terça-feira, 12 de novembro de 2013

Mais do que manter uma agência de notícias, coletivo social forma e mobiliza a galera em torno de seus direitos

ARede nº 94 - especial novembro 2013
 
Uma legítima expressão do protagonismo jovem, a Agência Jovem de Notícias (AJN) foi criada, em 2005, a partir de um processo colaborativo. Mais do que um núcleo de geração de notícias, a iniciativa, coordenada pela organização não governamental Viração Educomunicação, forma e mobiliza adolescentes e jovens de todo o país. Por isso, já conquistou a parceria de 48 instituições, da sociedade civil e das redes públicas de ensino.
Ao entrar para a agência, os meninos e meninas aprendem técnicas da educomunicação e de jornalismo social e comunitário. “Essa dinâmica fortalece o senso crítico deles, não apenas em relação aos meios de comunicação. Mas também os faz refletir sobre as políticas públicas que beneficiem seu entorno, a qualidade da formação escolar e, principalmente, os seus direitos”, explica Lilian Romão, diretora da Viração.
 
Desde o Fórum Social Mundial de Porto Alegre,  em 2005, quando a AJN foi lançada, os jovens comunicadores fizeram coberturas jornalísticas de eventos nacionais e internacionais. Foram mais de 50, entre os quais, em 2012, a Rio + 20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada no Rio de Janeiro. Para cada evento, a agência criava um hot site, e as notícias eram publicadas também na revista Viração. Em 2011, foi desenvolvida uma plataforma digital unificada, que traz vídeos, áudios, versão digital da revista, e notícias diárias.
 
Para a produção de conteúdos, os núcleos distribuídos pelo país reúnem mais de 300 participantes entre 15 e 29 anos. Os adolescentes e jovens coordenam as próprias ações. Assim, a cobertura feita pela agência tem a cara de quem a realiza. No site, qualquer adolescente pode escrever e enviar seus textos e imagens. Em 2012, foram 77.925 acessos e 148.502 páginas visualizadas. No Facebook, mais de 3 mil curtidas. Durante esse tempo, foram produzidas 946 notícias em texto.
 
Na sede da Viração, em São Paulo, os jovens comunicadores dispõem de equipamentos como aparelho de som, gravadores, câmeras fotográficas (inclusive uma semiprofissional), filmadora profissional, data show, modem 3G, notebook, netbook e computadores com sistema operacional GNU/Linux. “Os jovens que escrevem para a agência geralmente integram coletivos ou organizações que atuam com comunicação. São mobilizadores e dialogam com outras juventudes localmente”, conta Lilian.
 
A formação é centralizada na capital paulista. A cada seis meses, começa uma nova turma, com 30 comunicadores. Os participantes têm entre 14 e 25 anos e são indicados por organizações parceiras que atuam em diferentes regiões. A capacitação inclui mídias artesanais como fanzine e jornal mural. Mas também prepara os jovens para atuar em intervenções urbanas e na radio web. Todo o conhecimento adquirido deve ser replicado nas comunidades. Em 2012, 70 adolescentes e jovens participaram de 38 oficinas por semestre. Os cursos continuam. Acontecem uma vez na semana e têm carga de 80 horas – nas quais estão incluídas as coberturas de eventos.
 
Na área de mobilização e participação, os Núcleos de Educomunicação Comunitária incentivam quem não participa diretamente das ações a ir aos eventos que envolvem questões políticas da cidade e do país. Quem faz essa mobilização são os próprios integrantes das formações. Existem quatro núcleos em São Paulo, que mobilizam cerca de 30 outros adolescentes e jovens em suas comunidades.
 
O site da AJN foi construído em plataforma livre (Wordpress). Quase tudo é permitido. Só é proibido o desrespeito aos direitos humanos e a divulgação de informações falsas. Um educomunicador auxilia os jovens na produção e correção dos conteúdos, mas não há parâmetros ou estilos de produção. Os textos podem ser entrevistas, poesias, músicas; podem conter opiniões. A Viração faz o contato com os parceiros e apoiadores, produzindo relatórios de atividades e prestações de contas. “As decisões são tomadas pela equipe da Viração conjuntamente com adolescentes e jovens representantes dos coletivos”, explica Lilian.
Maria Aparecida do Nascimento, de 17 anos, é moradora de Taboão da Serra, em São Paulo. Ela participou da AJN no primeiro semestre deste ano. Aluna do ensino médio, pensava em fazer faculdade de jornalismo. O contato com a produção de conteúdos, especialmente em audiovisual, mudou sua cabeça. “Vou prestar vestibular para Rádio e TV, tive a visão de que é isso o que quero”, diz. Ela participa de outro projeto ligado à Viração, o programa de TV Quarto Mundo, realizado em parceria com a TV USP.
 
A agência transformou o modo como a garota enxergava a mídia de massa. “Mudou muito minha consciência política. A AJN mostra o mundo de um ponto de vista que a TV Globo e jornais da grande imprensa não mostram. A agência mostra os dois lados”, afirma. A possibilidade de se expressar com liberdade também é um ganho. “É uma experiencia única, a gente fala do jeito que a gente sabe, do jeito que a gente pensa. E é uma troca entre jovens”, resume. 
 
 
Fonte: A Rede

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