sábado, 29 de setembro de 2012

Arquivo de Notícias: Fiocruz e Funasa unem esforços para combater a miséria no Semiárido

Fiocruz e Funasa unem esforços para combater a miséria no Semiárido 

A maior parte da miséria do Brasil está concentrada no Nordeste, e em grande parte, no semiárido, onde água de boa qualidade é artigo de luxo. Garantir acesso às populações de municípios afetados pela seca a água potável é uma das prioridades da cooperação técnico-científica firmada em março entre duas instituições do Ministério da Saúde voltadas para a saúde pública: a Fiocruz e a Fundação Nacional de Saúde (Funasa). A cooperação tem como objetivo central aproveitar a experiência da Fiocruz em educação e desenvolvimento científico e tecnológico para qualificar e ampliar as ações de saúde ambiental da Funasa de forma a melhor contribuir com o plano Brasil Sem Miséria. A parceria visa estimular o desenvolvimento das comunidades e enfocará problemas específicos que mais as afetam, como desastres naturais e falta de acesso à água em quantidade e qualidade.

Um dos eixos da cooperação é o programa Água para Todos, coordenado pelo Ministério da Integração, cujo objetivo é garantir o amplo acesso à água para as populações rurais dispersas e em situação de extrema pobreza, tanto para consumo próprio como para a produção de alimentos e a criação de animais. Um público-alvo de 750 mil famílias de baixa renda da zona rural do semiárido nordestino deverá ser beneficiado com a construção de cisternas, barragens e sistemas simplificados de irrigação. Cerca de 700 mil cisternas já foram construídas em 1.136 municípios, mas ainda há muitos problemas relacionados à potabilidade da água.

O monitoramento da qualidade da água deve ser constante e esta responsabilidade é da Funasa. Para isso, ela precisa capacitar seus agentes de saúde como multiplicadores, com o objetivo de capacitar até 48 mil agentes comunitários de saúde - 22 mil em áreas urbanas e 26 mil em áreas rurais. Para esta capacitação, técnicos da Funasa e da Fiocruz estão desenvolvendo uma metodologia didático-pedagógica que foi validade numa oficina que ocorreu de 3 a 5 de setembro, em Fortaleza. A capacitação piloto será realizada no Ceará, e o projeto deverá atender outros sete estados - mais seis do Nordeste e Minas Gerais. “Contamos com a expertise da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) em tecnologias de formação de agentes comunitários e análise de qualidade da água”, explica o vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz, Valcler Rangel Fernandes.

Impacto das obras do São Francisco

Uma questão que está na agenda da Fiocruz e que deverá abarcar a Funasa é a análise do impacto das obras do projeto de integração do Rio São Francisco com bacias hidrográficas do nordeste setentrional, que levará água a diversos pontos dos estados do Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. O projeto inclui a construção de estações de bombeamento, reservatórios, canais e aquedutos, e a Fiocruz analisará os impactos socioambientais, nos processos produtivos, nas condições de saúde e situações de violência e vulnerabilidades das populações em cinco municípios.

“O projeto precisa ser monitorado em seus impactos positivos e negativos, principalmente sobre a população abaixo da linha da pobreza que habita a região. Na agricultura, por exemplo, haverá consequências benéficas e outras indesejáveis, por ser uma agricultura já muito dependente de agrotóxicos”, diz Rangel. A cooperação Fiocruz-Funasa poderá qualificar agentes comunitários de saúde para dinamizar a criatividade das populações locais, que vivem em condições adversas, para buscar respostas aos problemas sociais. “Queremos utilizar o conceito de desenvolvimento de tecnologias sociais por organizações das próprias comunidades no enfrentamento da pobreza. Só se enfrentam os problemas com um forte diálogo com a população”, afirma.

Prevenção e resposta a desastres

Outro ponto previsto na cooperação é a estruturação da Funasa para atuação em situações de desastres, tanto com ações de prevenção como de resposta. Segundo Rangel, a meta é estruturar 26 núcleos em unidades estaduais da Funasa, alinhados às políticas nacional e regionais, e criar 11 escolas técnicas do SUS no semiárido, por meio da Rede de Escolas Técnicas do SUS (RET-SUS).

Para ajudar na preparação dos agentes comunitários de saúde em territórios vulneráveis, a Fiocruz conta com os pesquisadores do Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde (Cepedes) e das suas unidades no Ceará, Pernambuco, Bahia e Piauí. “O Brasil está se preparando de uma forma geral para o enfrentamento a situações de desastres naturais, como enchentes e desabamentos. Nesse esforço nacional, a Funasa também colocou a questão na sua agenda”, observa.

Gestão em saúde ambiental e construção de redes
A cooperação prevê ainda a capacitação técnica de gestores da Funasa em saúde e saneamento. A qualificação será feita pela Escola de Governo e Saúde da Fiocruz Brasília. Em outubro será iniciada a pós-graduação lato sensu (especialização) em gestão em saúde ambiental e em 2013 o mestrado profissional a distância. Por fim, a cooperação dará apoio à construção e coordenação de ações de rede. Rangel explica que tanto a Fiocruz quanto a Funasa são um conjunto de estruturas (unidades ou escritórios) que às vezes atuam de maneira fragmentada. “A ideia é reduzir esta fragmentação através de um conceito atual de gestão em rede que perpassa áreas. Para isso, estamos qualificando profissionais de Tecnologia de Informação e especialistas em rede”, informa.

Para Rangel, as missões da Fiocruz e da Funasa se complementam no esforço concentrado ao combate à extrema pobreza, e por isso a cooperação entre as instituições é fundamental para o país: “Ambas são Fundações com presença importante no plano nacional. A Funasa tem escritórios em todos os estados brasileiros e soma quase nove mil servidores públicos no país; a Fiocruz, presente em 11 estados e com cooperações em todos os demais, tem 5 mil estatutários e cerca de 11 mil colaboradores. A Funasa tem atuação histórica de intervenção efetiva em saneamento e saúde ambiental e, no passado, também em saúde indígena, enquanto a Fiocruz tem um compromisso histórico com o desenvolvimento da ciência e da tecnologia em prol da saúde pública. No plano Brasil Sem Miséria, as atuações se complementam".

Marina Lemle/Fiocruz


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