quinta-feira, 24 de julho de 2014

Festival de Inverno UFMG - Mestres quilombolas, religiosos e indígenas pregam respeito à biodiversidade


Seu Badu, do quilombo Matição, entre Mãe Mona, do terreiro Roça Poço Ayokê, e 

Guilherme Nogaro, especialista em sustentabilidade ambiental.  Fotos de Bruna Brandão


“Com licença, senhor das matas!”. Este foi um dos refrões de orações e cânticos de diversas tradições que precederam caminhada realizada esta manhã na Estação Ecológica, no campus Pampulha. E dá a dimensão do respeito à biodiversidade que marcou encontro sobre sustentabilidade ambiental promovido pelo Festival de Inverno. Participaram mestres de quilombos, terreiros, comunidades indígenas e grupos de congado, sob coordenação de Pedrina Lourdes dos Santos, reinadeira e mestre da Guarda de Moçambique de Oliveira.

“São guardiões da biodiversidade e de um pensamento diferente, que preza práticas zelosas da natureza. O conhecimento acadêmico tem muito a aprender com a modéstia dos povos tradicionais, para os quais o humano está em pé de igualdade com todos os elementos da natureza”, afirmou a professora Rosangela de Tugny, pesquisadora da música indígena, que recebeu os participantes como representante da UFMG.

A lógica de síntese que rege a ciência que se ensina na universidade, de acordo com a professora da Escola de Música, não é o principal operador do pensamento dos povos indígenas, por exemplo. “Os índios têm um sistema de classificação que é qualitativo, que valoriza a especificidade e a multiplicidade. Assim como o projeto das culturas tradicionais é múltiplo, não é apenas humano, por isso elas são grandes defensores da biodiversidade”, disse Rosângela.

Silvio de Siqueira, ou seu Badu, líder do quilombo de Matição, em Jaboticatubas, elogiou a iniciativa da troca de experiências com professores e alunos da UFMG. E pregou a humildade que caracteriza o homem do campo. “Todo mundo tem que conhecer mais sobre a terra e saber que é preciso combater o agrotóxico. O povo não tem alimento sadio, e o organismo não aguenta isso, a medicina não dá conta de curar”, disse ele, que é profundo conhecedor das plantas medicinais.

Seu Badu lembrou que os quilombolas e membros de outras comunidades precisam de apoio para permanecer em suas terras. E defendeu que não existe "terra ruim", porque é dela que saem os alimentos e os remédios. “Estamos fazendo covardia com a terra, e ela cobra de nós, os agressores”, ele enfatizou.

Permanência e harmonia

O especialista em sustentabilidade ambiental Guilherme Nogaro apresentou aos participantes a permacultura (cultura da permanência), metodologia que visa ao planejamento de ecossistemas de forma integrada. Segundo ele, é preciso “reconhecer a dinâmica da vida para organizar as culturas para a harmonia produtiva”.

“As relações ecológicas devem ser baseadas na cooperação e na solidariedade que, também através da comunicação, buscam a atualização e a transformação constantes”, disse Nogaro, que defendeu que a universidade alie as ideias de vida e serviço à tríade formada por ensino, pesquisa e extensão.

Rosangela de Tugny destacou que o Festival de Inverno é evento exemplar, que mostra a disposição da UFMG de se abrir ao mundo. “Há forças na instituição que desejam dialogar com outros universos. Os estudantes estão treinando outras temporalidades, diferentes formas de concertação. Os povos tradicionais trazem uma outra etiqueta, baseada em grande capacidade de escuta”, afirmou a professora.

Depois de exposições breves e das orações de respeito à natureza, os participantes partiram para uma trilha na Estação Ecológica (foto). O objetivo era que os mestres apresentassem as plantas segundo seus conhecimentos, ao som de cantos das diversas tradições.

O Festival de Inverno da UFMG segue até o dia 26. Para mais informações, acesse o site do evento ou as redes. sociais: www.facebook.com/FestivalUFMG ewww.twitter.com/FestivalUFMG.

Fonte: UFMG

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