cesarianas é de 52%, chegando a 88% na rede privada. O estudo mostra ainda que 70% das mulheres queriam parto normal logo que engravidaram. No total, 23.894 mulheres foram entrevistadas em 266 hospitais de 191 cidades brasileiras entre 2011 e 2012. Leia mais aqui.

Apesar das mortes de mães terem diminuído de 142 para cada 100 mil nascidos vivos, em 1990, para 64 mortes, em 2011, a taxa de mortalidade materna não chegará a 35, em 2015, como estipulado pela ONU. Em países como o Canadá, por exemplo, são registrados oito mortes a cada 100 mil nascidos vivos. 

É importante lembrar que entre 80 e 90% dessas mortes poderiam ser evitadas. Isso significa dizer que essas mulheres poderiam estar criando seus filhos. Pediatra, epidemiologista e coordenadora da Comissão Perinatal da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, Sônia Lansky lembra que a cesariana aumenta em até sete vezes o risco de complicações em relação ao parto normal. “Em Belo Horizonte, todo ano temos uma morte por cesariana desnecessária”, revela. 


Entre 80 e 90% das mortes maternas são evitáveis, o que significa dizer que essas mães poderiam estar criando seus filhos.

As quatro principais causas diretas de morte materna no país são: hipertensão, hemorragias, infecção puerperal e aborto (veja gráfico abaixo). “Dentro dessas causas, onde se coloca a cesariana sem indicação? Num país onde se tem uma prevalência tão alta desse tipo de parto, não basta definir a causa da morte como hemorragia porque a raiz dessa hemorragia pode ser uma cesariana desnecessária” adverte Lansky que é também coordenadora do Comitê Municipal de Prevenção de Óbitos Maternos, Fetais e Infantis BH Vida, responsável por investigar a razão de cada morte dentro das categorias citadas. 

Para ela, é preciso encarar que o país vive, sim, uma epidemia de cesarianas e que isso é alarmante. A própria cesariana, segundo a especialista, aumenta o risco de complicações em uma próxima gravidez. “A cicatriz da cesariana no útero dificulta e aumenta o risco de implantação anormal da placenta (acretismo placentário) na gestação seguinte. Como consequência, na hora do parto, a mulher pode ter uma hemorragia”, explica. Dentro desse contexto, outro dado preocupante revelado na pesquisa 'Nascer no Brasil' mostra que, entre as adolescentes, o índice de cesarianas foi de 42%. Mulheres com vida reprodutiva precoce tendem a ter um número maior de filhos, consequentemente, estão expostas a mais riscos nas futuras gestações. 

A especialista lembra ainda que não é só a cesárea que aumenta o risco de complicações na hora do parto, mas também o abuso de intervenções desnecessárias no parto via vaginal como episiotomia de rotina, uso de fórceps, manobra de Kristeller, entre outros. “As más práticas na assistência ao parto também estão relacionadas à morte materna”, afirma.

Obstetra e presidente da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), Maria Inês de Miranda Lima ressalta as diferenças existentes dentro do próprio país. Apesar de a média brasileira estar em 64 mortes para cada 100 mil, Belo Horizonte, por exemplo, registrou 33 mortes em 100 mil em 2013. “Por outro lado, temos lugares que ainda registram 140 mortes a cada 100 mil”, diz. A complexidade da questão no Brasil é tão grande que, de acordo com Sônia Lansky, há casos de morte materna justamente porque não existe a oportunidade de cesariana. 

Maria Inês de Miranda Lima diz que a demora na assistência às necessidades da gestante é o principal problema a ser enfrentado. “São três demoras: identificar o risco no pré-natal é o primeiro deles; o segundo, depois que o risco é identificado, é conseguir acesso à instalação de saúde adequada; e, por último, quando se chega ao local adequado, receber a assistência obstétrica em tempo hábil”. Mulheres hipertensas, obesas, que têm diabetes, cardiopatas, infectadas pelo HIV ou malária entram na classificação de gravidez de risco.

Desafios

Para a presidente da Sogimig, a alta taxa de cesarianas tem um componente cultural. “A mulher canadense, por exemplo, tem orgulho da experiência do parto normal. Se por um lado as brasileiras querem viver essa experiência, por outro, têm pânico da dor. É doloroso, mas suportável. Existe uma tendência da comodidade em função da tecnologia”, observa. 
Maria Inês de Miranda Lima acredita que uma forma de mudar o índice de cesarianas no Brasil passa pela aceitação do modelo de atendimento europeu às gestantes, que dão à luz com os médicos plantonistas. “É diferente dessa atenção individualizada que culturalmente existe aqui”, pontua.

Para Sônia Lanky, o descontrole da situação é fruto da falta de regulação do setor privado para cesarianas eletivas e desnecessárias. No Sistema Único de Saúde (SUS) a taxa de cesarianas é de 29%. “Ninguém regula: nem as sociedades médicas, nem os conselhos, nem a vigilância sanitária e nem as operadoras de saúde”, diz. Segundo ela, o Brasil vive um paradoxo em razão do pleno emprego e da entrada da mulher no mercado de trabalho. “A carteira assinada vem com um plano de saúde junto e, de quebra, a mulher adquire uma cesárea com a ilusão de que é melhor, mas o procedimento cirúrgico sem indicação significa impor riscos desnecessários para a mãe e para o bebê”, pontua.

Segundo o 5º Relatório Nacional de Acompanhamento das Metas, a elevada percentagem de partos cesáreos representa um grande desafio para a política de saúde. “Mulheres submetidas a cesáreas correm 3,5 vezes mais risco de morrer (dados de 1992-2010) e têm cinco vezes mais chances de contrair uma infecção puerperal (dados de 2000-2011); sem contar a maior probabilidade de ocorrência de partos prematuros”, informa o documento do governo federal. 

Ainda segundo o relatório, a meta B está próxima de ser alcançada: “Em 2011, 99% dos partos foram realizados em hospitais ou outros estabelecimentos de saúde; e por volta de 90% das gestantes fizeram quatro ou mais consultas pré-natais”.





Fonte: Saúde Plena/Estado de Minas

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Senado Federal - Debate sobre parto humanizado é marcado por críticas ao alto número de cesarianas


A humanização do parto foi tema de audiência pública conjunta realizada nesta terça-feira (27) pelas Comissões de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) e de Assuntos Sociais (CAS). Desatenção, agressões físicas e emocionais na hora do parto e a preferência dos obstetras por cesarianas são citados como exemplos da chamada violência obstétrica em hospitais públicos e privados.

A ministra Ideli Salvatti, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, lamentou o alto índice de cesarianas, que chega a 40% no Sistema Único de Saúde (SUS) e a 84% nos hospitais privados, contra um índice de 15% referido como aceitável pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Segundo ela, o número mais elevado na rede privada revela um “viés econômico”, devido ao custo mais alto do parto cirúrgico.

Para Ideli, o problema decorre ainda de comodismo, pois marcar cesárea dispensa o profissional de ficar de plantão à espera da hora certa: a cirurgia pode ser feita fora dos finais de semana, feriados ou qualquer data inconveniente para a equipe clínica. No entanto, observou que  a mulher termina induzida a fazer um procedimento mais arriscado, que só indicado para situações específicas.

- É algo invasivo, agressivo e que traz consequências para a mãe e criança – afirmou.

Ideli falou ainda sobre a lei que garante às mulheres o direito de contar com acompanhante na hora do parto, um projeto que ela apresentou quando senadora. A ministra reconheceu que a lei sancionada em 2005 ainda não vem sendo rigorosamente cumprida. Observou que muitos hospitais alegam falta de condições para assegurar a privacidade das demais parturientes. Para ela, no entanto, falta ainda sensibilizar os profissionais para a importância do acompanhamento.
- Muitas vezes a solução é fácil e barata, bastando um simples cortinado para garantir a privacidade - disse.

Saúde da Mulher

O debate foi sugerido pelas senadoras Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) e Ana Rita (PT-RS), que preside a CDH e dirigiu a audiência. A iniciativa foi motivada pela proximidade do Dia Internacional de Ação pela Saúde das Mulheres e do Dia Nacional pela Redução da Mortalidade Materna e Infantil, em 28 de maio. Vanessa destacou ainda denúncias de violência obstétrica recebidas durante o funcionamento da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Violência Contra as Mulheres, em 2012 e 2013.

A senadora destacou medidas que o Ministério da Saúde vem promovendo em favor do parto humanizado. Uma portaria recente agora determina que a equipe médica assegure contato imediato do recém-nascido com a mãe, sem que o bebê seja levado imediatamente para exames complementares, a menos que haja necessidade efetiva.

- As medidas visam beneficiar a saúde materna e infantil, com diretrizes que agradaram aos setores que defendem o parto humanizado e a amamentação – comentou.

Rede Cegonha

Dário Frederico Pasche, que representou o Ministério da Saúde, destacou que as medidas se enquadram dentro de programa mais amplo de atenção à saúde da mulher, o Rede Cegonha. Disse que as medidas são pactuadas com estados e municípios, para que as mulheres possam contar com orientação sobre direitos reprodutivos e o acompanhamento pré-natal, além do parto seguro.

A humanização do parto, ainda conforme Pasche, hoje é uma questão central para o Rede Cegonha e também um desafio, pois envolve mudar a organização e a cultura vigentes nas estruturas de saúde. Segundo ele, historicamente a cultura produzida pelo campo médico avançou para a “medicalização da vida”. Assim, a gestação, o parto e nascimento acabaram se transformando antes de tudo num “ato médico”.

- A humanidade criou o hospital para lidar com situações muito graves e severas, onde o cuidado intensivo e com a intervenção tecnológica se fazem absolutamente necessário. Mas fomentar que os hospitais façam cada vez mais atos que são da fisiologia é um contrasenso – afirmou.

Para que o sistema público possa avançar mais rapidamente, Pesche assinalou que uma das estratégias é favorecer o parto natural, em centros de natureza não-hospitalar, com acompanhamento de profissionais de enfermagem qualificados em obstetrícia. Segundo ele, o modelo é o sistema inglês, em que 85% dos partos são “absolutamente fisiológicos”.
Ainda de acordo com Pesche, em 30% dos partos feitos na Inglaterra não há mesmo qualquer tipo de intervenção da equipe que acompanha. As mulheres não recebem soro, não são submetidas a lavagem intestinal prévia nem ao procedimento chamado de episiotomia, o corte entre o ânus e a vagina para facilitar a saída do bebê, uma pratica que vem sendo feita de forma indiscriminada no país, segundo as denúncias.

Formação médica

Vera Soares, da Secretaria de Políticas para Mulheres, também apontou a necessidade de debater a formação dos médicos. Ela disse que esses profissionais saem das faculdades aptos a lidar com “tecnologias sofisticadas”, mas incapazes de entender e acompanhar uma mulher que faz a opção por ter um parto natural.

Vera Soares concordou que outro desafio é fazer valer a lei que garante o direito a um acompanhante na hora do parto. Em seguida, anunciou que a secretaria, junto ao Ministério da Saúde, prepara uma cartilha para as mulheres grávidas. A intenção é que elas cheguem na hora do parto sabendo todos os seus direitos, para ter condições de exigir.

Disque 180

A senadora Ana Rita sugeriu que a linha telefônica 180, criada para acolher denúncias de violência contra as mulheres, possa ainda ser utilizada para informações de casos de violência obstétrica. Segundo ela, seria uma providência útil enquanto a política de parto humanizado ainda não for uma realidade em toda a rede pública.

- Assim o Ministério da Saúde poderá contar com informações para monitorar e corrigir eventuais falhas que persistam – argumentou.

Ana Rita abriu espaço para que uma jovem mãe, Elisa Lorena de Barros Santos, contasse sua experiência de parto natural, realizado em sua casa. Acompanhada da filha, Iara, de apenas cinco meses, ela contou que preferiu fazer o acompanhamento pré-natal com enfermeiros obstetras, a seu ver pessoas com maior disponibilidade para ouvir e orientar as pacientes. Explicou que Iara nasceu de forma rápida e tranquila.

- Não estou dizendo que todas mulheres precisam ter o parto em casa, mas que o parto ocorra com todo o respeito, de forma humanizada – defendeu.

Mandado judicial

Um caso mencionado quando a CAS aprovou o requerimento para a realização da audiência voltou a ser citado durante a audiência: o de uma mulher no Rio Grande do Sul obrigada, por mandado judicial, a fazer cesariana, mesmo com a diretriz do Ministério da Saúde para a realização de partos humanizados.


O Senado já aprovou, em 2013, o PLS 8/2013, que obriga o SUS a oferecer condições para a realização de partos humanizados em seus estabelecimentos. O texto busca converter em lei as diretrizes da portaria com orientações técnicas para o parto humanizado no SUS, inclusive para regulamentar a presença do acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato. A matéria aguarda análise da Câmara dos Deputados.

Fonte: Agência Senado

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Hospitais proíbem mulheres de ter bebê dentro da água


A blogueira Line Sena durante o trabalho de parto do filho caçula


O parto na água que cada vez tem ganhado mais adeptas não é tão fácil de ser conseguido nos ambientes hospitalares do Brasil. Em São Paulo, cinco maternidades contam com banheira mas a maioria delas não permite que o bebê nasça na água, ou seja, a parturiente só pode ficar no local durante o trabalho de parto.

Em São Paulo, apenas no hospital São Luiz é permitido o parto na água. O nascimento, no entanto, só ocorre se a mulher estiver acompanhada de seu médico particular e se ele concordar com esse tipo de parto. Se o médico da parturiente não chegar a tempo, por exemplo, e o bebê tiver que nascer com o plantonista, ela não poderá entrar na água.

A parteira americana e enfermeira Barbara Harper, responsável peloWaterbirth Internacional,  conta que nos Estados Unidos, 10% dos hospitais permitem partos na água. No Brasil, no entanto, os nascimentos na água são mais comuns em partos domiciliares ou em casas de parto. Em  São Paulo,  existe a opção de atendimento na Casa Angela, no Jardim Mirante (zona sul de SP), e na casa de parto de Sapopemba (zona leste), essa última mantida pela prefeitura.

A bióloga Fatima Pinheiro, 31, teve o primeiro filho no hospital Albert Einstein em agosto de 2008. Ela conta que a enfermeira a pediu para ela sair da água no momento que o filho Davi coroou [momento que a cabeça do bebê começa a sair].

No segundo parto, ocorrido há oito meses, ela decidiu ter a filha Catarina na água em um parto domiciliar. “A melhor forma que encontrei para explicar é a sensação que você tem no parto na água é de uma criança quando está resfriada e a sua mãe a coloca no colo. Você se sente acolhida, tranquila e parece que tudo passou”, comenta. Para ela, o parto também vai mais rápido e o bebê ‘escorrega’. “Entrei na banheira e 20 minutos depois ela nasceu”, comenta.

Procurados pelo Maternar, os hospitais Santa Joana, Santa Catarina, Pró-Matre e Albert Einstein confirmaram que tem banheira para o uso da gestante, mas que só permitem o uso dela durante o trabalho de parto e não durante o nascimento do bebê.

O Santa Catarina justificou que o tamanho da banheira – que é pequena – inviabiliza o parto na água. Já os hospitais Santa Joana e Pró-Matre informaram que visam ”a segurança da paciente e seu bebê durante os procedimentos. O parto não é realizado na água, pois essa técnica não tem respaldos de nenhum conselho ou órgão regulador da medicina obstétrica”, afirma nota enviada ao Maternar.

O Albert Einstein nega que proíba o parto na água, mas que cabe ao médico decidir se o parto poderá ou não ser dentro da banheira.

Para Barbara Harper, muitos locais no mundo ainda proíbem o parto na água pois os médicos ficam desconfortáveis com esse tipo de nascimento pois ele ocorre da maneira mais natural possível.

“A mulher faz tudo sozinha e eles [médicos], que foram treinados a tirar o bebê, se sentem mal pois não tem que fazer absolutamente nada”, comenta Barbara. Ela dá um conselho aos profissionais de saúde nessas horas. “No parto na água funcionamos mais como ambientalistas pois tomamos cuidado do meio ambiente no entorno da gestante. Sempre brinco se tudo vai bem e se não estamos fazendo exames de toque sem necessidade e não cortamos nossas pacientes, o que nos resta fazer é tirar fotos do parto”, brinca.

O fato é que estudos mostram, um deles inclusive está disponível na Biblioteca Cochrane, que esse tipo de parto não traz qualquer prejuízo para a mãe e tampouco para o bebê. Pelo contrário, só oferece benefícios desde que a mãe tenha uma gestação de baixo risco e se ela e o bebê apresentam boas condições de saúde na hora do parto.

Barbara diz que o parto na água é possível para todas as mulheres. Segundo ela, diferentes estudos mostram que a água ajuda a aliviar a dor, provoca menos infecção, reduz os riscos de laceração, diminui o uso de anestesia, e ainda permite que o parto ocorra em um período menor de tempo.

Barbara, que viaja o mundo ensinando profissionais de hospitais e de casas de parto sobre os benefícios e como atender partos na água, diz que a temperatura da água deve ser a mais confortável para a mãe, ou seja, não existe uma medição ideal. Segundo ela, o parto na água do mar também é possível se esse for o desejo da parturiente.

Durante sua participação no Siaparto (simpósio internacional de parto) ocorrido no início do mês em São Paulo, a parteira, que trabalha há 30 anos com partos na água, explicou ainda que é preciso trocar a água a cada 24 horas e que o ambiente deve ser bastante higiênico. Segundo ela, qualquer banheira que caiba um adulto dentro pode ser utilizada. Um dos modelos muito utilizado são as piscinas infantis infláveis. No caso de banheiras infláveis, elas devem ser cobertas com um plástico grosso para que possam ser reutilizadas depois. O modelo pode ser adquirido, por exemplo, no site da Ilithia, que vende kits prontos para o parto domiciliar.

AFOGAMENTO?

Ela explica que também não há risco do bebê “se afogar”, como temem muitos leigos. Barbara diz que o bebê saudável só ‘respira’ efetivamente quando sai da água, ou seja, assim que nasce, o bebê se mantém como se estivesse no útero, quando estava imerso em líquido amniótico.

Barbara disse que teve três filhos sendo os dois últimos em casa em partos na água. O primeiro, que foi hospitalar, ela classifica que não teve nada de “normal”. “Há 36 anos tive um parto vaginal onde o médico me fez uma episiotomia [corte entre a vagina e o ânus supostamente usado para facilitar a saída do bebê] após ele já ter nascido pois era algo de rotina. Para ele, isso era um procedimento padrão e ele tinha que fazer”, comenta.

Ela conta que teve os partos na água não por ela, mas pelos bebês pois permite que eles controlem o próprio nascimento de forma mais suave. “A mãe relaxada sente menos dor e com isso libera mais hormônios e oxigênio para o filho”, explica.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Mensagem para o Dia Internacional das Parteiras e Parteiros Profissionais 2014

Dr. Babatunde Osotimehin, Diretor Executivo do UNFPA, o Fundo de População das Nações Unidas e Frances Day-Stirk, Presidente da Confederação Internacional de Parteiras

5 de maio de 2014

Em nível global, as mortes maternas diminuiram quase à metade nas últimas duas décadas. No mesmo período, o atendimento especializado ao parto aumentou cerca de 15%, com 2 de 3 partos ao redor do mundo sendo agora atendidos por um(a) profissional especializado(a) de saúde. Com pouco mais de 600 dias restantes para o prazo final dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs), novos esforços são necessários para intensificar as ações de educação de parteiras e parteiros profissionais e outros profissionais com habilidades obstétricas, que têm custo-benefício positivo. Tais investimentos são críticos para acelerar os esforços na melhoria da saúde materna e para o alcance do ODM 5, um dos objetivos mais distantes de ser atingido.

O acesso aos cuidados de saúde de qualidade é um direito humano básico. Cerca de 40 milhões de mulheres ainda dão a luz sem cuidados especializados, aumentando o risco de morte e invalidez tanto para a mãe quanto para o bebê. Mais do que nunca, o mundo precisa agora de parteiras e parteiros. Investimentos nesses profissionais podem ajudar a evitar o significativo número de aproximadamente 290 mil mortes maternas e 3 milhões de mortes de recém-nascidos que ocorrem todos os anos devido à falta de profissionais de saúde bem formados e regulamentados, além de instalações adequadas. E parteiras ou parteiros ajudam mais do que o nascimento dos bebês: elas e eles também fornecem informações e serviços em saúde reprodutiva, incluindo cuidados no pré-natal e pós-natal e planejamento familiar.

Novas evidências sobre o retorno do investimento em parteiras e parteiros serão apresentados em junho de 2014, quando será lançado o segundo relatório sobre o Estado da Obstetrícia no Mundo, durante o Congresso Trienal da Confederação Internacional de Parteiras que ocorrerá em Praga, na República Tcheca. O relatório – um esforço conjunto entre UNFPA, o Fundo de População das Nações Unidas; a Confederação Internacional de Parteiras (ICM); a Organização Mundial da Saúde (OMS) e diversos parceiros globais – divulgará os últimos dados de 73 países que contabilizam mais de 95% das mortes maternas, de recém-nascidos e infantis. Os novos dados deverão melhorar a base de evidências nesta área, ajudar a mobilizar líderes e ações em países com piores resultados de modo a fortalecer os serviços de saúde materna e obstétrica, facilitando a prestação de serviços de qualidade para mulheres grávidas e seus bebês.

Neste Dia Internacional das Parteiras, o UNFPA e a Confederação Internacional de Parteiras aplaudem todas as parteiras e parteiros compromissados em trabalhar além de suas obrigações, na maioria dos casos em circunstâncias difíceis e com recursos limitados, para oferecer cuidados maternos e neonatais para mulheres e garotas ao redor do mundo.

Reafirmamos nosso compromisso conjunto no apoio às parteiras e parteiros de todo o mundo enquanto trabalhamos com o objetivo de garantir que toda gravidez seja segura e que o acesso universal aos serviços de saúde sexual e reprodutiva seja uma realidade para todas as pessoas.

Fonte: Fundo de População das Nações Unidas

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Mulheres defendem parto natural em audiência pública na ALMG

Para Renata Hargreaves, grávida de sete meses, a mulher não deve ser induzida na 
escolha da forma como vai ter o bebê


Dos 31,2 mil nascimentos em BH, 52,5% foram por cesarianas, contra 47,5% de normais. O Brasil ocupa o 2º lugar entre os países que mais recorrem à cesariana

Guilherme Paranaíba - Estado de Minas

“As mulheres não podem ser induzidas a uma determinada escolha na hora do parto. A decisão pelo tipo de intervenção deve ser respeitada, e o direito das mães resguardado”, diz a assessora jurídica Renata Hargreaves, 31 anos, grávida de sete meses de uma menina. Pretendendo ter a primeira filha de parto normal, ela esteve presente nessa quarta-feira no Teatro da Assembleia Legislativa (ALMG) para participar de audiência pública da Comissão de Saúde sobre humanização do parto. 

O evento contou com autoridades e organizações que militam por um parto mais saudável, num contexto em que o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking de cesarianas no planeta, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Entre 2000 e 2010, 43,8% dos nascimentos no país ocorreram por cesáreas, atrás apenas do Chipre (50,9%), quando a recomendação da OMS é que esse número não ultrapasse 15%. Em Belo Horizonte, dados do ano passado mostram a ascensão das cesáreas sobre os partos naturais. Dos 31,2 mil nascimentos, 52,5% foram por cesarianas, contra 47,5% de normais.



“O tema da humanização me atraiu, pois quis ouvir o que as pessoas têm a dizer sobre o assunto. Acho que as mulheres têm que ter informações para fazer uma boa escolha”, afirma Renata. Autor do requerimento para convocação da audiência pública, o deputado Adelmo Leão (PT) tem também um projeto de lei que tramita na ALMG sobre o mesmo tema. Segundo ele, a cesariana em larga escala não é método mais saudável. Exceto quando há complicações, essa medida é dispensável. “Queremos que a vida da mãe e da criança seja mais saudável e feliz. Por isso, o Plano Estadual de Humanização do Parto pretende garantir as condições de uma assistência humanizada”, diz o parlamentar.




Mercantilização Mãe de dois filhos que nasceram de partos naturais, dentro de uma banheira, a advogada Elizabeth Primo, de 38, acredita que a disseminação das cesarianas faz parte de um contexto de violência obstétrica, pois o fato reflete “a mercantilização da vida”, já que os procedimentos desse tipo facilitam o trabalho dos médicos. “O problema é que esses partos são cheios de intervenções que prejudicam a saúde das mulheres. Não senti dor nos meus partos, os dois foram naturais e muito lindos. As pessoas têm que saber que é possível dar à luz com prazer”, diz.




Para o presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM/MG), Itagiba de Castro Filho, não há dúvida de que o parto humanizado é a opção mais segura e, segundo ele, isso já está garantido pela ética médica. Porém, argumenta que, em muitos casos, o alto número de cirurgias é explicado pela própria família, que exige dos médicos a opção. “Os principais alvos de reclamação no CRM são os obstetras, principalmente pelo fato de que se algo der errado a paciente quer saber por que não foi feita uma cesariana”, afirma Itagiba. O presidente do CRM nega que os médicos estejam despreparados. “É necessário avaliar qual opção traz mais segurança ao parto em questão. Há casos em que a cesariana pode salvar vidas.”




A opinião da presidente da Associação dos Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), Maria Inês de Miranda Lima, é semelhante à do dirigente do CRM. Ela acredita que as cesáreas sobem em todo o mundo, não só no Brasil. “Há ainda o fator cultural, significativo para essa situação, já que as mulheres escolhem muito a cesariana pela facilidade do planejamento.” Ela acredita que falta mais organização de toda a rede de atendimento, para garantir equipes multidisciplinares, capazes de oferecer partos humanizados.
A Secretaria Municipal de Saúde informou que a rede SUS/BH conseguiu diminuir o número de cesarianas desnecessárias nos últimos anos e que sete maternidades da capital atendem o sistema público. Informou ainda que o programa BH Pelo Parto Normal, divulga, desde 2007, as boas práticas de atenção obstétrica e neonatal, além dos benefícios do parto normal.



A presidente da ONG Bem Nascer, Cleise Soares, acredita que há um despreparo na formação dos médicos, que não são capacitados para dar a assistência que um parto merece. “Não somos contra a cirurgia. Nosso objetivo é evitar a cesariana desnecessária que ocorre muito pela falta de informações.”

Fonte: Estado de Minas, 01/05/2014



terça-feira, 15 de abril de 2014

Tradição de parteiras está no centro de incentivo ao parto normal na Grã-Bretanha


Até 2011,o índice de cesarianas realizadas no Reino Unido era de 25% do total de partos. Era possível argumentar que isso ocorria não por uma preferência das mulheres britânicas por partos normais, mas porque não era dada a elas o direito de fazer uma cesariana planejada e por opção própria. Elas só podiam passar pelo procedimento se houvesse razões médicas.

Gestantes passaram a ter direito de escolher a cesárea, segundo novas diretrizes do Instituto Nacional de Saúde e Excelência Clínica (NICE, na sigla em inglês).

O que não mudou deste então foi a taxa de cesáreas, que permaneceu no mesmo patamar.

Segundo os dados mais recentes do Health and Social Care Information Centre, órgão do governo britânico que compila informações de saúde pública, 25,5% dos partos registrados entre 2012 e 2013 foram cesáreas.

Hoje, as mulheres são informadas dos riscos da cirurgia por um médico, mas, se ela optar pela cesárea, isso não pode ser negado. Ainda assim, houve um aumento de só 0,5 ponto percentual no índice.

Essas estatísticas refletem a política de saúde pública do país, que prioriza o parto normal. Para o NHS, o Serviço Nacional de Saúde britânico, o parto planejado por cesariana é um recurso que só deve ser utilizado em condições excepcionais.

 

A longa tradição das parteiras


Parte deste esforço de dar prioridade ao parto normal se deve ao forte histórico da profissão de parteira no país, estabelecida em lei pelo Ato Midwifery, em 1902.

A primeira e única vez que uma gestante britânica é avaliada por um médico é ao descobrir que está grávida, quando normalmente procura um clínico geral, conhecido como general practitioner no país.

Mas a parteira é o principal profissional responsável pela saúde, segurança e bem estar da mulher durante a gestação e cuida do atendimento pré e pós natal.

Qualquer pessoa pode ingressar na profissão após um curso profissionalizante em tempo integral de no mínimo 156 semanas, segundo critérios estabelecidos pela União Européia.

Outra maneira é através de um curso mais curto, de 78 semanas, voltado para enfermeiras e enfermeiros que queiram seguir uma nova profissão.

 

Em casa ou no hospital?


Quando não há riscos para a mãe ou para o bebê, o NHS indica o parto normal e oferece algumas opções para a hora de dar à luz.

Além do hospital, é possível parir em casa com a ajuda das parteiras ou em clínicas conhecidas como centros de nascimento, que têm um ambiente mais caseiro que o dos hospitais.

A cesariana planejada ou a de emergência são admitidas em poucas circunstâncias: quando o parto anterior foi uma cesárea; se o bebê está sentado; se a gestante tem placenta prévia (quando ela está fixada à parede do útero, cobrindo parcial ou totalmente o cérvice uterino); ou quando há um deslocamento prematuro da placenta.

De acordo com o Royal College of Obstetricians and Gynaecologists (RCOG), a associação de obstetrícia e ginecologia da Grã-Bretanha, a probabilidade de uma cesariana está fortemente associada às características maternas e fatores clínicos de risco.

 

Cesariana planejada


Segundo o Royal College of Midwives, que representa as parteiras britânicas, mesmo depois da mudança das regras, as mulheres não são encorajadas a optar pela cirurgia, mesmo nas situações mais complexas.

No caso do bebê sentado, a mãe pode optar por tentar reposicioná-lo através de pressão externa, em vez de recorrer imediatamente à cesárea.

De acordo com o NHS, cerca de 50% dos bebês que não estão com a cabeça para baixo conseguem ser virados usando uma manobra conhecida como versão cefálica externa.

Em outro caso comumente associado às cesarianas – quando o bebê tem o cordão umbilical enrolado em torno do pescoço – a cirurgia sequer é cogitada. A parteira se encarrega de desenrolá-lo durante o parto.

Para Cathy Warwick, chefe executiva do Royal College of Midwives, é tudo uma questão de confiança.

"Se as parteiras conseguirem fazer com que as mulheres entendam o que suas escolhas significam para elas e para seus bebês, elas se sentirão apoiadas na hora do parto”, afirma Warwick. “Então, poucas mulheres farão a escolha por uma cesariana."


Fonte: BBC Brasil

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Humanização é realidade no Hospital Sofia Feldman, em Belo Horizonte

Foto: Hospital Sofia Feldman

Na Semana de Humanização do SUS, revisitamos uma reportagem da Revista "RADIS, Comunicação e Saúde", publicada em maio de 2012, sobre a experiência do Hospital Sofia Feldman, referência nacional em atenção humanizada e boas práticas.  

Um detalhe chama a atenção de quem circula por qualquer um dos dois Centros de Parto Normal do Hospital Sofia Feldman, em Belo Horizonte: os quartos foram batizados com nomes de personalidades femininas importantes da história mineira e nacional, como Dona Beija, Chica da Silva e Adélia Prado. A homenagem é coerente com a filosofia de atendimento humanizado dessa maternidade de grande porte, em que se incentiva o protagonismo da mulher no parto.

Por várias razões, a experiência desse hospital na atenção ao parto e nascimento é referência nacional em atenção humanizada e boas práticas. Muitas das características da ambiência hospitalar e da dinâmica de trabalho aparecem como recomendações do programa Rede Cegonha do Ministério da Saúde. O recém-inaugurado Centro de Parto Normal Helena Greco (nas dependências do prédio principal) conta com cinco quartos espaçosos e iluminados e três com banheiras para parto na água. E o Centro de Parto Normal David Capistrano da Costa Filho (com entrada independente), criado em 2001 e conhecido como Casa de Parto, conta também com cinco quartos, um com banheira.

Mesmo sendo referência para alta complexidade em todo o estado de Minas Gerais, a taxa de cesariana no Sofia Feldman é de cerca de 25%, menor do que a da rede pública como um todo. O hospital apresenta também as menores taxas de mortalidade materna e neonatal de Belo Horizonte, segundo informações da Comissão Perinatal da Secretaria Municipal de Saúde. Dos mais de 7 mil bebês que nascem ali, cerca de 10% nascem na Casa de Parto.

Os partos feitos ali são assistidos por enfermeiras obstétricas, como Nágela Cristine Pinheiro Santos, que está há 16 anos no Sofia Feldman e ajudou a elaborar o projeto do espaço e a desenvolver dispositivos para dar mais conforto à mulher, como um arco de metal adaptado à cama, que facilita a posição de cócoras. “A Casa de Parto Normal dá à mulher poder de decidir o que quer na hora do parto, como em que posição ficar”, diz Nágela, que esteve em maternidades da região Nordeste e da Amazônia Legal para difundir suas experiências por meio do Programa de Qualificação das Maternidades (PQM) e, em fevereiro, participou de um seminário de humanização no Camboja. “Medidas simples como um chuveiro quente ou uma cortina separando leitos em uma enfermaria conjunta dão resultado imediato de mais conforto e privacidade”, conta. Ela lembra, porém, que a humanização é mais do que o ambiente confortável. “A instituição como um todo precisa entender e incorporar a humanização”.

O diretor administrativo do hospital, Ivo Oliveira Lopes, concorda. “Alguns direitos, para serem garantidos, não demandam recursos. Nós, gestores, temos o dever de preservá-los. O parto é da mulher, não um ato médico. Assistir o parto não é tomar o lugar da mulher, e o enfermeiro obstétrico, ao lado de todos os outros profissionais, é fundamental”, considera. “A tecnologia que chega é muito bem-vinda, mas para quem tem necessidade real, não por uma necessidade mercantilista”, reforça o médico, que destaca o reconhecimento obtido pelo Sofia como Hospital Amigo da Criança, conferido pelo Unicef, e o Prêmio Maternidade Segura, recebido da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).

Segundo ele, os bons resultados são devidos principalmente à participação da comunidade. “A gestão participativa determina os rumos da humanização”, explica ele, acrescentando que esse aspecto esteve presente no hospital desde o início de sua história. Construído em sistema de mutirão por voluntários da comunidade a partir da doação de um lote para uma sociedade beneficente, o Sofia Feldman foi inaugurado, ainda como ambulatório, em 1977, passando a atender como hospital em 1982.

Em 1988, a entidade mantenedora passou a ser a Fundação de Assistência Integral à Saúde (Fais). Hoje, é uma instituição pública, não governamental, que atende exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). As questões administrativas do hospital são definidas e decididas pelo colegiado diretor, composto por 16 pessoas de diferentes perfis profissionais. 

Todos os dias, são promovidas reuniões com parturientes e acompanhantes para avaliar o atendimento. “Queremos entender a singularidade de cada ser humano e da sua rede social. Oferecer atendimento baseado em evidências científicas é o mínimo”, explica Ivo, para quem a humanização passa também pelas relações entre trabalhadores e gestores. “Mulheres são 80% das nossas trabalhadoras, por isso as questões de gênero estão ainda mais presentes”, diz. O Sofia dispõe de academia e creche para as funcionárias, e promove ações de comunicação e eventos de integração entre a família do trabalhador e o hospital.

Há ainda o Núcleo de Terapias Integrativas e Complementares, que atende tanto funcionários quanto gestantes e mães com bebês internados, com práticas da medicina tradicional, como escalda-pés e auriculoterapia. A enfermeira Lília Coelho Lopes está à frente do núcleo e trabalha com uma equipe de voluntárias. “O objetivo é estimular os processos de cura internos. É um trabalho coadjuvante ao da alopatia, que representa o acolhimento e diminui a ansiedade das gestantes”, diz Lília.

Manejo conservador

Com 40% da mulheres provenientes do interior do estado, o Sofia precisou desenvolver iniciativas criativas para atendê-las, que foram incorporadas ao modelo de gestão do hospital. A Casa da Gestante Zilda Arns recebe gestantes com agravos em um espaço próximo ao hospital, evitando viagens desgastantes de ida e volta para casa para aqueles que moram distante do hospital, e até partos antecipados. Já a Casa de Sofias acolhe mães que vêm de longe e têm filhos internados na UTI neonatal. Criadas por iniciativa dos gestores, passaram a ser financiadas pelo Ministério da Saúde através da adesão ao programa Rede Cegonha.

“Para um prematuro, ficar quatro semanas a mais dentro do útero significa viver ou morrer”, explica a pediatra Raquel Aparecida Lima de Paula, responsável pela área de neonatologia do hospital, que reforça a importância do manejo conservador das gestações de risco. “A política pública mais eficaz consegue reduzir os gastos com atenção terciária. De modo geral, a família tem excesso de confiança na tecnologia, mas a melhor incubadora é o útero da mãe. Historicamente há uma inversão, com muitos recursos para a atenção terciária, como construção de UTIs neonatais. Os equipamentos são caros e não resolvem a questão principal”, comenta a médica.

Raquel aponta como um dos pontos positivos do Rede Cegonha a correção das distorções da tabela de procedimentos obstétricos e neonatais. Ela acredita que o programa pode representar uma inflexão no modelo de assistência e “começa a inverter essa lógica de assistência da obstetrícia e da neonatologia. É como se o que nós idealizamos aqui pudéssemos ver no Brasil inteiro”.    

quinta-feira, 20 de março de 2014

Parto humanizado: quando a mãe é protagonista


O parto humanizado proporciona que as mães sejam, efetivamente, as protagonistas do próprio parto. A criança nasce em um ambiente calmo e é rapidamente colocada junto à mãe. Além de fortalecer o laço entre a mãe e o bebê, estimula a amamentação e garante mais saúde ao recém-nascido. Por esta razão, o Ministério da Saúde recomenda que esse tipo de parto seja priorizado em maternidades e hospitais de todo o país.
Em São Sebastião, no Distrito Federal, existe pelo Sistema Único de Saúde (SUS) uma Casa de Parto que realiza um trabalho voltado diretamente para o parto humanizado. “São posturas e decisões que você tem. Você não vai conduzir o parto, vai respeitar a maneira que ela conduz, vai intervir de acordo com a necessidade da mãe. Não fazemos intervenções desnecessárias”, explica Jussara Silva Vieira, enfermeira e coordenadora da Casa de Parto de São Sebastião. Para ela, “não adianta ter um pacote pronto para o atendimento de cada mulher, é preciso respeitar a individualidade e integralidade de cada mãe”.
Segundo Jussara, essa visão e essa filosofia, somada ao ambiente adequado, geram bons resultados. Ela conta que 100% das mães que atendem fazem questão de responder um questionário que avalia o atendimento da Casa em todos os aspectos. O grau de satisfação, de acordo com as mães, chega a 98%. “A procura tem crescido e mães de outras regiões de saúde nos procuram querendo ter a criança conosco”, completa a enfermeira.
“Foi superlegal. Um atendimento que recomendo a qualquer gestante. Falo até que fui eu mesma que fiz meu parto. É tão humanizado que você se sente participando de tudo”, relata a jovem mãe Aryanne Inácio Carvalho, de 23 anos. Ela teve seu primeiro bebê na Casa de Parto de São Sebastião (DF). Estudante de enfermagem, Aryanne tinha ouvido falar do parto humanizado e da Casa de Parto, mas só quando entrou na Casa foi que entendeu de fato o que é o parto humanizado.
“Tudo que elas faziam elas explicavam, perguntavam pra mim o que eu queria. O parto não teve indução nenhuma, nada. Foi muito natural. Muito diferente de tudo que eu já tinha visto”, relata Aryanne. Ela ainda conta que conversaram para saber qual a melhor forma de ter o bebê e que o tempo todo teve dois acompanhantes, até o último minuto. “De jeito nenhum, gostaria que fosse de outra forma. Minha recuperação foi muito boa. Em uma semana eu já estava fazendo tudo”, completa a estudante.
Rede Cegonha – O governo federal lançou, em 2011, a estratégia Rede Cegonha, que tem como uma das principais metas incentivar o parto normal humanizado e intensificar a assistência integral à saúde de mulheres e crianças, desde o planejamento reprodutivo, passando pela confirmação da gravidez, pré-natal, parto, pós-parto, até o segundo ano de vida do filho.
Entre as ações da Rede Cegonha está o custeio de Centros de Parto Normal (CPN). São estruturas que funcionam em conjunto com a maternidade para humanizar o momento do parto, oferecendo às gestantes um ambiente com maior privacidade.

Lucas Pordeus Leon / Blog da Saúde
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