sexta-feira, 8 de junho de 2012

Arquivo de notícias: Fiocruz aponta riscos da mineração de urânio da Bahia

O Greenpeace já havia alertado para a contaminação da água potável da região por conta da mineração de urânio

A exposição a níveis elevados de radioatividade e as condições inadequadas de trabalho na mina de urânio de Caetité, na Bahia, oferecem riscos à saúde dos trabalhadores e da população que habita o entorno. A informação é dos pesquisadores Marcelo Firpo, do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP), subordinada à Fundação Oswaldo Cruz, e Renan Finamore, doutorando na mesma instituição.

Segundo eles, são comuns denúncias do sindicato dos trabalhadores na mina que pertence às Indústrias Nucleares Brasileiras (INB), subordinadas ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, que detêm o monopólio da exploração do urânio no país. Os trabalhadores relatam falta de transparência e de informações adequadas a respeito dos riscos, problema que é mais grave entre os terceirizados.

Sem receber o treinamento dado aos demais funcionários, fazem o mesmo trabalho, estão expostos aos mesmos riscos mas sem os mesmos direitos. Além disso, conforme os pesquisadores afirmam em entrevista ao site oficial da ENSP/Fiocruz, embora a INB negue, há relatos da falta de acesso aos resultados dos exames ocupacionais periódicos e aos dados de monitoramentos da qualidade das águas subterrâneas locais.

Estudos da Secretaria Estadual de Saúde da Bahia apontam maior incidência de alguns tipos de câncer na região de Caetité. Já entidades locais relatam a percepção que a população tem de um aumento de casos da doença após o início da mineração de urânio, em 2000, e de que houve acidentes que poderiam, em tese, vir a elevar os níveis de exposição acima do limite aceitável.

Os pesquisadores da Fiocruz afirmam que, apesar de haver indícios de uma radioatividade naturalmente mais elevada que o normal naquele município, e de só depois de 10, 15 anos de exposição aos agentes radioativos a doença começar a se manifestar, vazamentos acidentais podem aumentar o risco de exposição da população à radiação.

A contaminação, em geral, ocorre durante a manipulação de maneira inadequada do concentrado de urânio, produto final da exploração na mina que segue para o processo de enriquecimento, etapa na qual é transformado em combustível para as usinas nucleares. Ou durante a ingestão de água ou alimentos com teor de radioatividade acima do nível tolerável.

Além da exposição dos trabalhadores e dos perigos para a população do entorno da mina, há os riscos da liberação acidental de material contaminado para a atmosfera, solo, rios e lençóis freáticos. Outro sério temor é que, como a mina é aberta, a detonação da rocha libera poeira que contém material radioativo. Dentre as substâncias que mais preocupam está o gás radônio, que pode ser absorvido pela respiração e futuramente causar câncer de pulmão.

Impulsionada pelo Programa Nuclear Brasileiro, a exploração de urânio no Brasil se concentra em Caetité. A mina produz anualmente 400 toneladas de urânio concentrado, que é enviado para a etapa de enriquecimento no exterior. É grande a possibilidade de o minério vir a ser explorado também no Ceará, nas jazidas localizadas em Santa Quitéria. Uma mina que operava em Poços de Caldas, em Minas Gerais, foi desativada.

Próximo a Caetité vivem comunidades de pequenos agricultores que, após o início da exploração da mina, passaram a ser estigmatizados e não conseguem comercializar seus produtos a não ser entre eles mesmos. Recentemente, a organização Greenpeace denunciou contaminação de um poço artesiano na região próxima da mina, do qual os moradores retiravam água para o próprio consumo, uma vez que falta sistema de abastecimento para essas comunidades.

Em maio do ano passado, por meio de informações não oficiais, a população tomou conhecimento da chegada de uma carga radioativa proveniente de Iperó, em SP, para processamento em Caetité. A cidade paulista é conhecida pelas instalações do Centro Experimental de Aramar, onde a Marinha desenvolve projetos, entre eles o do submarino nuclear. Temendo que os caminhões trouxessem rejeitos nucleares – o que a INB veio a negar posteriormente – mais de cinco mil pessoas foram às ruas para impedir a descarga dos caminhões.

Recentemente, a partir de denúncias da população em geral, sindicatos, Comissão Pastoral da Terra e Ministério Público, a ENSP começou a estudar os problemas da mineração do urânio. O objetivo é discutir uma cooperação nacional e internacional para apoiar o movimento pela justiça ambiental em torno desse problema em Caetité, bem como produzir informações sobre riscos, saúde e a mineração, tornando mais transparente e democrático o debate público a respeito dos riscos.



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