quinta-feira, 21 de junho de 2012

Rio+20: jovens apontam problemas socioambientais e propõem possíveis soluções

O auditório Arena de Debates, montado no Pop Ciência - evento de popularização da ciência na Rio+20 - atraiu olhares curiosos de seus jovens visitantes na tarde desta terça-feira (19/06). A atração foi a videoconferência realizada entre os adolescentes contemplados pelo projeto CEnaRios - versão em português para Science Centers Engagement and the Rio Summit (SCEnaRios) - criado para envolver a juventude nas discussões sobre os problemas socioambientais globais e seus impactos e possíveis soluções. Os participantes do projeto, idealizado pela Fiocruz e a Association of Science-Technology Centers (ASTC) em parceria com o Instituto de Arte Contemporânea e Jardim Botânico (Inhotim), são jovens de 15 a 19 anos de museus de ciência de 12 países. Com o uso de ferramentas tecnológicas e interativas, eles apresentaram ao público os resultados de seis projetos piloto que desenvolveram sobre temas como acesso à água potável, alternativas sustentáveis de consumo de energia e saúde.

Ao abrir o evento, o diretor de Relações Internacionais da ASTC, Walter Staveloz, falou sobre o surgimento do CEnaRios. "Quatro questões deram origem ao projeto: o engajamento crescente da sociedade civil em debates sobre o desenvolvimento sustentável, o desejo da juventude de todo o mundo em contribuir para as soluções para os problemas socioambientais, a possibilidade de esses jovens fazerem isso em conjunto e seu gosto pela tecnologia", explicou. Também presente ao encontro, o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, destacou a importância do CEnaRios e da parceria entre a Fundação e Moçambique no projeto. "O importante da iniciativa é que ela contempla jovens que ainda estão desenvolvendo sua visão de mundo e cidadania. Além disso, a cooperação com Moçambique é muito especial para nós, pois demonstra nosso compromisso com os países africanos em auxiliá-los a expressar sua visão e mostrar seu potencial para juntos construirmos um mundo sustentável", afirmou.

Os estudantes do Museu da Vida da Fiocruz, que atuaram em parceria com a Escola Secundária Paulo Samuel Kankhomba, em Lichinga, Moçambique, apontaram os problemas socioambientais enfrentados pelas regiões da Maré e Manguinhos - na Zona Norte do Rio de Janeiro - e a cidade moçambicana. "A importância do projeto está em dar luz a problemas que ficam ocultos a quem não os conhece e apontar suas causas ao moradores desses locais", disse Jade, coordenadora do grupo do Museu da Vida. Inicialmente encarregados de desenvolver projeto sobre mudanças climáticas, o grupo decidiu, durante suas buscas, mudar o enfoque de seu tema. "Mudamos para a temática erradicação da pobreza por ser parte integrante da realidade desses jovens", explicou a coordenadora.

A falta de saneamento básico, o acúmulo de lixo e poluição de rios, o tráfico, a violência, entre outros problemas socioambientais comuns ao Rio de Janeiro e Lichinga, foram reunidos em um mapa georeferenciado com fotografias e informações. "Vimos que em Lichinga a violência é tão alta que os moradores sequer puderam interagir conosco por medo do tráfico", comentou Danilo, jovem do Museu da Vida. O trabalho desenvolvido parece ter deixado uma lição aos participantes. "O projeto nos ajudou a ter um olhar mais crítico. Vimos que não basta apontarmos os problemas, precisamos também buscar suas causas e propor soluções", disse o adolescente. "Como soluções, propomos a busca pela real causa de cada problema e, a partir daí, o trabalho de conscientização da sociedade e inclusive das autoridades", sugeriu Mariane Cavalcanti, participante do Museu da Vida. Os resultados do projeto também foram compliados em um blog, criado como canal de diálogo entre os participantes dos dois países.

Embora Bogotá, na Colômbia, e Miami, nos Estados Unidos, tenham características bem distintas, os jovens de museus dos dois países, que trabalharam em conjunto, encontraram problemas comuns às duas regiões: a poluição provocada pelos meios de transporte e o aumento do nivel do mar. "Bogotá e Miami são diferentes, mas dependem da mesma fonte de vida: a água", constatou uma das participantes americanas. "Também sofremos com a redução de espécies marítimas", complementou. Os jovens criaram um video com seus achados, que também foram apresentados em outros meios audiovisuais e disponibilizados na web.

O acesso à água potável foi tema dos adolescentes de museus da Cingapura, Austrália e China, parceiros no projeto. A busca por soluções para o problema incluiu entrevistas com cientistas, pesquisas de campo, métodos de conversão de esgoto em água potável e soluções de filtragem. O impacto da falta de acesso à água potável na saúde humana também foi objeto de estudo. "Fizemos uma sessão de testes com água engarrafada que nos levou à conclusão de que as pessoas não conseguem identificar a água potável pelo gosto", alertou um dos participantes. O problema da água no planeta também foi exposto por jovens mexicanos e italianos, em trabalho desenvolvido em conjunto. O grupo alertou para as terríveis consequências aos locais declarados patrimônio histórico da Unesco, se não houver equilíbrio do uso da água. Essa problemática pode ser visualizada no jogo online Playdecide, criado pelos próprios participantes.

Com o tema consumo de energia, os jovens de Israel e da Filadélfia, nos Estados Unidos, reuniram os problemas socioambientais encontrados nas regiões em um video apresentado na videoconferência. Nele, cenas dos encontros e discussões entre membros dos grupos e uma peça de teatro encenada pelos jovens com dicas de economia de energia. A temática também foi abordada pelo grupo de adolescentes do Canadá, Estados Unidos e Dinamarca, que estudaram diferentes métodos de energia renovável e os impactos do uso inadequado de recursos energéticos. "Percebemos que muito do que se diz da energia eólica é falso. Ao contrário, essa forma de uso de energia tem excelente aproveitamento e pouco impacto ambiental", observou Frederik, do Museu Experimentarium, da Dinamarca. Porém, segundo ele, não é fácil fazer essa adaptação. "É uma alternativa mais cara e passamos por momentos de crise eonômica. Mas não podemos nos acomodar, caso contrário, nosso futuro estará degradado", advertiu.

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