Acesse www.redesaudecultura.fiocruz. br e faça parte desta Rede!
Mostrando postagens com marcador Conceito ampliado de saúde. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Conceito ampliado de saúde. Mostrar todas as postagens
quarta-feira, 6 de agosto de 2014
Amamentar na primeira hora de vida salvaria meio milhão de crianças
Amamentar todos os recém-nascidos durante a primeira hora após o seu nascimento poderia prevenir uma em cada cinco mortes desnecessárias e salvar a vida a mais de meio milhão de crianças no mundo por ano, segundo a Unicef.
A amamentação é fundamental para reduzir a mortalidade infantil e ajudar ao bom desenvolvimento das crianças, afirma Anthony Lake, diretor executivo do fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), numa carta que assinala a Semana Mundial do Aleitamento Materno, que se celebra de 01 a 07 de agosto.
De acordo com dados da organização, todos os anos morrem no mundo quase sete milhões de crianças com menos de cinco anos por causas que podem ser prevenidas e, destes, mais de 40 por cento são recém-nascidos.
Lake lamentou que apesar de serem reconhecidos os benefícios da amamentação, menos de metade dos recém-nascidos sejam alimentados desta forma, e apelou a uma mudança nesta realidade.
"Temos de mudar os costumes sociais, trabalhar sobretudo com as comunidades e famílias para ajudar as mães a dar mama", afirmou o responsável da Unicef.
Segundo Lake, a amamentação não só ajuda a salvar vidas como é "o pilar de uma boa nutrição", reduzindo o risco de subnutrição nas crianças e de obesidade quando crescem.
"Apoiando a nutrição e o vínculo entre mãe e filho, a amamentação também apoia um desenvolvimento cerebral são", apontou.
A Organização Mundial de Saúde recomenda que os bebés sejam alimentados exclusivamente com leite materno desde a sua primeira hora de vida até aos seis meses, quando incentiva a que a dieta comece a ser complementada com outros alimentos.
A Semana Mundial do Aleitamento Materno é assinalada em mais de 170 países para sublinhar o benefício desta prática e os benefícios para as crianças.
Foto: UNICEF/Holt
Fonte: Notícias ao Minuto
quarta-feira, 23 de julho de 2014
Conheça o ‘Senhor Gentileza’ que mudou a rotina de uma favela
Blog BRASIL/ Folha de S. pAULO
Patrícia Britto, em Vitória
Quem sobe o Morro dos Alagoanos, em Vitória, não demora para ouvir falar de um homem que fez os capixabas lembrarem da favela por outro motivo, que não seja o tráfico de drogas.
Lá no alto da comunidade, em uma casa amarela com duas janelas e três vasos na calçada, mora o Raimundo de Oliveira, de 67 anos, autodenominado “agitador cultural”.
Nascido em uma família simples do morro, Raimundo se dedica desde jovem à missão de divulgar a arte e a cultura na favela.
É ele quem produz uma das tradicionais festas da cidade, o Femusquim (Festival de Música de Botequim), que todos os anos leva para o morro shows de samba, bossa-nova e MPB, de artistas locais e nacionais.
Quando foi criado, em 1997, o Femusquim tinha apenas uma caixa de som no meio da rua. O festival cresceu e hoje em dia leva para o morro, nos dois dias de festa, um público de cerca de 3.000 pessoas.
Entusiasta do morro, Raimundo conta que criou o festival para levar uma atração cultural para a comunidade e reduzir o preconceito contra os moradores da favela.
“Antes as pessoas não vinham para cá porque havia, e ainda há, um preconceito. Acham que o morro é violento. Mas com essas ações, como o Femusquim, nós estamos quebrando essa barreira. As pessoas estão vindo e vendo que o morro não é como se vende”, disse Raimundo durante a visita.
Ocupado por imigrantes nordestinos na década de 1920, o morro na região oeste de Vitória se tornou um dos pontos de tráfico de drogas na capital espírito-santense e é pouco frequentado por moradores de outras regiões. Mas, desde que o festival entrou para o calendário cultural da cidade, as ruas do morro ficam cheias de visita nos dias de festa.
Neste ano, em sua 18ª edição, o Femusquim fará uma homenagem ao cantor e compositor baiano Dorival Caymmi (1914-2008), nos dias 6 e 7 de novembro. A festa é gratuita, e os artistas são remunerados por meio de lei de incentivo à cultura.
GENTILEZA
Na vizinhança do Morro dos Alagoanos, Raimundo também é conhecido como Senhor Gentileza e lembrado pelas ações que cria para tornar a comunidade um lugar acolhedor.
Uma dessas criações é a chamada “escadaria da gentileza”: “Um dia eu estava nessa escadaria e percebi que ninguém me cumprimentava. Aí me deu um estalo. Limpei, pintei e escrevi: sorria, dê bom dia, dê boa tarde, dê boa noite. Gentileza gera gentileza. E o pessoal gostou”, contou ao blog.
Ao que parece, a estratégica funcionou.
Nas quase duas horas de visita do blog, em uma noite de quarta-feira, mais de 20 pessoas cumprimentaram Raimundo nas ruas do morro –entre elas, três motoristas de ônibus, a moça que vende cachorro quente na calçada, o barbeiro, e uma dona de casa sorridente na janela.
“A gentileza causa tanto bem, que muitos males ela evita, como o estresse, o infarto e o cansaço mental”, defendeu Raimundo, em tom professoral, enquanto apresentava o morro ao blog.
Outras de suas criações para alegrar a comunidade foram a “escadaria da fama”, pintada com nomes de artistas espírito-santenses, e o pequeno “jardim as rosas não falam”, de dois metros quadrados, transformado a partir de um antigo depósito de lixo.
Ele também já plantou árvores nas ladeiras do morro, montou um coral infantil, pintou muros e abriu uma biblioteca. Na maioria dos casos, as criações são custeadas com dinheiro do próprio bolso, por desesperança em esperar iniciativa do poder público.
“A cultura é vista como sobremesa: é a última coisa. Você vê a verba da segurança, da saúde, da educação… Cultura é o que sobra”, lamentou.
quarta-feira, 25 de junho de 2014
Bailarina mineira que quase perdeu audição ensina meninas surdas a dançar e volta aos palcos da Capital
Por Roberth Costa - Bhaz
Além de proporcionar espetáculos de beleza inquestionável, a dança também pode ser utilizada como ferramenta de inclusão e quebra de limites. Na Capital mineira, a superação motivada pela arte desenvolvida com os pés tem nome, endereço e uma representante capaz de inspirar pessoas Brasil afora. A bailarina Wilmára Marliére, de 47 anos, se transformou em exemplo de força de vontade e dedicação após superar uma doença rara. Ela se prepara para voltar aos palcos da cidade, no próximo mês, com a história de “A morte do Cisne” ao lado da filha, de 9 anos.
Como se não bastasse se recuperar, Wilmára ainda se dedica junto com o marido, o músico Webert Marliére, ao Projeto Céu e Terra, no qual crianças, adolescentes e adultos surdos aprendem balé gratuitamente por meio de uma técnica inovadora. As aulas da iniciativa são dadas em uma sala cedida pela direção de uma escola, no bairro Funcionários, região Centro-Sul de BH.
Wilmára é exemplo de superação para meninas surdas que desejam aprender balé. Foto: Reprodução/Facebook
Natural da cidade de Palma, na Zona da Mata, Wilmára começou a dançar sozinha ainda na juventude. Em 1994, quando tinha 27 anos, descobriu que possuía a chamada síndrome de Arnold Chiari, após sentir fortes dores por diferentes partes do corpo. Em estado avançado, a doença fez com que ela começasse a perder parte dos movimentos e até a audição, já que atinge o sistema nervoso central. Inicialmente, a bailarina se recusou fazer cirurgia porque poderia nunca mais dançar. No entanto, doze meses após o diagnóstico, se submeteu a três procedimentos na cabeça e na coluna cervical. “Eu ia a diferentes médicos e só me receitam remédio para dores, cheguei a ficar desesperada. A maioria deles dizia que o que eu sentia tinha fundo psicológico e emocional, mas eu sabia que estava morrendo”, contou ao portal Bhaz.
“No dia em que recebi o resultado dos exames confirmando a doença não sabia o que fazer, corri feito louca do Centro de BH até a praça do Papa. Só aceitei fazer as cirurgias porque senti esperança nas palavras da minha irmã. O apoio da minha família foi essencial para decisão”, disse.
Apoio da família foi fundamental para que bailarina aceitasse fazer cirurgias. Foto: Reprodução/Facebook
Apesar de ter recuperado o otimismo, Wilmára ainda enfrentou uma série de dificuldades, já que a primeira tentativa de conter o avanço da doença falhou e ela sofreu uma recaída em 2009. “A primeira cirurgia deu errado e abriram minha cabeça para cerrar o osso que crescia outras duas vezes. Quando me recuperei, achei que estivesse totalmente saudável e até me arrisquei a dançar escondido”, contou. “Fui ao médico e ele notou que eu havia melhorado. Disse que se fosse por causa do balé eu não deveria largar as sapatilhas nunca mais. Voltei a ficar doente e operei pela quarta vez em 2012, mas nunca esqueci o conselho dado por ele”, completou. “A sorte é que eu tinha começado a escrever o projeto ainda nos anos 1990, quando dava aulas em uma escola que trabalhava inclusão de deficientes. Testei tudo em mim mesma e depois de muita pesquisa comecei a usar a vibração de vários materiais para repassar coreografias”, disse a mulher.
Dois anos após a realização do último procedimento na luta contra a sindrome, Wilmara se prepara para voltar aos palcos da Capital, no dia 10 de julho. “Vou dançar no SESC Palladium junto com minha filha e as meninas do projeto, estou muito feliz”, revela. Mais do que estar saudável e ter conquistado prêmios com o “Céu e Terra”, ela diz ter ganhado a certeza de que nada é por acaso. “Eu considerado tudo isso como uma resposta de Deus. Hoje eu posso ajudar as pessoas, principalmente crianças, a fazer aquilo que eu não podia quando estava doente. Além de ver o sorriso e a interação dos alunos, a independência deles é algo que dá muito orgulho”, afirma.
Meninas irão se apresentar no SESC Palladium junto com Wilmára e a filha dela, de 9 anos. Foto: Reprodução/Facebook
Fonte: Bhaz
terça-feira, 17 de junho de 2014
Projeto Manuelzão premiará escolas que desenvolvem ações ambientais na bacia do Rio das Velhas
O Projeto Manuelzão da UFMG, em parceria com Secretaria de Estado de Educação, com a prefeitura de Belo Horizonte e com o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, promove o concurso Premiando a educação. A iniciativa reconhecerá escolas que desenvolvam projetos educativos e socioambientais na região da bacia do Rio das Velhas.
As inscrições deverão ser feitas de 15 de julho a 14 de agosto. Podem participar escolas públicas estaduais e municipais de ensino fundamental com iniciativas em prol da revitalização de microbacias e sub-bacias, ou que incorporaram ações ambientais ao seu espaço físico e ao processo pedagógico.
Os trabalhos serão avaliados de acordo com os seguintes critérios: interdisciplinaridade; valorização da cultura regional ou local; métodos inovadores; princípios de sustentabilidade social e ambiental. Leia o regulamento.
Os seis projetos selecionados serão contemplados com um final de semana para os professores envolvidos, em local ainda a ser definido. Cada projeto poderá levar até quatro professores.
Todas as escolas participantes receberão certificado. Mais informações pelos telefones (31) 3409-9819/9810.
Fonte: UFMG
sexta-feira, 6 de junho de 2014
Projeto Literário SUSPense!
Por Vanuza Sperber/Betim (MG)
A leitura é uma atividade essencial
para o desenvolvimento humano. Observando a permanência na UBS (Unidade Básica de Saúde) de várias
pessoas surgiu a ideia de trazer livros para que as crianças que aguardavam
atendimento odontológico pudessem se divertir um pouco. Os livros eram oferecidos
a elas enquanto aguardavam na sala de espera ou enquanto aguardavam a anamnese,
respondida pela mãe ou responsável. Percebi que as crianças se distraiam
enquanto estavam lendo e se tornavam mais colaboradoras durante o atendimento.
Compartilhei a ideia com minha colega
de trabalho Rejane Brandão. Pensamos, então, em ampliar a atividade:
disponibilizar livros e promover cultura para todo o público que utiliza o
serviço odontológico da UBS Alterosas (em
Betim). Transformamos a ideia num projeto que Rejane batizou de
"Projeto Literário SUSPense!". A gerente da UBS aprovou a iniciativa
e disponibilizou um espaço para a exposição dos livros em nossa sala de
espera. Divulgamos o SUSPense! na UBS e no Facebook e solicitamos doações.
Recebemos mais de 200 exemplares. Foram diversos títulos de vários gêneros
literários, enciclopédias, revistas, gibis, livros acadêmicos e
didáticos. Os livros ficam armazenados em um baú colocado na sala de
espera da odontologia. Todas as manhãs as pessoas são informadas do projeto e
incentivadas a participar. Após o término do atendimento, no período da tarde,
o baú é recolhido. Quando o baú está esvaziando novos exemplares são
disponibilizados.
Mas começou a surgir uma dificuldade: E
se as pessoas levassem os livros embora? Como seria feito o controle dos
livros? Quem faria esse controle? Conversando com o filósofo e contador de
histórias Paulo Fernandes recebemos a sugestão para "deixar o livro
circular, afinal, livro na estante ou na gaveta é um livro triste, sem função.
Os livros foram escritos para serem lidos." Decidimos que a pessoa pode
ler enquanto espera atendimento, levar o livro pra ler em casa e trazê-lo de
volta na próxima consulta, trazer um livro para trocar. Também incentivamos os
usuários a doar livros que estão em casa sem uso.
Nosso projeto ainda está no começo, mas
já estamos motivadas com os resultados. Temos SUSPense! em todo canto da
unidade. Encontramos pessoas praticando o SUSPense! na espera da
enfermagem, da vacina, dos médicos... As pessoas gostam de ler, precisam que o
livro esteja acessível. Muitos agradecem, pois não tinham esse acesso. Não
raro, alguém comenta sobre a história que leu. Na sala de espera da odontologia
sempre tem um livro cumprindo seu objetivo: transmitir informação, gerar
conhecimento, cultura e entretenimento.
Incentivar a leitura também é promover
a saúde!
terça-feira, 3 de junho de 2014
Teia Nacional da Diversidade cria grupo de trabalho para fortalecer ações na interface saúde e cultura
Com o objetivo de aprofundar o conceito e a relação de
cultura e saúde, GT foi criado durante evento nacional, realizado entre
os dias 19 e 24 de maio, em Natal (RN)
A Rede Saúde e Cultura esteve presente na Teia Nacional da Diversidade
2014. O evento, realizado entre os dias 19 e 24 de maio em Natal (RN), pelo
Ministério da Cultura (Minc), teve como objetivos fortalecer o
exercício dos direitos culturais, a atuação em rede, o diálogo e a parceria
entre a sociedade civil, gestores e sociedade no campo cultural para a
qualificação e a ampliação de políticas e ações de valorização e promoção da
cultura brasileira em todos os seus aspectos e segmentos.
Como parte da
programação, nos dias 19 e 20, foi realizado o IV Fórum Nacional dos Pontos de
Cultura (IV FNPC), marco no processo de mobilização, articulação e, sobretudo,
de afirmação cultural e política dos Pontos de Cultura de todo o país. Na
ocasião, diversos grupos de trabalhos temáticos se articularam em torno das
demandas geradas nos últimos anos por meio do Programa Cultura Viva.
Entre os GT’s, foi
criado o Cultura e Saúde, que tem como objetivo trabalhar com os
dois setores. O grupo é formado por mais de 50 pessoas, entre
representantes de Pontos de Cultura da Bahia, Minas Gerais, Sergipe,
Ceará, Amapá, Acre, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo, além de
bolsistas e dinamizadores da Rede Saúde e Cultura. Todos os grupos de trabalhos
passaram por aprovação dos representantes dos pontos de cultura, em plenária. O
GT Cultura e Saúde foi aprovado por aclamação.
A proposta do
grupo compreende conjugar e aprofundar o conceito de cultura e saúde, em uma
visão de abordagem sistêmica, acolhendo o ser humano e sua condição biológica,
psicológica e espiritual, além de preservar e reconhecer, valorizar e utilizar
os saberes populares e as linguagens artísticas como elementos fundamentais na
promoção e prevenção da saúde.
“Entendemos que
cultura está relacionada à saúde e saúde tem tudo a ver com cultura. São
importantes componentes na promoção da cidadania e na inserção da pessoa na
sociedade. O GT vem também complementar a Rede Saúde e Cultura, uma Rede que já
existe, fruto de uma parceria entre a Fiocruz e o Ministério da Cultura”,
apresentou a representante de Ponto de Cultura da Bahia Meire Vania, durante a
plenária.
As reuniões
realizadas durante a Teia discutiram a metodologia de representação, em que um
delegado de cada região fica responsável por dar encaminhamento às pautas
nacionais e federais. Além disso, foram votadas as propostas encaminhadas, como
discussão nos estados sobre a questão da cultura e saúde, a criação de dois
encontros presenciais por ano do GT, a inserção de todos os estados brasileiros
na proposta do grupo de trabalho, estimulando a produção de trabalho a partir
da criação de editais e prêmios específicos sobre a temática.
A idealizadora do
GT Cultura e Saúde, Luiza Borba, também coordenadora do Ponto de Cultura Os Tesouros
da Terra - Nossa Gente, Rezas, Ervas e Danças, de Nova Friburgo (RJ), afirma
que, com o seu trabalho, pôde perceber que a cultura ligada à saúde promove o
cuidado e a humanização das pessoas. “Eu não acredito que uma coisa possa
estar separada da outra. Hoje o que se propõe é uma cultura viva, que traz
vida. Nós sabemos da importância da cultura para alimentar a alma, trazer um
autoconhecimento, o protagonismo e a autonomia e é isso que eu vejo na minha
região”, conta.
Já o representante
do Ponto de Cultura Estaleiro Cultural, Daniel de Rocha, realiza festivais de
teatro no Amapá abordando temas relacionados à saúde, como a aids. Para ele, “o
GT consolida a hegemonia dos segmentos por meio da valorização da interface
saúde e cultura e vem juntar os dois segmentos em uma linguagem brasileira,
para que os produtores de cultura possam ser apoiados nas suas ações de
incentivo à saúde”. Rocha acredita ser este o momento de dizer para o Brasil
que cultura e saúde não se dissociam. “É hora de unir o estado em prol destas
ações”, ressalta. Ele acrescenta que a cultura traz benefícios em todos os
setores da saúde. “A linguagem da arte toca a alma, a essência do homem. A
transversalidade é essencial para ampliar os conceitos”.
Teia Nacional da
Diversidade
Espaço
para encontro, reconhecimento, convivência, reflexão, formação e divulgação de
temas prioritários dos grupos, coletivos, comunidades e Pontos de Cultura de
todo o país enquanto representantes dos segmentos socioculturais da
diversidade, a Teia 2014 também integrou
encontros regionais das entidades que compõem o Programa Cultura Viva.
Durante a 5ª edição da Teia, a cultura brasileira se manifestou em
mostras artísticas, shows, espetáculos e performances, e nos diálogos
proporcionados por seminários, palestras, minicursos, fóruns, exposições,
debates, rodas de conversa, intercâmbios e intervenções urbanas.
Cerca de 7 mil pessoas participaram da Teia 2014, entre realizadores do
evento, artistas, representantes de Pontos de Cultura de todo o país, gestores
do Programa Cultura Viva e visitantes da comunidade local.
Fotos: Nathália Gameiro e Felipe Medeiros
terça-feira, 6 de maio de 2014
Abertas Inscrições para o 1º Encontro Nacional de Arte e Cultura LGBT
Estão abertas as inscrições aos participantes, na categoria ‘convidado', para o 1º Encontro Nacional de Arte e Cultura LGBT. A Fundação de Arte de Niterói promoverá a participação de dois representantes de cada um dos estados brasileiros e do Distrito Federal, através de Edital para processo de seleção de 54 participantes. Esses representantes vão ter suas despesas referentes a deslocamento, hospedagem e alimentação, na cidade de Niterói, custeadas pela Prefeitura da cidade durante a realização do Encontro.
Promovido pela Fundação de Arte de Niterói, em parceria com o Ministério da Cultura, o evento tem o objetivo de construir um panorama da cultura LGBT e, através das discussões nas arenas e mesas, apontar diretrizes para as políticas culturais do segmento, com propostas de programas e ações.
As inscrições para o Edital vão até o dia 10 de maio.
Mais informações pelo link http://culturaniteroi.com.br/editais/
terça-feira, 29 de abril de 2014
Patrimônio Cultural de Povos e Comunidades de Matriz Africana será premiado pelo IPHAN
Estão abertas as inscrições para a primeira edição do Prêmio Patrimônio Cultural dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), destinado a iniciativas para o Patrimônio de Comunidades Tradicionais de Matriz Africana. O edital está disponível no site do IPHAN (clique aqui) e foi publicado nesta segunda-feira, dia 28 de abril, no Diário Oficial da União (DOU). O prazo de inscrição termina em julho de 2014.
A documentação comprobatória da ação e seus anexos deverão ser enviadas pelo serviço de Correios aos cuidados do Departamento do Patrimônio Imaterial do IPHAN. O endereço é SEPS 713/913, 4º andar, CEP 70.390- 135, Brasília - DF. Poderão concorrer pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos que sejam representantes dos Povos e Comunidades tradicionais de matriz africana, conforme especificado no Edital. Informações complementares poderão ser obtidas pelo fone (61) 2024-5434.
O Prêmio Patrimônio Cultural dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana – 2014tem como objeto o reconhecimento às ações de preservação, valorização e documentação do Patrimônio Cultural dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana, já realizadas, e que em razão da sua originalidade, excepcionalidade ou caráter exemplar, mereçam divulgação e reconhecimento público. A seleção ocorrerá em duas etapas. A primeira, de habilitação, será conduzida por uma Comissão Técnica composta por técnicos do IPHAN. A segunda fase, de avaliação, será conduzida por uma Comissão de Seleção, composta por técnicos do IPHAN, representante da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (SEPPIR/PR) e representantes da sociedade civil.
No ato da inscrição, os participantes deverão escolher entre duas categorias e linhas de ação específicas em cada uma delas. Na Categoria 1 serão oferecidos dez prêmios de R$ 40 mil para ações realizadas de preservação do Patrimônio Cultural Tombado pelo IPHAN ou em Processo de Tombamento pelo IPHAN, que tenham sido desenvolvidas pelas associações representativas dos povos e comunidades tradicionais de matriz africana. Outros 25 prêmios de R$ 25 mil serão destinados à Categoria 2, premiando ações de preservação do Patrimônio Cultural que tenham sido desenvolvidas pelas associações representativas dos povos e comunidades tradicionais de matriz africana sediados em qualquer parte do território nacional.
Fonte: DPI - ASCOM IPHAN
sexta-feira, 25 de abril de 2014
Funarte MG sedia espetáculo de dança e música com portadores de deficiência auditiva e visual
O espetáculo “Som, Silêncio, Luz, Escuridão” é atração na Funarte MG (Rua Januária, 68, Centro), em Belo Horizonte, neste sábado, 26 de abril, às 21h30.
A iniciativa faz parte do Projeto Céu na Terra. Idealizado pela bailarina Wilmára Marliére, nasceu há 20 anos com uma proposta metodológica inovadora, objetivando o trabalho artístico com deficientes auditivos, por meio da dança. Posteriormente, o método foi aberto também para os portadores de deficiência visual e foram incluídas no processo aulas de violão, utilizando um método específico desenvolvido pelo músico Weberty de Araújo.
Atualmente, o Projeto atende um grande número de alunos cegos, surdos e ouvintes, muitos de escolas especializadas e regulares, estaduais e municipais de Belo Horizonte e cidades próximas.
O espetáculo “Som, Silêncio, Luz, Escuridão” será apresentado por bailarinas surdas e ouvintes e por violinistas cegos e ouvintes.
Classificação: livre
Ingresso: 1 kg de alimento não perecível
Fonte: Funarte MG
segunda-feira, 14 de abril de 2014
Benzedeiros carregam em si a fé e as boas energias que passam para outras pessoas
Mário
Braz, de 81 anos: no próximo dia 28,
a Comunidade dos Arturos, em Contagem, na Grande BH,
recebe o título de Patrimônio Imaterial de Minas Gerais
Em Minas Gerais, há um estudo para transformar o ato de benzer em bem imaterial
Luciane Evans - Saúde Plena/Jornal Estado de Minas, 13/04/2014
Sobre um banco de concreto, das 8h às 17h30,
Mário Braz, de 81 anos, se senta à espera das cerca de 70 pessoas que o
procuram todos os dias. Nos pés, um chinelo velho. Nas mãos, a fé e o mistério
que não revela. “Tenho aqui os santos para todas as dores. Parece um molho de
chaves, mas não é. É um segredo”, diz, com toda a simplicidade que lhe cabe.
Seu Mário, como é conhecido, não se formou em medicina, mas sabe de cor as
orações para cada mal do corpo e da alma. “Sou benzedeiro. É um dom que Deus
nos dá.” Há 39 anos, ele benze quem o procura com as imagens de santo no
chaveiro e a folha de arruda. Tem sabedoria de doutor. Não tem pressa. Sabe que
cada palavra é divina e tem seu propósito. “Tem coisas, minha filha, que não
são para os médicos. Só a fé pode curar.” Sobre o sucesso que faz, sorri e diz
que a busca pela benzeção está voltando ao que já foi um dia. “Nunca vai
acabar”, decreta.
Seu Mário tem razão. E está nas mãos dele o primeiro passo para a preservação da tradição
A comunidade dos Arturos, onde vive seu Mário,
será a primeira a receber o título do Iepha. Até hoje, como bem imaterial, o
instituto tem na lista o modo de fazer queijo da cidade do Serro, na Região
Central, e a festa de Nossa Senhora da Chapada do Norte dos Homens de Preto, no
Jequitinhonha. “De lugar, esse será o primeiro. Trata-se de um reconhecimento
da expressão da comunidade como um todo. Lá, há culinária, Festa do Rosário e a
benzeção, que é um ponto forte deles”, comenta o gerente de Patrimônio
Imaterial do Iepha/MG, Luís Gustavo Molinaria Mundim.
Mas isso é só o começo. Desde o ano passado, o
instituto está debruçado sobre o projeto de transformar o ato de benzer em
Minas em patrimônio imaterial. “Fazíamos um inventário de proteção do Rio São
Francisco quando identificamos várias benzedeiras e várias formas de benzer.
Percebemos a necessidade de algo maior para o ofício”, diz Luís Gustavo.
A intenção, segundo ele, é fazer um mapeamento para conhecer quantas são as pessoas que praticam a benzeção, quem são elas e os elementos invocados para a prática. “Queremos conhecer também como isso está sendo passado. O registro é baseado em um patrimônio vivo, ou seja, o benzer tem que estar ocorrendo. Com o registro, vamos identificar quais os principais problemas que essas pessoas enfrentam, e manter projetos para que a prática se mantenha.”
A intenção, segundo ele, é fazer um mapeamento para conhecer quantas são as pessoas que praticam a benzeção, quem são elas e os elementos invocados para a prática. “Queremos conhecer também como isso está sendo passado. O registro é baseado em um patrimônio vivo, ou seja, o benzer tem que estar ocorrendo. Com o registro, vamos identificar quais os principais problemas que essas pessoas enfrentam, e manter projetos para que a prática se mantenha.”
Desafio. Essa curiosidade que está nas mãos do Iepha é
também a de muitos. Para se ter uma ideia, no dia 16 de março o Bem Viver
publicou matéria sobre a inveja e suas consequências. Entre um dos
entrevistados, a benzedeira Maria José Lima comentou sobre a proteção por meio
da benzeção. Logo após a reportagem ser publicada, dezenas de pessoas ligaram
para a redação em busca do contato da benzedeira e muitos se queixaram de não
achar mais o ofício em
Belo Horizonte. Houve quem apostou que ele tinha chegado ao
fim. Um dos leitores sugeriu: “O Estado de Minas podia procurar esses anjos
para nós”.
O Bem Viver topou o desafio e foi atrás das pessoas das mãos abençoadas. Elas não desapareceram. Fácil, realmente não é. Porém, os benzedeiros e benzedeiras estão vivos e sendo procurados cada vez mais. “Eles têm algo incrível. São reconhecidos nas comunidades onde vivem, acolhem quem os procura e não cobram pelo que fazem. São pessoas boas, a maioria é de baixa renda, e não quer status nem fama. É algo milenar. Há o efeito da contemporaneidade, claro. Mas essas pessoas não vão desaparecer”, aponta o filósofo e professor de ciências da religião da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), Stephen Simim. Estudioso do assunto, ele dá o caminho para o reencontro com essa bênção: “Se você treinar o seu olhar, vai redescobrir essas mulheres e homens que têm o dom de benzer”.
O Bem Viver topou o desafio e foi atrás das pessoas das mãos abençoadas. Elas não desapareceram. Fácil, realmente não é. Porém, os benzedeiros e benzedeiras estão vivos e sendo procurados cada vez mais. “Eles têm algo incrível. São reconhecidos nas comunidades onde vivem, acolhem quem os procura e não cobram pelo que fazem. São pessoas boas, a maioria é de baixa renda, e não quer status nem fama. É algo milenar. Há o efeito da contemporaneidade, claro. Mas essas pessoas não vão desaparecer”, aponta o filósofo e professor de ciências da religião da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), Stephen Simim. Estudioso do assunto, ele dá o caminho para o reencontro com essa bênção: “Se você treinar o seu olhar, vai redescobrir essas mulheres e homens que têm o dom de benzer”.
É preciso ter fé para buscar a cura, dizem especialistas sobre os
benzedeiros
Crucifixo, plantas, imagens de santos e orações
inventadas por quem benze são usados no ritual
Aos 91
anos, Dona Aurora Ferreira dos Santos cria as próprias orações. Ela é procurada
por dezenas de pessoas interessadas em sua bênção
Quebranto, cobreiro, mau-olhado, espinhela caída,
vento-virado, sentido… Esses nomes, longe do universo científico, fazem parte
de um mundo mágico, povoado de rezas, crenças, simpatias e benzeções. São
diagnósticos dos benzedeiros em Minas Gerais. São ditos por eles, sem enganos. E
para cada um desses males, físicos ou espirituais, há orações e formas de
benzer. Há quem use crucifixo, plantas, imagens de santos e até a água para o
rito. A prática, em pleno século 21, não mudou muito, mas vem sendo adaptada. E
hoje há até quem benza por telefone. Mas será que os rituais têm mesmo poder de
cura? Para quem tem nas mãos e no olhar o dom, a resposta é uma só: é preciso
ter fé.
Há 12 anos, o filósofo Stephen Simim, professor de ciências da religião da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), fez uma dissertação de mestrado sobre as benzedeiras no estado e, desde então, se interessa pelo assunto. “Muitas são analfabetas, vivem em casas muito simples. A maioria é de mulheres. Acredito que isso está ligado à relação do feminino com a natureza. Lembro-me de uma dizer que da terra vem a doença e da terra vem a cura.” Diante de tudo que viu e ouviu, ele não duvida da cura e lembra-se de casos curiosos. “Todas as identificações de vento-virado, espinhela caída, mau-olhado e outros problemas estão associadas a algum mal. Diante do rito, percebi a mudança no estado da criança. Pude acompanhar de perto: as pessoas chegavam de uma forma e saíam de outra”, comenta.
Ele acredita que nesse encontro ocorra algo
importante, que pode ser um milagre ou não. “Às vezes, nada mais é que a
dificuldade de alguém que não conseguia um lugar para ser acolhido. As
benzedeiras, antes de tudo, acolhem. Elas conversam, ouvem, tocam e interagem
com o problema de quem as procura. Vi pessoas saindo bem diferentes do que
entraram e aquelas que, ao fim de um ciclo de benzeções, mudavam. Não tenho uma
definição para isso, mas acredito que a prática traga algo novo, senão, não
estaria até hoje”, defende.
O segredo nada mais é que a fé, conforme resume
Maria da Conceição de Souza, de 61 anos. Benzedeira no Bairro Nazaré, na Região
Nordeste de Belo Horizonte, ela conta que aprendeu o ofício com uma senhora que
benzia os filhos de sua patroa. Com o conhecimento adquirido, optou por benzer
somente crianças, pois os “adultos chegam muito carregados”. Para ela, a
benzeção é o caminho para aquilo que a medicina não cura. “Mas as mães têm que
ter fé, senão, os meninos não melhoram.” Quando o Bem Viver esteve em sua casa,
Michele Avelino, de 24 anos, já a aguardava. “Quando pequena cheguei aqui pois
estava há dois dias sem comer. Quando ela me benzeu, comi até arroz com feijão.
Hoje, trago o meu filho Lucas, de 1 ano.”
Quando chegou Miguel, de 3 anos, Maria deu o diagnóstico. “Está sentido.” Segundo ela, isso acontece quando a criança está indisposta, sem comer e triste, o que pode ser mau-olhado. “No caso de vento-virado, ela tem um dos braços ou uma das pernas mais curta que a outra. Isso pode ser um susto que tomou. Nesses casos, é bom benzer três vezes. Se a mãe está nervosa ou teve briga em casa isso reflete na criança. Quando os pequenos forem elogiados, é bom dizer ‘Benza Deus’, para protegê-los”, aconselha. Maria benze com folhas de arruda, manjericão, reza Pai Nosso, Ave Maria e Salve Rainha.
Ela não acredita no fim da prática, mas confessa não ter alguém para quem passar o seu conhecimento, já que seus filhos não querem tamanha responsabilidade. Segundo Stephen, há duas formas de eternizar a prática. A primeira delas é a transmissão por gerações. “A outra é a experiência mística. A pessoa não aprendeu com ninguém e passou a benzer por meio de uma vivência.” Ele lembra outros elementos que envolvem a prática, como o uso das plantas medicinais.
ORAÇÕES Outro destaque do pesquisador são as orações. Muitas benzedeiras criam suas rezas, que ninguém sabe de onde vieram, nem elas (veja na página 4). É o caso de Aurora Ferreira dos Santos, de 91 anos. Famosa
Mesmo com a idade avançada, todos os dias ela é procurada por dezenas de pessoas, inclusive por quem mora fora do país. E, nesses casos, ela usa o telefone para benzer. Na sua casa, no Bairro Floramar, na Região Norte da capital, já foram de pedreiros a juízes em busca de suas mãos e olhos abençoados. Ela tem no seu altar imagens de Santa Bárbara, Cosme Damião e São Sebastião. Como bem observou Stephen, é comum não se benzer à noite, somente na luz do dia. Aurora tem esse hábito e outros também. “Uma vez, na Sexta-Feira da Paixão, uma mulher me procurou. Quando a benzi, saíram dela três espíritos. Nunca mais benzi nesta data”, recorda. Toda noite, depois de benzer as dezenas de pessoas, ela pega um terço e reza por cada um que lhe procurou. Nunca cobrou pelo serviço e diz que a recompensa está na saúde que Deus lhe dá. “Enquanto Ele me der licença, vou trabalhar”, afirma.
Não há uma resposta científica que possa explicar o que é ser
benzedeiro
Para muitos,
uma força superior rege as energias da pessoa para o bem
Espírita,
dona Nerci da Conceição é benzedeira há 30 anos e usa em suas benzeções ramos
verdes, folhas de arruda e de guiné ao lado de um crucifixo
Uma sabedoria popular que ninguém sabe de onde
veio nem para onde vai. Seria um dom ou uma experiência de vida? Não há
respostas exatas. O certo é que, segundo os benzedeiros, para benzer não é
preciso muito: basta ter o coração aberto e fazer o bem. Muitos, hoje em dia,
não são católicos. Adaptaram suas crenças à prática. Assim, quem chega à casa
desses anjos, independentemente da religião, percebe que a grande maioria não
está em busca de holofotes e benze por acreditar em uma força superior.
Dinheiro? “Dá-se de graça o que de graça recebeu”, ensina Nerci da Conceição,
de 68 anos, benzedeira na capital há 30 anos. Para a geração que chega, eles
aconselham a ter boa vontade, o que pode significar largar um almoço para
atender, sem pressa ou preguiça, alguém que precisa ser benzido.
Espírita, Nerci conta que seu dom veio da necessidade. Ela não encontrava benzedeiras na cidade para seus filhos e, assim, começou a benzer. No Bairro Aparecida, na Região Noroeste, ela é bem conhecida e usa a natureza em suas rezas. Há em sua casa ramos verdes, arruda e guiné – plantas que usa para benzer junto do crucifixo. “Antes do rito, gosto de ouvir as pessoas. Tenho até a oração para as doenças desconhecidas. Receito o uso de plantas também. Em casos de problemas de pele, é bom usar pomada recomendada pelo médico e um pouco de enxofre”, diz. Ela benze até mesmo os animais e acredita que há pessoas que atraem o mal, “por isso, benzer é tão importante. Afasta os maus espíritos e abre caminhos”.
Espírita, Nerci conta que seu dom veio da necessidade. Ela não encontrava benzedeiras na cidade para seus filhos e, assim, começou a benzer. No Bairro Aparecida, na Região Noroeste, ela é bem conhecida e usa a natureza em suas rezas. Há em sua casa ramos verdes, arruda e guiné – plantas que usa para benzer junto do crucifixo. “Antes do rito, gosto de ouvir as pessoas. Tenho até a oração para as doenças desconhecidas. Receito o uso de plantas também. Em casos de problemas de pele, é bom usar pomada recomendada pelo médico e um pouco de enxofre”, diz. Ela benze até mesmo os animais e acredita que há pessoas que atraem o mal, “por isso, benzer é tão importante. Afasta os maus espíritos e abre caminhos”.
Na linha da umbanda kardecista, a benzedeira
Maria Aparecida da Silva, de 64, conta que benze desde os 12 anos e não sabe
como aprendeu. Um dos dias mais marcantes para ela foi quando chegou em sua
casa uma moça pedindo benzeção. “Não sabia o que tinha, nunca a tinha visto na
vida. Veio o meu guia espiritual, que às vezes fala comigo quando preciso, e me
pediu para benzê-la na luz. Acendi uma vela”, conta.
Míriam se diz médium e, durante a entrevista, surpreendeu a reportagem muitas vezes. Segundo ela, é bom benzer com água, para limpar as coisas ruins. “Cada pessoa tem um tipo de vibração”, comenta. Por acreditar nisso, ela pede cuidado com os abraços. “Um abraço mal dado é pior do que uma facada. Quando alguém lhe abraçar, feche os olhos. Aí você barra a energia do outro. Será um espelho para quem abraça você. Existe pior reflexo que o espelho?”, questiona.
Ela faz um alerta também para esse período da
quaresma. “É uma época em que espíritos vagam muito facilmente. É preciso
cuidado. A benzeção protege você”, comenta. Porém, mesmo defendendo essa
proteção, Míriam diz que não se pode ser benzido por qualquer um. “Tenho medo
de passar meu conhecimento para alguém. Pode-se benzer tanto para o bem quanto
para o mal. O coração dos outros é terra que ninguém morre. Por isso, é preciso
cuidado”, avisa. Quando a reportagem pediu a Míriam que fosse fotografada para a
matéria, ela informou que as entidades que lhe acompanham não permitiram e
pediram a ela que não falasse mais. Respeitamos.
De acordo com o filósofo Stephen Simim, as adaptações da forma de benzer são muitas, e uma delas está na assimilação de outros elementos e religiões. “Hoje, há no meio evangélico, por exemplo, aquela pessoa que ora pelas outras. É uma irmã de fé muito forte”, exemplifica, lembrando de práticas atuais esotéricas, que muito têm a ver com as benzeções. “Muitas coisas estão surgindo, mas ninguém está inventando. Por isso, não tenho medo de que a prática se perca. Pode haver uma ressignificância.”
Senso de responsabilidade
De acordo com o filósofo Stephen Simim, as adaptações da forma de benzer são muitas, e uma delas está na assimilação de outros elementos e religiões. “Hoje, há no meio evangélico, por exemplo, aquela pessoa que ora pelas outras. É uma irmã de fé muito forte”, exemplifica, lembrando de práticas atuais esotéricas, que muito têm a ver com as benzeções. “Muitas coisas estão surgindo, mas ninguém está inventando. Por isso, não tenho medo de que a prática se perca. Pode haver uma ressignificância.”
Senso de responsabilidade
Medo, Mário Braz, de 81 anos, também não tem. Há 39 benzendo, ele diz que aprendeu a prática com a irmã benzedeira. “Lembro que zombava tanto dela, e ela um dia me pediu para benzê-la, pois estava com dor de cabeça. Ela sarou na hora e viu que tinha o dom. Não parei mais”, recorda. Com tanto sucesso, recebendo cerca de 70 pessoas por dia, ele conta que há dias em que está almoçando e chega uma criança para benzer. “Aí tenho que largar o prato. Por isso, digo que não se pode ter preguiça nem má vontade.”
Mário benze as doenças e também os documentos. Uma das perguntas que faz para
quem pede sua benzeção é se a pessoa está desempregada e pede a carteira de motorista. Então, faz suas rezas. Até
moça solteira ganha uma oração para se casar. E não é à toa que as
pessoas o procuram todos os dias na comunidade dos Arturos, em Contagem. “Minha
mulher está benzendo. Faz escondido de mim, por preconceito”, diverte-se Mário,
que diz ter ensinado à mulher a “costurar” coluna. “Quando se está com uma dor
na coluna, é bom pegar uma agulha e costurar um novelo. Sara que é uma beleza,
só não pode esquecer a oração”, diz.
Antes de começar a benzeção do dia, das 8h às 17h30, Mário se protege. “É para
deixar meu corpo fechado. Funciona. Tenho uma saúde de ferro”, afirma. Quem o conhece diz que foram poucas as vezes em
que ele deixou de benzer, como no dia da morte da irmã, em que ficou três dias de luto. Como muitas pessoas vão à sua
procura, Mário conta que até os médicos da região já o recomendam. “Por isso,
digo que as pessoas estão voltando a nos procurar. Antigamente, qualquer coisa
que acontecia, ia-se em busca dos doutores. Hoje, eles que estão mandando seus
pacientes para as mãos e olhos dos benzedeiros”, diverte-se.
ORAÇÕES
Oração de Santa Catarina
Oração de Santa Catarina
“Minha Santa Catarina, digna que foste, aquela senhora que passou pela porta de Abraão. De dia e de noite, ache seus inimigos tão bravos para mim como leões. Com suas palavras abrandai o coração de meus inimigos. Se tiverem faca para mim há de enrolar como um novelo de linha, será cortada pela corrente de Santa Catarina. Se tiverem arma de fogo para mim será cortada pela corrente de Santa Catarina. Ninguém me enxergará, eu viro em pau e empedra na frente dos meus inimigos. Meus inimigos nunca vão me enxergar para fazeromauamim, está acorrentado pela corrente de Santa Catarina. Há de correr quando me virem, como o judeu correu da cruz. Assim seja. Amém, Jesus.”
Oração criada pela benzedeira Aurora Ferreira dos Santos, de 91
anos.
“Cruz de Cristo na minha testa, palavra divina na minha boca, hóstia consagrada na minha garganta, menino de Jesus no
meu peito. Aleluia, Aleluia, Aleluia. Custódia me proteja”
Oração que Mário Braz faz antes de benzer. É proteção contra os males, e Custódia, que ele cita, é uma antiga benzedeira da região.
“Cruz de Cristo na minha testa, palavra divina na minha boca, hóstia consagrada na minha garganta, menino de Jesus no
meu peito. Aleluia, Aleluia, Aleluia. Custódia me proteja”
Oração que Mário Braz faz antes de benzer. É proteção contra os males, e Custódia, que ele cita, é uma antiga benzedeira da região.
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
Arquivo de notícias: Hanseníase no Acre
Hanseníase no Acre: do isolamento ao exame de DNA
Nesta segunda-feira, 5 de novembro, a Universidade Federal do Acre concedeu o título de Doutor Honoris Causa, ao médico irlandês William John Woods, que vive no Acre desde a década de 60. Ele já foi condecorado pela Rainha Elizabeth, da Inglaterra, com o título de Cavaleiro da Ordem do Império Britânico. As duas homenagens são pela luta do médico em diminuir os casos de hanseníase na Amazônia. Nas décadas de 70 e 80, em pequenos aviões, barcos, canoas, lombo de animais e muitas horas a pé, ele levou os medicamentos que tratavam e curavam a hanseníase, para moradores de seringais, aldeias indígenas, localidades ribeirinhas e locais de difícil acesso no Acre.
Nesta segunda-feira, 5 de novembro, a Universidade Federal do Acre concedeu o título de Doutor Honoris Causa, ao médico irlandês William John Woods, que vive no Acre desde a década de 60. Ele já foi condecorado pela Rainha Elizabeth, da Inglaterra, com o título de Cavaleiro da Ordem do Império Britânico. As duas homenagens são pela luta do médico em diminuir os casos de hanseníase na Amazônia. Nas décadas de 70 e 80, em pequenos aviões, barcos, canoas, lombo de animais e muitas horas a pé, ele levou os medicamentos que tratavam e curavam a hanseníase, para moradores de seringais, aldeias indígenas, localidades ribeirinhas e locais de difícil acesso no Acre.
![]() |
Médico Willian John vive no Acre desde a década de 60 e já foi condecorado pela rainha Elizabeth |
Willian, ou Dr. Guilherme, como ficou conhecido por aqui, chegou ao Acre na década de 60 como missionário Batista. Mas, vendo o sofrimento de seringueiros nas matas acreanas que perdiam pedaços do corpo, por causa da hanseníase, ele foi estudar medicina na Universidade Federal do Amazonas, onde se formou em 1974. Voltou para o Acre e passou a ser o “médico da hanseníase”. Inicialmente, usava a dapsona, única droga conhecida para tratar a doença. Só a partir de 1986, o Ministério da Saúde, passou a utilizar na rede pública de saúde, a poliquimioterapia, três medicamentos, que curam de fato a hanseníase. Dr. Guilherme continuou as viagens com o novo tratamento e a realidade acreana com relação à hanseníase mudou. Na década de oitenta, o Acre era o primeiro do Brasil em número de casos de hanseníase. Eram 3.419 casos no estado em 1985 e no ano passado, foram apenas 228. Os números deste ano só serão divulgados em março de 2013.
Atualmente com 75 anos, já aposentado, o médico continua atendendo diariamente no Centro de Referência Estadual de Hanseníase, em Rio Branco, e ainda faz pequenas viagens pelos seringais da região. Avesso a entrevistas, ao receber o título da Ufac, Dr. Guilherme, lembrou que tudo o que fez foi para “ajudar o próximo”, e que faria tudo de novo.
De acordo com o presidente nacional do Morhan, Arthur Custódio, o Acre “fez bem o dever de casa e passou de último para o décimo lugar na eficácia do combate à hanseníase. Capacitou bem o pessoal, fez a profilaxia, descentralizou o tratamento”. Segundo Arthur a mudança começou na década de oitenta e agora o diagnóstico e tratamento são os mais rápidos do Brasil. Ele reconhece a importância do trabalho desenvolvido pelo médico Irlandês. “Não adiantava nada ter o remédio se não havia como levá-lo aos doentes em localidades de difícil acesso. O Dr. Guilherme teve essa coragem e salvou milhares de vidas”.
Hanseníase: desde a Bíblia histórias de dor e separação
Não há data certa, mas estima-se que a hanseníase exista desde o século sete Antes de Cristo. Na Bíblia, a doença já é citada como segregadora. Em vários países do mundo, os portadores da doença foram mortos queimados, expulsos de casa e os filhos foram tirados à força e levados para entidades criadas para esse fim. No Brasil, os presidentes seguiam o modelo adotado por Benito Mussolini, na Itália, que tinha o tripé: leprosário (que cuidava dos doentes) dispensários (que examinava os parentes e pessoas com contatos com os doentes) e os preventórios (que abrigavam os filhos dos doentes).
Atualmente com 75 anos, já aposentado, o médico continua atendendo diariamente no Centro de Referência Estadual de Hanseníase, em Rio Branco, e ainda faz pequenas viagens pelos seringais da região. Avesso a entrevistas, ao receber o título da Ufac, Dr. Guilherme, lembrou que tudo o que fez foi para “ajudar o próximo”, e que faria tudo de novo.
De acordo com o presidente nacional do Morhan, Arthur Custódio, o Acre “fez bem o dever de casa e passou de último para o décimo lugar na eficácia do combate à hanseníase. Capacitou bem o pessoal, fez a profilaxia, descentralizou o tratamento”. Segundo Arthur a mudança começou na década de oitenta e agora o diagnóstico e tratamento são os mais rápidos do Brasil. Ele reconhece a importância do trabalho desenvolvido pelo médico Irlandês. “Não adiantava nada ter o remédio se não havia como levá-lo aos doentes em localidades de difícil acesso. O Dr. Guilherme teve essa coragem e salvou milhares de vidas”.
Hanseníase: desde a Bíblia histórias de dor e separação
Não há data certa, mas estima-se que a hanseníase exista desde o século sete Antes de Cristo. Na Bíblia, a doença já é citada como segregadora. Em vários países do mundo, os portadores da doença foram mortos queimados, expulsos de casa e os filhos foram tirados à força e levados para entidades criadas para esse fim. No Brasil, os presidentes seguiam o modelo adotado por Benito Mussolini, na Itália, que tinha o tripé: leprosário (que cuidava dos doentes) dispensários (que examinava os parentes e pessoas com contatos com os doentes) e os preventórios (que abrigavam os filhos dos doentes).
![]() |
Maria de Fátima foi separada da mãe com quatro horas de vida e só a reencontrou com 17 anos |
Em 1949, um decreto do presidente Eurico Gaspar Dutra tornou ainda mais dura a vida dos hansenianos. O decreto determinou a sumária retirada das crianças de perto das mães assim que elas nasciam. Durante mais de sessenta anos, filhos foram separados dos pais hansenianos em todo o Brasil. No Acre, cerca de duas mil crianças, que nasceram nas colônias de hansenianos em Rio Branco e Cruzeiro do Sul, foram levadas para os preventórios, onde muitas foram adotadas, outras esquecidas e algumas morreram. Muitas famílias foram desfeitas para sempre.
Francisca Elba Batista, ainda na adolescência, foi levada para a Colônia Hernani Agrícola em Cruzeiro, junto com o marido, que também tinha a doença. Os cinco filhos foram levados para o Educandário: a mais nova, Maria de Fátima, foi tirada dela com quatro horas de vida. Quase 17 anos depois, já curada, ela foi em busca dos filhos. Mas o único homem do grupo havia sido adotado. “Eu fui atrás dele, mas ele não quis saber de mim”. Maria de Fátima, a filha mais nova de Francisca Elba, diz que nem gosta de lembra da infância e parte da adolescência. Chora ao lembrar que cresceu pensando que a mãe havia abandonado todos eles. “Ninguém contava que ela e meu pai estavam doentes e internados. A sensação que a gente tinha era de abandono. Todas as crianças internadas lá tinham esse mesmo sentimento”, relata ela com o filho pequeno no colo.
A coordenadora do Departamento de Hanseníase no Acre, Francieli Gomes, diz que a hanseníase sempre foi acompanhada por muitos mitos: um deles é que os pés e mãos dos doentes se desprendiam e caiam. Ela conta que os portadores de hanse-níase perdem os membros por causa de infecções “que qualquer pessoa pode ter” . “A bactéria que causa a hanseníase ataca a pele e os nervos. Essas pessoas ficam sem tato, por isso se machucam e acabam com osteomielite, uma infecção que pode resultar na perda de dedos”, explica.
Manchas brancas sem tato, suor ou pelo são os primeiros sintomas da doença, que diagnosticada precocemente, pode ser tratada entre seis meses a um ano. Todo o tratamento é gratuito na rede pública de saúde.
Exames de DNA comprovam laços entre parentes separados pela hanseníase
O Movimento de Reintegração dos hansenianos, o Mor-han nacional, está realizando exames de DNA para descobrir parentes de pes-soas que foram levadas para os preventórios e por vários motivos, não conseguiram reaver as famílias. Os exames são feitos em nove estados, incluindo o Acre, onde o Instituto Nacional de Genética Médica Populacional, já entregou mais de 100 resultados de exames.
A médica geneticista Lavínia Faccini conta que dos nove estados onde realizou os exames, o Acre é onde há o maior índice de pessoas que não reencontraram os pais ou irmãos, quase 200. “Essa dificuldade é porque nos preventórios daqui muitas crianças não eram identificadas sequer pelo primeiro nome dos pais. A direção desses locais queria proteger as crianças do preconceito e jamais diziam que eram filhos de hansenianos para que fossem logo adotados. Faziam de tudo para apagar todos os laços e por isso, muitas pessoas de quem coletamos o material não reencontraram parentes, porque não sabia nem como começar a procura”.
Seu Paulo Bernardo dos Santos, 63 anos, foi beneficiado com o exame de DNA. Ele conta que, escoltado pela Polícia Sanitária, levou os quatro filhos que nasceram na Colônia Souza Araújo, para o Preventório de Rio Branco, hoje conhecido como Educandário Santa Margarida. Quando saiu da internação buscou os filhos e descobriu que uma havia morrido e um tinha sido adotado por um parente próximo. Ele pegou de volta dois dos filhos e “correu atrás” do adotado. Em 2011 fez exame de DNA junto com o filho e conseguiu provar que era pai de fato do homem que hoje tem 36 anos e prefere não aparecer nas fotos ao lado da família. “Meu filho achava que era meu sobrinho. Depois do exame, ficou revoltado comigo e com o tio que o criou como pai. Agora ele já tá mais próximo da família e entendeu que ninguém teve culpa do que aconteceu”, relata Paulo Bernardo.
José Peixoto, de 81 anos, era do serviço de profilaxia da hanseníase em Cruzeiro do Sul, a Polícia Sanitária. Ele diz que muitas vezes teve que levar crianças das colônias para os preventórios. “A gente sofria junto com as mães, ouvia o choro das crianças. Mas a ordem era essa e o objetivo era que as crianças não fossem contaminadas pela hanseníase”. Uma das crianças que levou para o Educandário, ele mesmo adotou e cria até hoje como filha.
Segundo o presidente nacional do Morhan, Arthur Virgílio, o Acre tinha uma das polícias sanitárias mais rigorosas do Brasil e revela: “mesmo com o tratamento disponível, o governo Getúlio Vargas, por exemplo, continuava separando pais e filhos, porque muitas colônias e preventórios foram construídas na época e tinham que continuar ocupadas”.
Indenização e títulos definitivos de propriedades
Uma lei de 2007, do então senador Tião Viana (PT/AC), garantiu o direito à pensão dos hansenianos que foram isolados em Hospitais Colônias por causa da hanseníase. Cada um recebe R$ 950 mensais. Agora os filhos, que foram separados compulsoriamente dos pais, também buscam o direito à indenização. Uma Comissão da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República esteve no Acre fazendo levantamento da situação. O presidente do Morhan no Acre, Elsom Dias, diz que todo o trâmite deve ser concluído em 2013. O valor pode variar entre R$ 50 e R$ 70 mil para cada um. De acordo com o Morhan nacional, cerca de 25 mil filhos de hansenianos, que foram separados dos pais devem ser beneficiados. No Acre, são mais de duas mil pessoas.
Francisca Elba Batista, ainda na adolescência, foi levada para a Colônia Hernani Agrícola em Cruzeiro, junto com o marido, que também tinha a doença. Os cinco filhos foram levados para o Educandário: a mais nova, Maria de Fátima, foi tirada dela com quatro horas de vida. Quase 17 anos depois, já curada, ela foi em busca dos filhos. Mas o único homem do grupo havia sido adotado. “Eu fui atrás dele, mas ele não quis saber de mim”. Maria de Fátima, a filha mais nova de Francisca Elba, diz que nem gosta de lembra da infância e parte da adolescência. Chora ao lembrar que cresceu pensando que a mãe havia abandonado todos eles. “Ninguém contava que ela e meu pai estavam doentes e internados. A sensação que a gente tinha era de abandono. Todas as crianças internadas lá tinham esse mesmo sentimento”, relata ela com o filho pequeno no colo.
A coordenadora do Departamento de Hanseníase no Acre, Francieli Gomes, diz que a hanseníase sempre foi acompanhada por muitos mitos: um deles é que os pés e mãos dos doentes se desprendiam e caiam. Ela conta que os portadores de hanse-níase perdem os membros por causa de infecções “que qualquer pessoa pode ter” . “A bactéria que causa a hanseníase ataca a pele e os nervos. Essas pessoas ficam sem tato, por isso se machucam e acabam com osteomielite, uma infecção que pode resultar na perda de dedos”, explica.
Manchas brancas sem tato, suor ou pelo são os primeiros sintomas da doença, que diagnosticada precocemente, pode ser tratada entre seis meses a um ano. Todo o tratamento é gratuito na rede pública de saúde.
Exames de DNA comprovam laços entre parentes separados pela hanseníase
O Movimento de Reintegração dos hansenianos, o Mor-han nacional, está realizando exames de DNA para descobrir parentes de pes-soas que foram levadas para os preventórios e por vários motivos, não conseguiram reaver as famílias. Os exames são feitos em nove estados, incluindo o Acre, onde o Instituto Nacional de Genética Médica Populacional, já entregou mais de 100 resultados de exames.
A médica geneticista Lavínia Faccini conta que dos nove estados onde realizou os exames, o Acre é onde há o maior índice de pessoas que não reencontraram os pais ou irmãos, quase 200. “Essa dificuldade é porque nos preventórios daqui muitas crianças não eram identificadas sequer pelo primeiro nome dos pais. A direção desses locais queria proteger as crianças do preconceito e jamais diziam que eram filhos de hansenianos para que fossem logo adotados. Faziam de tudo para apagar todos os laços e por isso, muitas pessoas de quem coletamos o material não reencontraram parentes, porque não sabia nem como começar a procura”.
Seu Paulo Bernardo dos Santos, 63 anos, foi beneficiado com o exame de DNA. Ele conta que, escoltado pela Polícia Sanitária, levou os quatro filhos que nasceram na Colônia Souza Araújo, para o Preventório de Rio Branco, hoje conhecido como Educandário Santa Margarida. Quando saiu da internação buscou os filhos e descobriu que uma havia morrido e um tinha sido adotado por um parente próximo. Ele pegou de volta dois dos filhos e “correu atrás” do adotado. Em 2011 fez exame de DNA junto com o filho e conseguiu provar que era pai de fato do homem que hoje tem 36 anos e prefere não aparecer nas fotos ao lado da família. “Meu filho achava que era meu sobrinho. Depois do exame, ficou revoltado comigo e com o tio que o criou como pai. Agora ele já tá mais próximo da família e entendeu que ninguém teve culpa do que aconteceu”, relata Paulo Bernardo.
José Peixoto, de 81 anos, era do serviço de profilaxia da hanseníase em Cruzeiro do Sul, a Polícia Sanitária. Ele diz que muitas vezes teve que levar crianças das colônias para os preventórios. “A gente sofria junto com as mães, ouvia o choro das crianças. Mas a ordem era essa e o objetivo era que as crianças não fossem contaminadas pela hanseníase”. Uma das crianças que levou para o Educandário, ele mesmo adotou e cria até hoje como filha.
Segundo o presidente nacional do Morhan, Arthur Virgílio, o Acre tinha uma das polícias sanitárias mais rigorosas do Brasil e revela: “mesmo com o tratamento disponível, o governo Getúlio Vargas, por exemplo, continuava separando pais e filhos, porque muitas colônias e preventórios foram construídas na época e tinham que continuar ocupadas”.
Indenização e títulos definitivos de propriedades
Uma lei de 2007, do então senador Tião Viana (PT/AC), garantiu o direito à pensão dos hansenianos que foram isolados em Hospitais Colônias por causa da hanseníase. Cada um recebe R$ 950 mensais. Agora os filhos, que foram separados compulsoriamente dos pais, também buscam o direito à indenização. Uma Comissão da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República esteve no Acre fazendo levantamento da situação. O presidente do Morhan no Acre, Elsom Dias, diz que todo o trâmite deve ser concluído em 2013. O valor pode variar entre R$ 50 e R$ 70 mil para cada um. De acordo com o Morhan nacional, cerca de 25 mil filhos de hansenianos, que foram separados dos pais devem ser beneficiados. No Acre, são mais de duas mil pessoas.
![]() |
Paulo Bernardo ao lado de um dos filhos que pegou de volta no Educandário Santa Margarida |
E o Acre é o segundo estado do Brasil (o Rio de Janeiro foi o primeiro) a conceder títulos definitivos de propriedade para os hansenianos. Em Cruzeiro do Sul, o Instituto de Terras do Acre (Iteracre) entregou cem títulos no Bairro do Telegrafo, criado ao redor do Hospital Colônia Souza Araújo. Em Rio Branco, mais de mil e quinhentos títulos serão entregues nos bairros Santa Cecília e Albert Sampaio, ambos ao lado da Colônia Souza Araújo. “Tudo o que se fizer por essas pessoas ainda será pouco”, explica o presidente do Iteracre, Glenilsom Araújo.
Francisca Soriano, de 81 anos, que mora no Bairro do Telegrafo, em Cruzeiro do Sul, diz com orgulho que agora é dona de fato e de direito da casa onde mora. Ela também recebe mensalmente a pensão de R$ 950 desde 2009. Com o dinheiro já conseguiu reformar a casa e em agosto, recebeu o título definitivo da casa onde mora.
Por causa da lei da internação compulsória, ela que foi retirada da sala de aula pela Polícia Sanitária, aos 12 anos e levada para a Colônia Hernani Agrícola. Ela relata emocionada que chegou a pensar que “nem era gente, não tinha direito sequer a morar com os pais. Agora recebo pensão, posso me consultar, comprar comida melhor para casa e agora eu recebi o título da minha casa. Tudo o que foi tirado de mim na adolescência, casa e cidadania eu tenho de volta hoje e me sinto uma cidadão acreana feliz”, ressalta.
Francisca Soriano, de 81 anos, que mora no Bairro do Telegrafo, em Cruzeiro do Sul, diz com orgulho que agora é dona de fato e de direito da casa onde mora. Ela também recebe mensalmente a pensão de R$ 950 desde 2009. Com o dinheiro já conseguiu reformar a casa e em agosto, recebeu o título definitivo da casa onde mora.
Por causa da lei da internação compulsória, ela que foi retirada da sala de aula pela Polícia Sanitária, aos 12 anos e levada para a Colônia Hernani Agrícola. Ela relata emocionada que chegou a pensar que “nem era gente, não tinha direito sequer a morar com os pais. Agora recebo pensão, posso me consultar, comprar comida melhor para casa e agora eu recebi o título da minha casa. Tudo o que foi tirado de mim na adolescência, casa e cidadania eu tenho de volta hoje e me sinto uma cidadão acreana feliz”, ressalta.
Fonte: A Gazeta do Acre
Assinar:
Postagens (Atom)