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segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Disciplina discute cultura quilombola em mata do Jardim Botânico da UFJF


Em uma clareira do Jardim Botânico da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), dezenas de pessoas circulavam mestre Tiana, ansiosos por conhecer um pouco mais sobre a cultura quilombola, seus ritos e práticas. O encontro, ocorrido na manhã desta quarta-feira, dia 6, faz parte do segundo módulo do curso de inverno “Artes e ofícios dos saberes tradicionais”, que tem como objetivo estabelecer um diálogo entre os saberes de matrizes afrodescendentes, indígenas e de práticas agrícolas conservacionistas e a produção do conhecimento acadêmico em diversas áreas. Além de ser um projeto de extensão, o curso equivale também a disciplina de graduação e de pós-graduação.
Com o tema “Cultura quilombola, resistência em festa”, o módulo, que segue até sexta-feira, dia 8, aborda conhecimentos ligados a noções de corpo, saúde, cura e doença, natureza, cultura e história a partir das experiências quilombolas. Em meio a tambores, fogueira e cânticos, Sebastiana Geralda Ribeiro da Silva, presidente da Associação Quilombo Carrapato da Tabatinga, situada em Bom Despacho (MG), compartilhou um pouco do que aprendeu ao longo de seus 82 anos, 67 deles atuando como “mestre”, ofício que herdou do avô, aos 15 anos.

Mestre Tiana falou de dança, arte, desenhos, culinária, vestuário, sempre com muita humildade. “Não sou professora e não vim aqui para ensinar nada, apenas para passar esperança a todos.” Ela também destacou a importância do intercâmbio de saberes entre membros da academia e integrantes da cultura quilombola do país. “Acho impressionante que hoje as pessoas estão parando para nos ouvir. Sempre fomos considerados uma cultura ‘inferior’ e hoje as pessoas estão dando mais valor a essa diversidade. Se fôssemos ouvidos desde o início, certamente seríamos um país mais preservado.”
De acordo com Carolina dos Santos Bezerra-Perez, professora do Colégio de Aplicação João XXIII e uma das responsáveis pela organização do módulo, juntamente com o professor Leonardo Carneiro (Geografia), o principal objetivo foi trazer mestres da cultura afrobrasileira para disponibilizar saberes que muitas vezes não aprendidos na academia. Ainda segundo ela, um importante passo foi dado com a sanção da Lei 10.639, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afrobrasileira e africana em todas as escolas, do ensino fundamental ao ensino médio. “É preciso desconstruir os preconceitos relativos à cultura negra e conhecer os valores civilizatórios desses grupos. Precisamos formar profissionais com outra sensibilidade.”
A roda também contou com a presença de Paulo Rogério da Silva, de Miracema (RJ) e Jeferson Alves de Oliveira, do grupo de Quilombolas do Tamandaré-Guaratinguetá (SP), que apresentaram um pouco do jongo, dança de origem africana dançada ao som de tambores como o caxambu.

Sobre o curso
Segundo o professor e coordenador do “Artes e ofícios dos saberes tradicionais”, Daniel Pimenta, 80 pessoas participam do curso de inverno, sendo 50 deles de variadas áreas da graduação, cinco da pós-graduação e 25 alunos de fora da UFJF. “Conseguimos alcançar nosso objetivo que era promover um debate interdisciplinar sobre essa cultura popular que muitas vezes não é ensinada nas universidades.” A previsão é de que um novo curso seja criado no próximo semestre, desde que haja demanda. Para este, não há mais possibilidade de participação, já que as inscrições estão encerradas.
O curso termina na próxima semana (11 e 15 de agosto), com o módulo “Cultura indígena na brisa da cura”, que contará com a presença dos mestres indígenas Ailton Krenak e Álvaro Tukano. Neste módulo, os estudantes terão acesso a vários aspectos das culturas de variadas etnias indígenas, abordando suas diversidades filosóficas, religiosas, artísticas e medicinais. Em uma nova roda de conversa, será discutida a preservação dos valores ancestrais e pré-colombianos, que permanecem vivos através da oralidade, e a luta pela resistência espiritual à pressão da atual civilização. Está previsto um novo encontro no Jardim Botânico, em data a ser definida.
O curso foi incluído primeiramente na grade da Universidade de Brasília (UnB), disponibilizado por iniciativa do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa (INCTI), que faz parte do programa de Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Diante dos dos resultados positivos obtidos, o Ministério da Cultura, juntamente com Ministério de Ciência e Tecnologia, disponibilizou uma linha de financiamento para que outras cinco universidades pudessem levar essa experiência a seus alunos e a UFJF foi uma das contempladas.
Fonte: Site UFJF
Fotos: Géssica Leine

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Guardiãs da cura: a sabedoria popular das benzedeiras em Alagoas

Por Renata Arruda

Principalmente no interior das cidades nordestinas, a figura folclórica das benzedeiras ou rezadeiras curam, de acordo com a tradição popular, algumas enfermidades da alma e do corpo com rezas mágicas e especiais. Geralmente, essas mulheres utilizam plantas como os ramos de arruda, mastruz, crista de galo, entre outras, dependendo da moléstia sofrida.

Quebranto, ventre caído, fogo selvagem e mau olhado são algumas das “doenças” lendárias mais comuns no universo da cura popular dessas misteriosas senhoras. Quem não se lembra de ter sido levado, quando criança, para se tratar com uma dessas curandeiras? Não importava o motivo, fosse dor de cabeça ou cansaço, muitas crianças eram levadas pelas anciãs da família aos tais rituais milagrosos.

A Agência Alagoas conversou com três mulheres de fé e encantos que, por meio da antiga tradição quilombola, levam cura e paz para milhares de alagoanos. Na série de reportagens Guardiãs da Cura, contaremos a história dessas mulheres que curam pela fé e pelo amor.

A pioneira e mais ilustre herdeira da cultura quilombola

Anézia Maria da Conceição, 112 anos, é a mais antiga benzedeira de Alagoas, considerada patrimônio vivo e uma verdadeira fonte inesgotável de sabedoria primitiva da arte popular. Moradora célebre da cidade de Santa Luzia do Norte, área metropolitana de Maceió, é bastante querida pela população.

Dizer que já rezou por quase todos os moradores não é exagero, pois até hoje, mesmo com a fragilidade decorrente da idade avançada e a voz arrastada, ainda realiza proezas com quem a procura. Além de ser rezadeira, desde os 12 anos de idade costumava realizar partos na região.

“Praticamente todas as mulheres das cidades vizinhas vinham aqui para casa para minha mãe [Anézia] fazer os partos. Naquela época, não tinha médico por aqui, e era ela quem trazia as crianças para o mundo”, diz Nêga, a primogênita entre as cinco filhas da benzedeira.


Tantas décadas fazendo orações e partos lhe renderam o carinho da população e uma bela homenagem. Em breve, Anézia ganhará uma estátua de destaque na Praça da Liberdade, a principal da cidade.

Católica fervorosa, aprendeu a rezar ainda criança e o dom da cura não tardou em chegar. Ela afirma que aos 10 anos já ouvia uma voz divina que a orientava a ajudar as pessoas: “Conseguia ver o que estava de errado no corpo e na alma das pessoas e Deus me usava como instrumento para socorrê-las. A cura dependia da fé de cada um, esse era o segredo”.

Devota de padre Cícero, Anézia conta que em uma de suas romarias à Juazeiro do Norte presenciou o religioso profetizar sobre a futura perda da visão da rezadeira. O prenúncio se cumpriu quando, aos 80 anos, ela realizou o último parto. Mesmo com a cegueira, continuou usando os outros talentos para trazer bem-estar às pessoas até hoje.

Dona Anézia teve cinco filhos, 40 netos, 20 bisnetos e dez tataranetos. Dos descendentes, nenhum herdou o seu dom.

Fonte: Agência Alagoas

sexta-feira, 25 de julho de 2014

25 de Julho: toda mulher negra é um quilombo



Por Jarid Arraes

Tereza de Benguela foi uma mulher negra guerreira, líder do quilombo de Quariterê, em Cuiabá. Nessa sexta-feira, ela é símbolo do 25 de Julho, Dia da Mulher Negra no Brasil; no entanto, é necessário muito ímpeto de pesquisa para conhecer mais a seu respeito, já que sua história foi completamente ignorada e apagada. Embora neste ano o reconhecimento oficial finalmente tenha chegado, no final das contas, Tereza ainda é mais uma mulher negra negligenciada pela história brasileira.
A história das mulheres negras no Brasil nunca foi dignamente contada: para a maioria das crianças e jovens negras, há pouca esperança de que aprendam sobre figuras femininas negras em quem possam se espelhar. Mas não por falta de referências reais – pois, à exemplo de Tereza de Benguela, existiram e ainda existem muitas -, e sim porque o racismo brasileiro encontra na misoginia um mecanismo eficiente de silenciamento, tentando varrer para debaixo do tapete as vivências inspiradoras de tantas corajosas guerreiras negras.
Apesar de tudo, a história da vida de Tereza de Benguela resiste ao tempo, mesmo com o racismo e o machismo, sobrevivendo devido ao esforço incansável de centenas de jovens negras, que buscam por ícones feministas além das intelectuais da Europa e outras mulheres com as quais nem sempre conseguem se identificar. A persistência de Tereza não se deixa ser sufocada nem mesmo por toda a força colonizadora escravocrata que perdura até hoje: as mulheres negras do passado e do presente existem e permanecem lutando para transformar a realidade.
Nesse sentido, o dia 25 de Julho não é somente uma data oficial para que uma líder quilombola seja lembrada; é também um dia para que as próprias batalhas travadas pelas mulheres negras de hoje sejam expostas. Cada mulher negra que se mantém caminhando e enfrenta o racismo e o machismo em sua rotina diária é também um ícone de força e celebração da negritude.
Independente dos meios pelos quais atuem, toda mulher negra brasileira é uma fortaleza. Seja na preservação de seus ritos religiosos, no trabalho árduo que provê o sustento da família, na coragem de não se calar ou no esforço para transpor as barreiras na direção de uma vida melhor, todas essas mulheres são Tereza de Benguela – bravas líderes da revolução cotidiana.
O dia 25 de Julho é, afinal, um dia de luta. Toda mulher negra é um quilombo.
Fonte: Geledés

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Arquivo de notícias: A história da parteira que ajudou a colocar mais de cem crianças no mundo


Rossilda Joaquina da Silva, 76 anos, simboliza bem a data de hoje, 20, de novembro, Dia da Consciência Negra. Além de parteira tradicional, benzedeira e costureira, ela gosta de arrastar a bainha de sua saia dançando batuque, e ainda, é uma das moradoras mais antigas do quilombo do Curiaú, em Macapá.

Segundo Rossilda, suas mãos foram responsáveis por mais de cem partos, a maioria realizada no quilombo. “Isso foi um dom que Deus me deu. No meu primeiro parto, eu fiquei emocionada, fiquei nervosa, mas ocorreu tudo bem comigo e com a mulher, tanto que já fiz parto até dos filhos dela”, contou.

“As pessoas me chamam para fazer o parto. Ao longo desse tempo, mais de cem crianças nasceram pelas minhas mãos. É curioso, mas muitos partos foram de mulheres que vinham do interior. Antes de chegar ao hospital a bolsa rompia, ou coisa parecida. Como não dava tempo de chegar ao hospital elas paravam aqui na comunidade. Foram muitos nascimentos assim. Eu já fiz parto até dentro de um caminhão. Metade da criança já estava para fora”, rememora.

A quilombola representa a nação negra do Curiaú. Ela é mãe de 13 filhos, avó de 53 netos, e possui 10 bisnetos.

O dom de benzer também foi adquirido de forma empírica. Quando uma criança nascia com algum problema, se via obrigada a lembrar-se das tradições ensinadas por sua mãe, Venina da Silva (in memorian), conhecida por lutar em defesa dos negros. Ela foi retratada em um livro escrito por seus próprios netos que contaram as bandeiras de luta por ela empunhadas.

Além de Rossilda, o Curiaú possui outros personagens. Maria das Chagas dos Santos, 60 anos, é matriarca da família, e durante a reportagem comandava o trabalho de preparação da mandioca a fim de produzir farinha para consumo próprio.

“Aprendi tudo com os meus pais. Eu comecei a ir para a roça com oito anos e até hoje eu preservo as tradições”, afirmou.

Ao seu lado, também estavam os seus filhos e netos. As crianças aprendiam o manejo da mandioca, como se já soubessem daquilo há muito tempo, mostrando que a tradição de produzir farinha de mandioca perpetuará por longos anos naquela comunidade.

Fonte: Café&Cia

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Arquivo de notícias: 1º Encontro de Educação Popular, Intergeracional, Patrimonial e Ambiental / Paraíba

1º Encontro de Educação Popular, Intergeracional, Patrimonial e Ambiental acontece de 10 a 12/12 23 nov 2012 

A Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em parceria com a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), realiza, de 10 a 12 de dezembro, no Auditório do Departamento de Psicologia, em Bodocongó, o 1º Encontro Regional de Educação Popular, Intergeracional, Patrimonial e Ambiental: Reflexões Transdisciplinares, que vai reunir docentes e alunos pesquisadores do meio acadêmico-científico, bem como protagonistas das diferentes idades etárias (crianças, jovens, adultos e idosos), para socializarem experiências de pesquisa e extensão.

Além disso, contadores de histórias de vida relacionadas aos campos dos saberes da Educação Popular, Intergeracional e Patrimonial participarão das atividades do encontro, em uma perspectiva transdisciplinar, que busca fortalecer a interlocução entre Universidade-Escola-Comunidade quanto ao fomento de pesquisas nestas áreas do conhecimento, disseminar ações extensionistas realizadas por meio de práticas sócio educativas e culturais na escola e na comunidade, com diversos segmentos da sociedade, além de refletir sobre a formação docente (inicial e serviço) no espaço escolar.

Durante os três dias do evento serão realizados grupos temáticos e mesas redondas sobre “Memórias indígenas e quilombolas na Paraíba”, “Práticas educaticas e memórias”, “Educação Popular, Cultura e Cidadania”, “Educação Popular em Saúde”, “Memória e Educação Ambiental”, “Educação Patrimonial na escola e em outros espaços formativos”, “Educação Intergeracional no espaço escolar e extra escolar”, “A Educação Popular em Saúde: trajetórias e desafios” e “Narrando experiências de idosos e resignificando aprendizagens”.

Os interessados em inscrever trabalhos podem enviar seus resumos até o dia 30 de novembro, para o email 1ereipa@gmail.com. As inscrições de ouvintes estão sendo feitas até o dia 10 de dezembro. 

Outras informações podem ser obtidas através do endereço eletrônico http://ereipa.wix.com/ereipa ou pelo telefone (83) 2101-1560.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Arquivo de notícias: Música tradicional no Quilombo João Surá


A música tradicional no quilombo João Surá


 Localizada no Nordeste do Paraná, próximo ao município de Adrianópolis, a comunidade de João Surá, cravada na região do Vale do Ribeira, possui 206 anos de existência. O documentário João Surá – música tradicional no quilombo, da cineasta e pesquisadora Lia Marchi que será lançado este mês apresenta o cotidiano das 40 famílias herdeiras de uma história culturalmente muito rica e que, apesar do êxodo rural, ainda abriga tradições seculares.


Lia conta que a dificuldade de acesso para chegar a Comunidade Quilombola João Sura – onde é preciso passar por uma estrada de terra de cerca de 60 quilômetros – favoreceu a manutenção de celebrações musicais como a folia do Divino, a dança de São Gonçalo, a encomendação de almas e a festa de Santo Antônio - padroeiro do quilombo. “Nossos filmes buscam contar para todo mundo, de maneira acessível, um pouco desse universo quase desconhecido. A proposta é ser uma ponte entre essa comunidade e o público da cidade”, considera.

A cineasta não concorda com discurso apocalíptico que diz que a cultura tradicional está acabando e vai morrer. “Na verdade existe um mundo pulsante e estamos em um momento de grandes acontecimentos”. Ela explica que o documentário nasceu da vontade de utilizar o audiovisual para chegar ao público com uma linguagem onde os ‘artistas’ ganham vida. “Na migração do campo para cidade, muitas pessoas acabam se instalando em centros urbanos distantes do seu modo de vida, de sua tradição e perdem a conexão com sua raiz. Vão se perdendo os códigos éticos, culturais que mantêm uma comunidade coesa. Acredito que nosso trabalho é a base para uma Cultura da Paz, que busca mostrar um tipo de vida onde as pessoas estão mais próximas, integradas e desfrutam do prazer que é se reunir, conversar e festejar em conjunto”.

O documentário mostra que alguns avanços já foram conquistados em João Surá, como a construção da escola quilombola Diogo Ramos (cuja preocupação é uma educação voltada para a valorização e o conhecimento da cultura local), a existência de um posto de saúde e o acesso à internet. Lia Marchi mostra a preocupação da comunidade em organizar uma Associação de Moradores que reivindica melhorias sociais para seus pares. Um dos resultados significativos foi a certificação do quilombo pela Fundação Cultural Palmares no ano de 2005. “O grande desafio dos quilombolas é preservar as práticas do grupo e os saberes dos mais velhos”, conta a cineasta que vê nas crianças e jovens a grande esperança de continuidade para a realização das festas e devoções ali mantidas. Entre as tradições do quilombo apresentadas no documentário estão:

A Romaria de São Gonçalo, festa realizada para cumprir uma promessa em agradecimento à bênção recebida. Nela, os tocadores e as cantadeiras entoam versos que, no dizer dos mestres, são inspirados pelo santo. Dançam em louvor a ele. É grande a devoção.

A Dança de São Gonçalo é feita nas chamadas “voltas”. A duração de cada volta varia conforme a quantidade de pares que seguem em duas filas fazendo reverência ao altar sem jamais dar as costas ao santo.

A Alvorada do Divino costuma acontecer ao final de uma romaria. Acompanhando a bandeira e comandada pelo mestre e sua viola, a comunidade canta dando uma volta na igreja. A bandeira do Divino também costuma percorrer a localidade no tempo próprio da festa do Espírito Santo, da Páscoa ao Pentecostes.

A Encomendação de Almas, ou recomenda, é uma tradição dos moradores. Em geral no período da quaresma, e raramente em outras ocasiões, cantam para as almas no cemitério, diante de uma cruz ou, ainda, à porta da igreja. Os cantos expressam o respeito e a devoção de todos.

A cineasta e pesquisadora Lia Marchi conta que estas tradições são práticas ligadas à vida rural da comunidade de João Surá. “Os detentores desse conhecimento são os mais velhos, como é o caso da cantadeira Joana de Andrade Pereira, uma líder comunitária contemplada com o Prêmio Culturas Populares 2009 – Mestra Dona Izabel, do Ministério da Cultura. Agradeço a ela e muitos outros que nos guiaram na música e na vida do quilombo”. O documentário João Surá – música tradicional no quilombo tem patrocínio do Banco do Brasil por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Curitiba.

<< Olaria Cultural >>

Desde 1998 Lia Marchi desenvolve pesquisas sobre música e cultura tradicional. Fundou a produtora cultural Olaria Projetos de Arte e Educação (1999), da qual é diretora artística, e coordena a realização de projetos que buscam documentar e divulgar o rico universo das tradições musicais populares brasileiras ainda pouco conhecidos pela maioria da população.
Entre suas principais publicações estão os livros Tocadores – homem, terra, música e cordas (2002), Tocadores Portugal – Brasil: sons em movimento (2006) e, mais recentemente, Folias do Norte do Paraná.

Como cineasta Lia Marchi produziu os documentários Tocadores – Brasil Central e Tocadores – Litoral Sul (2003), Divino – folia, festa, tradição e fé no litoral do Paraná (2008), Dias de Reis – a história de uma companhia de Reis de Curitiba (2009), Fandango – dança tradicional do Paraná (2012), Folias do Norte do Paraná (2012) e João Surá – música tradicional no quilombo (2012).

Hoje a Olaria Cultural desenvolve filmes, livros, oficinas numa abordagem múltipla sobre os modos de encarar o registro, documentação e o diálogo sobre as culturas tradicionais e estabelecer o dialogo com o universo da educação.

Serviço:
Documentário João Surá – música tradicional no quilombo, da cineasta e pesquisadora Lia Marchi.
Duração: 26 min.
Classificação etária: livre.
Preço de venda: R$25,00

Mais informações site: www.olariacultural.com.br ou pelo email contato@olariacultural.com.br.

Fonte: After hour

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Arquivo de notícias: Brasil Quilombola


Brasil Quilombola

Ministra da Cultura entrega certificado que reconhece comunidades quilombolas do Piauí
Ministra entregou à representante Maria Rosalina
dos Santos certidão de reconhecimento de comunidades quilombolas do Piauí
Um dia após lançar os editais voltados a produtores e criadores negros, a ministra da Cultura, Marta Suplicy, participou da cerimônia alusiva ao Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, no Palácio do Planalto, na manhã desta quarta-feira, 21.

Durante a cerimônia, a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), em parceria com os ministérios do Desenvolvimento Social, do Desenvolvimento Agrário, da Educação e da Cultura, lançou uma série de medidas que ampliam o Programa Brasil Quilombola.

Coube à ministra Marta entregar a certidão de reconhecimento de 23 comunidades quilombolas do Piauí para a representante da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), Maria Rosalina dos Santos. Essas comunidades se somarão a outras 1,8 mil já certificadas pela Fundação Palmares, entidade vinculada ao Ministério da Cultura.

Políticas sociais

A intenção do governo federal, a partir dessas medidas, é a regularização fundiária, a inclusão produtiva, a assistência técnica rural e o acesso às políticas sociais das comunidades quilombolas.

A presidenta Dilma Rousseff defendeu que fazer política social em nosso país significa atender a população que foi tradicionalmente afastada dos ganhos e das riquezas. “Nós temos que combinar essa política ampla e social, como é o caso do Bolsa Família, do Brasil Sem Miséria, com políticas voltadas para ações afirmativas de raça e de gênero”, disse.

(Texto: Cora Dias, Ascom/MinC)
(Fotos: Elisabete Alves, Ascom/MinC)

terça-feira, 20 de novembro de 2012

20 de novembro: Dia da consciência negra

Denise Porfírio

No Brasil, o dia 20 de novembro representa um importante momento da história, especialmente para 52% da população brasileira, que é representada por pretos e pardos. A data lembra a morte do líder Zumbi dos Palmares, que lutou pela libertação dos negros escravizados, durante o período colonial no país. Apesar da data ter sido instituída como o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra pela Lei 12.519/2011, ainda não é considerada feriado nacional.

A adesão ao feriado ou instituição de ponto facultativo é decisão legal de cada estado ou município. Mais de 700 cidades já adotaram feriado, no Dia da Consciência Negra. A data é considerada como uma ação afirmativa de promoção da igualdade racial e uma referência para a população afrodescendente dedicada à reflexão sobre as consequências do racismo e sobre a inserção do negro na sociedade brasileira.  

Caso seja sancionado pela presidente Dilma Rousseff, o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, será o primeiro feriado do país originário da mobilização do movimento negro e o nono feriado nacional, juntamente com as seguintes datas: 1º de janeiro (Confraternização Universal), 21 de abril (Tiradentes), 1º de maio (Dia do Trabalho), 7 de setembro (Independência do Brasil), 12 de outubro (Nossa Senhora Aparecida), 2 de novembro (Finados), 15 de novembro (Proclamação da República) e 25 de dezembro (Natal).

Há ainda quatro datas comemorativas flexíveis, as quais, embora popularmente conhecidas como feriados nacionais, não são reconhecidas pela legislação brasileira – Terça-feira de Carnaval, Sexta-feira da Paixão, Domingo de Páscoa e o Corpus Christi.

Celebrações - As atividades alusivas a este dia, são celebradas ao longo de todo mês de novembro, ampliando os espaços de discussão sobre as questões raciais. Um número cada vez mais significativo de entidades da sociedade civil, principalmente o movimento negro, tem se mobilizado em todo o país, em torno da participação do negro nas diferentes áreas da sociedade: emprego, educação, segurança, saúde, entre outras.


Zumbi - Zumbi foi um dos principais líderes do Quilombo do Palmares, em Alagoas, área usada pelos escravos para fugir do domínio dos senhores de engenho. As primeiras referências à Palmares são de 1580, na região da Serra da Barriga, onde fica hoje o Parque Memorial Quilombo dos Palmares.  Há estimativas de que o quilombo resistiu mais de 100 anos.

O líder do Quilombo dos Palmares, no final do século XV, era Ganga Zumba, tio de Zumbi. Em 1678, o governador da Capitania de Pernambuco ofereceu um acordo de paz a Ganga Zumba, que aceitou, mas nem todos concordaram. Aconteceu, então, uma rebelião, liderada por Zumbi, que governou o grupo por 15 anos. Foram necessárias 18 expedições do governo português, liderados por bandeirantes, para erradicar Palmares.

Zumbi adotou uma estratégia de defesa baseada em táticas de guerrilha. Os bandeirantes descobriram, através de um delator, o esconderijo do líder. E em 20 de novembro de 1695, eles mataram Zumbi em uma emboscada. Sem outra liderança, Palmares sobreviveu até 1710, quando se desfez. Desde 1995, Zumbi faz parte do panteão de Herois da Pátria.

Hoje, os quilombolas, nome dado aos descendentes dos moradores dos antigos quilombos, são reconhecidos e suas áreas são demarcadas, a fim de protegê-los, contribuindo para a manutenção das tradições e a ancestralidade da cultura negra. Atualmente, 2002 comunidades remanescentes dos quilombos estão certificadas pela Fundação Palmares e 1711 certidões foram emitidas.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Observatório de Iniciativas: Associação Brasileira de Pesquisadores Negros

A raça, mesmo em meio a tantas polêmicas, segue sendo variável importante na distinção de possibilidades de percursos no Brasil.

Em meio à defesa da visibilidade desta diferença e de uma ação efetiva frente a ela, foi criada a Associação Brasileira de Pesquisadores Negros, que tem sua descrição colocada abaixo.

Aproveitem a riqueza de seu material.

A Associação Brasileira de Pesquisadores Negros é uma Associação sem fins lucrativos com sede no Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Rio de Janeiro), constituída sem limite de prazo para a sua duração e que se destina à defesa da pesquisa acadêmico-científica e/ou espaços afins realizadas prioritariamente por pesquisadores negros, sobre temas de interesse direto das populações negras no Brasil e todos os demais temas pertinentes à construção e ampliação do conhecimento humano.




segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Políticas Públicas para comunidades quilombolas

A Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (SEPPIR/PR) abriu Chamada Pública 002/2012,  de assinatura de convênios para projetos de instituições privadas, sem fins lucrativos,  voltados para a capacitação de lideranças quilombolas, com foco no fortalecimento institucional e desenvolvimento local.Os convênios, que somam um total de R$ 1,2 milhão, serão firmados com a SEPPIR depois da seleção das propostas. Atualmente, 1.834 comunidades, certificadas e/ou tituladas, são oficialmente reconhecidas pelo Governo Federal.Os convênios têm como objetivo apoiar efetivamente as iniciativas que contribuam para o empoderamento e autonomia da população quilombola.

Os critérios de pontuação da Chamada Pública foram elaborados de maneira a garantir a priorização das propostas apresentadas pelas próprias organizações representativas deste segmento populacional; ou por proponentes que demonstrem ter familiaridade com o universo quilombola, tanto de trabalho in loco quanto acadêmico (de produção de conhecimento para construção de políticas públicas); e que incluam em suas equipes executoras pessoas das comunidades quilombolas a serem atendidas. As propostas poderão ter orçamento entre R$ 120 mil e R$ 200 mil, voltados para gastos de custeio (capacitação, formação, incentivo, dentre outros).

Esta é a segunda chamada pública da SEPPIR voltada para Povos e Comunidades Tradicionais em 2012. A primeira, já na fase final do processo de seleção, contemplou os povos tradicionais de matriz africana.

Programa Brasil Quilombola (PBQ)

A Chamada Pública é uma das ações da SEPPIR no contexto do Programa Brasil Quilombola (PBQ), lançado em 2004, para consolidar os marcos da política de Estado para os territórios quilombolas. O PBQ teve sua institucionalização ampliada com a publicação do Decreto 6261, de 2007, que agrupa as ações voltadas às comunidades em quatro eixos: acesso à terra; infraestrutura e qualidade de vida; inclusão produtiva e desenvolvimento local; e direitos e cidadania.

Já existem muitos empreendimentos quilombolas consolidados, e outros em fase inicial e/ou intermediária, com destaque para o arroz quilombola do Sul, a banana orgânica de São Paulo, os produtos de castanha-do-Pará, o artesanato de Pernambuco, entre outras comunidades.

Quilombolas

As comunidades quilombolas são grupos étnico-raciais segundo critérios de auto-atribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida . Localizam-se em 25 estados da federação, sendo a maior concentração nos estados do Maranhão, Bahia, Pará, Minas Gerais e Pernambuco. Os únicos estados que não registram ocorrências destas comunidades são o Acre e Roraima.

Fonte: SEPPIR
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