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quinta-feira, 8 de maio de 2014

'Surra' na infância induz a uso de droga, aponta estudo


Matos apanhava do pai e, para escapar, fumava maconha

Sofrer agressão física durante a infância ou adolescência aumenta em quase três vezes o risco de dependência química na idade adulta, aponta pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) divulgada nesta quarta-feira, 7. Segundo o 2.º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), 21,7% dos brasileiros apanharam dos pais ou cuidadores quando crianças. Entre usuários de maconha, número sobe para 47,5%. Entre os dependentes de cocaína, é de 52%.

Segundo os pesquisadores, a criança ou o adolescente que sofre agressão fica neurologicamente mais vulnerável ao uso futuro de drogas. “Sabemos que qualquer tipo de evento estressante no começo da vida afeta áreas do cérebro que são as mesmas responsáveis pelo desenvolvimento de dependência química e também pela administração do nosso humor, da nossa motivação”, explica Clarice Madruga, pesquisadora da Unifesp e uma das coordenadoras do estudo.

Segundo Clarice, esse estresse torna a pessoa mais vulnerável para desenvolver dependência. “Claro que também vai depender de outros fatores ambientais, como a facilidade de obtenção da droga e o amparo social que a pessoa tem.”

Usuário de crack, cocaína e maconha, o mecânico Donizete Matos, de 28 anos, diz ter iniciado o consumo de drogas depois que começou a apanhar frequentemente do pai, aos 12 anos. “Meus pais se separaram e fui morar com o meu pai. Só que minha madrasta não gostava de mim, e eu apanhava muito, geralmente sem motivo”, conta o mecânico, que frequenta a Cracolândia, no centro da capital paulista.

Ainda hoje, ele mostra um desvio no osso do nariz e uma cicatriz na perna como marcas das agressões que sofria. “Ele me dava soco, me cortava com faca de cozinha. E eu não aguentava apanhar sozinho, sem poder fazer nada. Ia fumar maconha.” Agora que sua mulher, também dependente química, está grávida, Matos quer parar de usar drogas.

Clarice afirma que a prevalência de crianças agredidas no Brasil é muito superior à observada em outros países que registram a estatística. “Enquanto aqui temos 21,7%, em outros países o índice nunca passa de 12%.” Para a pesquisadora, a agressão contra os filhos não pode ser vista como natural. “É preciso pensar no trabalho de prevenção e estimular que a agressão seja denunciada. As escolas e as unidades de saúde devem ser treinadas para identificar a criança que sofreu algum abuso. Também temos o Disque 100, uma central para denunciar qualquer tipo de violação dos direitos humanos.”

Abuso e bullying.

O Lenad mostrou ainda que 5% dos brasileiros relataram já ter sofrido abuso sexual na infância ou adolescência. O índice chega a 7% quando analisados os dados das entrevistadas do sexo feminino. Na maioria dos casos (58%), o autor do abuso era um parente ou amigo da família.

As mulheres também são os maiores alvos de bullying, de acordo com a pesquisa da Unifesp. Entre os homens, 12,1% dos entrevistados disseram já ter sido vítimas da prática. Entre as entrevistadas, o índice foi de 13,8%.

A agressão verbal foi o tipo de bullying mais sofrido pelos que responderam a pesquisa (12%), seguido pelas provocações indiretas, como fofocas, rumores e isolamento social, citadas por 5% dos entrevistados. Os pesquisadores da Unifesp entrevistaram 4.607 pessoas com mais de 14 anos, em 149 municípios brasileiros.

Fonte: Agência Estado/ Foto Evelson de Freitas/Estadão

sexta-feira, 7 de março de 2014

O desafio da iniciação escolar para pais e filhos

O início das aulas costuma ser marcado pelo sentimento de insegurança tanto dos pais, quanto das crianças. Sentir medo nessa fase é natural, pois se trata de um momento de muitas novidades e mudanças – alguns pequenos costumam chorar durante todo o período na escolinha. Por isso, a importância do apoio familiar e escolar, a fim de amenizar essas angústias.

O professor do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFMG, Arthur Kummer, defende que o equilíbrio nesses casos deve partir do adulto. “Se os pais mantiverem a calma, os filhos tenderão a se sentir mais seguros. Apesar do processo de adaptação ser algo que cabe à criança, mães, pais e educadores precisam ajudar”, afirma.

Muitos pequenos iniciam em uma instituição de ensino com um ou dois anos, antes mesmo da idade escolar, que é de quatro anos, segundo a lei. Para o especialista, apesar de não existir uma idade ideal para a iniciação, é possível que a adaptação seja mais demorada quando a criança é menor. “Há uma relação entre desenvolvimento cognitivo e melhor adaptação escolar. Nesse sentido, as crianças menores, de um a três anos, podem sentir mais com a separação dos pais e entrada na escola, reagindo com maior rebeldia”, explica. Ainda assim, Arthur Kummer garante que isso não é uma regra, já que situações favoráveis nos primeiros dias também são conhecidas. “A boa aceitação está ligada à novidade de brinquedos, crianças e novos espaços”.

Pais e filhos

Aos pais, pensar que a criança vai sobreviver bem sem seu olhar atento parece pouco provável. Além disso, o sentimento de culpa por voltar a trabalhar e deixar o filho na escola ou creche, principalmente para as mulheres, é outra fonte de angústia.

Por isso, a pediatra e psiquiatra Luciana Carla Araújo Pimenta, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Neurociências da UFMG, orienta aos pais conhecer bem a instituição que escolheram para o filho, como forma de sentir confiança nos profissionais e no projeto pedagógico. “Como os pais vão ficar longe dos filhos, eles precisam confiar em quem está encarregado dos cuidados dos pequenos”, ressalta.

Modelos variados de ensino não faltam: algumas escolas já se comunicam com os pais por meios virtuais regularmente, enquanto outras até disponibilizam câmeras ao vivo para acompanhar o dia do filho. Há ainda aquelas que permitem fazer uma adaptação gradativa, em que o tempo de permanência da criança na escola vai aumentando até chegar ao desejado.

Luciana Pimenta também considera que o importante é que os pais não fiquem apreensivos, pois acabam transmitindo essa sensação para os filhos. “A criança pensa: que lugar é esse que deixa meus pais inseguros? Com isso, a adaptação vai ser bem mais difícil”, avalia.

Dicas

Para que o momento seja menos traumático para as crianças, a especialista recomenda que, aos poucos, elas comecem a entrar no ritmo da nova rotina. Se o filho já tiver idade suficiente para assimilar isso, os pais devem compartilhar detalhes novos sobre as matérias do ano, a escola ou o método que será adotado.

Uma atitude recorrente dos pais, que pode prejudicar a fase de adaptação do pequeno, é quando eles tentam distraí-lo para se retirarem às escondidas. Segundo o professor Arthur Kummer, é preciso deixar claro para o filho que irão embora, mas que voltarão para buscá-lo.  “Se a criança chorar no momento da separação, pais e professores podem tentar consolá-la e deixar que ela saiba que entendem como ela se sente”, aconselha. Ele acrescenta que ao término da aula, a criança deve ser buscada na hora certa, para que não sinta uma ansiedade desnecessária ao observar as outras crianças irem para casa.

Outras atitudes que podem aumentar a aceitação da criança, de acordo com a pediatra Luciana, é a sua inclusão na escolha do uniforme e material escolar. “O ingresso da criança pode ser importante aprendizagem para todos, por isso é necessário que a ansiedade que permeia essa situação seja dominada da melhor maneira possível”, conclui.


Fonte: site Faculdade de Medicina da UFMG, 06/03/2014

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Especialista afirma que uso indiscriminado de Ritalina pode causar um "genocídio do futuro"


Para uns, ela é uma droga perversa. Para outros, a 'tábua de salvação'. Trata-se da ritalina, o metilfenidato, da família das anfetaminas, prescrita para adultos e crianças portadores de transtorno de deficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Teria o objetivo de melhorar a concentração, diminuir o cansaço e acumular mais informação em menos tempo. Esse fármaco desapareceu das prateleiras brasileiras há poucos meses (e já começou a voltar), trazendo instabilidade principalmente aos pais, pela incerteza do consumo pelos filhos. Ocorre que essa droga pode trazer dependência química, pois tem o mesmo mecanismo de ação da cocaína, sendo classificada pela Drug Enforcement Administration como um narcótico.

No caso de consumo pela criança, que tem seu organismo ainda em fase de formação, a ritalina vem sendo indicada de maneira indiscriminada, sem o devido rigor no diagnóstico. Tanto que, no momento, o país se desponta na segunda posição mundial de consumo da droga, figurando apenas atrás dos Estados Unidos. Como acontece com boa parte dos medicamentos da família das anfetaminas, a ritalina 'chafurda' a ilegalidade, com jovens procurando a euforia química e o emagrecimento sem dispor de receita médica. Fala-se muito que, se não fizer o tratamento com a ritalina, o paciente se tornará um delinquente. "Mas nenhum dado permite dizer isso. Então não tem comprovação de que funciona. Ao contrário: não funciona", critica a pediatra Maria Aparecida Affonso Moysés, docente do Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. “A gente corre o risco de fazer um genocídio do futuro. Mais vale a orientação familiar”, encoraja a pediatra, que concedeu entrevista, a seguir, ao Portal Unicamp.

Portal Unicamp – Há pouco tempo, faltou distribuição de ritalina no mercado brasileiro. Como essa lacuna foi sentida?
Cida Moysés – Não sabemos verdadeiramente o motivo de faltar o medicamento, mas isso criou uma instabilidade nas pessoas. As famílias ficaram muito preocupadas e entraram em pânico, com medo de que os filhos ficassem sem esse fornecimento. Isso foi sentido de um modo muito mais intenso do que com outros medicamentos que de fato demonstram que sua interrupção seria mais complicada que a ritalina. São os casos dos medicamentos para diabetes ou hipertensão. Apesar de não conhecermos a razão dessa falta do medicamento, sabemos das estratégias de mercado para outros produtos como o açúcar e o café que faltam no supermercado e, por isso, também para os medicamentos que faltam na farmácia. Quando somem das prateleiras, eles criam angústia. No entanto, em geral, retornam mais tarde. E mais caros, é óbvio.

Portal Unicamp – O que é a ritalina? Como ela age?
Cida Moysés – A ritalina, assim como o concerta (que tem a mesma substância da ritalina – o metilfenidato, é um estimulante do sistema nervoso central - SNC), tem o mesmo mecanismo de ação das anfetaminas e da cocaína, bem como de qualquer outro estimulante. Ela aumenta a concentração de dopaminas (neurotransmissor associado ao prazer) nas sinapses, mas não em níveis fisiológicos. É certo que os prazeres da vida também fazem elevar um pouco a dopamina, porém durante um pequeno período de tempo. Contudo, o metilfenidato aumenta muito mais. Assim, os prazeres da vida não conseguem competir com essa elevação. A única coisa que dá prazer, que acalma, é mais um outro comprimido de metilfenidato, de anfetamina. Esse é o mecanismo clássico da dependência química. É também o que faz a cocaína.

Portal Unicamp – Quando a ritalina é indicada?
Cida Moysés – Para quem indica, é nos casos com diagnóstico de TDAH. Eu não indico. Para esses médicos, entendo que é necessário traçar uma relação custo-benefício: quanto ganho com esse tratamento em termos de vantagens e de desvantagens. Sabe-se que é uma droga que possui inúmeras reações adversas, como qualquer droga psicoativa. Considero extremamente complicado usar uma droga com essas reações para melhorar o comportamento de uma criança. Qual é o preço disso?

Portal Unicamp – Quais são os sintomas principais?
Cida Moysés – As reações adversas estão em todo o organismo e, no sistema nervoso central então, são inúmeras. Isso é mencionado em qualquer livro de Farmacologia. A lista de sintomas é enorme. Se a criança já desenvolveu dependência química, ela pode enfrentar a crise de abstinência. Também pode apresentar surtos de insônia, sonolência, piora na atenção e na cognição, surtos psicóticos, alucinações e correm o risco de cometer até o suicídio. São dados registrados no Food and Drug Administration (FDA). São relatos espontâneos feitos por médicos. Não é algo desprezível. Além disso, aparecem outros sintomas como cefaleia, tontura e efeito zombie like, em que a pessoa fica quimicamente contida em si mesma.

Portal Unicamp – Não é pouca coisa...
Cida Moysés – Ocorre que isso não é efeito terapêutico. É reação adversa, sinal de toxicidade. Além disso, no sistema cardiovascular é possível ter hipertensão, taquicardia, arritmia e até parada cardíaca. No sistema gastrointestinal, quem já tomou remédio para emagrecer conhece bem essas reações: boca seca, falta de apetite, dor no estômago. A droga interfere em todo o sistema endócrino, que interfere na hipófise. Altera a secreção de hormônios sexuais e diminui a secreção do hormônio de crescimento. Logo, as crianças ficam mais baixas e também essa droga age no peso. Verificando tudo isso, a relação de custo-benefício não vale a pena. Não indico metilfenidato para as crianças. Se não indico para um neto, uma criança da família, não indico para uma outra criança.

Portal Unicamp – Criança não comportada é um problema social?
Cida Moysés – Está se tornando. E não vai se resolver colocando um diagnóstico de uma doença neurológica ou neuropsiquiátrica e administrando um psicotrópico para uma criança.

Portal Unicamp – Qual seria o tratamento então?
Cida Moysés – Um levantamento de 2011, publicado pelo equivalente ao Ministério da Saúde nos Estados Unidos, envolve uma pesquisa feita pelo Centro de Medicina baseado em Evidências da Universidade de McMaster, no Canadá, que analisou todas as publicações de 1980 a 2010 sobre o tratamento de TDAH. O primeiro dado interessante foi que, dos dez mil trabalhos que provaram que o metilfenidato funciona, é seguro, apenas 12 foram considerados publicações científicas. Todo o resto foi descartado por não preencher os critérios de cientificidade. Esse é um aspecto muito importante. Dos 12 trabalhos restantes, o que eles encontraram foi que a orientação familiar tem alta evidência de bons resultados, e o medicamento tem baixa evidência. Isso não quer dizer que a família seja culpada. É preciso orientá-la como lidar com essa criança. Além disso, os dados dessa pesquisa sobre rendimento escolar foram inconclusivos, assim como não há nenhum dado que permita dizer que melhora o prognóstico em longo prazo. Fala-se muito que, se a criança não for tratada, vai se tornar uma dependente química ou delinquente. Nenhum dado permite dizer isso. Então não tem comprovação de que funciona. Ao contrário: não funciona. E o que está acontecendo é que o diagnóstico de TDAH está sendo feito em uma porcentagem muito grande de crianças, de forma indiscriminada.

Portal Unicamp –
Dê um exemplo.
Cida Moysés – Quando se fala em 5% a 10% de pessoas com determinado problema, o conhecimento médico exige que se assuma que isso é um produto social, e não uma doença inata, neurológica, como seria o TDAH, e muito menos genética. Não dá para pensar em porcentagens. Em Medicina, sobre doenças desse tipo fala-se em 1 para 100 mil ou em 1 para 1 milhão. Então, é algo socialmente que vem se produzindo. Quando digo isso, de novo, não estou dizendo que a família é a culpada. Pelo contrário, é um modo de viver que estamos produzindo.

Portal Unicamp – Quem está sendo medicado?
Cida Moysés – São as crianças questionadoras (que não se submetem facilmente às regras) e aquelas que sonham, têm fantasias, utopias e que ‘viajam’. Com isso, o que está se abortando? São os questionamentos e as utopias. Só vivemos hoje num mundo diferente de 1.000 anos atrás porque muita gente questionou, sonhou e lutou por um mundo diferente e pelas utopias. Quando impedimos isso quimicamente, segundo a frase de um psiquiatra uruguaio, “a gente corre o risco de estar fazendo um genocídio do futuro”.  Estamos dificultando, senão impedindo, a construção de futuros diferentes e mundos diferentes. E isso é terrível.

Portal Unicamp – Na França, o TDAH é praticamente zero. A que se deve isso?
Cida Moysés – Isso se deve a valores culturais, fundamentalmente.

Portal Unicamp – Isso em países desenvolvidos?
Cida Moysés – Não necessariamente. Ninguém pode dizer que os EUA não sejam desenvolvidos. Não obstante, o país é o primeiro grande consumidor mundial da ritalina, da onde irradia tudo. O Brasil vem logo em seguida, como segundo consumidor mundial. Ao contrário do que se propaga, de que a taxa de prevalência é a mesma em todos os lugares, isso não é verdade. Varia de 0,1% a 20%, conforme o estudo da Universidade McMaster do Canadá. Varia de acordo com valores culturais, região geográfica, época e conforme o profissional que está avaliando. Há trabalhos que mostram, por exemplo, que médicas diagnosticam mais TDAH em meninos e que médicos mais em meninas, provavelmente por uma falta de identificação. Alguns trabalhos mostram que crianças pobres têm mais chances de receber o diagnóstico. Estamos falando de uma Era dos Transtornos – uma epidemia dos diagnósticos. A França tem uma resistência muito grande a isso por uma questão de formação de médicos, de valores da sociedade. Lá eles têm um movimento muito grande desencadeado por médicos, muitos deles psiquiatras, que se chama collectif pas de 0 de conduite. Esse movimento surgiu como reação à lei que propunha avaliar o comportamento de todas as crianças até três anos de idade. Era um modelo que pegava especificamente pobres e imigrantes. O movimento conseguiu derrubar tal lei.

Portal Unicamp – Existe no Brasil alternativa diferente da medicalização, da visão organicista?
Cida Moysés – Temos uma articulação mais recente que é o Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade, o qual eu e o Departamento de Pediatria da FCM-Unicamp integramos. O nosso Departamento é o seu membro fundador, tendo mais de 40 entidades acadêmicas profissionais e mais de 3.000 pessoas físicas no Brasil, que estão buscando difundir as críticas que existem na literatura científica sobre isso. Além do mais, procuramos construir outros modos de acolher e de atender as necessidades das famílias dos jovens que vivenciam e sofrem com esses processos de medicalização. Em novembro, a Unicamp promoverá um Fórum Permanente sobre Medicalização da Vida, que irá abordar essas questões de medicalização e de patologização da vida. Todos estão convidados.

Fonte: EBC

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Movimento prega a 'desaceleração' da rotina das crianças

A infância se transformou em uma corrida rumo à perfeição, e as crianças, em miniexecutivos com agenda cheia de atividades.
 
É o que argumentam os partidários do "slow parenting" (pais sem pressa), movimento que prega justamente o contrário: que as crianças tenham menos compromissos e mais tempo para fazer nada.
 
A ideia, que tomou corpo na Europa e EUA, ganha força aqui. Na semana passada, a primeira edição do "SlowKids", evento em prol da desaceleração da rotina das crianças, levou 1.500 pessoas ao parque da Água Branca, em São Paulo.
 
Na programação, atividades nada tecnológicas: oficina de jardinagem, brincadeiras antigas e piquenique. "As crianças precisam desligar os eletrônicos e interagir mais com os pais", diz Tatiana Weberman, uma das criadoras do projeto e diretora da agência Respire Cultura.
 
 
Segundo o jornalista britânico Carl Honoré, autor de "Sob Pressão" (Record, 368 págs., R$ 52), muitas crianças têm todos os momentos da vida agendados e monitorados.
 
"Elas têm dificuldades de serem independentes, ficam sob estresse e são menos criativas", disse Honoré à Folha.
 
Ele foi o primeiro a usar o termo "slow parenting". "Tudo começou quando a professora do meu filho disse que ele 'era um jovem artista talentoso'. Na hora, a visão de criar o novo Picasso passou pela minha cabeça", conta.
 
No mesmo dia, ele começou a procurar cursos de arte para o filho, que na época tinha sete anos, até que o menino disse: "Pai, não quero ter um professor, só quero desenhar. Por que os adultos querem sempre cuidar de tudo?".
 
O puxão de orelha fez com que ele voltasse atrás e começasse a pesquisar o superagendamento da infância. Segundo ele, tudo começa com a boa intenção dos pais. Mas a vontade de ser o pai perfeito transforma a educação em um jogo de tudo ou nada.
 
VIDA DE EXECUTIVO
 
Para a psicanalista Belinda Mandelbaum, professora do Instituto de Psicologia da USP, a educação de resultados antecipa o ensino de ferramentas para competir no mundo corporativo. "Vejo crianças aprendendo mandarim porque os pais acham ser importante para o futuro."
 
Quando o empresário Marcelo Cesana, 38, diz não ter pressa de que o filho Caio, 1, aprenda a falar, a ler e a escrever, questionam se ele não vai ter dificuldade para trabalhar. "Me acham bicho do mato, mas não quero antecipar as coisas", diz ele, que levou a família ao "SlowKids".
 
A gerente de supermercado Vanessa Sheila Dias, 36, também foi ao evento com a filha Anne, 8. O domingo no parque faz parte da ideia de reservar um dia para fazer nada. "A rotina da semana é maluca, passo a ansiedade para a Anne", diz ela, que já se pegou pedindo que a filha comesse um lanche de fast food mais rápido.
 
Anne não faz atividades extraescolares. Já os filhos da psicóloga Patrícia Paione Grinfeld, 41, fazem natação, mas só aos sábados.
 
"Outros pais me perguntam: 'Eles não fazem nada durante a semana?' Como se fosse algo errado!", conta Patrícia. "Quero que crianças venham brincar com meus filhos, mas todas são ocupadas, tem que marcar antes."
 
As atividades extras não garantem que a criança vá aprender mais, diz Mandelbaum. "Muitas vezes, elas só aprendem a se adaptar a esse ritmo louco."
 
O primeiro efeito da correria é a ansiedade, diz a neuropsicóloga Adriana Fóz, coordenadora do projeto Cuca Legal, da Unifesp. "A criança fica frustrada pelo excesso de atividades e pela falta [quando se acostuma à agenda cheia]. Fica entediada com mais facilidade."
 
Não que toda atividade extra deva ser evitada, mas é preciso respeitar o tempo da criança. "Até os cinco anos os estímulos têm que ser mais naturais", afirma Fóz.
 
De seis a 12 anos, é hora de aprender de forma mais sistematizada, diz ela. Aí é preciso conciliar o que os pais consideram ser importante com o desejo e as habilidades da criança, cuidando para que ela tenha tempo livre.
 
"O ócio estimula a criatividade e a curiosidade por temas e experiências diversas", afirma a educadora e antropóloga Adriana Friedmann.
 

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Arquivo de notícias: Encontro discutirá saúde mental infantojuvenil na Bahia


Encontro discutirá saúde mental infantojuvenil

Considerando a necessidade de se construir políticas públicas e consolidar o cuidado a crianças e adolescentes com transtornos mentais ou problemas decorrentes de abuso de álcool e outras drogas no estado, as secretarias de Saúde do Estado (Sesab) e do município de Salvador, com apoio dos Centros de Atenção Psicossocial da Infância e Adolescência (CAPs ia) de Salvador, promovem nos próximos dias 26 e 27 (segunda e terça-feira), de 8h30min às 17 horas, na Faculdade Bahiana de Medicina (Campus do Cabula), o I Encontro Baiano de Saúde Mental Infanto Juvenil: o lugar da infância e adolescência na rede de atenção psicossocial. O principal objetivo do encontro é elaborar propostas para orientar os serviços e as gestões municipal e estadual, além de gerar pautas a serem levadas para o Congresso Brasileiro de CAPs ia, a ser realizado no próximo ano.

O encontro destina-se aos profissionais dos CAPS ia e dos demais pontos da rede de atenção psicossocial; profissionais de saúde, educação, assistência social, justiça e direitos humanos que atuam na área da infância e adolescência; usuários e familiares; gestores e representantes da área técnica de saúde mental e área técnica da saúde da criança e do adolescente da Sesab secretarias municipais de Saúde. As inscrições podem ser feitas através do e-mail: 

A programação do encontro foi construída de forma a possibilitar discussões sobre as questões cotidianas destes serviços, a fim apontar os principais desafios para a efetivação da Rede de Atenção Psicossocial para crianças e adolescentes com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do SUS.

No primeiro dia do evento haverá oficinas sobre os seguintes temas: possibilidades de cuidado com crianças e adolescentes com transtorno geral do desenvolvimento, cuidado ao adolescente usuário de álcool e outras drogas e papel do CAPs ia na promoção da saúde. Estão previstas ainda mesas redondas sobre a Rede de Atenção Psicossocial e suas implicações para atenção à infância e adolescência, refletindo os componentes da Rede de Atenção Psicossocial e "Tornar-se adulto no CAPS i: (des)continuidade do cuidado na Rede de Atenção Psicossocial".

Grupos de trabalho discutirão as seguintes questões: medicalização, função do brincar na infância, a função do CAPS i na Rede de Atenção Psicossocial, a questão da institucionalização: "Quem deve cuidar da criança?" e atenção a crianças e adolescentes usuários de (substâncias psicoativas (SPA's).

Sesab/Ascom
Saúde mental/infantil1

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Arquivo de notícias: 9ª Reunião do Fórum Nacional de Saúde Mental Infanto-Juvenil


9ª Reunião do Fórum Nacional de Saúde Mental Infanto-juvenil inova ao incluir adolescentes

A área técnica de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas (Dapes/SAS/MS) realizou nos dias 12 e 13 de novembro a 9ª Reunião ordinária do Fórum Nacional de Saúde Mental Infantojuvenil, em Brasília/DF. A mesa de abertura marcou o caráter intersetorial do Fórum com a participação de representantes do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) Brasil e Cone Sul, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, do Conselho Nacional do Ministério Público e representantes de adolescentes.

Mais de 150 pessoas participaram das atividades. Entre elas: representantes de movimentos sociais, incluindo grupos de adolescentes e jovens, profissionais da saúde mental, em especial trabalh0adores dos Centros de Atenção, gestores municipais e estaduais de saúde mental e saúde geral, promotores do Ministério Público nos Estados, membros de instituições universitárias e de entidades de defesa dos direitos de crianças e adolescentes.

“Entre os temas debatidos, tiveram destaques questões relacionadas ao uso indiscriminado de psicofármacos, autismo e a preocupação com os processos de institucionalização dessa população, com demandas relacionadas ao uso de drogas”, explica Luciana Surjus, assessora da área técnica no MS.

Roberto Tykanori, coordenador da área técnica de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas, ressaltou a relevância da parceria com o UNODC em especial como sua abordagem internacional desta problemática em uma perspectiva que busque em lugar da coerção se trabalhar mecanismos voltados à coesão pode contribuir para a construção de uma resposta mais adequada a estas questões.

A proposta do encontro foi promover a discussão e construção de estratégias envolvendo representantes de diferentes setores, para a implantação e implementação da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), especialmente para o público infantojuvenil. 
A reunião teve como um dos seus resultados, o encaminhamento de recomendações para a Política Nacional de Saúde Mental Infantojuvenil. Outra decisão foi a realização de cinco encontros regionais em 2013, além do encontro nacional.

Antecedentes - O Fórum Nacional de Saúde Mental Infanto-Juvenil, instituído em agosto de 2004, pela Portaria GM nº 1608, é um importante espaço de discussão e de articulação intersetorial que visa debater as diferentes questões relacionadas a saúde mental de crianças e adolescentes, oferecendo subsídios para a construção das políticas públicas voltadas a essa população específica. Este Fórum busca estimular a participação de vários atores envolvidos no tema e a organização de fóruns locais, por meio de reuniões itinerantes.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Integrantes da Rede Saúde e Cultura: AJENAI

A Associação Jenipapense de Assistência à Infância - AJENAI, Ponto de Cultura, traz para a Rede Saúde e Cultura de Minas Gerais um importante histórico de atuação junto à população do Vale do Jequitinhonha, trabalhando ali com o resgate da cultura da infância  e dos conhecimentos tradicionais.

Vale a pena conhecer mais de seu trabalho e ficar atento às contínuas contribuições deste Ponto de Cultura às ações de Saúde e de Cultura, realizadas no interior de nosso estado.

Leia aqui um pouco de sua história e missão:

Fundada em 1999 a partir da iniciativa de moradores da região e com o apoio da AMAI (Associação com atuação no Município Vizinho – Francisco Badaró), a AJENAI - Associação Jenipapense de Assistência à Infância, tem por missão “Proporcionar Assistência às Crianças e Adolescentes das comunidades rurais do Município de Jenipapo de Minas, no seu contexto familiar, promovendo a mobilização comunitária, visando como bem comum o desenvolvimento humano e comunitário.”

Atende cerca de 3 mil pessoas entre elas crianças, adolescentes e adultos.

Seus primeiros parceiros: AMAI, a Prefeitura Municipal e os moradores locais, logo deram condições a AJENAI para se tornar uma associação e assim assinarem convênio com o Fundo Cristão para Crianças, hoje seu maior mantenedor, através do sistema de apadrinhamento.

A AJENAI é gerenciada por uma Diretoria Voluntária, constituída por 12 pessoas, eleitas pelas famílias associadas para administrar a instituição por um período de 3 anos.

Missão:
“Proporcionar a Assistência às Crianças e Adolescentes das comunidades rurais do Município de Jenipapo de Minas, no seu contexto familiar, promovendo a mobilização comunitária, visando como bem comum o desenvolvimento humano e comunitário.”

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