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segunda-feira, 28 de julho de 2014

Guardiãs da cura: a sabedoria popular das benzedeiras em Alagoas

Por Renata Arruda

Principalmente no interior das cidades nordestinas, a figura folclórica das benzedeiras ou rezadeiras curam, de acordo com a tradição popular, algumas enfermidades da alma e do corpo com rezas mágicas e especiais. Geralmente, essas mulheres utilizam plantas como os ramos de arruda, mastruz, crista de galo, entre outras, dependendo da moléstia sofrida.

Quebranto, ventre caído, fogo selvagem e mau olhado são algumas das “doenças” lendárias mais comuns no universo da cura popular dessas misteriosas senhoras. Quem não se lembra de ter sido levado, quando criança, para se tratar com uma dessas curandeiras? Não importava o motivo, fosse dor de cabeça ou cansaço, muitas crianças eram levadas pelas anciãs da família aos tais rituais milagrosos.

A Agência Alagoas conversou com três mulheres de fé e encantos que, por meio da antiga tradição quilombola, levam cura e paz para milhares de alagoanos. Na série de reportagens Guardiãs da Cura, contaremos a história dessas mulheres que curam pela fé e pelo amor.

A pioneira e mais ilustre herdeira da cultura quilombola

Anézia Maria da Conceição, 112 anos, é a mais antiga benzedeira de Alagoas, considerada patrimônio vivo e uma verdadeira fonte inesgotável de sabedoria primitiva da arte popular. Moradora célebre da cidade de Santa Luzia do Norte, área metropolitana de Maceió, é bastante querida pela população.

Dizer que já rezou por quase todos os moradores não é exagero, pois até hoje, mesmo com a fragilidade decorrente da idade avançada e a voz arrastada, ainda realiza proezas com quem a procura. Além de ser rezadeira, desde os 12 anos de idade costumava realizar partos na região.

“Praticamente todas as mulheres das cidades vizinhas vinham aqui para casa para minha mãe [Anézia] fazer os partos. Naquela época, não tinha médico por aqui, e era ela quem trazia as crianças para o mundo”, diz Nêga, a primogênita entre as cinco filhas da benzedeira.


Tantas décadas fazendo orações e partos lhe renderam o carinho da população e uma bela homenagem. Em breve, Anézia ganhará uma estátua de destaque na Praça da Liberdade, a principal da cidade.

Católica fervorosa, aprendeu a rezar ainda criança e o dom da cura não tardou em chegar. Ela afirma que aos 10 anos já ouvia uma voz divina que a orientava a ajudar as pessoas: “Conseguia ver o que estava de errado no corpo e na alma das pessoas e Deus me usava como instrumento para socorrê-las. A cura dependia da fé de cada um, esse era o segredo”.

Devota de padre Cícero, Anézia conta que em uma de suas romarias à Juazeiro do Norte presenciou o religioso profetizar sobre a futura perda da visão da rezadeira. O prenúncio se cumpriu quando, aos 80 anos, ela realizou o último parto. Mesmo com a cegueira, continuou usando os outros talentos para trazer bem-estar às pessoas até hoje.

Dona Anézia teve cinco filhos, 40 netos, 20 bisnetos e dez tataranetos. Dos descendentes, nenhum herdou o seu dom.

Fonte: Agência Alagoas

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Benzedeiros carregam em si a fé e as boas energias que passam para outras pessoas



Mário Braz, de 81 anos: no próximo dia 28, a Comunidade dos Arturos, em Contagem, na Grande BH, recebe o título de Patrimônio Imaterial de Minas Gerais


Em Minas Gerais, há um estudo para transformar o ato de benzer em bem imaterial
Luciane Evans - Saúde Plena/Jornal Estado de Minas, 13/04/2014
Sobre um banco de concreto, das 8h às 17h30, Mário Braz, de 81 anos, se senta à espera das cerca de 70 pessoas que o procuram todos os dias. Nos pés, um chinelo velho. Nas mãos, a fé e o mistério que não revela. “Tenho aqui os santos para todas as dores. Parece um molho de chaves, mas não é. É um segredo”, diz, com toda a simplicidade que lhe cabe. Seu Mário, como é conhecido, não se formou em medicina, mas sabe de cor as orações para cada mal do corpo e da alma. “Sou benzedeiro. É um dom que Deus nos dá.” Há 39 anos, ele benze quem o procura com as imagens de santo no chaveiro e a folha de arruda. Tem sabedoria de doutor. Não tem pressa. Sabe que cada palavra é divina e tem seu propósito. “Tem coisas, minha filha, que não são para os médicos. Só a fé pode curar.” Sobre o sucesso que faz, sorri e diz que a busca pela benzeção está voltando ao que já foi um dia. “Nunca vai acabar”, decreta.

Seu Mário tem razão. E está nas mãos dele o primeiro passo para a preservação da tradição em Minas Gerais. No próximo dia 28, a Comunidade dos Arturos, em Contagem, na Grande BH, recebe o título de Patrimônio Imaterial de Minas Gerais, registro dado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha). Seu Mário mora lá desde os 10 anos e é o benzedeiro mais conhecido da região, atraindo até mesmo gente de outros lugares do Brasil. Só não benze aos sábados e domingos, e nem à noite. “Se aparecer alguém, até benzo. Não se pode recusar. Mas não gosto. Fins de semana Deus fez para o descanso. Benzer à noite não é bom, não é uma linha boa. Pode ser perigoso”, alerta.

A comunidade dos Arturos, onde vive seu Mário, será a primeira a receber o título do Iepha. Até hoje, como bem imaterial, o instituto tem na lista o modo de fazer queijo da cidade do Serro, na Região Central, e a festa de Nossa Senhora da Chapada do Norte dos Homens de Preto, no Jequitinhonha. “De lugar, esse será o primeiro. Trata-se de um reconhecimento da expressão da comunidade como um todo. Lá, há culinária, Festa do Rosário e a benzeção, que é um ponto forte deles”, comenta o gerente de Patrimônio Imaterial do Iepha/MG, Luís Gustavo Molinaria Mundim. 

Mas isso é só o começo. Desde o ano passado, o instituto está debruçado sobre o projeto de transformar o ato de benzer em Minas em patrimônio imaterial. “Fazíamos um inventário de proteção do Rio São Francisco quando identificamos várias benzedeiras e várias formas de benzer. Percebemos a necessidade de algo maior para o ofício”, diz Luís Gustavo. 

A intenção, segundo ele, é fazer um mapeamento para conhecer quantas são as pessoas que praticam a benzeção, quem são elas e os elementos invocados para a prática. “Queremos conhecer também como isso está sendo passado. O registro é baseado em um patrimônio vivo, ou seja, o benzer tem que estar ocorrendo. Com o registro, vamos identificar quais os principais problemas que essas pessoas enfrentam, e manter projetos para que a prática se mantenha.” 

Desafio. Essa curiosidade que está nas mãos do Iepha é também a de muitos. Para se ter uma ideia, no dia 16 de março o Bem Viver publicou matéria sobre a inveja e suas consequências. Entre um dos entrevistados, a benzedeira Maria José Lima comentou sobre a proteção por meio da benzeção. Logo após a reportagem ser publicada, dezenas de pessoas ligaram para a redação em busca do contato da benzedeira e muitos se queixaram de não achar mais o ofício em Belo Horizonte. Houve quem apostou que ele tinha chegado ao fim. Um dos leitores sugeriu: “O Estado de Minas podia procurar esses anjos para nós”.

O Bem Viver  topou o desafio e foi atrás das pessoas das mãos abençoadas. Elas não desapareceram. Fácil, realmente não é. Porém, os benzedeiros e benzedeiras estão vivos e sendo procurados cada vez mais. “Eles têm algo incrível. São reconhecidos nas comunidades onde vivem, acolhem quem os procura e não cobram pelo que fazem. São pessoas boas, a maioria é de baixa renda, e não quer status nem fama. É algo milenar. Há o efeito da contemporaneidade, claro. Mas essas pessoas não vão desaparecer”, aponta o filósofo e professor de ciências da religião da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), Stephen Simim. Estudioso do assunto, ele dá o caminho para o reencontro com essa bênção: “Se você treinar o seu olhar, vai redescobrir essas mulheres e homens que têm o dom de benzer”.

É preciso ter fé para buscar a cura, dizem especialistas sobre os benzedeiros


Crucifixo, plantas, imagens de santos e orações inventadas por quem benze são usados no ritual


Aos 91 anos, Dona Aurora Ferreira dos Santos cria as próprias orações. Ela é procurada por dezenas de pessoas interessadas em sua bênção


Quebranto, cobreiro, mau-olhado, espinhela caída, vento-virado, sentido… Esses nomes, longe do universo científico, fazem parte de um mundo mágico, povoado de rezas, crenças, simpatias e benzeções. São diagnósticos dos benzedeiros em Minas Gerais. São ditos por eles, sem enganos. E para cada um desses males, físicos ou espirituais, há orações e formas de benzer. Há quem use crucifixo, plantas, imagens de santos e até a água para o rito. A prática, em pleno século 21, não mudou muito, mas vem sendo adaptada. E hoje há até quem benza por telefone. Mas será que os rituais têm mesmo poder de cura? Para quem tem nas mãos e no olhar o dom, a resposta é uma só: é preciso ter fé.

Há 12 anos, o filósofo Stephen Simim, professor de ciências da religião da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), fez uma dissertação de mestrado sobre as benzedeiras no estado e, desde então, se interessa pelo assunto. “Muitas são analfabetas, vivem em casas muito simples. A maioria é de mulheres. Acredito que isso está ligado à relação do feminino com a natureza. Lembro-me de uma dizer que da terra vem a doença e da terra vem a cura.” Diante de tudo que viu e ouviu, ele não duvida da cura e lembra-se de casos curiosos. “Todas as identificações de vento-virado, espinhela caída, mau-olhado e outros problemas estão associadas a algum mal. Diante do rito, percebi a mudança no estado da criança. Pude acompanhar de perto: as pessoas chegavam de uma forma e saíam de outra”, comenta. 

Ele acredita que nesse encontro ocorra algo importante, que pode ser um milagre ou não. “Às vezes, nada mais é que a dificuldade de alguém que não conseguia um lugar para ser acolhido. As benzedeiras, antes de tudo, acolhem. Elas conversam, ouvem, tocam e interagem com o problema de quem as procura. Vi pessoas saindo bem diferentes do que entraram e aquelas que, ao fim de um ciclo de benzeções, mudavam. Não tenho uma definição para isso, mas acredito que a prática traga algo novo, senão, não estaria até hoje”, defende. 

O segredo nada mais é que a fé, conforme resume Maria da Conceição de Souza, de 61 anos. Benzedeira no Bairro Nazaré, na Região Nordeste de Belo Horizonte, ela conta que aprendeu o ofício com uma senhora que benzia os filhos de sua patroa. Com o conhecimento adquirido, optou por benzer somente crianças, pois os “adultos chegam muito carregados”. Para ela, a benzeção é o caminho para aquilo que a medicina não cura. “Mas as mães têm que ter fé, senão, os meninos não melhoram.” Quando o Bem Viver esteve em sua casa, Michele Avelino, de 24 anos, já a aguardava. “Quando pequena cheguei aqui pois estava há dois dias sem comer. Quando ela me benzeu, comi até arroz com feijão. Hoje, trago o meu filho Lucas, de 1 ano.”

Quando chegou Miguel, de 3 anos, Maria deu o diagnóstico. “Está sentido.” Segundo ela, isso acontece quando a criança está indisposta, sem comer e triste, o que pode ser mau-olhado. “No caso de vento-virado, ela tem um dos braços ou uma das pernas mais curta que a outra. Isso pode ser um susto que tomou. Nesses casos, é bom benzer três vezes. Se a mãe está nervosa ou teve briga em casa isso reflete na criança. Quando os pequenos forem elogiados, é bom dizer ‘Benza Deus’, para protegê-los”, aconselha. Maria benze com folhas de arruda, manjericão, reza Pai Nosso, Ave Maria e Salve Rainha.

Ela não acredita no fim da prática, mas confessa não ter alguém para quem passar o seu conhecimento, já que seus filhos não querem tamanha responsabilidade. Segundo Stephen, há duas formas de eternizar a prática. A primeira delas é a transmissão por gerações. “A outra é a experiência mística. A pessoa não aprendeu com ninguém e passou a benzer por meio de uma vivência.” Ele lembra outros elementos que envolvem a prática, como o uso das plantas medicinais.


ORAÇÕES Outro destaque do pesquisador são as orações. Muitas benzedeiras criam suas rezas, que ninguém sabe de onde vieram, nem elas (veja na página 4). É o caso de Aurora Ferreira dos Santos, de 91 anos. Famosa em Belo Horizonte, Aurora cria suas orações, que já salvaram muitos. Analfabeta, ela diz que benzer é retirar o mal das pessoas e uma das dicas que dá a todos é relacionada a esses males abstratos. Ela diz para ficarmos atentos àquelas mariposas que entram dentro de nossas casas. “Tem que retirar e mandar para longe. A bruxa é sinal de que há alguém não está lhe desejando o bem”, ensina.
 
Mesmo com a idade avançada, todos os dias ela é procurada por dezenas de pessoas, inclusive por quem mora fora do país. E, nesses casos, ela usa o telefone para benzer. Na sua casa, no Bairro Floramar, na Região Norte da capital, já foram de pedreiros a juízes em busca de suas mãos e olhos abençoados. Ela tem no seu altar imagens de Santa Bárbara, Cosme Damião e São Sebastião. Como bem observou Stephen, é comum não se benzer à noite, somente na luz do dia. Aurora tem esse hábito e outros também. “Uma vez, na Sexta-Feira da Paixão, uma mulher me procurou. Quando a benzi, saíram dela três espíritos. Nunca mais benzi nesta data”, recorda. Toda noite, depois de benzer as dezenas de pessoas, ela pega um terço e reza por cada um que lhe procurou. Nunca cobrou pelo serviço e diz que a recompensa está na saúde que Deus lhe dá. “Enquanto Ele me der licença, vou trabalhar”, afirma.

Não há uma resposta científica que possa explicar o que é ser benzedeiro


Para muitos, uma força superior rege as energias da pessoa para o bem


Espírita, dona Nerci da Conceição é benzedeira há 30 anos e usa em suas benzeções ramos verdes, folhas de arruda e de guiné ao lado de um crucifixo

Uma sabedoria popular que ninguém sabe de onde veio nem para onde vai. Seria um dom ou uma experiência de vida? Não há respostas exatas. O certo é que, segundo os benzedeiros, para benzer não é preciso muito: basta ter o coração aberto e fazer o bem. Muitos, hoje em dia, não são católicos. Adaptaram suas crenças à prática. Assim, quem chega à casa desses anjos, independentemente da religião, percebe que a grande maioria não está em busca de holofotes e benze por acreditar em uma força superior. Dinheiro? “Dá-se de graça o que de graça recebeu”, ensina Nerci da Conceição, de 68 anos, benzedeira na capital há 30 anos. Para a geração que chega, eles aconselham a ter boa vontade, o que pode significar largar um almoço para atender, sem pressa ou preguiça, alguém que precisa ser benzido. 

Espírita, Nerci conta que seu dom veio da necessidade. Ela não encontrava benzedeiras na cidade para seus filhos e, assim, começou a benzer. No Bairro Aparecida, na Região Noroeste, ela é bem conhecida e usa a natureza em suas rezas. Há em sua casa ramos verdes, arruda e guiné – plantas que usa para benzer junto do crucifixo. “Antes do rito, gosto de ouvir as pessoas. Tenho até a oração para as doenças desconhecidas. Receito o uso de plantas também. Em casos de problemas de pele, é bom usar pomada recomendada pelo médico e um pouco de enxofre”, diz. Ela benze até mesmo os animais e acredita que há pessoas que atraem o mal, “por isso, benzer é tão importante. Afasta os maus espíritos e abre caminhos”. 

Na linha da umbanda kardecista, a benzedeira Maria Aparecida da Silva, de 64, conta que benze desde os 12 anos e não sabe como aprendeu. Um dos dias mais marcantes para ela foi quando chegou em sua casa uma moça pedindo benzeção. “Não sabia o que tinha, nunca a tinha visto na vida. Veio o meu guia espiritual, que às vezes fala comigo quando preciso, e me pediu para benzê-la na luz. Acendi uma vela”, conta. 

Míriam se diz médium e, durante a entrevista, surpreendeu a reportagem muitas vezes. Segundo ela, é bom benzer com água, para limpar as coisas ruins. “Cada pessoa tem um tipo de vibração”, comenta. Por acreditar nisso, ela pede cuidado com os abraços. “Um abraço mal dado é pior do que uma facada. Quando alguém lhe abraçar, feche os olhos. Aí você barra a energia do outro. Será um espelho para quem abraça você. Existe pior reflexo que o espelho?”, questiona.

Ela faz um alerta também para esse período da quaresma. “É uma época em que espíritos vagam muito facilmente. É preciso cuidado. A benzeção protege você”, comenta. Porém, mesmo defendendo essa proteção, Míriam diz que não se pode ser benzido por qualquer um. “Tenho medo de passar meu conhecimento para alguém. Pode-se benzer tanto para o bem quanto para o mal. O coração dos outros é terra que ninguém morre. Por isso, é preciso cuidado”, avisa. Quando a reportagem pediu a Míriam que fosse fotografada para a matéria, ela informou que as entidades que lhe acompanham não permitiram e pediram a ela que não falasse mais. Respeitamos. 

De acordo com o filósofo Stephen Simim, as adaptações da forma de benzer são muitas, e uma delas está na assimilação de outros elementos e religiões. “Hoje, há no meio evangélico, por exemplo, aquela pessoa que ora pelas outras. É uma irmã de fé muito forte”, exemplifica, lembrando de práticas atuais esotéricas, que muito têm a ver com as benzeções. “Muitas coisas estão surgindo, mas ninguém está inventando. Por isso, não tenho medo de que a prática se perca. Pode haver uma ressignificância.” 

Senso de responsabilidade

Medo, Mário Braz, de 81 anos, também não tem. Há 39 benzendo, ele diz que aprendeu a prática com a irmã benzedeira. “Lembro que zombava tanto dela, e ela um dia me pediu para benzê-la, pois estava com dor de cabeça. Ela sarou na hora e  viu que tinha o dom. Não parei mais”, recorda. Com tanto sucesso, recebendo cerca de 70 pessoas por dia, ele conta que há dias em que está almoçando e chega uma criança para benzer. “Aí tenho que largar o prato. Por isso, digo que não se pode ter preguiça nem má vontade.”

Mário benze as doenças e também os documentos. Uma das perguntas que faz para quem pede sua benzeção é se a pessoa está desempregada e pede a carteira de motorista. Então, faz suas rezas. Até moça solteira ganha uma oração para se  casar. E não é à toa que as pessoas o procuram todos os dias na comunidade dos Arturos, em Contagem. “Minha mulher está benzendo. Faz escondido de mim, por preconceito”, diverte-se Mário, que diz ter ensinado à mulher a “costurar” coluna. “Quando se está com uma dor na coluna, é bom pegar uma agulha e costurar um novelo. Sara que é uma beleza, só não pode esquecer a oração”, diz.


Antes de começar a benzeção do dia, das 8h às 17h30, Mário se protege. “É para deixar meu corpo fechado. Funciona. Tenho uma saúde de ferro”, afirma. Quem o conhece diz que foram poucas as vezes em que ele deixou de benzer, como no dia da morte da irmã, em que ficou três dias de luto. Como muitas pessoas vão à sua procura, Mário conta que até os médicos da região já o recomendam. “Por isso, digo que as pessoas estão voltando a nos procurar. Antigamente, qualquer coisa que acontecia, ia-se em busca dos doutores. Hoje, eles que estão mandando seus pacientes para as mãos e olhos dos benzedeiros”, diverte-se.

ORAÇÕES

Oração de Santa Catarina


“Minha Santa Catarina, digna que foste, aquela senhora que passou pela porta de Abraão. De dia e de noite, ache seus inimigos tão bravos para mim como leões. Com suas palavras abrandai o coração de meus inimigos. Se tiverem faca para mim há de enrolar como um novelo de linha, será cortada pela corrente de Santa Catarina. Se tiverem arma de fogo para mim será cortada pela corrente de Santa Catarina. Ninguém me enxergará, eu viro em pau e empedra na frente dos meus inimigos. Meus inimigos nunca vão me enxergar para fazeromauamim, está acorrentado pela corrente de Santa Catarina. Há de correr quando me virem, como o judeu correu da cruz. Assim seja. Amém, Jesus.”
Oração criada pela benzedeira Aurora Ferreira dos Santos, de 91 anos. 

“Cruz de Cristo na minha testa, palavra divina na minha boca, hóstia consagrada na minha garganta, menino de Jesus no
meu peito. Aleluia, Aleluia, Aleluia. Custódia me proteja”
Oração que Mário Braz faz antes de benzer. É proteção contra os males, e Custódia, que ele cita, é uma antiga benzedeira da região.




quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Benzedeiras resistem em Franca, mas não têm sucessoras em casa




“Isipela maldita, a carne que tu come, a Deus não lograrás, um Padre Nosso, uma Ave Maria, uma Santa Maria vou te curar.” “Procurei São Elias, o que é que cura cobreiro e cobraria? Ramo de funcho e água fria.” “Arruda, corre, corre cavalinho, passa na porta de Santa Luzia, e diga para ela dar uma benção para o meu olho.” Essas rezas, para “isipela” (uma infecção cutânea, cujo nome verdadeiro é erisipela), cobreiro (uma doença de pele) e ar (ardência nos olhos), respectivamente, podem muito em breve se tornarem apenas uma lembrança do passado. Elas são usadas pelas benzedeiras, que se dizem instrumentos de Deus, curam por meio de plantas e orações, e encontram atualmente muita dificuldade para difundir seus conhecimentos.


O Comércio da Franca localizou quatro benzedeiras em Franca, e todas elas afirmam que a tendência é que, em alguns anos, a prática acabe porque as novas gerações não querem aprender o “ofício”. A aposentada Ivone Coelho Senni, 83, benze desde que tinha 22 anos. Ela aprendeu a prática com a sua mãe, mas não tem para quem passar os seus conhecimentos. “A minha filha queria aprender a benzer, mas desistiu dois meses depois. E nunca veio ninguém em casa para aprender.”

Já Zulma Maria de Souza, 77, também aposentada, contou que as pessoas atualmente até aceitam se benzer, mas têm vergonha de admitir o fato. A aposentada Silvéria Adelina, 78, e a pensionista Madalena José Dias, 94, dizem que ensinam as orações de benzeduras às pessoas que as procuram, mas acham que a fé da população diminuiu.

As quatro benzedeiras têm filhos, mas eles não querem seguir a “vocação” das mães por se ocuparem com seus trabalhos, por desinteresse e até por medo.

Se vem caindo gradativamente o número de benzedeiras, a quantidade de clientes continuam alta. Ivone diz receber de 10 a 15 por dia. Zulma afirma que há dias em que recebe até 28 pessoas.

As entrevistadas dizem que se tornaram benzedeiras através das mães. Ivone conta que, quando era menina, ficava perto de sua mãe e escutava como ela benzia. Apesar de ter começado a benzer apenas quando tinha por volta de 50 anos, Silvéria foi influenciada a se iniciar na prática pela mãe e sogra, ambas benzedeiras. As outras aprenderam com pessoas próximas. “Eu tinha mais ou menos 10 anos. Tinha uma vizinha que sabia benzer e me ensinou”, conta Zulma. Já Madalena entrou em contato com as rezas por meio de um benzedor idoso.

As benzedeiras dizem ser apenas instrumentos de Deus. Quem cura dos mais diversos males é Deus. “Quem é benzido precisa ter fé. Se não tiver fé, não resolve nada”, diz Ivone.

“Eu atendo pessoas com cobreiro, por exemplo, mas, se as pessoas estiverem contrariadas, com qualquer problema, eu posso fazer uma oração para elas”, conta Madalena. Outros males comuns tratados por elas são: vento virado (crianças que têm uma perna maior que a outra), cortar o medo de crianças que ainda não andam, espinhela caída (doença caracterizada por dores no estômago, costas e pernas), além dos tradicionais quebrantes e mau-olhado, que podem ser descritos como efeitos negativos.

Nenhuma das benzedeiras cobra por seus serviços. “Faço por amor, por caridade, com o coração limpo e aberto, sem receber um centavo. Eu dedico meu tempo ao amor e à caridade”, esclarece Zulma. “Fazer pelos meus irmãos é melhor do que fazer pra mim”, diz Silvéria.

Fonte: GCN

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Dona Izabel, a última benzedeira do Condor


Dona Izabel, a última benzedeira do Condor

Mãe de santo, Izabel veio de São Miguel do Guamá para seguir
sua vocação e fundar em Belém o terreiro de mina de
São Jorge (Foto: Thiago Araújo)
No município de São Miguel do Guamá, numa pequena localidade chamada Tatuaiá, a parteira e rezadeira Domingas anunciou assim que retirou Izabel Araújo de dentro da mãe: o destino da menina seria trabalhar como benzedeira e mãe de santo para ajudar os outros. Seu Manuel, o pai do bebê, disse à dona Domingas: “Aaah... tu já vem com as tuas doidices?”. 71 anos depois, quem conta a história é a própria Izabel, hoje mais conhecida como mãe Izabel. Moradora com orgulho do bairro da Condor, em Belém, ela já atendeu incontáveis pessoas, salvou vários doentes desenganados, benzeu cachorro, papagaio e tem clientes até na França e na Alemanha.

Quem visita mãe Izabel procura sua bênção ou a cura para quebranto, perturbação, mau olhado, vento caído, doidice, encosto, desemprego... Como ela mesma diz, “vem várias misturas”. Mãe Izabel aprendeu tudo que sabe sozinha. No entanto, sábia, faz uma ressalva: “A gente vive aprendendo. Aprende todo dia. A última aprendição é morrer”.

A benzedeira, que consegue diferenciar os males do corpo das enfermidades da alma, revela: há profissionais formados em medicina adeptos da umbanda, mas não podem falar qual o real problema dos pacientes. “É como minha médica disse pra mim: ‘A gente vê que o doente não tá precisando daquele tratamento, mas não pode dizer. A gente interte, interte e manda pra casa. Não vai encher a pessoa de remédio, a pessoa não tá doente’”, conta a benzedeira. 

Apesar das dificuldades financeiras, mãe Izabel não recusa quem chega “aperriado” buscando ajuda e não tem como pagar. Certa vez, uma mãe de santo disse que dona Izabel só não enrica porque abre a casa para prostituta e pobre. “Se vêm à minha porta é porque estão precisando de mim. Agora me diz se eu vou atender uma mulher que chega com uma bolsona e vou barrar um que chega com chinelinho? Claro que não! Ele é gente como eu”, comenta indignada. A senhora de olhos pequenos e voz firme tem boa memória e cultiva carinho por todos que chegam até ela.

Zeladora da casa da cabocla Mariana, entidade guia que incorpora, dona Izabel só não abre mão de cobrar os R$ 25 das cartas de tarô. Diz que é necessário para o baralho não ficar mentiroso. “É uma ciência muito grande. Tu não vai pegar baralho e dizer uma bobagem pra os outros. Se não daqui a pouco a pessoa vai dizer: ‘êêêêê, não sabe nada...”, justifica. 

MISSÃO

A poucos metros do terreiro de mina São Jorge, santo da casa da cabocla Mariana, há uma igreja evangélica. Chegaram muito depois de mãe Izabel ao bairro e uma pessoa quis encrencar jogando sal ungido em sua calçada. Moradora antiga e trabalhando há 47 anos, ela recebeu o apoio da grande maioria dos vizinhos - que a respeitam e lhe têm carinho. 

O terreiro é licenciado e pode funcionar até tarde. Porém, mãe Izabel só toca tambor em dia de festa e fecha cedo para não atrapalhar o sono dos outros. Lá só se trabalha com a chamada linha branca, que lida com boas energias. Ela reconhece que ainda há muito preconceito, mas afirma que agora é bem menos discriminada. “Tem gente que diz que, quando eu morrer, eu vou pra o inferno. Não quero saber do que vai acontecer comigo. Quero saber do bem que eu tô fazendo agora”, desabafa.

Tornar-se mãe de santo não foi uma opção. Aos 23 anos, depois de uma crise que teria sido provocada por um encosto que a atormentava há tempos, dona Izabel finalmente descobriu que era médium. Ela afirma que teria morrido se não tivesse recebido orientações da mãe de santo Juraci, uma espécie de professora espiritual. “Tem que saber segurar. Se tu não segurar, tu leva o destempero”, alerta.

A infância de mãe Izabel foi bem diferente daquela vivida pelas crianças do colégio estadual em que trabalhou até se aposentar, em 92. Seu dom se manifestou muito cedo. Ela ia para o roçado e tinha constantes passamentos e desmaios. Quando chegava cansada em casa, ainda precisava lidar com a fila de vizinhos que procuravam a menina para “puxar as juntas”, uma espécie de massagem espiritual. “Quando eu vim para Belém, eu pensei: Graças a Deus, aqui ninguém sabe [do meu dom]. Ninguém vai me procurar. Não dizia pra ninguém. Olha onde que eu vim me parar: pulei dum, caí no outro”, sorri. 

SANTOS E ORIXÁS

Hoje, mãe Izabel aprendeu a ter amor pela sua vocação e afirma que é isso que lhe faz feliz. Viúva, mãe de dois filhos de ventre, três de criação, quatro netos e uma bisneta, foi surpreendida pela cardiologista às vésperas do aniversário de setenta anos. A médica aconselhava que ela tomasse remédios para cuidar da “pressão emocional” que teria na grande festa em sua homenagem, ocorrida em setembro do ano passado. “Falei para ela: ‘Doutora, não ganhei dinheiro, não ganhei carro, como é que eu vou ter uma pressão emocional?’ ”, conta rindo mãe Izabel.

Nascida em família católica, uma das últimas benzedeiras de Belém frequenta a igreja até hoje. O que importa para mãe Izabel é o bem: de onde ele vem é o de menos. “Tudo é iluminado por Deus. Nada se move sem o consentimento dele”, ensina. A única coisa que a benzedeira deseja é pagar um empréstimo antes de morrer. Não quer deixar a filha endividada. Para afugentar a morte, a família de mãe Izabel já está planejando a aquisição de novas dívidas. 

Logo na entrada da casa que dá acesso ao terreiro da benzedeira, grandes estátuas representando entidades da umbanda dividem espaço com um cartaz de Nossa Senhora de Nazaré, uma imagem de Cristo, santos num altar, orixás e uma pequena Nossa Senhora das Graças recém-chegada. Todos convivem muito bem. Nunca brigaram.

(Diário do Pará)

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Arquivo de notícias: A história da parteira que ajudou a colocar mais de cem crianças no mundo


Rossilda Joaquina da Silva, 76 anos, simboliza bem a data de hoje, 20, de novembro, Dia da Consciência Negra. Além de parteira tradicional, benzedeira e costureira, ela gosta de arrastar a bainha de sua saia dançando batuque, e ainda, é uma das moradoras mais antigas do quilombo do Curiaú, em Macapá.

Segundo Rossilda, suas mãos foram responsáveis por mais de cem partos, a maioria realizada no quilombo. “Isso foi um dom que Deus me deu. No meu primeiro parto, eu fiquei emocionada, fiquei nervosa, mas ocorreu tudo bem comigo e com a mulher, tanto que já fiz parto até dos filhos dela”, contou.

“As pessoas me chamam para fazer o parto. Ao longo desse tempo, mais de cem crianças nasceram pelas minhas mãos. É curioso, mas muitos partos foram de mulheres que vinham do interior. Antes de chegar ao hospital a bolsa rompia, ou coisa parecida. Como não dava tempo de chegar ao hospital elas paravam aqui na comunidade. Foram muitos nascimentos assim. Eu já fiz parto até dentro de um caminhão. Metade da criança já estava para fora”, rememora.

A quilombola representa a nação negra do Curiaú. Ela é mãe de 13 filhos, avó de 53 netos, e possui 10 bisnetos.

O dom de benzer também foi adquirido de forma empírica. Quando uma criança nascia com algum problema, se via obrigada a lembrar-se das tradições ensinadas por sua mãe, Venina da Silva (in memorian), conhecida por lutar em defesa dos negros. Ela foi retratada em um livro escrito por seus próprios netos que contaram as bandeiras de luta por ela empunhadas.

Além de Rossilda, o Curiaú possui outros personagens. Maria das Chagas dos Santos, 60 anos, é matriarca da família, e durante a reportagem comandava o trabalho de preparação da mandioca a fim de produzir farinha para consumo próprio.

“Aprendi tudo com os meus pais. Eu comecei a ir para a roça com oito anos e até hoje eu preservo as tradições”, afirmou.

Ao seu lado, também estavam os seus filhos e netos. As crianças aprendiam o manejo da mandioca, como se já soubessem daquilo há muito tempo, mostrando que a tradição de produzir farinha de mandioca perpetuará por longos anos naquela comunidade.

Fonte: Café&Cia

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

CARTA DAS BENZEDEIRAS - Encontro do Paraná


CARTA DAS BENZEDEIRAS

Nós, benzedeiras, benzedores, curandeiras, curadores, costureiras e costureiros de rendidura e/ou machucadura, rezadeiras e rezadores, remedieiras e remedieiros, massagistas tradicionais, parteiras e aprendizes de benzedura da região, representados neste Encontro por detentores de ofícios tradicionais de cura dos municípios de Fernandes Pinheiro, Inácio Martins, Irati, Rebouças, Turvo, São João do Triunfo e São Mateus do Sul, reafirmamos nossas práticas e conhecimentos tradicionais na participação do 2º. Encontro das Benzedeiras do Centro Sul do Paraná, nos dias 09 e 10 de novembro de 2012, realizado na Sede da Terceira Idade, no município de Rebouças, região centro sul do Estado do Paraná, com 80 participantes e também 20 convidados entre autoridades, pesquisadores e apoiadores.

Esse encontro é parte de nosso processo organizativo como detentores de ofícios tradicionais de cura organizados no Movimento das Aprendizes da Sabedoria (MASA), desde os anos de 2007, tendo como principal desafio o reconhecimento público e valorização das práticas tradicionais desenvolvidas por nós nesta região.

Fortalecemos neste Encontro nossas práticas e conhecimentos tradicionais e nossa existência coletiva, ressaltando-o como fruto de nossas práticas tradicionais de cura “benzimentos, curas, rezas, simpatias, orações, esfregações, puxados, banhos, costuras de rendidura, massagens” e nossas manifestações culturais que unem fé,  tradição e devoção “novenas, mesadas de anjo, danças de São Gonçalo, procissões, recomendas” que são realizadas por nós nas diversas localidades dos municípios da região centro sul do Paraná, em que  se destacam os detentores de ofícios tradicionais como sujeitos deste processo organizativo.

Em nossa caminhada temos identificado diversos conflitos e situações que nos conduziram para uma aproximação de nossas realidades, tendo realizado nos anos de 2008 à 2011 o Mapeamento Social dos Detentores de Ofícios Tradicionais de Cura nos municípios de Rebouças e São João do Triunfo, resultando na identificação de 294 detentores de ofícios tradicionais nestes municípios. Informações que no encontro compartilhamos no lançamento do Boletim Informativo do Projeto Nova Cartografia Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil “Conhecimentos Tradicionais e Mobilizações Políticas: o direito de afirmação da Identidade de Benzedeiras, municípios de Rebouças e São João do Triunfo, Paraná”.

Como resultado de nossas trocas e discussões, na defesa nossa existência coletiva, encaminhamos em nosso Encontro, os seguintes pontos:

Compromissos
Ampliar o processo de mobilização, valorização e reconhecimento dos detentores de ofícios tradicionais de cura nos municípios já organizados e também em outras regiões do estado e do Brasil.

Fortalecer nosso movimento com o desafio de motivar nossas comunidades por intermédios de encontros de troca de experiências, para que nossos conhecimentos sejam de uso das comunidades; resgatar as práticas tradicionais que manifestam nossa cultura (Romaria de São Gonçalo, Mesada de Anjo, Olhos d´Água do Monge João Maria, Festas de Santo, Novenas, Procissões); envolver as gerações mais jovens nos espaços que nos organizamos, a fim de que estes, respeitem nosso modo de vida tradicional e acolham tais conhecimentos tradicionais, assegurando o repasse da tradição.

Intensificar a luta por políticas públicas de reconhecimento das identidades coletivas das benzedeiras e de seus serviços de saúde prestados de forma gratuita e solidária à comunidade em geral.

Lutar contra todas as formas de repressão e marginalização dos conhecimentos e saberes tradicionais de cura associados ao uso sustentável da biodiversidade como estratégia de manutenção e repasse de tais conhecimentos.

Reivindicações
Realização de encontros, seminários e reuniões com médicos e funcionários do sistema público de saúde a fim de amenizar os conflitos existentes entre as práticas e conhecimentos tradicionais e o sistema formal de saúde, sendo estes espaços articulados pela Secretaria de Estado da Saúde do Estado do Paraná.

Diálogo com a Secretaria de Estado da Saúde do Estado do Paraná a fim de regulamentar o livre acesso das benzedeiras aos postos e hospitais de saúde a fim de realizar benzimentos e costuras de rendidura aos pacientes internados que solicitarem a realização das práticas tradicionais de cura de forma complementar aos seus tratamentos convencionais de saúde.
Diálogo com o poder público a fim de fortalecer o reconhecimento e a valorização de políticas públicas voltadas às demandas dos povos auto–definidos como detentores de ofícios tradicionais de cura, fortalecendo localmente e regionalmente a efetivação da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil, instituída pelo Decreto Federal nº 6.040/2007, em consonância com a Constituição Federal em seus artigos 215 e 216, a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), também nos artigos 190 e 191 da Constituição do Estado do Paraná, somando-se a isso as Leis Municipais de Reconhecimento dos Detentores de Ofícios Tradicionais de Cura dos municípios de Rebouças/PR, inscrita sob o número 1.401/2010 regulamentada pela Decreto nº 027/2010 e São João do Triunfo/PR, 1.370/2011.

Instituição do Conselho Estadual de Povos e Comunidades Tradicionais do Paraná, a fim de que seja um espaço institucional de articulação e implementação de políticas públicas voltadas aos povos e comunidades tradicionais do Paraná, entre estes, os detentores de ofícios tradicionais de cura.

Efetivação da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos e Política Nacional das Práticas Integrativas e Complementares de Saúde no Sistema Público de Saúde, possibilitando a participação efetiva dos Detentores de Ofícios Tradicionais de Cura.

Fomento para a criação do Ponto de Cultura das Benzedeiras a nível regional a fim de valorizar e reconhecer as benzedeiras como agentes de promoção cultural, bem como, proporcionar estratégias para o processo organizativo mobilizado pelo Movimento Aprendizes da Sabedoria (MASA).

Realização do Encontro Nacional das Benzedeiras, possibilitando visibilidade social e a articulação entre os vários detentores de ofícios tradicionais de cura no Brasil e suas experiências organizativas e de práticas tradicionais de cura, por meio da Secretária da Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura.

Elaboração de estratégias junto aos órgãos de fiscalização e gestão ambiental para a regulamentação do livre acesso as plantas e ervas medicinais e Olhos d´Água do Monge João Maria em áreas de unidades de conservação; implementação de viveiros de ervas e plantas medicinais nas comunidades e município a fim de preservar e resgatar a biodiversidade de plantas medicinais de uso das benzedeiras; fiscalização do desmatamento desenfreado que ocasiona a extinção das plantas e ervas medicinais das matas nativas; proibição do uso de agrotóxico em áreas de plantas medicinais nativas e Olhos d´Água do Monge João Maria, locais sagrados de uso da coletividade dos detentores de ofícios tradicionais de cura.  

Desta maneira, confirmamos com nosso Encontro a força que vem das comunidades e se reforça no Movimento Aprendizes da Sabedoria, para sermos reconhecidos e alcançarmos nosso lugar de direito em todas as regiões em que estamos presentes. Sendo assim, nosso Encontro cumpriu com o objetivo de estimular nosso ânimo de continuar cuidando da vida, nossa missão Sagrada, dada por Deus e assumida por nós.

Rebouças - Paraná, 10 de novembro de 2012.

MOVIMENTO APRENDIZES DA SABEDORIA - MASA

INFORME 2º ENCONTRO DAS BENZEDEIRAS DO CENTRO SUL DO PARANÁ


INFORME 2º ENCONTRO DAS BENZEDEIRAS DO CENTRO SUL DO PARANÁ
  
Mística de abertura do Encontro, Dona Glorinha (Parteira e Benzedeira), 
Dona Chica (Parteira), Dona Donaria (Parteira e Benzedeira). Foto Lina Faria.
Nos últimos dias 09 e 10, cerca de 80 detentores de ofícios tradicionais de cura, auto-denominados como benzedeiras, benzedores, curandeiras, curadores, costureiras e costureiros de rendidura e/ou machucadura, rezadeiras e rezadores, remedieiras e remedieiros, massagistas tradicionais, parteiras e aprendizes de benzedura dos municípios de Fernandes Pinheiro, Inácio Martins, Irati, Rebouças, Turvo, São João do Triunfo e São Mateus do Sul, estiveram reunidos no 2º Encontro das Benzedeiras do Centro Sul do Paraná, realizado pelo Movimento Aprendizes da Sabedoria (MASA) na Sede da Terceira Idade, no município de Rebouças, região centro sul do Estado do Paraná.

Também participaram e contribuíram com evento cerca de 20 convidados entre autoridades, pesquisadores e apoiadores representantes da Articulação Puxirão dos Povos Faxinalenses (APF), Centro Missionário de Apoio ao Campesinato Antonio Tavarez Pereira (CEMPO), Centro de Apoio Operacional as Promotorias de Direitos Constitucionais (CAOP) do Ministério Publico do Estado do Paraná (MPE/PR), Instituto Ambiental do Paraná (IAP), Heifer Internacional, Instituto Chico Mendes de Proteção à Biodiversidade (ICMBio), Instituto Equipe de Educadores Populares (IEEP), Projeto Nova Cartografia Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil (PNCS), Rede Puxirão de Povos e Comunidades Tradicionais, Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), Secretária de Estado da Saúde (SESA), Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural (SCDC) do Ministério da Cultura (MinC).

Mística de abertura do Encontro. Foto: Lina faria
No primeiro dia do evento foi lançado o Boletim Informativo do Projeto Nova Cartografia Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil “Conhecimentos Tradicionais e Mobilizações Políticas: o direito de afirmação da Identidade de Benzedeiras, municípios de Rebouças e São João do Triunfo, Paraná”, o qual compartilha o processo organizativo das benzedeiras correspondente ao período de formação do MASA durante o 1º Encontro Regional das Benzedeiras que aconteceu em 2008 até o período preparatório do 2º Encontro das Benzedeiras do Centro Sul do Paraná em 2012.

O Procurador da Justiça Marcos Bittencourt Fowler (MPE/PR) teve valiosa contribuição á programação do Encontro, expondo os desafios para efetivação dos direitos das benzedeiras e os aparatos jurídicos que garantem tais direitos, destacando no entanto, que a organização social dos detentores de ofícios tradicionais de cura é essencial para que o reconhecimento e respeito sejam conquistados.

No final da tarde do dia 09, na Mesa “Políticas Públicas de Reconhecimento” a participação da Secretária de Estado de Saúde (SESA) por meio do Sr.João Antonio Almeida Júnior, Diretor da 4º Regional de Saúde Irati, teve como encaminhamento o compromisso da SESA em criar espaços de diálogo entre profissionais de saúde e benzedeiras a fim de articular estratégias para minimizar os conflitos entre o sistema formal de saúde e os detentores de ofícios tradicionais de cura, inclusive em relação ao reconhecimento e acolhimento das práticas tradicionais de cura no sistema público de saúde.

Dr.Ione Carvalho, Diretora Nacional de Cidadania e Diversidade Cultutal do MinC, manifestou o reconhecimento do MinC em relação ao importante trabalho de amor desenvolvido pelas benzedeiras em suas comunidades, que contribuem diretamente com a promoção da saúde à população e a manutenção da cultura tradicional. Destacou a necessidade em articular as experiências organizativas das benzedeiras a nível nacional, e apresentou as políticas disponíveis que podem serem acessadas pelas benzedeiras a fim de contribuir com a mobilização e reconhecimento dos detentores de ofícios tradicionais, entre elas os Pontos de Cultura que tem como função articular e promover visibilidade social as experiências culturais.

Mesa de Políticas Públicas de Reconhecimento com Dra.Ione Carvalho (SCDC/MinC)
e Ana Maria dos Santos (MASA). Foto: Lina Faria.
A noite se encerrou com a Dança de São Gonçalo apresentada pela Grupo de Romaria de São Gonçalo Família Moraes da comunidade de Góes Artigas, município de Inácio Martins que há mais de quatro gerações reproduzem culturalmente essa manifestação de fé e devoção.

No segundo dia de Encontro as benzedeiras por meio de oficinas temáticas trocaram experiências sobre plantas e ervas medicinais, simpatias, benzimentos, curas, rezas, simpatias, orações, esfregações, puxados, banhos, costuras de rendidura, massagens e demais práticas tradicionais de cura, espaços em que a troca de saberes e conhecimentos tradicionais foram enriquecidas pelas inúmeras folhas, ramos, cascas e raízes trazidos das comunidades e que fortaleceram a identidade coletiva do grupo, possibilitando também a integração e aprendizado dos aprendizes de benzedura.

Mística do 2º Encontro das Benzedeiras do Centro Sul do Paraná. Foto: Lina Faria.
Os trabalhos em grupo levantaram demandas e proposta das comunidades que serão diretrizes de luta do movimento nos próximos anos e que também contribuíram para organização e fortalecimento interno do MASA reafirmando o compromisso das benzedeiras em intensificar a luta pela manutenção, repasse e reconhecimento dos saberes e conhecimentos tradicionais de cura e de seus detentores, como sinal de resistência e preservação desse modo de vida tradicional de grande valia a toda a população e a preservação da cultura tradicional.

Para conhecimento segue no próximo post a CARTA DAS BENZEDEIRAS, que sintetiza os compromissos reafirmados pelas benzedeiras e as reivindicações que serão animo de luta para o próximo período. 

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Arquivo de notícias: Projeto alia medicina tradicional e cultura popular no Jardim Guanabara

Projeto alia medicina tradicional e cultura popular no Jardim Guanabara

Rezadeiras realizam o acolhimento daqueles que procuram atendimento no posto.

Há três anos, o posto Rebouças Macambira (Rua Creuza Rocha, s/n), no Jardim Guanabara, mantém um projeto onde rezadeiras realizam o acolhimento daqueles que procuram atendimento. A ideia é fazer da cultura popular uma aliada da medicina tradicional, tendo em vista o papel que as rezadeiras desempenham junto às suas comunidades.

De acordo com a coordenadora do posto, Maria da Conceição, muitas mães levam os filhos ao posto para receber o passe das rezadeiras antes de serem consultados pelos médicos. “Elas, além de importantes personagens da cultura popular, trabalham como vínculo do posto com a comunidade, auxiliando ainda na autoestima dos pacientes”, explicou. O posto Rebouças Macambira conta com três rezadeiras que aprenderam o ofício com suas mães e avós.
 
:: SERVIÇO

Local: CSF Rebouças Macambira - Rua Creuza Rocha, s/n - Jardim Guanabara

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Arquivo de notícias: Boletim Informativo das Benzedeiras

 BOLETIM INFORMATIVO DAS BENZEDEIRAS

“Conhecimentos Tradicionais e Mobilizações Políticas: o Direito de afirmação da identidade de Benzedeiras e Benzedores, municípios de Rebouças e São João do Triunfo, Paraná”

As Benzedeiras consolidaram seu espaço de organização social no 1º Encontro Regional de Benzedeiras que aconteceu no dia 06 de setembro de 2008 na UNICENTRO em Irati/PR por iniciativa da Associação Aprendizes da Sabedoria de Medicinais e Agroecologia (ASA) com apoio do Instituto Equipe de Educadores Populares (IEEP), Articulação Puxirão dos Povos Faxinalenses (APF) e Rede Puxirão de Povos e Comunidades Tradicionais. Neste momento foi formado o Movimento Aprendizes da Sabedoria (MASA), um espaço de articulação das Benzedeiras da região Centro-Sul do Paraná buscando a efetivação de direitos por meio da organização política das Benzedeiras.

Desde então nesses últimos quatro anos o MASA vem construindo sua luta na região Centro-Sul do Paraná, com maior ênfase nos municípios de Irati, Rebouças e São João do Triunfo, no entanto também realizou atividades nos municípios de Fernandes Pinheiro, Guarapuava, Inácio Martins, Prudentopólis, São Mateus do Sul, Santa Maria do Oeste. Neste período foram realizados três encontros municipais, dois mapeamentos sociais, inúmeros encontros comunitários e oficinas temáticas, dentre outros espaços de reunião, troca de experiências, articulação e reivindicação de direitos.

Nesse curto período de tempo as Benzedeiras conquistaram visibilidade social, por meio de reconhecimento local conquistando aprovação de duas leis municipais, dois prêmios nacionais e a importante integração à Rede Puxirão de Povos e Comunidades Tradicionais, a qual possibilitou a articulação das Benzedeiras com demais povos e comunidades tradicionais no Paraná, bem como, a participação em espaços de construção de políticas públicas para povos e comunidades tradicionais, inserindo as demandas das Benzedeiras na pauta do Estado.

A fim de dar visibilidade ao trabalho que vendo sendo realizado pela Benzedeiras o Movimento Aprendizes da Sabedoria com apoio do Projeto Nova Cartografia Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil organizou em abril deste ano o 1º Boletim Informativo das Benzedeiras do MASA intitulado “Conhecimentos Tradicionais e Mobilizações Políticas: o Direito de afirmação da identidade de Benzedeiras e Benzedores, municípios de Rebouças e São João do Triunfo, Paraná”. 

O Boletim registra importantes informações em relação ao processo de organização do MASA, bem como, ações desenvolvidas inclusive os Mapeamentos Sociais das Benzedeiras. O material está sendo usado como ferramenta de fortalecimento das Benzedeiras, contribuindo na mobilização das Benzedeiras para conhecerem seus direitos e também para participarem do 2º Encontro das Benzedeiras do Centro-Sul do Paraná que acontecerá nos dias 09 e 10 de novembro de 2012 em Rebouças / PR ocasião que será lançado oficialmente o Boletim Informativo das Benzedeiras, no entanto o mesmo está disponível para download em:

http://www.novacartografiasocial.com/index.php?option=com_phocadownload&view=file&id=169:01-conhecimentos-tradicionais-e-mobilizacoes-politicas-o-direito-de-afirmacao-da-identidade-de-banzedeiras-e-benzedores-municipio-de-reboucas-e-sao-joao-do-triunfo&Itemid=63


quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Arquivo de notícias: Encontro das Benzedeiras do Centro-Sul do Paraná

Encontro das Benzedeiras do Centro-Sul do Paraná
 O Movimento Aprendizes da Sabedoria (MASA) realizará nos dias 09 e 10 de novembro de 2012, nas dependências do Centro Cultural do município de Rebouças o 2º Encontro das Benzedeiras do Centro-Sul do Paraná.

Participarão do evento benzedeiras, benzedores, curadeiras, curadores, costureiras e costureiros de rendidura ou machucadura, rezadeiras, rezadores, remedieiras, remedieiros, massagistas tradicionais, parteiras e aprendizes de benzedura da região Centro-Sul do Paraná, além de autoridades, órgãos de pesquisa, entidades parceiras e movimentos sociais.

O objetivo do 2º Encontro é viabilizar um espaço para articulação e troca de experiências entre as Benzedeiras da região Centro-Sul do Paraná com intuito de fortalecer a luta do MASA pelo reconhecimento de direitos das Benzedeiras, por meio de diálogo com o poder público e elaboração de estratégias para superação dos conflitos étnicos, culturais, ambientais e sociais.

O “Encontrão das Benzedeiras” será sobretudo um espaço de diálogo,  primeiramente entre as Benzedeiras e num segundo momento entre Benzedeiras e poder público a fim de criar estratégias para o reconhecimento da identidade coletiva e cultural das Benzedeiras, bem como, seus serviços de saúde prestados gratuitamente à população.

Contatos e informações

E-mail: aprendizesdasabedoria@yahoo.com.br

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Arquivo de Notícias: Encontro de Benzedeiras do Centro Sul do Paraná e Boletim Informativo

Encontro e Boletim de Benzedeiras
 
A todos os leitores do blog da Rede Saúde e Cultura de Minas Gerais e àqueles que acompanham as discussões das benzedeiras e do direito à diversidade cultural no cuidado à saúde: estejam atentos pois em novembro haverá o encontro das benzedeiras do Paraná!


 E pra quem quiser saber ainda mais informações, estejam atentos, pois as Benzedeiras do Movimento Aprendizes da Sabedoria (MASA) da região Centro-Sul do Paraná organizaram um Boletim Informativo intitulado "Conhecimentos Tradicionais e Mobilizações Politicas" o qual relata o processo de organização politica das Benzedeiras como ferramenta de resistência para manutenção dos conhecimentos, saberes e práticas tradicionais de cura. 

O Boletim será lançado oficialmente durante o 2° Encontro das Benzedeiras do Centro-Sul do Paraná que acontecerá nos dias 09 e 10 de novembro de 2012 em Rebouças/PR, no entanto o Boletim já está sendo usado pelas Benzedeiras do MASA e está disponível para downlond em Nova Cartografia Social 


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