quarta-feira, 16 de maio de 2012

Arquivo de notícias: Programação de 18 de maio em BH - Luta Antimanicomial


Brasil - Fórum de Defesa do SUS - UFMG - Carnaval-manifestação, dia 18 de maio, concentração 13 horas na Praça Sete de Belo Horizonte!

Nesse Dezoito de Maio, nossa manifestação   revisitará  a história para reafirmar  o direito à vida em plenitude e para  sustentar os  princípios do Sistema Único  de Saúde, considerando  em  seu conceito amplo, o direito ao trabalho, lazer, moradia e  cultura. Esta escolha vem no sentido de fortalecer  a construção de um outro  mundo possível,  mais  justo,  igualitário e acessível a todos, corroborando para as transformações  sociais pelas quais lutamos. Um sistema único sensível à diferença, para que seja cada vez mais  sensível  em seu fazer.

No  ano de  1987,  no histórico  encontro  dos trabalhadores em  Bauru, o Movimento da Luta Antimanicomial  escolheu  no calendário nacional,  uma  data  para marcar e reafirmar  o sentido de sua existência: "por uma sociedade sem manicômios". Ficou estabelecido o Dezoito de Maio como o dia Nacional da Luta Antimanicomial, para sinalizar o correr da luta para uma conquista inadiável: o espaço para a loucura na cidade e na cidadania.

Belo Horizonte cumpre esta agenda desde então, provocando o pensamento para abrir espaço á implantação da ousada  política de saúde mental  em rede, produzindo as primeiras mudanças e evidenciando a viabilidade de tal intento.

Em  1997, quando a loucura já transpirava e circulava em outro cenário, aconteceu  pela primeira na cidade a   manifestação político cultural no formato de carnaval, e assim é até hoje.

Os  sonhos de liberdade  e as proposições  para sua realização, se expressam de forma lúdica, sensível e crítica, embalados pela Escola de Samba Liberdade Ainda que Tam, Tam, mobilizando a cidade, intervindo na cena urbana ao provocar reflexões sobre o lugar social da loucura em seu encontro com a arte e o pensamento.

Recolhendo fragmentos dos sambas de enredo dos Dezoitos de Maio, desde 1997 até hoje, trazemos aqui um pouco da tônica desse evento artístico, político e cultural em sua disposição e estratégia na realização da utopia ativa e razão de seu acontecer: pelo fim dos manicômios.

A organização cronológica não foi uma preocupação nesse caleidoscópio de invenções musicais, mas vamos lá!

Ponho o pé na avenida, de novo prá te encantar, pois todo ano eu passo por aqui, vou cantando  em versos o que eu vivi, levando nossa bandeira com seus personagens, pois um caminho já se faz aberto.

E bem me lembro que a história  começou com um italiano chamado  Basaglia que viu e anunciou que a loucura estaria nas ruas. E  desde  quando Bispo do Rosário  endoidou e sua arte iluminou, tal e qual, trago minha teia para andar livre em meu caminho.

E  sendo assim, em minhas   vagas e confusas visões, vejo o grande expresso da agonia,  trazendo  como emblema essa folia: Abram alas para aprender a lucidez perdida pelo abuso da razão.

Abram alas para ver no CERSAM a ousadia de uma janela para o ar, e de quebra, pintar o mundo numa aquarela nos Centros de convivência.

E descrevendo o que acontece, lembro-me de ter experimentado que cabeça é palha que fica acesa noite e dia e quando atrapalha, bota remédio em tanta fantasia...

E nas linhas de frente, nos comícios contra os hospícios, desafiei algumas vozes, dizendo: -Me mostra preto no branco, que eu quero ver a verdadeira mentira aparecer.

E no  verso e  reverso do  sonho  por um outro lugar, apostei nas conquistas da nossa luta por delicadeza.

E agora e como sempre, ao  contagiar  a cidade com alegria e irreverência, afirmamos  que em mim e em ti   existe  solidariedade para vencer a exclusão e olha só,  sou mesmo o rei da loucura com muito  samba na cintura. E  por tudo isso, sou maluco, sou beleza. Sou eu mesmo nesse louco encanto!!

E  posso  garantir que foi muita luta prá chegar  até aqui! Por isso, quando a Liberdade Ainda que Tam Tam entrar na avenida, batam  palmas prá nós, pois os  tambores seguirão batucando pelo bem.

Esse é  o  jogo, o  tom, o ritmo e matizes  que afirmam  que a liberdade faz da vida passarela no   Dezoito de Maio em Belo Horizonte e do qual participam(sempre bem vindas) outras   cidades de Minas.

Nesse ano de 2012, trazendo como   eixo o tema "SUS Tentar a Diferença: Saúde não se Vende Gente não se Prende", nossa manifestação vai convocar a todos à defesa da saúde como um direito universal e como um dever intransferível do Estado.

Universalidade, integralidade, equidade  com acesso e controle social  são os princípios caros e inalienáveis  do SUS, resultado de tantas lutas por um Brasil melhor e  para todos!

E  nosso desfile/manifestação cantará  em verso e  prosa, a história e as memórias, os sentidos da luta e  as vitórias,  somados  o desejo de futuro, sem perder o tom, a elegância e nem  a crítica  que constrói e faz crescer.

E aprendemos que   para  alcançar as transformações necessárias à vida em sua  dignidade, só precisamos   de pés livres, de mãos dadas e olhos bem abertos! Então vamos!!

Ala 1- A  primeira ala do desfile 2012,  contará a história da saúde no Brasil e  das lutas populares  na construção da cidadania. Uma história cuja continuidade  espera pelo seu protagonismo.

"Era uma Época Pouco Engraçada, não tinha SUS não tinha Nada"

No Brasil a construção de políticas de saúde tem início com a preocupação do Estado em controlar a "limpeza" do espaço, principalmente o urbano. Como medida de "saúde", mendigos, loucos, prostitutas entre outros excluídos, eram rejeitados socialmente e deviam estar longe da visão da população. Além disso, houve uma época em que o governo pensou que para conter a disseminação das doenças era necessário implantar a vacinação compulsória o que deu origem a Revolta da Vacina. Como a saúde ainda não era uma demanda organizada da sociedade, os governos e patrões estendiam esse direito somente aos que tinham emprego formal. Surge então uma contestação social em que os movimentos começaram a se organizar dizendo que a saúde é necessidade básica. Os conselhos distritais, igrejas e movimentos sociais e de base mobilizaram a realidade nacional dizendo da necessidade da construção de um sistema universal de saúde que atendesse às demandas das pessoas. Com organização popular, trabalhadores e usuários ocuparam a VIII Conferência Nacional de Saúde e foi possível pautar e aprovar na constituição brasileira de 1988 a "Saúde como direito de todos e dever do Estado". Assim, o Sistema Único de Saúde (SUS) é criado e diz que saúde é direito à moradia, trabalho, lazer, educação, além de acesso universal e integral  aos serviços de saúde. Hoje temos um SUS jovem que carece de muitos olhares e incentivos, mas que de pouco a pouco caminha e é tarefa de todos dar seguimento à sua construção, todos os dias.

Ala 2: "A Gente não quer só Remédio, a Gente quer Remédio, Diversão e Arte"

Esta segunda ala mostrará que o avanço da medicina moderna, altamente tecnológica, é paradoxalmente, insuficiente para atender a demanda do ser humano, que quer muito mais do  que oferece o  discurso biologicista  e que hegemonicamente se impõe em nossa sociedade. Os serviços e a lógica de atenção idealizadas e sustentadas pelo SUS tentam, muitas vezes com sucesso, desconstruir a lógica medicalizante e hospitalocêntrica que imperou, sem qualquer questionamento no campo da saúde brasileira.

Esse momento do desfile, será  a  nossa  homenagem às invenções  do SUS, aos serviços que fazendo a diferença, conseguem  ampliar o conceito de saúde para além dos princípios sanitários, em especial, o PSF e os diversos serviços substitutivos da saúde mental, as ações de promoção da saúde como tão bem o fazem os Centros de Convivência,  as Academias da Cidade e intervenções ousadas como a Redução de Danos.

Ala 3:"Não quero ser Selado, Avaliado, Ritalinado, Aprisionado pra poder Voar"

A ala das crianças e adolescentes vai cantar e contar  para  dar conta de que saúde implica diferença: cada um dá sentido  à sua vida como é melhor para si, pois os enquadramentos não permitem o singular. Todas as estratégias de aplicar sobre a infância regras que massificam e igualam, negam essa ideia de saúde. Não dá para pensar que a infância ideal é a da bailarina da música do Chico Buarque, que não tem coceira, não tem piolho, não tem namorado... Meninos e meninas andam nas ruas, por vezes dão pum, usam drogas, por vezes detestam a escola e não raro querem fazer música. As medidas de assepsia e controle do comportamento, podem ser vistas como medidas disciplinadoras, de exercício de poder, mas nem sempre  visam a melhor saúde ou  o   desenvolvimento pleno . Para cada um a saúde é de um jeito, e a de todos deve caber dentro do SUS. Meninos e meninas, adolescentes ou crianças, querem afirmar-se no mundo, curtir, zoar, rir, amar. Muitos terão perebas, frieiras, outros  terão um irmão meio zarolho e muitos levarão suas marcas pela vida.

Ala 4: "SUS pirado? Pändecer no Paraiso!

A ala da loucura, tradição nos desfiles da Liberdade Ainda Que Tam Tam, com  a beleza e irreverência que lhe são peculiares, irá pändecer, colorir  e ousar nos delírios e alucinações por   um mundo que reafirma o Sistema Único de Saúde, com todos os seus avanços e conquistas, mas também com mais financiamento e melhor gestão. Nesta miragem do futuro, os efeitos desse sonho  iluminará os sons, degustará a cor, e escutará o cheiro do vento que anuncia a importância dos  princípios do SUS e da Reforma Psiquiátrica na construção de uma sociedade sem manicômios. E para embarcar confortavelmente nesta "viagem", recorremos a  uma citação de G.B. Shaw que diz: Imaginação é o início da criação. Nós imaginamos o que desejamos;nós seremos o que imaginamos; e, no final, nós criamos o que nós seremos. E assim sendo, o mundo pode ser melhor, o  SUS  vai estar curado  dos males que o atingem desde sua criação, que são o sub-financiamento e má gestão.

Ala 5: "É Tempo de não mais se Contentarem com essas Gotas no Oceano"

Esta ala é uma reverência  a todos os trabalhadores da saúde, homens e mulheres operadores da política pública ampla e ousada, conquista cidadã do povo brasileiro Rendemos nossa homenagem aos protagonistas imprescindíveis no processo de construção e consolidação do SUS,  bem como  suas entidades representativas, sindicatos e conselhos de classe, presentes e atuantes nos fóruns de controle social. Sabemos que a utilização dos avanços tecnológicos e da alta tecnologia não substituirá a atuação de um profissional de saúde na função essencial de atendimento àqueles que necessitam de atenção. Acreditamos na tecnologia das relações enquanto  garantia do vínculo necessário a uma boa gestão clínica. Trabalhar na saúde é uma opção que se direciona no sentido de uma prática voltada para o cuidado das pessoas em sua diversidade.

Tal prática é potencializada, por sua vez, pela articulação e interlocução dos discursos e fazeres de todas as categorias profissionais que asseguram uma assistência qualificada e diversa, por isso, o trabalho em equipe, uma das estratégias mais importantes no campo da saúde. Transversalizar os saberes buscando a efetividade do trabalho compartilhado, vivo e ampliado, considerando os diferentes aspectos   da vida humana, sentido ou razão do trabalho em saúde.

Ala 6:"Sem Saber que era Impossível, ele foi e Fez"

A Sexta e última ala do Dezoito de Maio 2012, traz como tema  a liberdade, propondo uma reflexão acerca desse valor ou condição da existência plena.

O Homem é a sua liberdade,  o Homem é antes de tudo livre. Estas  são  definições sobre as quais nos debruçamos  na tentativa  de achar um ponto de  ligação às questões do cotidiano da  existência. Pensar  a liberdade em relação às amarras da mera sobrevivência, à cadeia do trabalho escravo ou assalariado, à privação dos diversos direitos e a alienação em relação aos nossos deveres de cidadãos é a pergunta que não quer calar.

Entendendo o   crescimento da liberdade enquanto conquista da cidadania, localizamos  o caminho a percorrer e que vai de encontro ao  sentido da nossa luta, hoje e sempre, até  habitarmos uma cidade sem  muros , reais ou imaginários,  que inviabilizam o acesso à condição de ser pensante, criativo e com seus direitos garantidos.

Uma sociedade sem manicômios pressupõe essa liberdade!

E para aquecer  os tamborins,  localizando o sentido das palavras acima, fechamos  esta argumentação  com  o  memorável samba  da Imperatriz Leopoldinense,

Liberdade, liberdade, abra as asas sobre nós...

E que a voz da igualdade seja sempre a nossa voz.


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