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quarta-feira, 19 de março de 2014

História e cultura dos povos ciganos nas escolas estaduais do Paraná



Pela primeira vez a história e a cultura cigana serão tema de debates e atividades artísticas e culturais nas escolas da rede pública do Paraná. A iniciativa é inédita no Brasil e vai envolver todos os setores da educação pública no Estado, além da comunidade cigana e escolar. O projeto será desenvolvido em oito municípios nas regiões onde estão concentradas as maiores comunidades ciganas no Estado.

O lançamento do projeto Caravana: Os assim chamados Ciganos aconteceu na sede da Secretaria de Estado da Educação, em Curitiba, nessa quarta-feira (19). Durante os dias 25 de março e 5 de maio técnicos do Departamento da Diversidade (DEDI) da secretaria e lideranças ciganas vão desenvolver oficinas pedagógicas com os profissionais da educação das escolas estaduais, municipais e especiais.

De acordo com a diretora do DEDI, Marli Peron, o objetivo é levar a história e a cultura cigana Roms, Sinti e Kolons junto às escolas e comunidade escolar. “Esse projeto faz parte de uma proposta pedagógica que vamos trabalhar esse ano com todos os povos itinerantes. É um trabalho de aproximação para que a comunidade possa conhecer mais a cultura cigana e assim acabarmos com os tabus que existem em torno dos povos ciganos”, explicou Marli.

Na prática - A caravana vai acontecer em duas etapas. No primeiro momento as atividades serão desenvolvidas junto aos professores, funcionários e comunidade escolar. Serão feitas oficinas que darão suporte técnico aos profissionais para desenvolverem e debaterem as atividades dentro de sala de aula aliadas as disciplinas da base nacional comum.

Na segunda parte as informações serão repassadas e trabalhadas com os alunos em sala de aula. Em seguida, cada escola vai selecionar os melhores trabalhos que serão apresentados no II Seminário Estadual de Educação Escolar Cigana.

A proposta de levar a cultura cigana para dentro das salas de aula partiu da Associação de Preservação da Cultura Cigana no Paraná em parceria com a Secretaria de Estado da Educação. Também apóiam o projeto a Secretaria de Estado da Família e Desenvolvimento Social, Copel e Celepar (Companhia de Tecnologia da Informação e Comunicação do Paraná).

Para a presidente da Associação de Preservação da Cultura Cigana, Tatiane Ivanovitch, a Caravana é um reconhecimento dos povos ciganos no Estado. “Esse é um dos projetos mais importantes para os povos ciganos, principalmente porque vamos trabalhar direto com a educação. Para nós está sendo muito importante esse momento, pois os não ciganos terão acesso a nossa cultura que muitos não conhecem”, frisou.

As ações serão desenvolvidas em oito municípios de diferentes regiões do Estado onde estão concentradas as maiores comunidades ciganas. O primeiro encontro acontece em Irati no dia 25 de março e termina no dia 5 de maio em Cascavel. As atividades serão devolvidas ainda nos municípios de Araucária, Piraí do Sul, Maringá, Colorado, Cornélio Procópio e Goioerê.

Exemplo  – Essa é a primeira vez que a cultura e história cigana serão discutidas em sala de aula no Brasil. Para Claudio Ivanovitch, membro do Conselho Nacional de Política de Promoção da Igualdade Racial, o Paraná está dando exemplo para o restante do país. “O Paraná está sendo pioneiro nesse reconhecimento da cultura e história cigana”, definiu.

Fonte: Secretaria de Educação do Paraná, 19/03/2014
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quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Arquivo de notícias: Hanseníase no Acre

Hanseníase no Acre: do isolamento ao exame de DNA

Nesta segunda-feira, 5 de novembro, a Universidade Federal do Acre  concedeu o título de Doutor Honoris Causa, ao médico irlandês William John Woods, que vive  no Acre desde  a década de 60. Ele já foi condecorado pela Rainha Elizabeth, da Inglaterra, com o título de Cavaleiro da Ordem do Império Britânico. As duas homenagens são pela luta do médico em diminuir os casos de hanseníase na Amazônia. Nas décadas de 70 e 80, em pequenos aviões, barcos, canoas, lombo de animais e muitas horas a pé, ele levou os medicamentos que tratavam e curavam a hanseníase, para moradores de seringais, aldeias indígenas, localidades ribeirinhas e locais de difícil acesso no Acre.

Médico Willian John vive no Acre desde a década de 60 e já foi condecorado pela rainha Elizabeth
  Willian, ou Dr. Guilherme, como ficou conhecido por aqui, chegou ao Acre na década de 60 como missionário Batista. Mas, vendo o sofrimento de seringueiros nas matas acreanas que perdiam pedaços do corpo, por causa da hanseníase, ele foi estudar medicina na Universidade Federal do Amazonas, onde se formou em 1974. Voltou para o Acre e passou a ser o “médico da hanseníase”. Inicialmente, usava a dapsona, única droga conhecida para tratar a doença. Só a partir de 1986, o Ministério da Saúde, passou a utilizar na rede pública de saúde, a poliquimioterapia, três medicamentos, que curam de fato a hanseníase. Dr. Guilherme continuou as viagens com o novo tratamento e a realidade acreana com relação à hanseníase mudou. Na década de oitenta, o Acre era o primeiro do Brasil em número de casos de hanseníase. Eram 3.419 casos no estado em 1985 e no ano passado, foram apenas 228. Os números deste ano só serão divulgados em março de 2013.      

Atualmente com 75 anos, já aposentado, o médico continua atendendo diariamente no Centro de Referência Estadual de Hanseníase, em Rio Branco, e ainda faz pequenas viagens pelos seringais da região. Avesso a entrevistas, ao receber o título da Ufac, Dr. Guilherme, lembrou que tudo o que fez foi para “ajudar o próximo”, e que faria tudo de novo.

De acordo com o presidente nacional do Morhan, Arthur Custódio, o Acre “fez bem o dever de casa e passou de último para o décimo lugar na eficácia do combate à hanseníase. Capacitou bem o pessoal, fez a profilaxia, descentralizou o tratamento”. Segundo Arthur a mudança começou na década de oitenta e agora o diagnóstico e tratamento são os mais rápidos do Brasil. Ele reconhece a importância do trabalho desenvolvido pelo médico Irlandês. “Não adiantava nada ter o remédio se não havia como levá-lo aos doentes em localidades de difícil acesso. O Dr. Guilherme teve essa coragem e salvou milhares de vidas”.  

Hanseníase: desde a Bíblia histórias de dor e separação
Não há data certa, mas estima-se que a hanseníase exista desde o século sete Antes de Cristo. Na Bíblia, a doença já é citada como segregadora. Em vários países do mundo, os portadores da doença foram mortos queimados, expulsos de casa e os filhos foram tirados à força e levados para entidades criadas para esse fim.    No Brasil, os presidentes seguiam o modelo adotado por Benito Mussolini, na Itália, que tinha o tripé: leprosário (que cuidava dos doentes) dispensários (que examinava os parentes e pessoas com contatos com os doentes) e os preventórios (que abrigavam os filhos dos doentes).

Maria de Fátima foi separada da mãe com quatro horas de vida e só a reencontrou com 17 anos
Em 1949, um decreto do presidente Eurico Gaspar Dutra tornou ainda mais dura a vida dos hansenianos. O decreto determinou a sumária retirada das crianças de perto das mães assim que elas nasciam. Durante mais de sessenta anos, filhos foram separados dos pais hansenianos em todo o Brasil. No Acre, cerca de duas mil crianças, que nasceram nas colônias de hansenianos em Rio Branco e Cruzeiro do Sul, foram levadas para os preventórios, onde muitas foram adotadas, outras esquecidas e algumas morreram. Muitas famílias foram desfeitas para sempre.

Francisca Elba Batista, ainda na adolescência, foi levada para a Colônia Hernani Agrícola em Cruzeiro, junto com o marido, que também tinha a doença. Os cinco filhos foram levados para o Educandário: a mais nova, Maria de Fátima, foi tirada dela com quatro horas de vida. Quase 17 anos depois, já curada, ela foi em busca dos filhos. Mas o único homem do grupo havia sido adotado. “Eu fui atrás dele, mas ele não quis saber de mim”.    Maria de Fátima, a filha mais nova de Francisca Elba, diz que nem gosta de lembra da infância e parte da adolescência. Chora ao lembrar que cresceu pensando que a mãe havia abandonado todos eles. “Ninguém contava que ela e meu pai estavam doentes e internados. A sensação que a gente tinha era de abandono. Todas as crianças internadas lá tinham esse mesmo sentimento”, relata ela com o filho pequeno no colo.

A coordenadora do Departamento de Hanseníase no Acre, Francieli Gomes, diz que a hanseníase sempre foi acompanhada por muitos mitos: um deles é que os pés e mãos dos doentes se desprendiam e caiam.  Ela conta que os portadores de hanse-níase perdem os membros por causa de infecções “que qualquer pessoa pode ter” . “A bactéria que causa a hanseníase ataca a pele e os nervos. Essas pessoas ficam sem tato, por isso se machucam e acabam com osteomielite, uma infecção que pode resultar na perda de dedos”, explica.

Manchas brancas sem tato, suor ou pelo são os primeiros sintomas da doença, que diagnosticada precocemente, pode ser tratada entre seis meses a um ano. Todo o tratamento é gratuito na rede pública de saúde.

Exames de DNA comprovam laços entre parentes separados pela hanseníase
O Movimento de Reintegração dos hansenianos, o Mor-han nacional, está realizando exames de DNA para descobrir parentes de pes-soas que foram levadas para os preventórios e por vários motivos, não conseguiram reaver as famílias. Os exames são feitos em nove estados, incluindo o Acre, onde o Instituto Nacional de Genética Médica Populacional, já entregou mais de 100 resultados de exames.

A médica geneticista Lavínia Faccini conta que dos nove estados onde realizou os exames, o Acre é onde há o maior índice de pessoas que não reencontraram os pais ou irmãos, quase 200. “Essa dificuldade é porque nos preventórios daqui muitas crianças não eram identificadas sequer pelo primeiro nome dos pais. A direção desses locais queria proteger as crianças do preconceito e jamais diziam que eram filhos de hansenianos para que fossem logo adotados. Faziam de tudo para apagar todos os laços e por isso, muitas pessoas de quem coletamos o material não reencontraram parentes, porque não sabia nem como começar a procura”.

Seu Paulo Bernardo dos Santos, 63 anos, foi beneficiado com o exame de DNA. Ele conta que, escoltado pela Polícia Sanitária, levou os quatro filhos que nasceram na Colônia Souza Araújo, para o Preventório de Rio Branco, hoje conhecido como Educandário Santa Margarida. Quando saiu da internação buscou os filhos e descobriu que uma havia morrido e um tinha sido adotado por um parente próximo. Ele pegou de volta dois dos filhos e “correu atrás” do adotado. Em 2011 fez exame de DNA junto com o filho e conseguiu provar que era pai de fato do homem que hoje tem 36 anos e prefere não aparecer nas fotos ao lado da família. “Meu filho achava que era meu sobrinho. Depois do exame, ficou revoltado comigo e com o tio que o criou como pai. Agora ele já tá mais próximo da família e entendeu que ninguém teve culpa do que aconteceu”, relata Paulo Bernardo.

José Peixoto, de 81 anos, era do serviço de profilaxia da hanseníase em Cruzeiro do Sul, a Polícia Sanitária. Ele diz que muitas vezes teve que levar crianças das colônias para os preventórios. “A gente sofria junto com as mães, ouvia o choro das crianças. Mas a ordem era essa e o objetivo era que as crianças não fossem contaminadas pela hanseníase”. Uma das crianças que levou para o Educandário, ele mesmo adotou e cria até hoje como filha.

Segundo o presidente nacional do Morhan, Arthur Virgílio, o Acre tinha uma das polícias sanitárias mais rigorosas do Brasil e revela: “mesmo com o tratamento disponível, o governo Getúlio Vargas, por exemplo, continuava separando pais e filhos, porque muitas colônias e preventórios foram construídas na época e tinham que continuar ocupadas”.

Indenização e títulos definitivos de propriedades
Uma lei de 2007, do então senador Tião Viana (PT/AC), garantiu o direito à pensão dos hansenianos que foram isolados em Hospitais Colônias por causa da hanseníase. Cada um recebe R$ 950 mensais. Agora os filhos, que foram separados compulsoriamente dos pais, também buscam o direito à indenização. Uma Comissão da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República esteve no Acre fazendo levantamento da situação. O presidente do Morhan no Acre, Elsom Dias, diz que todo o trâmite deve ser concluído em 2013. O valor pode variar entre R$ 50 e R$ 70 mil para cada um.  De acordo com o Morhan nacional, cerca de 25 mil filhos de hansenianos, que foram separados dos pais devem ser beneficiados. No Acre, são mais de duas mil pessoas.

Paulo Bernardo ao lado de um dos filhos que pegou de volta no Educandário Santa Margarida
E o Acre é o segundo estado do Brasil (o Rio de Janeiro foi o primeiro) a conceder títulos definitivos de propriedade para os hansenianos. Em Cruzeiro do Sul, o Instituto de Terras do Acre (Iteracre) entregou cem títulos no Bairro do Telegrafo, criado ao redor do Hospital Colônia Souza Araújo. Em Rio Branco, mais de mil e quinhentos títulos serão entregues nos bairros Santa Cecília e Albert Sampaio, ambos ao lado da Colônia Souza Araújo. “Tudo o que se fizer por essas pessoas ainda será pouco”, explica o presidente do Iteracre, Glenilsom Araújo.

Francisca Soriano, de 81 anos, que mora no Bairro do Telegrafo, em Cruzeiro do Sul, diz com orgulho que agora é dona de fato e de direito da casa onde mora. Ela também recebe mensalmente a pensão de R$ 950 desde 2009. Com o dinheiro já conseguiu reformar a casa e em agosto, recebeu o título definitivo da casa onde mora.

Por causa da lei da internação compulsória, ela que foi retirada da sala de aula pela Polícia Sanitária, aos 12 anos e levada para a Colônia Hernani Agrícola. Ela relata emocionada que chegou a pensar que “nem era gente, não tinha direito sequer a morar com os pais. Agora recebo pensão, posso me consultar, comprar comida melhor para casa e agora eu recebi o título da minha casa. Tudo o que foi tirado de mim na adolescência, casa e cidadania eu tenho de volta hoje  e me sinto uma cidadão acreana feliz”, ressalta.


quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Publicações: Dossiê - História Oral, memória e patrimônio

História Oral - estudos e novas colaborações
Já indicamos anteriormente a visita à Rede Café História e nos passeios por ela nos deparamos com a publicação Dossiê - História Oral, memória e patrimônio.

Compartilhamos abaixo os links para download e a fonte de onde retiramos a informação. A revista com esta publicação é mantida pela ABHO - Associação Brasileira de História Oral, sem fins lucrativos, que está também chamando para nova publicação do mesmo tema.

Confira aqui a pubilcação de 2011, Dossiê - História Oral, memória e patrimônio:

v. 1, n. 14 (2011)

Dossiê - História oral, memória e patrimônio

Apresentação - Benito Bisso Schmidt   

Dossiê
Ruínas industriais e memória em uma “favela fabril” carioca - Mariana Cavalcanti, Paulo Fontes   
Multimídia

Resenhas
MAGALHÃES, Valéria Barbosa; SANTHIAGO, Ricardo (Org.). Memória e diálogo: escutas da Zona Leste, visões sobre a história oral - André Bortolazzo Correr   
 


 Confira aqui as condições para envio de material para a publicação a ser realizada, Dossiê Diversidade Étnica e Fontes Orais:

Dossiê Diversidade Étnica e Fontes Orais

A Revista História Oral, periódico da Associação Brasileira de História Oral, convida o/as pesquisadore/as interessado/as a enviarem contribuições para o Dossiê Diversidade Étnica e Fontes Orais. A diversidade étnica das sociedades contemporâneas, que se traduz em pluralismo sociocultural, tem sido pouco considerada em políticas públicas, no senso comum e até mesmo em estudos acadêmicos. Em certas situações, esta diversidade tem sido equiparada à desigualdade, dentro de uma lógica que associa diferença à inferioridade, numa relação marcadamente assimétrica. O presente dossiê abre espaço para contribuições que permitam avançar no entendimento do “diferente” como problema para o conhecimento histórico e que explorem, a partir das fontes orais, a questão da diversidade étnica.



quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Observatório de iniciativas: Café História

No Observatório de iniciativas de hoje recomendamos a leitura e o passei pelo site Café História, que traz contribuições, interpretações e discussões a respeito da História e seu estudo.

O site é um agregador de informações e portal para uma rede social de pesquisadores. Confira abaixo o texto 'quem somos', retirado da própria plataforma:

Quem Somos

O Café História é uma rede social online fundada em 18 de janeiro de 2008 pelo jornalista e historiador Bruno Leal. É voltada para estudantes, professores, pesquisadores e para todos aqueles que acreditam que estudar e discutir história é o maior barato. Todo o conteúdo do site é aberto. O internauta não precisa fazer nenhum cadastro para acessar textos, vídeos ou fóruns. É tudo livre e gratuito. Porém, se optar por fazer o cadastro (que é simples e leva 30 segundos), o internauta pode editar uma página pessoal, adicionar e comentar conteúdos (fóruns, grupos de estudo, eventos, etc.), participar de discussões, publicar seu próprio blog, receber atualizações por e-mail e trocar mensagens com outros participantes da rede.

Conteúdos, Perfil dos Leitores e Objetivos

Por falar em conteúdos, a coisa funciona de uma forma bem simples. A maior parte dos conteúdos é adicionada pelos próprios participantes. É o que faz de nós uma rede colaborativa. Quem tem cadastro na rede pode enviar vídeos e fotos, criar grupos de estudos, publicar textos em blogs individuais e participar de discussões em fóruns. Já a outra parte do conteúdo é de autoria da administração do Café História ou de seus colaboradores convidados: entrevistas, resenhas, notícias, artigos e reportagens. Desta forma, somos uma mistura de rede social com portal.

Nossos participantes são em geral graduados em história e professores de história. Temos como norte discussões historiográfica, mas não somos uma rede acadêmica no sentido literal. Recebemos qualquer pessoa que goste de história e que esteja disposta a aprender e a compartilhar conhecimentos.

O Café História possui três objetivos principais: divulgar história para o grande público; criar um espaço público e democrático para discussão de história, e, finalmente, criar um repositório de conteúdos de história.

Gostou? Então, clique aqui e associe-se.

Teremos prazer em recebe-lo(a) na rede!

Rede Social Café História


Saiba mais, associe-se, acompanhe as discussões pelo endereço:



quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Integrantes da Rede Saúde e Cultura: Sidney do Carmo e a história da Saúde e da Cultura

 RISCO DE PERCURSO
 
Sidney do Carmo
 
Palavra chave: transformação social – contexto histórico

Em 1880 as idéias positivistas de Auguste Conte disseminavam-se pelo mundo, tanto que no Brasil, criava-se o IAPB (Igreja e Apostolado Positivista do Brasil), acontecia o Primeiro Congresso Internacional de surdos, em Milão, divulgando-se a língua de sinais, a linguagem dos símbolos; tínhamos os rumores do parnasianismo na escrita. 

Em cena uma época de fortíssimas teses e acontecimentos; em cena um cenário de contradições. Nasce o sanitarista e visionário Ezequiel Caetano Dias, Ezequiel Dias. Numa época em que se configurava um labirinto de indagações, entre instâncias próprias da revelação para a ação de um discurso revestido pelo que tem de mais pulsante: a prática ajuizando o ato. Surge, pois, o gerado, no antagonismo da oferta e da recusa e são estes ingredientes ímpares que emolduram a personalidade de Ezequiel Dias. 

O Brasil como na famosa frase de Euclides da Cunha seria uma criação da teoria política. Nesta chave, interpretar o Brasil deve obedecer ao esclarecimento das relações efetivamente existentes entre homens e deles com seu ambiente natural, mas criá-lo, elaborando instrumentalmente instituições, pessoas e valores sociais. Devemos nos debruçar sobre a questão de saber quais são as condições da vida social que determinam, pelo menos em parte, as diferentes formas e espécies de conhecimentos, quais as condições de realizações em um mundo que somente é aceito por ele na medida em que sofre a sua intervenção. Intervir é coisa do corpo! Foi assim que em 1893, no balcão de uma farmácia no bairro das laranjeiras no Rio de Janeiro, estava um menino de doze anos, esguio, magro, com olhos negros e brilhantes, que ajudava os serviços do estabelecimento.

 Ezequiel Dias já iniciara sua aventura alquímica num ambiente onde a teoria e a prática dialogava numa simbiose que lhe inspirou o desejo de cursar farmácia. Porém, mais que atenuar os sofrimentos, ao então jovem estudante de farmácia preocupava a origem da doença, sendo este o motivo de sua dedicação. Num certo dia de 1899, um visitante trazia ao estudante “o convite de um tal Dr. Oswaldo Cruz para uma conferência prévia, que, certamente, se seguiria ao emprego, bem remunerado. Contudo é importante transcrever aquele que foi o primeiro diálogo profissional entre Oswaldo Cruz e Ezequiel Dias, conforme o livro Ensaios escrito por Octávio de Magalhães. 
“Em que ano está o senhor
- No terceiro.
Tem medo da peste?
- Não. Senhor.
Está disposto a trabalhar tantas horas quantas forem necessárias para cumprir as suas obrigações, sem dependência de nenhum horário fixo? - Perfeitamente.
Agora uma última pergunta, a qual ligo muita importância: o senhor conhece alguma cousa de bacteriologia? O moço teve um momento de dúvida: exercia sobre si o inesperado cargo de auxiliar de um verdadeiro cientista; além dos proventos que daí lhe adviria; de outro lado, a consciência, que compelia a dizer a verdade. Optou por esta, deixando-se, porém, cair, interiormente, numa crise de abatimento moral. - Não, senhor.
“Pois está muito bem; é essa uma das condições exigidas”.

A partir daí torna-se o principal colaborador de Oswaldo Cruz na luta pela saúde, motivada inicialmente pela ameaça da peste bulbônica, que, depois de uma longa trajetória pela Europa, havia chegado as Américas.

Na seqüência, aportou em outubro de 1899 a cidade de Santos, requerendo das autoridades estratégias rápidas de controle desta doença. Criou-se de imediato em Oswaldo Cruz , ao constatar que já contava com um colaborador, o desejo de fundar filiais (laboratórios) nos estados  brasileiros, difundindo as doutrinas científicas de sua escola, o que representava uma necessidade num país assolado por tantas endemias.

Teve Ezequiel Dias a incumbência de fundar a filial de Manguinhos nos da primeira década de Belo Horizonte.

Em Minas Gerais, a filial de manguinhos foi uma espécie de braço das Ciências biológicas no Estado, pois promovia, como no Rio de Janeiro, reuniões semanais em sua biblioteca para discutir artigos científicos nacionais e estrangeiros, as quais passaram a comparecer médicos e professores da cidade, dando origem á faculdade de medicina, em 1911, e iniciando uma colaboração duradoura que uniu a pesquisa, a produção e o ensino.”

Isto porque o grupo laureado por Oswaldo Cruz tinha este costume na capital brasileira, que recebia influência francesa de modos de pensar e agir, onde este grupo tinha acesso a um importante jornal: La Gazette, que se dedicou a este tema da medicina social. Só para se ter uma idéia, entre 1848 -1868 surgiram na imprensa francesa cerca de sessenta jornais dedicados ao tema.

Ezequiel Dias teve sua orientação social, ele acreditava na missão sociológica de sua função para atenuar os sofrimentos dos desvalidos e desprovidos de informação; E desta forma, conseguiu articulações num tempo de encontros paradoxais. De um lado, a promessa da modernidade, o surgimento do cinema e de outro, as epidemias disseminando-se em grande parte a população brasileira que não tinha acesso sequer ao saneamento básico. Ele mesmo sentia isto no corpo, e sua ação era a convergência deste “estado”. Advogava em favor desta causa mesmo doente. Ele mesmo sentia isto no corpo, e sua ação era a convergência deste “estado”. Vimos em Ezequiel Dias uma figuração apontada por Everardo Duarte Nunes em seu livro: “Sobre a Sociologia da saúde”- há, contudo uma faceta importante que precisa ser dita em que o determinismo geográfico e os fatores culturais correspondem ao estar inserido no espaço, no espaço como curso da história no dizer de Milton Santos, pois no corpo (aquele corpo doente), a doença altera o ritmo de vida, já que todos nós vivemos num determinado ritmo, pela cultura e hábito e, sobretudo naquilo onde estamos inseridos e não se apagam as marcas do lugar em que estamos. Nossa situação no tempo e no espaço faz a diferença. Ao diferir, conferimos. A diferença faz-nos falar. Tanto que Ezequiel Dias mesmo doente organizava em sua casa vários saraus científicos e literários e nestes brotaram estudos em Minas na discussão sobre o câncer e textos literários de escritores franceses.

Nestes saraus lia-se com fervor Charles Baudelaire. Em Belo Horizonte, era rodeado por amigos e admiradores como o memorialista Pedro Nava que comenta: sua postura era daquele que o olho escuta o silêncio do corpo que fala e uma dedicação pelo detalhe do detalhe, fruto de suas investigações no laboratório de microbiologia e leituras simbolistas.

Quando Ezequiel Dias começou a verdadeira independência científica, ao lado de Oswaldo Cruz, havia um clima em que só se pensava “no amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim”.

Em 1917, escreveu a primeira lição de microbiologia da faculdade de Medicina de Belo Horizonte, como também, uma conferência: “Um problema resolvido”, dessa feita sobre o escorpionismo. Referindo-se ao escorpião disse:

“vive muito bem no campo, de preferência entocando-se sob as pedras onde lhe apraz hibernar demoradamente, impassível, sóbrio, em prolongada modorra, alheio á movimentação harmoniosa da natureza”.

Em 1918, publica “O Instituto Oswaldo Cruz”, resumo histórico sobra à casa de Oswaldo Cruz.

 Um risco não do ofício
 
Aquele que foi farmacêutico, médico e pesquisador por pouco seria engenheiro. Havia feito a promessa para sua irmã de estudar engenharia seguindo exemplos de seus antepassados. Mas a proximidade familiar, seu pai era médico e o contexto da época que viveu as relações traçadas, o convívio num cenário entre saúde e a doença, o clamor de mudanças, fizeram com que tomasse partido pela questão social. Nãos e cala um gesto conduzido pelo olhar social, não há como apagá-lo, pois o ato é um ensaio da posse no espaço, função corpórea, articulada como modelo como reflexo, como um grito. Lukács nos lembra que a consciência vai ao ponto de declarar que a transformação das idéias em realidades é um pensamento profundo, muito importante do ponto de vista histórico.

Em Ezequiel Dias o conhecimento é por fim/foi uma construção do fazer saúde pública neste país que ainda constrói e firma sua identidade.

Faleceu em 1922, no ano do acontecimento da semana de arte moderna no Brasil.

 
Do autor
Historiador, Poeta e artista cênico, Sidney José do Carmo nasceu em Belo Horizonte. Em fins dos anos 80, atuou intensamente no grupo performático Vírus Mundanus``, encenando autores como os franceses Baudelaire, Rimbaud, Válery, Lautréamont e os alemães Paul Celam e Georg Trakl, além do norte- americano Edgar Alan Poe e os brasileiros Murilo Mendes, Drummond, Dantas Mota e Augusto dos Anjos. Desde o início dos anos 90, vem realizando pesquisas na fronteira literatura/saúde pública, com suporte da Fundação Ezequiel Dias – Desenvolveu na Escola de Saúde Pública de Minas Gerais o Projeto Saúde Com Cultura na cidade de Diamantina entre 2002 a 2004. É Articulador do projeto Ciência em Movimento da Funed.

Referências bibliográficas
Octávio de Magalhães – Ensaios – 1951.
 Passantes da Agonia- publicado na revista mineira de saúde pública, n.01- junho/2002;

terça-feira, 8 de maio de 2012

Observatório de iniciativas: Rede Brasileira de História e Patrimônio Cultural da Saúde


A RedeBra HPCS tem como principal objetivo articular os atores nacionais para o fortalecimento e integração da história e do patrimônio cultural com as políticas e serviços em saúde, de forma a permitir contextualizar sua atual realidade, favorecendo o debate sobre as conquistas, desafios, importância da participação social e do reconhecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) como um patrimônio público.

Conheça mais sobre a Rede Brasileira de História e Patrimônio Cultural da Saúde.

Faça parte, divulgue, acompanhe:
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