sexta-feira, 13 de junho de 2014

Estudo relaciona cesariana e não amamentação do bebê



"Apesar de vários estudos comprovando ser a amamentação na primeira hora de vida um mecanismo potencial para a promoção da saúde, associado à maior duração do aleitamento materno e à redução das mortes infantis, principalmente nos países de baixa renda, ainda assim, essa prática é pouco desenvolvida." O alerta é da aluna de doutorado em Saúde Pública da ENSP Tania Maria Brasil Esteves, que defendeu sua tese em 29/5, sob orientação do pesquisador da Escola Iúri da Costa Leite. Segundo ela, a cesariana foi o fator de risco mais consistente para a não amamentação na primeira hora de vida em vários contextos culturais, uma vez que os estudos encontrados foram realizados na Ásia, África e América do Sul.

Tania Maria acrescenta que indicadores associados a pior nível socioeconômico e menor acesso a serviços de saúde também foram identificados como fatores de risco independente para a amamentação na primeira hora de vida. Em relação à situação das maternidades do RJ, ela disse que estão longe de alcançar o ideal. “As rotinas e práticas hospitalares mostram-se impeditivas dessa ação. O desconhecimento do status sorológico para o HIV também foi identificado como fator de risco independente para a não amamentação na primeira hora. Apesar de existir um programa de prevenção e controle do HIV/Aids, mundialmente reconhecido, os serviços de saúde ainda enfrentam dificuldades no cumprimento de orientações protocolares.”

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda colocar bebês em contato direto com a mãe logo após o parto por pelo menos uma hora e estimular a mãe a identificar se o bebê está pronto para ser amamentado e oferecer ajuda se necessário. A aluna explica que essa prática é recomendada porque é no período pós-parto que os bebês estão mais aptos ao estabelecimento da amamentação, têm maior resposta ao tato, ao calor e ao odor da mãe, o que favorece a liberação de hormônios responsáveis pela produção e ejeção do leite.

Os efeitos positivos sobre a saúde do recém-nato podem ser mediados tanto pelos componentes do leite materno quanto pelo contato mãe-bebê. O colostro, leite dos primeiros dias, contém fatores que aceleram a maturação da mucosa intestinal, e fatores imunológicos bioativos que conferem proteção imunológica ao lactante, prevenindo a colonização por micro-organismos patogênicos.

Os objetivos do estudo foi sistematizar estudos observacionais sobre os determinantes da amamentação na primeira hora de vida, estimar a prevalência da amamentação na primeira hora de vida e analisar os  fatores associados a essa prática em hospitais com mais de 1000 partos/ano, do Sistema Único de Saúde no município do Rio de Janeiro.

A tese foi desenvolvida em formato de dois artigos. O primeiro constitui-se de revisão sistemática conduzida por meio das bases de dados Medline, Lilacs, Scopus e Web of Science, sendo incluídos estudos que utilizaram modelos de regressão e forneceram medidas de associação ajustada. No segundo artigo, os fatores associados à amamentação na primeira hora de vida por mães de recém-nascidos em alojamento conjunto no município do Rio de Janeiro, em 2009, foram analisados por meio de regressão logística multinível.

No entanto, disse ela, o hospital ser credenciado como amigo da criança foi um fator para a promoção da amamentação na primeira hora de vida, porém pouco se tem avançado no credenciamento de hospitais nos últimos anos. “Pode-se dizer que o trabalho a ser realizado é primordialmente a educação em saúde para a população, e nos hospitais e unidades em saúde em geral é de educação dos profissionais de saúde para que se sintam motivados e seguros para implementar esta ação”, conclui.


Foi publicada a portaria 371 de 07/05/14, que recomenda o contato pele a pele na sala de parto e o estímulo à amamentação na primeira hora de vida, exceto em casos de HIV ou HTLV positivo. Recomenda ainda que os cuidados de rotina do recém-nascido sejam postergados para propiciar esse momento, justificado pelo compromisso firmado pelo Brasil junto à OMS, da redução da mortalidade infantil em 2/3 até 2015.


Fonte: EBC

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