quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Negligência que faz mal à saúde



Dentro do conjunto de doenças tropicais, pode-se localizar um subconjunto de doenças infecciosas e não infecciosas, chamadas de doenças negligenciadas ou doenças de populações negligenciadas. Elas ocupam lugar secundário nas agendas nacionais e internacionais de saúde e são alvo de desinteresse das indústrias farmacêuticas que não desenvolvem produtos para um mercado que não pode pagar por eles. 

Esse conjunto de doenças afeta pessoas pobres, marginalizadas, em desvantagem e com pouca visibilidade e voz política. Recebem baixo investimento em pesquisa, o que, por sua vez, não reverte em medicamentos, testes diagnósticos e vacinas para sua prevenção e controle. Elas não só prevalecem em condições de pobreza como contribuem para a manutenção do quadro de desigualdade, já que representam forte entrave ao desenvolvimento dos países. As medidas preventivas e o tratamento para algumas delas são conhecidos, e, em alguns casos, relativamente baratos, mas ainda assim não estão disponíveis nas áreas mais pobres. 

As doenças negligenciadas afetam pessoas que vivem nos trópicos, mas não são a eles exclusivas. Por conta da migração das populações, algumas doenças antes restritas aos trópicos passaram a ocorrer também em ambientes não tropicais. O presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Carlos Costa, cita como exemplo a doença de Chagas, enfermidade que saiu da América Latina para os Estados Unidos e países da Europa, e a anemia falciforme, doença não infecciosa antes restrita à África e hoje encontrada em países localizados para além dos trópicos e que já recebe grande investimento em pesquisa nos Estados Unidos.

Com base no aporte de recursos internacionais, a OMS lista 17 doenças negligenciadas em todo o mundo (ver box abaixo), algumas inexistentes no Brasil. Desse rol estão excluídas malária e tuberculose, para as quais, segundo a organização, vêm sendo destinados recursos. O Brasil cujo investimento em pesquisa é, em sua maior parte, público, inclui malária e tuberculose entre as sete prioridades que estabeleceu no Programa de Pesquisa e Desenvolvimento em Doenças Negligenciadas, do Ministério da Saúde — ao lado de dengue, doença de Chagas, leishmaniose, esquistossomose e hanseníase.  

Carlos Costa vê espaço para o Brasil assumir a liderança mundial, na produção de insumos biológicos, avanço em biotecnologia e descoberta de fármacos e vacinas, necessitando, para isso, melhorar a quantidade e a qualidade de sua produção científica e tecnológica e investir nas doenças negligenciadas como agenda prioritária.

Segundo a OMS, há 149 países e territórios no mundo, nos quais há pelo menos uma doença negligenciada endêmica (o número pode chegar a seis doenças). 

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