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quarta-feira, 5 de março de 2014

A gestação do povo brasileiro, a universidade e o saber popular

 Leonardo Boff*

O povo brasileiro ainda não acabou de nascer. Vindos de 60 países diferentes, aqui estão se mesclando representantes destes povos num processo aberto, todos contribuindo na gestação de um povo novo que um dia acabará de nascer.

O que herdamos da Colônia foi um estado altamente seletivo, uma elite excludente e uma imensa massa de destituídos e descendentes de escravos. O cientista político Luiz Gonzaga de Souza Lima na sua original interpretação do Brasil nos diz que nascemos como Empresa Transnacionalizada, condenada a ser até hoje fornecedora de produtos in natura para o mercado mundial (cf. A refundação do Brasil, 2011).

Mas apesar deste constrangimento histórico-social, no meio desta massa enorme maduraram lentamente lideranças e movimentos que propiciaram o surgimento de todo tipo de comunidades, associações, grupos de ação e de reflexão que vão das quebradeiras de côco do Maranhão, aos povos da floresta do Acre, dos  sem-terra do sul e do nordeste, das comunidades de base, aos sindicatos do ABC paulista.

Do exercício democrático no interior destes movimentos nasceram cidadãos ativos; da articulação entre eles, cada um mantendo sua autonomia, está nascendo uma energia geradora do povo brasileiro que lentamente chega à consciência de sua história e projeta um futuro diferente e melhor para todos.

Nenhum processo desta magnitude se faz sem aliados, sem a ligação orgânica daqueles que manejam um saber especializado com os movimentos sociais comprometidos. É aqui que a universidade é desafiada a alargar o seu horizonte. Importa que os mestres e alunos  frequentem a escola viva do povo, como praticava Paulo Freire, e permitir que gente do povo possa entrar nas salas de aula e escutar os professores nas matérias relevantes para eles como eu mesmo fazia nos meus cursos na UERJ do Rio de Janeiro.

Essa visão supõe a criação de uma aliança entre a inteligência acadêmica com a miséria popular. Todas as universidades, especialmente após a reforma de seu estatuto por Humboldt em 1809 em Berlim que permitiu as ciências modernas ganharem sua cidadania acadêmica ao lado da reflexão humanística que criou outrora a universidade, se tornaram o lugar clássico da problematização da cultura, da vida, do homem, de seu destino e de Deus. As duas culturas – a humanística e a  científica - mais e mais se intercomunicam no sentido de pensar o todo, o destino do próprio projeto científico-técnico face às intervenções que faz na natureza e sua responsabilidade pelo futuro comum da nação e da Terra. Tal desafio exige um novo modo de pensar que não segue uma lógica do simples e linear mas do complexo e do dialógico.

As universidades são urgidas a buscar um enraizamento orgânico nas periferias, nas bases populares e nos setores ligados diretamente  à produção. Aqui pode se estabelecer uma fecunda troca de saberes, entre  o saber popular, de experiências feito, e o saber acadêmico, constituído pelo espírito crítico; dessa aliança surgirão seguramente novas temáticas teóricas nascidas do confronto com a anti-realidade popular e da valorização da riqueza incomensurável do povo na sua capacidade de encontrar, sozinho, saídas para os seus problemas. Aqui se dá a troca de saberes, uns completando os outros, no estilo proposto pelo prêmio Nobel de Química (1977) Ilya Prigorine (cf.A nova aliança, UNB 1984).

Deste casamento, se acelera a gênese de um povo; permite um novo tipo de cidadania, baseada na co-cidadania dos representantes da sociedade civil e acadêmica e das bases populares que tomam iniciativas por si mesmos e submetem o Estado a um controle democrático, cobrando-lhe os serviços básicos especialmente para as grande populações periféricas.

Nestas iniciativas populares, com suas várias frentes (casa, saúde, educação, direitos humanos, transporte coletivo, etc), os movimentos sociais sentem necessidade de um saber profissional. É onde a universidade pode e deve entrar, socializando o saber, oferecendo encaminhamentos para soluções originais e abrindo perspectivas às vezes insuspeitadas por quem é condenado a lutar só para sobreviver.      

Deste ir-e-vir fecundo entre pensamento universitário e saber popular  pode surgir o bio regionalismo com um desenvolvimento adequado àquele ecossistema e à cultura local. A partir desta prática, a universidade pública resgatará seu caráter público, será realmente a servidora da sociedade. E a universidade privada realizará sua função social, já que em grande parte é refém dos interesses privados das classes proprietárias e feita  chocadeira de sua reprodução social.

Esse processo dinâmico e contraditório só prosperará se estiver imbuído de um grande sonho: de ser um povo novo, autônomo livre e orgulhoso de sua terra. O antropólogo Roberto da Matta bem enfatizou que o povo brasileiro criou um patrimônio realmente invejável: “toda essa nossa capacidade de sintetizar, relacionar, reconciliar, criando com isso zonas e valores ligados à  alegria, ao futuro e à esperança” (Porque o brasil é Brasil, 1986,121).

Apesar de todas tribulações históricas, apesar de ter sido considerado, tantas vezes, jeca-tatu e joão-ninguém, o povo brasileiro nunca perdeu sua auto- estima e o encantamento do mundo. É um povo de grandes sonhos, de esperanças inarredáveis e utopias generosas, um povo que se sente tão imbuído pelas energias divinas que estima ser Deus brasileiro.

Talvez seja esta visão encantada do mundo, uma das maiores contribuições que nós brasileiro podemos dar à cultura mundial emergente, tão pouco mágica  e tão pouco sensível ao jogo, ao humor e à convivência dos contrários.

*Leonardo Boff é teólogo, escritor e autor de "A força da ternura", Mar de Idéias, Rio 2012.

Fonte: Jornal do Brasil, 03/03/2014

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Conheça a Recid - Rede de Educação Cidadã

Breve história da RECID

 

A RECID nasceu como articulação entre movimentos sociais e governo, no ano de 2003. Em 2002, o presidente da República eleito, Luis Inácio Lula da Silva, apresentou como bandeira de seu governo o Programa Fome Zero e convidou, entre outros, o teólogo, escritor e assessor de movimentos sociais populares, Frei Betto, para integrar sua equipe.

Frei Betto apresentou o projeto de mobilização social, com o propósito de introduzir no Programa Fome Zero o trabalho de base, capaz de organizar as famílias que integrariam o programa. A RECID inicialmente chamou-se Talher.

No âmbito do governo federal, para a realização desse projeto, foi criado o Gabinete de Mobilização Social, ligado à Presidência da República. Frei Betto buscou o diálogo com vários setores populares motivados naquele momento para a luta contra a fome, apresentando a necessidade de se resgatar a educação popular para se chegar aos mais pobres em vista de sua emancipação e organização para a transformação estrutural do país, por meio da reivindicação dos direitos.

A estrutura inicial do setor liderado por Frei Betto era pequena comparada à missão que se colocava. Apenas sete pessoas, com experiência como educadoras populares, respondiam por essa articulação inicial: Eliane Martins, Flávio Lyra, Ivo Poletto, Marlene Moura, Ranulfo Peloso, Rogério Augusto Silva Pinto e Selvino Heck. Essa equipe começa a articular setores sociais de base popular no semiárido brasileiro, inicialmente. A intenção era construir uma Rede de Talheres nos estados e municípios, prioritariamente onde estava sendo implantado o Programa Fome Zero.

Essa ação recebeu o nome de Projeto de Educação Cidadã e de Mobilização Social. Um trabalho a ser realizado com pessoas, movimentos e entidades que atuassem com a educação popular e aceitassem participar como parceiras nas iniciativas do programa Fome Zero. A estratégia metodológica era de multiplicar a articulação de educadores populares em todos os estados para, com sua ação, provocar a organização de equipes de educadores em todos os municípios do país.

Buscou-se elaborar, coletivamente, uma estratégia de trabalho e um plano de ação para responder ao desafio colocado pela proposta de educação cidadã e mobilização social. Como parte importante dessa articulação, foram realizados: um encontro regional, com participação de representantes de nove estados, em junho de 2003, em Fortaleza; e dois Encontros Nacionais, o primeiro em outubro, em Belo Horizonte, e o segundo em novembro de 2003. Entre as propostas iniciais para esse trabalho, destacam-se a valorização das ações já desenvolvidas pelos movimentos sociais populares, a estratégia metodológica da educação popular e a proposta de formação multiplicadora e mobilização social, articulada pelos movimentos populares. O trabalho contava com as parcerias dos movimentos sociais populares, com seus educadores e educadoras, alguns contratados por esses movimentos, outros, atuando de forma voluntária.

Em outubro de 2004, é liberado um recurso financeiro que possibilitou a contratação de 80 educadores e educadoras para atuarem na Rede de Educação Cidadã – Talher, nos estados e distrito federal. Para isso, foi feito um convênio entre o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), o Talher Nacional e o Instituto Paulo Freire (IPF). No final desse ano, Frei Betto deixou o governo, por discordar do rumo que o Programa Fome Zero tomou, ao não continuar tendo como foco as mudanças estruturais, principalmente a Reforma Agrária. Assumiu seu lugar Selvino Heck.

De 2005 a 2006, houve a definição de três linhas de ação da RECID: (1) sua consolidação e gestão, (2) a democratização do acesso e controle social das políticas estruturantes de superação da miséria e da fome e (3) a formação de educadores e educadoras populares e agentes multiplicadores. Em 2005, elaborou-se o Programa de Formação de Educadores/as Populares e Nucleação de Família.

Outras ações importantes, desenvolvidas nesse período, foram: a realização de cursos sobre economia solidária em parceria com a Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES); cursos sobre comunicação popular, em especial rádio comunitária; a realização do programa Ponto a Ponto em parceria com a TV Banco do Brasil; participação dos educadores e educadoras nos Conselhos Nacional e Estaduais de Segurança Alimentar e Nutricional (Conseas), assim como no Grupo de Trabalho Fome Zero do governo federal. Novos movimentos se incorporam à RECID, como grupos ligados ao movimento Hip Hop, que passam a realizar suas oficinas culturais e de formação política, principalmente com jovens, junto à Rede. Este ciclo, de 2005 a 2006, encerra-se com a produção dos instrumentos da sistematização das experiências da RECID: um vídeo e um livro, intitulados “Vamos lá fazer o que será”.

De 2007 a 2009, a história da RECID é marcada, principalmente, pela elaboração do Projeto Político-Pedagógico (PPP) e do Projeto Popular para o Brasil (PPB), que animaram o processo dos planos de formação. Marca também essa fase a criação da Comissão Nacional (CN), que reúne representantes das regiões brasileiras e a equipe do Talher Nacional.

Como objetivo maior, o Plano Nacional de Formação (2009) apontou o desenvolvimento de processos de formação, continuados e integrados, de educação popular, referenciados em seu Projeto Político Pedagógico, para contribuir com a construção do Projeto Popular para o Brasil. Para a concretização do Plano de Formação, duas grandes atividades nacionais são previstas para serem realizadas duas vezes ao ano, cada uma: o encontro nacional e as Cirandas de Formação.

A partir da eleição da presidenta Dilma Rousself, em 2010, com as mudanças no interno do governo federal em 2011, também houve mudanças significativas no Talher Nacional. Outra modificação foi a da instituição gestora nacional, que passa a ser o CAMP (Centro de Assessoria Multiprofissional), organização sediada no Rio Grande do Sul e com educadores e educadoras já presentes na RECID, desde sua criação.

(Fonte: Documentos da RECID e do Talher Nacional)

Fonte: RECID MG

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

I Seminário do Fórum Popular de Saúde do Estado de São Paulo - 23 e 24 de novembro

 O Fórum Popular de Saúde do Estado de São Paulo organiza o I Seminário Estadual. Após o testemunho das mobilizações de junho, vê-se que é mais do que necessário fortalecer as lutas da saúde e articular ações conjuntas dos movimentos sociais a fim de avançar na organização dos trabalhadores e nas conquistas populares.
 
O Seminário acontecerá nos dias 23 e 24 de novembro de 2013, com espaços para discutir análise de conjuntura, questões relativas à saúde e direitos humanos, terceirização da saúde, saúde do trabalhador e financiamento do SUS. Além disto, esperamos que seja um espaço privilegiado onde os diferentes movimentos e grupos políticos possam falar de suas experiências de luta.

CRONOGRAMA
Sábado (23/11)
8:00 – 9:00 Café da manhã coletivo
9:00 – 12:00 – Análise de conjuntura: saúde e as políticas públicas
14:00 – 16:30 – Saúde e direitos humanos
17:00 – 19:30 – Roda com relatos das lutas e organização dos movimentos
20:00 - Atividade Cultural
Domingo (24/11)
9:00 – 12:00 – Terceirização e saúde do trabalhador
13:30 – 17:00 – Plenária para discutir comunicação e plano de lutas

LOCAL
 
Veja o evento no facebook
 

sábado, 1 de dezembro de 2012

Arquivo de notícias: Violência contra a juventude negra: problema de saúde pública


Violência contra a juventude negra: problema de saúde pública


“Há uma gama de situações e ambiências que violentam a população negra, e mais especificamente o jovem negro ao longo de sua vida – as quais chamamos violência simbólica. Essas violências simbólicas operam na identidade da pessoa negra, na redução da autoestima da jovem negra, na construção de total falta de perspectiva e de horizonte”, disse a diretora de programas da Secretaria de Políticas de Ações Afirmativas da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Mônica Oliveira, que participou da mesa A violência contra a juventude negra e o racismo institucional, questões alarmantes para a saúde pública, do II Seminário Saúde da População Negra em Debate, organizado pela Assessoria de Cooperação Social da ENSP, em parceria com a Vice-Presidência de Assistência, Ambiente e Atenção à Saúde da Fiocruz e Redes Negras em Saúde.

“Há uma gama de situações e ambiências que violentam a população negra, e mais especificamente o jovem negro ao longo de sua vida – as quais chamamos violência simbólica. Essas violências simbólicas operam na identidade da pessoa negra, na redução da autoestima da jovem negra, na construção de total falta de perspectiva e de horizonte”, disse a diretora de programas da Secretaria de Políticas de Ações Afirmativas da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Mônica Oliveira, que participou da mesa A violência contra a juventude negra e o racismo institucional, questões alarmantes para a saúde pública, do II Seminário Saúde da População Negra em Debate, organizado pela Assessoria de Cooperação Social da ENSP, em parceria com a Vice-Presidência de Assistência, Ambiente e Atenção à Saúde da Fiocruz e Redes Negras em Saúde.

A mesa contou com a participação de Cheila Marina de Lima, da coordenação-geral de Vigilância e Agravos de Doenças Não Transmissíveis do Ministério da Saúde; Mônica Oliveira, diretora de programas da Secretaria de Políticas de Ações Afirmativas da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial; Daivison Faustino, representante das Redes Negras em Saúde; e Gleidson Pantoja, representante do Fórum de Juventude Negra, como mediador. “Vive-se hoje um extermínio da juventude negra brasileira. Este é um momento de denúncia, e temos de nos apropriar desses espaços para que a sociedade brasileira possa ser incomodada em relação aos jovens negros que estão sendo mortos todos os dias pelo racismo institucional e pela força do crime organizado, entranhado no país, nas organizações governamentais”, disse Daivison.  No final da tarde, com apoio da Rede Saúde e Cultura, o evento foi encerrado com uma roda de jongo, samba de roda e ijexá, com a Cia Banto, no hall dos elevadores do quarto andar da escola.

Violência também é problema de saúde pública -  “Dos 52.260 brasileiros mortos por homicídio em 2010 – 27,3% de óbitos a cada 100 mil habitantes –, 70,2% eram jovens, negros/pardos.  É intolerável para o país sustentar essa situação contra nossos jovens que morrem de violência, agressões, homicídios, quedas, acidentes de trânsito etc. Isso significa uma perda de 2% do Produto Interno Bruto. Ou seja, bilhões de reais que poderiam estar sendo usados em outras áreas e poderíamos ter nossos jovens sobrevivendo.”

Segundo Cheila Marina Lima, primeira palestrante da mesa, a questão da violência não está mais restrita à segurança pública. O setor saúde entrou no debate a partir de 1998, quando um comitê técnico criou a Portaria 737, publicada em 2001, que instituiu a Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências. “Esse agravo é fundamental na saúde pública, por ser um agravo que tem demandado muitas hospitalizações, óbitos etc. Ele tem custo familiar, pessoal e social imenso para o país, dados mensuráveis e não mensuráveis, como o custo familiar e pessoal. É a partir dessa política que traçamos todas as diretrizes de ação para o setor saúde, e ela tem como foco principal o processo intersetorial entre governo e para fora do governo, para fortalecer as políticas públicas relacionadas a essa temática. Na agenda da Organização Mundial de Saúde, o tema entrou mais fortemente a partir de 2002”, disse Cheila.

Os acidentes e mortes, causas que em grande parte poderiam ser evitáveis, têm impacto na morbidade e mortalidade que incide na qualidade e expectativa de vida das pessoas, de acordo com Cheila. Apesar de as taxas de expectativa de vida no país terem aumentado, a interrupção dessa cadeia se relaciona às causas externas – acidentes e violências. Ela afirmou que, ao se utilizar o indicador para medir a expectativa de vida com os anos potenciais de vida perdida, observa-se que há expressiva perda de jovens. “Tal situação interferirá no futuro do país, que não terá como, a longo e médio prazos, qualificar mão de obra para as empresas e indústrias. Como será nossa sociedade perdendo os jovens para a violência, e principalmente para os acidentes de trânsito? O setor saúde é também parte dessa cadeia, é coresponsável para discutir, para subsidiar e mesmo para intervenção.”

Constatada magnitude da frequência dos anos potenciais de vida perdidos, o alto percentual de gravidade, com óbitos, internações, sequelas, a relevância social, pelo medo e indignação, e a importância econômica, com os custos e o absenteísmo, Cheila sinalizou a vulnerabilidade que deve ser amplamente discutida, com ações de prevenção, mudanças comportamentais e promoção da saúde e cultura de paz.

 Movimento social defende debate sobre extermínio da população negra -  Levar o debate sobre o extermínio da população jovem negra é uma demanda antiga do movimento social negro há décadas, que foi defendida pela própria juventude negra nos fóruns regionais, cerne do 1º Encontro Nacional da Juventude Negra realizada na Bahia em 2008. Gleidson Pantoja fez uma rápida retrospectiva desse processo, que desencadeou um documento com 702 propostas em 14 eixos, que se tornou a pauta prioritária da 1ª Conferência Nacional da Juventude, também realizada neste ano. Hoje, o Fórum Nacional de Juventude Negra integra o Conselho Nacional de Juventude e o Conselho Nacional de Segurança Pública.

Mônica Oliveira, representando a Seppir - que, ao lado da Secretaria Nacional da Juventude, também coordena o Plano Juventude Viva, Plano de Enfrentamento à Violência contra a Juventude Negra -, enalteceu o ativo trabalho da militância da juventude negra que se colocou como segmento político mais forte e preponderante na conferência, tendo conseguido aprovar o enfrentamento ao extermínio da juventude negra como a principal prioridade para as políticas da juventude neste período mais recente de atuação da SNJ.

Ela acrescentou que esse tema é uma das prioridades do governo da presidenta Dilma. O Plano foi articulado no âmbito do Fórum Cidadania e Direitos, criado pela presidente para articular Ministérios e políticas públicas relacionados a essa temática. A coordenação do Plano de Prevenção à Violência Contra a Juventude Negra foi delegada à Secretaria-Geral da Presidência, que articula com os movimentos sociais e para dentro do governo. “Hoje, temos oito ministérios participando do plano”, disse Mônica.

Para Mônica, o Plano da Juventude Viva é uma oportunidade histórica para levantar este debate com a sociedade e a partir dos valores da igualdade e da não discriminação. A ideia, segundo ela, é enfrentar não somente o racismo, mas o preconceito geracional. “A denúncia da violência contra os negros foi tratada quase que exclusivamente pelo Movimento Negro, que sempre fez a denúncia da violência policial, da letalidade policial e de todas as formas de denúncia que tratamos aqui. Pela primeira vez, o governo brasileiro, o Poder Executivo federal estão fazendo uma ação coordenada para fazer o enfrentamento da violência contra o jovem, não por acaso a ação é conjunta com oito ministérios”.

Na Bahia, em 2012, foram 267 óbitos sob a rubrica de “auto de resistências”, com crescimento de 58,9% nos casos em relação ao mesmo período de 2011. Em São Paulo, 271, com 15% a mais que no ano anterior. No Rio de Janeiro, entre 2007 e 2010, foram 4.370 pessoas que morreram em confronto com agentes da lei, liderando as estatísticas na modalidade “auto de resistência”.

Mais que simplesmente mostrar dados, Daivison buscou incitar o público a refletir sobre determinadas inquietações, questionando como a vulnerabilidade e estigmatização da situação do jovem negro vira alvo das políticas públicas; o que se pode esperar do Estado, quanto ao aperfeiçoamento institucional, no que tange também a profunda discussão e mudança comportamental quanto ao racismo institucional; e se estamos, enquanto sociedade brasileira, dispostos a ir além do Plano da Juventude Viva.

Moção deverá ser entregue à Presidência da Fiocruz -  Os participantes do evento propuseram uma moção para ser entregue à Presidência da Fiocruz solicitando o empenho no desenvolvimento e ampliação do debate em torno da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. O documento pontua formas de como a Fundação Oswaldo Cruz pode colaborar com o Plano da Juventude Viva.

“Incentivo à pesquisa acadêmica com recorte racial a fim de aprofundar o conhecimento relativo a essa temática, buscando averiguar o racismo como determinante social da saúde; fomento à implementação e ampliação de cursos e/ou disciplinas no âmbito da formação de mão de obra qualificada para o SUS, que auxiliem na superação do racismo institucional no sistema de saúde pública no Brasil; ampliação do diálogo com movimentos sociais de saúde da população negra para o desenvolvimento de novas ações conjuntas; construção de espaços internos de diálogos e trocas sobre experiências em saúde da população negra; construção de pontes de diálogo e trocas de experiências com o GT Saúde da População Negra da ABPN (Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as).

Fonte: Sandra Martins
Jornalista da Cooperação Social/ENSP/Fiocruz

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Arquivo de notícias: Seminário de Promoção da Saúde e Educação Popular em Alagoas


Sesau/AL realiza seminário de promoção da saúde e educação popular

A Educação Popular e Diversidade de Sujeitos serão temas do Seminário de Promoção de Equidade em Saúde, promovido pela Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas (Sesau), através da Diretoria da Promoção da Saúde. O evento, que irá acontecer de 26 a 28 deste mês, no Recanto Coração de Jesus, em Maceió, é destinado a representantes de diversos segmentos sociais, como ciganos, quilombolas e militantes dos Movimentos Sem Terra e GLBT.

O primeiro dia do evento será aberto às 18 horas, com a presença de técnicos da Sesau. Em seguida serão exibidas apresentações culturais. Já no dia 27, antes do início das palestras, os participantes assistirão a uma apresentação cultural com a Banda Afro, formada por crianças da Associação do bairro Chã de Bebedouro.

Ainda haverá a Roda Brasil Quilombola, onde estará em pauta a questão da política de saúde para população negra. Encerrando os debates da manhã, haverá discussão sobre a política da diversidade. À tarde, será realizada mais uma roda de conversa, abordando políticas de promoção da equidade e desafios para sua implementação.

No último dia do evento, os participantes serão acolhidos com vivência de danças circulares. Após esse momento, eles darão início as últimas discussões do seminário, onde a primeira roda de debates terá como tema os caminhos das Escolas Promotoras de Saúde (EPS) em Alagoas.

Às 11 horas serão discutidas as práticas de saúde integrativas e populares no Sistema Único de Saúde (SUS). Em seguida será exibido o filme “Zefa da Guia” e, durante a tarde, será promovida uma roda de avaliação e encaminhamentos. Nos dias 27 e 28, os participantes poderão ter acesso ao espaço de cuidados, onde haverá reiki, massagem, auriculoterapia e reflexologia.

“Esse é um seminário que tem como objetivo implementar a articulação entre sujeitos, movimentos sociais e gestores públicos, criando condições através justiça social, de fortalecer as políticas de saúde, reduzindo as iniqüidades nos diferentes contextos e contribuir com a implementação de políticas públicas da diversidade”, destacou a gerente de Promoção dos Movimentos Sociais, Diversidade Sexual e Educação Popular em Saúde, Margareth Magalhães.

sábado, 24 de novembro de 2012

Arquivo de notícias: Morhan marca presença no III Seminário da ANEPS


Morhan marca presença no III Seminário da ANEPS

O III Seminário da Articulação Nacional de Educação Popular em Saúde (ANEPS) foi realizado nos dias 05,06 e 07 de Novembro de 2012 em Brasília Distrito Federal. Participaram do evento diversos atores de movimentos sociais, academia, gestão e serviços, totalizando 151 presentes de todas as regiões do país sendo 10 do Norte, 66 do Nordeste, 31 do Centro-oeste, 27 do Sudeste e 17 do Sul. O Morhan, através da sua integração em diversos setores, contou com a participação do Coordenador Nacional Artur Custódio,dos diretores Eni Carajá, e Lucimar Batista e dos Voluntários Toninho Ferreira e Fabiane Borges.
Durante o evento foram visualizadas e repensadas espaços, parceiros e estratégias de fortalecimento da educação popular com especial destaque para os eixos de Mobilização, Formação, Organização, Cultura, Cuidados/Práticas. COm isso, diversos encaminhamentos foram lançados tanto nos níveis nacional, regional, estadual e local. Entre eles, em uma importante reunião com os representantes dos movimentos sociais, o Morhan se comprometeu a elaborar e produzir o seu jornal uma edição dedicada a Política Nacional de Educação Popular em Saúde visibilizando seus contatos com a ANEPS nos estados e municípios.


Fonte: Morhan

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Arquivo de notícias: Educação para o Controle Social no SUS é tema de oficina na região Nordeste


Educação para o Controle Social no SUS é tema de oficina na região Nordeste


A Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa (SGEP) do Ministério da Saúde, em parceria com o Conselho Nacional de Saúde, realizou esta semana a Oficina Regional Compartilhada de Educação Permanente para o Controle Social no Sistema Único de Saúde (SUS). A atividade iniciou nesta segunda-feira (12) e segue até a quarta (14), em Recife.

O objetivo principal do evento é construir um plano de educação permanente para o Controle Social do SUS, e busca reunir os conselheiros e instituições formadoras dos estados da região Nordeste do país para identificar as reais necessidades destes estados no sentido de qualificar o processo de trabalho.

Ainda no primeiro dia do evento foram realizadas mesas para debater a Política de Educação Permanente para o Controle Social no SUS, e sobre o financiamento deste processo de Educação Permanente.

A mesa sobre Educação Permanente para o Controle Social no SUS, coordenada por Kátia Maria Barreto Souto, do Departamento de Apoio à Gestão Participativa (Dagep), abordou as interfaces possíveis da Politica de Educação Permanente. A conselheira Lucimar Batista, do Conselho Nacional de Saúde, apresentou o tema na perspectiva do Controle Social, enquanto Valéria Atella Barbosa fez a sua exposição sobre o ângulo do SUS e a Simone Leite discorreu sobre o tema para Educação Popular.

Após a apresentação das palestrantes, foi realizado debate com os participantes, que apresentaram suas opiniões sobre o tema, como a do representante de Pernambuco da Articulação Nacional de Educação Popular em Saúde (Aneps/PE), Oris Martins de Olinda, que se manifestou na forma de Cordel:

Quando equipe e usuários
Tentarem se compreender
As coisas com certeza
Vão acontecer, como
O povo realmente vai ser 
Atendido como deve ser
Feito o atendimento nas unidades,
E melhorando a qualidade de vida.
Pra findar essa conversa
Agora preste atenção
Se quisermos mudar o macro
Vamos começar pelo micro
Com toda dedicação.
Fazendo Educação Permanente
Junto com a Educação Popular
A toda população.
(Oris Martins de Olinda - Aneps/PE)

No período da tarde, foi realizada a mesa para debater o financiamento das ações de Educação Permanente para o Controle Social. Na primeira parte, os representantes dos Conselhos Estaduais de Saúde, dos estados participantes, apresentaram as experiências de seus conselhos de saúde na aplicação de recursos para o desenvolvimento de ações de Educação Permanente em seus estados.

Na sequência, o consultor técnico do CNS, Francisco Funcia, abordou os aspectos relacionados ao financiamento das ações que mais geraram dúvidas entre os participantes do evento, tendo em vista a nova legislação em vigor e sobre o papel dos Conselhos de Saúde nessa nova perspectiva.

Rodas de conversas debateram as possibilidades de articulação dos eixos de comunicação e informação com o processo de Educação Permanente, bem como as possibilidades de diálogo das experiências já existentes nos estados com as instituições de ensino.

Também foram discutidas agendas com o objetivo de fortalecer a Educação Permanente para os conselhos de saúde, com a avaliação das ações do Programa de Inclusão Digital do Ministério da Saúde, estratégias para a melhor utilização do Canal Saúde na ampliação deste processo de trabalho e do Sistema de Acompanhamento dos Conselhos de Saúde.

Esta é a quarta e última oficina regional, que ocorre em todas as regiões do país. Já foram realizados eventos em Brasília, para a região Centro-Oeste, em Vitoria para as regiões Sul e Sudeste e em Belém, para a região Norte.

O evento foi encerrado com a definição de agendas para a implementação da Política Nacional de Educação Permanente para o Controle Social, que serão incorporados ao Plano Nacional, do Conselho Nacional de Saúde.

sábado, 6 de outubro de 2012

Arquivo de notícias: Seminário que debate Direito e Saúde ocorre na ENSP/Fiocruz em outubro

VII Seminário Internacional Direito e Saúde
XI Seminário Nacional Direito e Saúde

Direitos Humanos, Saúde, Movimentos Sociais

O Grupo Direitos Humanos e Saúde Helena Bessarman (Dihs) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) realizará, durante os dias 23 e 24 de outubro de 2012, na Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP), o VII Seminário Internacional Direito e Saúde e XI Seminário Nacional Direito e Saúde: Direitos Humanos, Saúde e Movimentos Sociais. O encontro visa debater, entre pesquisadores, educadores e estudantes, assuntos relacionados à saúde, democracia, direitos humanos e justiça.

Organização:

Grupo Direitos Humanos e Saúde Helena Besserman (Dihs) e Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental (Laps) da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP) / Casa de Oswaldo Cruz (COC) / Centro de Pesquisa René Rachou (CpqRR) / Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV) / Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec) / Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict) / Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (Emerj) / Escola Superior de Advocacia (ESA) / Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/RJ) / Centro Payson de Desenvolvimento Internacional – Tulane University / Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra/PT
Realização: Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP)

Período de inscrição:

Informações:
seminariodihs2011@ensp.fiocruz.br
Tel: (21) 3882-9222 ou 3882-9223.

Não há cobrança de taxa de inscrição.
Serão emitidos certificados.

Inscrições Abertas

Observações: Não há cobrança de taxa de inscrição. Serão emitidos certificados e haverá contagem de 16 horas para estágio OAB para os alunos de Direito.



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