Até 2011,o índice de cesarianas realizadas no Reino Unido era de 25% do
total de partos. Era possível argumentar que isso ocorria não por uma
preferência das mulheres britânicas por partos normais, mas porque não era dada
a elas o direito de fazer uma cesariana planejada e por opção própria. Elas só
podiam passar pelo procedimento se houvesse razões médicas.
Gestantes passaram a ter direito de
escolher a cesárea, segundo novas diretrizes do Instituto Nacional de Saúde e
Excelência Clínica (NICE, na sigla em inglês).
O que não mudou deste então foi a taxa de
cesáreas, que permaneceu no mesmo patamar.
Segundo os dados mais recentes do Health
and Social Care Information Centre, órgão do governo britânico que compila
informações de saúde pública, 25,5% dos partos registrados entre 2012 e 2013
foram cesáreas.
Hoje, as mulheres são informadas dos
riscos da cirurgia por um médico, mas, se ela optar pela cesárea, isso não pode
ser negado. Ainda assim, houve um aumento de só 0,5 ponto percentual no índice.
Essas estatísticas refletem a política de
saúde pública do país, que prioriza o parto normal. Para o NHS, o Serviço
Nacional de Saúde britânico, o parto planejado por cesariana é um recurso que
só deve ser utilizado em condições excepcionais.
A
longa tradição das parteiras
Parte deste
esforço de dar prioridade ao parto normal se deve ao forte histórico da
profissão de parteira no país, estabelecida em lei pelo Ato Midwifery, em 1902.
A primeira e única vez que uma gestante
britânica é avaliada por um médico é ao descobrir que está grávida, quando
normalmente procura um clínico geral, conhecido como general practitioner no
país.
Mas a parteira é o principal profissional
responsável pela saúde, segurança e bem estar da mulher durante a gestação e
cuida do atendimento pré e pós natal.
Qualquer pessoa pode ingressar na
profissão após um curso profissionalizante em tempo integral de no mínimo 156
semanas, segundo critérios estabelecidos pela União Européia.
Outra maneira é através de um curso mais
curto, de 78 semanas, voltado para enfermeiras e enfermeiros que queiram seguir
uma nova profissão.
Em
casa ou no hospital?
Quando não há
riscos para a mãe ou para o bebê, o NHS indica o parto normal e oferece algumas
opções para a hora de dar à luz.
Além do hospital, é possível parir em
casa com a ajuda das parteiras ou em clínicas conhecidas como centros de
nascimento, que têm um ambiente mais caseiro que o dos hospitais.
A cesariana planejada ou a de emergência
são admitidas em poucas circunstâncias: quando o parto anterior foi uma
cesárea; se o bebê está sentado; se a gestante tem placenta prévia (quando ela
está fixada à parede do útero, cobrindo parcial ou totalmente o cérvice
uterino); ou quando há um deslocamento prematuro da placenta.
De acordo com o Royal College of
Obstetricians and Gynaecologists (RCOG), a associação de obstetrícia e ginecologia
da Grã-Bretanha, a probabilidade de uma cesariana está fortemente associada às
características maternas e fatores clínicos de risco.
Cesariana
planejada
Segundo o Royal
College of Midwives, que representa as parteiras britânicas, mesmo depois da
mudança das regras, as mulheres não são encorajadas a optar pela cirurgia,
mesmo nas situações mais complexas.
No caso do bebê sentado, a mãe pode optar
por tentar reposicioná-lo através de pressão externa, em vez de recorrer
imediatamente à cesárea.
De acordo com o NHS, cerca de 50% dos bebês que não estão com a cabeça para baixo conseguem ser virados usando uma manobra conhecida como versão cefálica externa.
Em outro caso comumente associado às
cesarianas – quando o bebê tem o cordão umbilical enrolado em torno do pescoço
– a cirurgia sequer é cogitada. A parteira se encarrega de desenrolá-lo durante
o parto.
Para Cathy Warwick, chefe executiva do
Royal College of Midwives, é tudo uma questão de confiança.
"Se as parteiras conseguirem fazer
com que as mulheres entendam o que suas escolhas significam para elas e para
seus bebês, elas se sentirão apoiadas na hora do parto”, afirma Warwick.
“Então, poucas mulheres farão a escolha por uma cesariana."
Fonte: BBC Brasil
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